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IMPACTOS SOCIAIS DA MODERNIZAÇÃO DA AGRICULTURA

O fundo publi co era o credit o e est e capi tal financeiro desencadeou o processo de indust riali zação do campo , que foi parcial, segundo produtos, regiões e est ratos de produtores . A int egração dos produtores com o capital s ubsi di ado aconteci a de acordo com a capacidade de resposta que poss uíam à expansão e a diversi fi cação sus cit adas pelas agroindús tri as as dem andas proveni ent es das export ações e da m ass a de sal ários do m ercado interno, pela sua capacidade de endivi dam ent o e pel a capaci dade de raci onaliz ar suas linhas produti vas face a nova estrutura de despesas. Como havi a um cli ma li beral de crédito, sem critéri o e prati cam ent e sem control e de uso, a mas sa de di nheiro parou com al guns grupos soci ais. Assim , apenas al guns grandes tom adores t êm acesso ao fin anci am ento agropecuário, o que acaba por confi gurar elevados val ores m édi os d e contratos. O alargament o do num ero de contrat os am pli a a incorporação de parcel a mai or dos agropecuarist as ao uso de insum os modernos, obj eti vo princi pal da políti ca.

43 Anos Contratos Valor Financiado(1) Valor Médio 1958 93859 2710 29 1969 1142454 10439 9 1976 1832207 52857 29 1979 2373485 59792 25 1985 2271316 31576 14 1989 791981 23916 30

(1) Expresso em R$ de dezembro de 1996, deflacionados pelo IGP-DI da FGV. Os valores financiados estão

apresentados em R$1 milhão e os valores médios em R$ 1 mil

Na ulti ma met ade dos anos 80, os volum es de recursos despencam , m as o num ero de contrat os caem em m enor proporção, ret omando o aum ento do val or m édio, o que i ndi ca au m ento no perfi l dos tom adores. Assim , a própri a sel eção do sist em a bancári o, nessa redução do num ero de contratos pode est ar refl etindo mai or excl usão dos pequenos e médi os agropecuarist as.

A dist ribui ção dos recurs os pelo tam anho dos tom adores não apena s revela -s e concent rada no período 1966 -76 como apresent a nítida piora . Os pequenos lavradores |(renda brut a anual at e 50 salários mínimos) detinham 90% dos cont ratos e 34% do val or fi nanci ado em 1966: dez anos m ais tarde, em plena expans ão dos volumes apl i cados , pass aram a det er 73% dos contratos e apenas 11% do valor, num a tendênci a em que os val ores mos tram queda m ai s acentua d a que o num ero de contrat os. Os m édios lavradores (entre 50 e 500 s alários mí nimos de renda bruta anual) most ram cres cim ento rel ati v o no num ero de cont ratos de 9,5% em 1966 para 22,9 em 1976, s endo que, ent retanto, para os val ores apropriados, os percent uai s caem de 45,6% para 35% no m esmo perí odo. Na outra ponta , os grandes l avradores (renda brut a

44 anual maior que 500 s alári os mí nimos ) não apenas cres cem em num ero de contratos) e vi a de regra esses t om adores fazem mais de 1 contrato, ao contrario dos pequenos ) – aum ent ando de 0,4% para 3,3%, com o mais que dupli cam sua parti ci pação no valor fi nanci ado. Ess a concent ração do credito rural , e por cons eguinte do acesso aos benefí cios decorrent es dos el evados subsídios propiciados por essa política no período, ocorre em pleno ―Milagre Brasileiro‖, quando a área de lavouras cresce vertiginosamente, impulsi onando a ex pansão das grandes áreas de pl anti o mecanizado. Es sa intensi ficação, num a situação em que a propri edade era requisito para obt er os financi am ent os, i mpulsi onari a a concent ração da t erra. A euforia vivida nessa época, onde a es perança de incorporação na sociedade idealiz ada pel a ideologi a do ―Brasil Potênci a‖ encobri ri a os efeit os da dist ribuição perversos .

Ano Pequenos Contratos Valor Médios Contratos Valor Grandes Contratos Valor

1966 90,05 34,13 9,51 45,6 0,44 20,27 1967 88,48 32,29 10,93 47,2 0,59 20,51 1968 87,27 31,07 12,22 49,72 0,51 19,21 1969 88,16 30,95 11,17 45,81 0,67 23,24 1970 85,91 27,57 13,25 47,16 0,84 25,27 1971 85,71 24,61 13,25 43,99 1,04 31,4 1972 83,56 20,69 14,82 42,17 1,52 37,14 1973 79,46 17,22 18,59 38,75 1,95 44,03 1974 76,61 15,12 20,88 37,43 2,51 47,45 1975 74,18 11,77 22,48 34,18 3,34 54,05 1976 73,73 11,38 22,93 35,09 3,34 53,53

Pequenos são lavradores com renda bruta ate 50 salários mínimos, médios com renda bruta de 50 ate 500 salários mínimos e grandes com renda bruta maior que 500 salários mínimos

Fonte: Banco do Brasil, dados compilados por PINTO (1980)

Em áreas ou regi ões do paí s, onde a diversidade e a densidade da dem anda agroindust rial, da dem anda solvável dos centros urbanos e da

45 dem anda das export ações eram m ais t ênues, m ais débeis, evi dent em ent e que o impacto da m oderni zação foi m enor. C ons eqüentem ente , o avanço do s etor dinâmico da agri cultura tam bém. A tendência a hom ogeneização das condi ções de produção e di stribui ção provocadas pel a i ncorporação da agri cultura a lógi ca indus tri al, ao tem po em que acent uou as desi gualdades ent re o set or di nâmico e o at rasado da agri cult ura, provocou novas desi gualdades s egundo o modo e o grau em que foram afet adas as linhas produti vas, as regi ões e as localidades .

A não int egração da ma i ori a dos estabel ecimentos do p aís , geralm ente micros e pequenos produtores, arrendat ári os, parcei ros e ocupantes, que poss uíam s olos exaustos , baixa fertilidade, s em acess o ou condições para tomar crédito, sem entes apropriadas e orient ação técnica, cujos produtos não contavam com o est imulo de al tos preços em vi rtude da int erceptação pel os interm edi ários , esses pequenos produtores pass aram a viver em situação de pobrez a, cri ada pel a constitui ção do setor dinâmi co da agricult ura .

A modernização parci al do processo produtivo l evou todos os est abel ecimentos do setor dinâmi co a um uso maior (em intensidade e extens ão) da m ão de obra resi dent e, foss e famili ar ou ass al ariada e a um uso efeti vo de m ão de obra t emporária, que durava apenas o t em po necess ári o a col heit a. Ess e emprego efetivo rendi a sal ári os reai s menores que os recebi dos ant eriorment e. A combinação de t rabalhos na const rução civi l e em s erviços

dom ésti cos, devi do a uni ficação dos m ercados urbanos e rurai s de pessoal não qualifi cado t ende a forçar a el evação do sal ário m édio rural acim a do sal ário

46 mínimo urbano, o que i nduziu o empresariado agrário a organi zar a ofert a e a considerar a m ecaniz ação da fas e de col heit a.

Houve t ambém êxodo rural e os fluxos mi gratórios apres ent aram duas direções predomi nantes: no sentido campo -cidade, no Centro Sul e Nordes te; e t endo como destino áreas rurais locali zadas na Am azônia. A prol et arização dos t rabalhadores na agri cult ura consoli dou -se nas regiões de média e grande produção, s endo o trabalhador t emporári o, o bói a fria, o grande personagem dos conflitos agrári os nos anos setenta, mas regi ões cafeei ras do Paraná e de São P aul o, bem com o nas de açúcar, no Rio de J aneiro e na Zona da Mata Nordestina.

\ Houve maior compl exidade no espaço s oci al agrári o , cons e qüência da modernização desi gual e excludente da agropecuária. O campes inato brasil ei ro m ost rou capacidade de adapt ação aos efeit os de um modelo agrí col a modernizante, confi gurando alt a het erogeneidade soci al e regional: dos col onos do S ul, alguns vincul ad os por uma agri cul tura contratual as agroindús tri as , out ros mais ori ent ados para a produção alim entar, aos colonos dos programas de coloniz ação da Am az ôni a; dos colonos ―sem t erra‖ aos camponeses as sentados; dos campones es mini fundi ários , com o expres sivo incremento no Nordest e e no Sul, ao menos nos p rim eiros cinco anos da década de 1980, aos produtores familiares com el evada capaci dade empres ari al e alt a s eletividade s oci al .

O crédito rural, a l ém de privilegi ar as grandes propriedades, provoca expansivo aum ent o do preço da t erra. Est e muda de pat am ar no período 1970 - 1975 quando apesar da el evação do nível t ecnol ógi co e da el evação de s ua

47 infl uenci a s obre o preço d a t erra, os elem ent os não produti vos (especul ativos) apresent aram um m aior crescim ent o no perí odo. Elem entos es pecul ati vos , est es, advi ndos da própri a pol íti ca creditícia, que possi bil itam ganhos não produti vos elevados, mas extrem amente dependent es da propri edade territ ori al . Nas regi ões de front ei ra agrícol a, ess a especul ação ganha força , pois ―a expansão do arroz se explica tanto pela lucratividade corrente da produção como t am bém pel a incorporação econômi ca da terra com sua concomit ant e valoriz ação. P ara is so foi fundam ent al a cão do Est ado at rav és do credit o. Assim , apes ar do alt o vol um e de cap it al apli cado nas l avouras de arroz de cerrado, o valor do capital empregado pelo fazendeiro é baixo e est á expresso no baixo valor da t erra. Como o Estado fi nanci a todos os investim ent os neces sários , bem como o cust eio, a credito subsidi ado incl usive, o v olume de produção gerado é bast ant e al to s e comparado com o baixo gast o de capit al ini ci al. C om isso, o lucro obtido com ess a produção é alto. Ali ando -se a isso a grande val orização da t erra, a result ant e dess e processo é um a enorme expans ão da lavoura de arroz do cerrado. É portanto , fundam ental o processo de valoriz ação de capit al que s e est abel ece a parti r da terra.

O est ancam ent o da el evação dos preços da terra no Sul Sudest e nos anos 90 guarda rel ação com os enorm es ganhos com a valoriz ação da t erra do Brasil Central , agora dedi cada ao plantio da soj a, promovendo o deslocam ent o de capitais para aquela regi ão. Como regra geral, o credito rural consti tuiu -s e num instrum ento de modernização da agropecuári a não apenas compatível com os anti gos grande s l atifúndios – agora tornados empresas agrí col as – mas ainda propiciou o acirram ento dessa caract erísti ca fundi ári a brasi lei ra. Em

48 resumo, ―as políticas de crédito generosas, os subsídios à compra de maquinas e de insum os modernos e m esmo boa part e do es forço de m udança tecnológi ca tem benefi ciado pri mordial mente es ses grupos (a agri cult ura com erci al, a grande pecuári a, os terr at en ent es ). C om isso, el as vêm cont ribuindo fortemente a um aument o na concent ração da renda rural , tant o em t erm os pessoais com o regi onais . C omo s ão os grandes agricultores, as em pres as rurai s, os terrat enent es e os especul adores fundi ários os que mais acess o t em as polít icas de i ncent ivos, s ão el es que m ais lucram com s uas ativi dades e que mais recurs os t em para i nvesti r e ampli ar o s eu es t oque de t erras‖ (MUELLER , 1982)

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CAPÍTULO IV

PRONAF

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