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2.4 — Novas fontes de financiamento da agricultura

A liberaliz ação financei ra ocorrida no i níci o da década de 90, rel at ada por Di as e Amaral (2001) fez com que o Est ado parti ci pass e ainda m enos na concess ão de crédito para a agricultura. Souza (2004) t rat a dess e ass unt o ao verificar que a parti r dess a nova s ituação, o Est ado deixa cl ara a sua i nt enção de que sua parti ci pação será cada vez m enor e que o m ercado deve agir para garanti r a ofert a de crédi to. P orém , o que se not a é que as novas fontes privadas não t êm potenci al sufi ci ent e para compensar a diferença que se cri a com a menor parti cipação do Estado.

36 N o f i n a l d o s a n o s o i t e n t a , d e p o i s d e m a i s d e d e z a n o s d e c r i s e d e c r e s c i m e n t o o E s t a d o d e i x a d e s e r u m p o u p a d o r l í q u i d o e a d í v i d a p ú b l i c a i n t e r n a e e x t e r n a f i c a m i n s u s t e n t á v e i s n u m p r o c e s s o a b e r t o d e h i p e r - i n f l a ç ã o . O m o d e l o i n t e r v e n c i o n i s t a d e u l u g a r a u m n o v o m o d e l o c o m u m a p o l í t i c a c o m e r c i a l m u i t o m a i s l i b e r a l . ( D I A S E A M A R A L , 2 0 0 1 , p . 7 )

Mass uqueti (1998) também avali a o cenário do crédito rural nes se iníci o da década de 90, e constat a que com o anúnci o do novo plano de est abil ização da economi a em dezembro de 1993, que tinha como ideal e vi tar impactos sobre a base monetári a, o Governo s e vi u forçado a reduz ir ainda mais o volum e de empréstim os e fi nanci am ent os , sendo necess ário um redesenho da políti ca de credito rural , que consis tia na políti ca de garanti a de preços m ínim os e na formação de estoques agrí colas.

A est rat égia do governo d esde os anos 1990 em rel ação a agri cult ura est a bas eada de um lado no fortal ecim ento da com pet itivi dade da agri cult ura empres ari al e, de out ro, no fort al ecimento da agri cultura famil iar . Enquant o a prim ei ra li nha de ação prioriza a melhori a da infra -estrutura e incenti vos através de novos i nstrum entos de pol ítica agrí col a, o fortalecim ent o da agri cultura famil iar est a centrado em um program a bási co: P rogram a Nacional de Fort al ecim ento da Agri cult ura Famili ar (Pronaf) .

Infelizment e, a pri mei ra linha, de i nv est imento de infra -estrutura, nunca foi de fato de impl em ent ação e o Pronaf tem sido um program a de credito de cust eio. O lançam ento do P ronaf pelo Governo Federal e o ret orno da reform a agrári a si gni fi caram um a guinada de 180 graus na tradici onal ori ent ação d a políti ca agrí cola brasil eira. Trat ou -se de reconhecimento da importância econômi ca e soci al, present e e pot enci al, da agri cult ura famili ar,

37 e incorporou es sa ampla camada de agri cult ores e trabal hadores rurais com o possí vei s benefi ci ári os de ações da pol íti ca

Ess a reorientação t ornou -se necessári a porque o Est ado não tinha capaci dade fi nancei ra para bancar as pol íticas dos anos pass ados; além diss o o model o ant erior foi des envolvi do para regul ar as ati vidades econômi cas em uma economi a rel ativam ent e fech ada, subm eti da a forte cont rol e e regul am ent ação est at al, sendo inadequado e inefici ente para operar no at ual contexto i nstit ucional.

Por ultim o, varias das políti cas us adas no pass ado ent ram em choque com parâm et ros bás icos da at ual instit uci onalidade i nt ernacional (OMC ) e com o projet o de int egração sub regional (M ercosul ).

Tem com o objet ivo o fort al ecimento das ati vidades pel o produtor fam ili ar, de form a a int egrá -l o à cadei a de agronegócios, proporcionando -l ha aum ent o de renda e agregando val or ao produ to e à prosperi dade, m ediante a modernização do si stem a produti vo, valorização do produtor rural e a profis sionaliz ação dos produtos fam ili ares.

Segundo Souz a (2004), com e sta nova perspect iva , agregada à val oriz ação cambi al trazi da pel o Plano R eal, as dif iculdades do setor agrí col a aum ent aram subst ancialm ent e no que diz respeit o ao crédito rural .

Nas pal avras da autora:

O c r é d i t o p a r a i n v e s t i m e n t o p r a t i c a m e n t e d e s a p a r e c e u n e s s e s a n o s , e x c e t o p a r a a s r e g i õ e s b e n e f i c i a d a s p e l o s F u n d o s C o n s t i t u c i o n a i s . N a s r e g i õ e s S u d e s t e e S u l , a s d u a s á r e a s m a i s i m p o r t a n t e s d o p o n t o d e v i s t a d a p r o d u ç ã o a g r o p e c u á r i a b r a s i l e i r a , a s t a x a s d e j u r o s c o b r a d a s i n v i a b i l i z a r a m a t o m a d a d o s

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e m p r é s t i m o s . A l é m d i s s o , o G o v e r n o f a c i l i t o u a s i m p o r t a ç õ e s d e p r o d u t o s a g r í c o l a s , i n c l u s i v e d a q u e l e s q u e e r a m s u b s i d i a d o s n o s p a í s e s d e o r i g e m , c o m o t r i g o e a l g o d ã o , r e f o r ç a n d o a i n d a m a i s a q u e d a d o s p r e ç o s i n t e r n o s . (S O U Z A , 2 0 0 4 , p . 7 )

A parti r do es got am ent o do anti go modelo de financi ament o agrí col a, Gasques e Vill a Verde (1995a) rel acionam as novas form as de financi amento da agricultura que surgem no iníci o da década de 90. É fei to um redesenho do SNCR e nele podemos veri fi car al gumas das novas fontes form ais de concess ão de crédito, t ais com o:

A Caderneta de Poupança Rural2, que havia sido in stit uída em 05/09/1986 , e era operada som ente por bancos ofi ci ais federai s, pas sando a s er operada, tam bém, por bancos privados de acordo com a r es olução do BACEN n º. 2.164 de 19/06 /19 95.

Recursos Extra -Mercado, que foi instituído pela resolução BACEN nº . 2.108 de 12/09 /19 94 e trat a-s e de um fundo de investim ent o junt o ao Banco do Brasil desti nado a apli cação em títulos do Tes ouro Naci onal e C ert ifi cados de Depós itos Bancári os (CDB), onde no mínim o 70% deverão ser dest inadas a operações de crédit o rural .

Os Fundos Constitucionais foram estabelecidos na Constituição de 1988 e regul am ent ados pel a l ei 7.827 de 27/09/1989. Os financi am entos concedidos pel os fundos constituci onais est ão sujeitos ao pagam ento de juros e encargos de atualização monetári a e s ão dest i nados aos produtores e empresas que des envol vem ativi dades produti vas no setor agropecuári o. Foi

2 S e g u nd o G a s q ue s e V i l l a V e r d e ( 1 9 9 5 a ) , a C a d e r n e t a d e P o up a n ç a R u r a l fo i a p r i me i r a

fo n t e i mp o r t a n t e d e r e c ur s o s c r i a d a c o m a fi na l i d a d e d e a mp l i a r d e fo r ma s ub s t a nc i a l a o fe r t a d e c r é d i t o e fo i i n s t i t u í d a p e l a R e s o l uç ã o n º . 1 . 1 8 8 , d e 0 5 / 0 9 / 1 9 8 6 .

39 est abel ecido que as taxas de juros não poderão s er superiores a 8% ao ano.

A Finame Agrícola, que é pautada n os recursos do Fundo de Amparo ao Trabalhador (FA T) e do P IS/ PASEP. S ua cl ientel a s ão empres as de qual quer port e do s etor agrí col a, i ncl usive cooperativas e pessoas físi cas .

Os Fundos de Investimentos (FINOR, FIN AM e FUNRES). Trata- se de incenti vos fiscais para investim entos privados em regiões economicam ent e m enos desenvolvidas. Est es tiveram iní cio após a cri ação da S uperi ntendênci a de Des envolvim ent o do Nordes te – SUDENE em 1959 e que com a Lei nº . 8.167, de 16 /0 1/1991, alt erou a legisl ação sobre o Imposto de R enda rel ativa a incenti vos fis cai s estabel ecendo novas condi ções operaci onais dos Fundos de Invest iment os R egionais .3

O Mercado a termo é aquele que envolve transações para entrega do produto em dat a futura. O Mercado futuro é caract erizado por trans ações de contrat os com vencim entos futuros. Ess e s contratos são t rans aci onados em bols a s es pecí ficas . A finali dade da operação é fix ar um determinado preço para o produto a ser com prado ou vendi do no fut uro. ―O financi am ent o é s empre pago em produt o, com preço est abel ecido na data do contrat o, e as

3 S e g u nd o o a r t i go 6 º d a L e i nº . 9 . 8 0 8 , d e 2 0 / 0 7 / 1 9 9 9 , ― f i c a m o s b a n c o s o p e r a d o r e s d o s F u nd o s d e I n v e s t i me n t o s R e gi o n a i s ( . . . ) a u t o r i z a d o s a r e n e go c i a r d é b i t o s ve nc i d o s r e l a t i vo s à s d e b ê nt ur e s s ub s c r i t a s p e l o s r e fe r i d o s F u nd o s , n a fo r ma p r e v i s t a no a r t . 5 º d a L e i nº 8 . 1 6 7 , d e 1 9 9 1 , e x c l u s i v a me n t e p a r a o s c a s o s e m q ue a f a l t a d e p a ga me nt o t e n ha d e c o r r i d o d e fa t o r e s q ue nã o p o s s a m s e r i m p ut a d o s à r e s p o n s a b i l i d a d e d a e mp r e s a b e n e fi c i á r i a d o i nc e n t i vo , o b s e r va d o s o s l i mi t e s e c r i t é r i o s a s e r e m e s t a b e l e c i d o s e m d e c r e t o d o P o d e r E x e c u t i vo ‖ .

40 garanti as us uai s são o aval, a hipot eca e o penhor. ‖ (GAS QUES E VILLA VER DE, 1995a, p. 13)

Quanto às operações de hedge, Massuquetti cita Aguiar (1993)4, e trans creve sua expli cação sobre es se tipo de mercado:

“... o hedge con siste em se fa zer operaçõ es oposta s nos mercado s f í s i c o e f u t u r o , o u s e j a , c o m p r a r n o m e r c a d o f í s i c o e v e n d e r n o m e r c a d o f u t u r o e v i c e - v e r s a . C o m o o s p r e ç o s c a m i n h a m n o m e s m o s e n t i d o n o s d o i s m e r c a d o s , a p e r d a d e f r o n t a d a e m u m m e r c a d o t e n d e a s e r c o m p e n s a d a , a o s m e n o s p a r c i a l m e n t e , p e l o g a n h o o b t i d o n o o u t r o . S e o s p r e ç o s c a í r e m n o s d o i s m e r c a d o s , o h e d g e r5 t e r á p r e j u í z o n o m e r c a d o o n d e e l e i n i c i a l m e n t e h a v i a c o m p r a d o e l u c r o n o m e r c a d o o n d e e l e h a v i a v e n d i d o , o c o r r e n d o o o p o s t o e m caso d e eleva ção de p reços”

Mass uquett i complet a:

O s a ge n t e s e n vo l vi d o s n o p r o c e s s o d e c o mp r a e ve nd a d e c o nt r a t o s s ã o o s p r o d u t o r e s , a s c o o p e r a t i va s , o s c e r e a l i s t a s , a s i nd ú s t r i a s p r o c e s s a d o r a s , o s e xp o r t a d o r e s e o s i mp o r t a d o r e s , o s fo r n e c e d o r e s d e i n s u mo s e d e e q ui p a me nt o s a gr í c o l a s , o s i n v e s t i d o r e s , e nt r e o ut r o s . ( M A S S U Q U E T I , 1 9 9 8 , p . 1 5 6 )

Em out ro t rabalho, Gasques e Vill a Verde (1995b) si ntet izam ess e l eque de novas font es da s eguint e forma:

Q u a n t o à s n o v a s f o n t e s d e r e c u r s o s p a r a a a g r i c u l t u r a , a l é m d e c o m p l e m e n t a r e m a s t r a d i c i o n a i s , d i f e r e n c i a m - s e d e s t a s p o r s e c o n s t i t u í r e m e m f u n d o s d e r e c u r s o s p a r a a p l i c a ç õ e s d e m é d i o e l o n g o p r a z o s . E s t e é o c a s o d o F i n a m e R u r a l , F u n d o s C o n s t i t u c i o n a i s , P o u p a n ç a R u r a l , P r o c e r a e F A F . E s t a s f o n t e s o p e r a m c o m t a x a s d e j u r o s r e a i s , p o i s , a l é m d a c o r r e ç ã o m o n e t á r i a , i n c i d e m s o b r e o s e m p r é s t i m o s t a x a s q u e v a r i a m d e a c o r d o c o m a f o n t e d e r e c u r s o s . . . E m t e r m o s d e a p l i c a ç õ e s , a s n o v a s f o n t e s d e r e c u r s o s r e p r e s e n t a v a m , e m 1 9 9 0 , 1 1 , 2 % d o t o t a l d a s a p l i c a ç õ e s e m c r é d i t o r u r a l , t e n d o e s t e p e r c e n t u a l a t i n g i d o a c i f r a d e 7 4 % e m 1 9 9 3 . I s t o r e p r e s e n t a u m a m u d a n ç a r a d i c a l n o p a d r ã o d e f i n a n c i a m e n t o d a a g r o p e c u á r i a . ( G A S Q U E S e V I L L A V E R D E , 1 9 9 5 b , p . 2 1 )

Conform e apont ado por Di as e Amaral (2001), m udanças est rut urais si gni fi cat ivas geral ment e acarret am cri ses de ajust am ent o longas, at é que o

4 AG U I A R , D a n i l o R o l i m D i a s . O m e r c a d o f u t u r o c o m o o p ç ã o d e c o m e r c i a l i z a ç ã o

a g r í c o l a . P r e ç o s A g r í c o l a s . P i r a c i c a b a - S P , nº . 7 3 , p . 8 -9 . 1 9 9 3 .

5 O h e d g e r s e r i a a q ue l e a g e nt e q u e t e m i nt e r e s s e no p r o d u t o e q ue ut i l i z a a B o l s a c o mo

41 mercado se ajus te a nova reali dade. Ent ret anto, não foi bem assim que ocorreu no caso brasil eiro, nest e epi sódio em que o Governo reduziu subst anci alm ent e a conces são de crédit o para a agri cult ura, l evando o s et or a perder grande parte do crédi to ofi ci al alt am ent e s ubsi diado e faz endo com que os produt ores agrícolas partis sem para um novo model o de obt enção d e crédito.

Part indo dess a análi se, é surpreendent e que no Brasil a traj etóri a de cres cim ent o da agri cult ura não t enha si do afet ada da form a que s e po deri a imagi nar, levando em conta as di fi culdades pel as quais passaram o set or agrí col a nes sas duas últim as décadas do século XX.

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CAPÍTULO III

IMPACTOS SOCIAIS DA MODERNIZAÇÃO DA

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