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Impedimentos à nomeação do Perito

4.4 O Perito e a Realização da Perícia

4.4.1 Impedimentos à nomeação do Perito

Segundo Alberto dos Reis “na nossa legislação tem dominado o sistema da liberdade de escolha”309 do perito na medida em que, quer as partes, quer o juiz, podem, “em regra, nomear qualquer pessoa para servir como perito. A diligência pericial é, regra geral, realizada, pelo ou pelos peritos nomeados pelo tribunal ou pelas partes.310 Contudo, há que ter em conta que os peritos podem ser afastados do processo para o qual foram nomeados ou há intenção de nomear, por razões de diferente natureza311.

A lei312 faz referência a impedimentos, suspeições, escusa e dispensa legal, indicando que ao perito se aplica, com as devidas adaptações, o regime de impedimentos e suspeições que vigora para os juízes313, mas não esclarece nem define nenhum dos conceitos quer no CPC, quer no Código Civil.

Alberto dos Reis314 apresenta uma definição para impedimento como sendo uma causa de inibição, ou seja, a pessoa sobre a qual o impedimento incide não deve ser designada para perito.

Sendo-o, não pode atuar nessa qualidade, pois, em determinadas situações, o impedimento determina a nulidade da diligência realizada.

Em concordância com o autor referido, Antunes Varela, J. Miguel Bezerra e Sampaio e Nora315 referem que os impedimentos reproduzem autênticas interdições legais ao exercício da função de perito. As situações de impedimento são as que constam do art. 115º do CPC que contempla o facto de o perito ser parte na causa ou quando nela tenha um interesse que lhe permitisse ser parte principal; quando estiver em causa perícia relativa ao seu cônjuge, parente ou afim, ou em linha reta ou no 2º grau da linha colateral ou pessoa que consigo viva em economia comum; ter deposto

308AGULHAS, Rute; ANCIÃES, Alexandra - Casos Práticos em Psicologia Forense. 1.ª ed. Lisboa: Edições Sílabo, 2015. ISBN 9789726188315, p. 28.

309REIS, Alberto dos - Código de Processo Civil anotado.1ª ed. …, p. 212.

310Conforme prevê o o n.º 1 do art. 467º.

311VARELA Antunes; BEZERRA, J. Miguel; NORA, Sampaio e - Manual de Processo…, p. 589.

312 Nos arts. 470º a 472º do CPC estão contempladas as situações de obstáculos e verificação dos obstáculos à nomeação dos peritos e a nova nomeação de peritos.

313O regime de impedimentos e suspeições dos juízes está patente no art. 115º e ss. do CPC. Cf. FREITAS, José Lebre de;

MACHADO, Montalvão A.; PINTO, Rui - Código de Processo Civil…, p. 529 “Antes da reforma de 1995-1996, a matéria dos impedimentos era tratada, com alguma profusão, nos arts. 580 a 585”. O DL 329/95 veio concentrar, simplificar e alterar esta matéria, remetendo para o regime dos impedimentos e suspeições dos juízes, passou a enunciar os casos de dispensa do exercício da função, introduziu uma cláusula geral para a escusa e tratou da invocação e verificação dos fundamentos à nomeação do perito.

314REIS, Alberto dos - Código de Processo Civil anotado.1ª ed. …, pp. 212-213.

315VARELA Antunes; BEZERRA, J. Miguel; NORA, Sampaio e - Manual de Processo…, pp. 589-590.

67 ou tenha que depor como testemunha na causa316; ser parte na causa pessoa que tenha interposto ação civil para indemnização de danos contra ele.

Em suma, podem ser razões de impedimento a “razão de prestígio, razão de serviço, razão de incapacidade e razão de imparcialidade317.

No que concerne à escusa, diz Alberto dos Reis que é um benefício previsto na lei para o perito nomeado, na medida em que a este é concedida a oportunidade de requerer dispensa da função que lhe foi atribuída318.

Antunes Varela, J. Miguel Bezerra e Sampaio e Nora319 expõem que na escusa não há uma proibição mas sim uma dispensa do cargo e só o perito nomeado pode invocar essa dispensa.

Tal qual expõe o Acórdão da Relação do Tribunal de Guimarães320, relatado por António Gonçalves, quando o perito se sente limitado para exercer o ato que lhe foi confiado, pode alegar conjunturas ou motivos concretos que justifiquem as razões pelas quais a sua consciência não permite que realize a perícia e seja afastado.

Assim, estipula o n.º 3 do art. 470º do CPC, que todos aqueles a quem não seja exigível o desempenho da tarefa, atentos os motivos invocados, podem pedir escusa da intervenção como perito. Está em causa o facto da imparcialidade do perito poder vir a ser questionada, logo o próprio pode e deve pedir para ser dispensado de intervir na diligência.

Também os titulares dos órgãos de soberania, os órgãos equivalentes das Regiões Autónomas e aqueles que por lei lhes estejam equiparados, os Magistrados do Ministério público e os agentes diplomáticos de países estrangeiros podem pedir escusa por estarem legalmente dispensados do exercício da função de perito321.

São causas de escusa322 a existência de parentesco ou afinidade em linha reta ou até ao 4º. grau da linha colateral, entre o perito ou o seu cônjuge e alguma das partes ou pessoas que tenha, em relação ao objeto da causa, interesse que lhe permita ser nela parte principal; se houver causa em que seja parte o perito ou o seu cônjuge ou unido de facto ou algum parente ou afim de qualquer

316A alínea d) do n.º 1 do art. 133º do CPP também determina que o perito está impedido de depor como testemunha em relação às perícias que tiver realizado.

317AMARAL, Jorge Augusto Pais de - Direito Processual Civil…, p. 343.

318 No mesmo sentido VARELA Antunes; BEZERRA, J. Miguel; NORA, Sampaio e - Manual de Processo…, pp. 590 “A escusa é a possibilidade legalmente reconhecida a determinadas pessoas de não exercerem a função pericial para que foram designadas”.

319VARELA Antunes; BEZERRA, J. Miguel; NORA, Sampaio e - Manual de Processo…, pp. 590-591.

320 Acórdão do Tribunal da Relação de Guimarães - Processo 574/06-2, de 22 de março de 2006. Relator António Gonçalves Disponível em www.dgsi.pt.

321Conforme prevê o nº. 2 do art. 470º.

322Estas causas estão elencadas no art. 120º do CPC.

68 deles em linha reta e alguma das partes for perito nessa causa; se houver ou tiver havido nos três anos antecedentes, qualquer causa entre alguma das partes ou o seu cônjuge e o perito ou seu cônjuge ou algum parente ou afim de qualquer deles em linha reta; se o perito ou o seu cônjuge, ou algum parente ou afim de qualquer deles em linha reta, for credor ou devedor de alguma das partes, ou tiver interesse jurídico em que a decisão do pleito seja favorável a uma das partes; se o perito for produtor, herdeiro presumido, donatário ou patrão de alguma das partes, ou membro da direção ou administração de qualquer pessoa coletiva parte na causa; se o perito tiver recebido dádivas antes ou depois de instaurado o processo, e se houver inimizade grave ou grande intimidade entre o perito e alguma das partes ou os seus mandatários.

As escusas são requeridas pelo próprio perito, no prazo de cinco dias após tomar conhecimento da nomeação.323

Diferente da escusa é a figura da recusa e, embora o CPC atual não lhe faça qualquer referência direta, a recusa consta em várias normas associadas à falta de concordância e oposição324.

A recusa é um direito que assiste à parte contrária da que nomeou o perito ou a ambas quando este tenha sido nomeado pelo tribunal. Como refere Alberto dos Reis “o direito traduz-se na oposição a que a pessoa nomeada sirva como perito”325.

Esta oposição tem, no entanto, que ser deduzida em tempo caso contrário o perito nomeado

“funciona legalmente”326.

Para os autores Antunes Varela, J. Miguel Bezerra e Sampaio e Nora327, a recusa funda-se particularmente na suspeição moral, ou seja, no facto de a atuação do perito não transmitir à parte ou partes envolvidas no processo, a necessária e exigida isenção e imparcialidade na realização da sua tarefa. Ora seguindo a base de raciocínio destes autores estamos em crer que o atual CPC usa, para o mesmo resultado, a expressão suspeição328 cujos fundamentos são exatamente os mesmos da escusa. Na suspeição são, portanto, as partes quem pode agir contra o profissional, caso tenham motivo sério e grave, que gere desconfiança sobre a imparcialidade do perito.

323Esta norma está prevista no nº. 2 do art. 471º do CPC.

324 Cf. VARELA Antunes; BEZERRA, J. Miguel; NORA, Sampaio e - Manual de Processo…, p. 591 a recusa era uma figura cujas causas constavam diretamente no art. 584º do CPC em 1985. O CPC atual não consagra essa figura de forma direta no entanto faz referência a ela como é o caso da segunda parte do n.º 2 do art. 467º do CPC e na primeira parte do n.º 2 do art. 468º normas estas que, quando interpretadas a contrario, se percebe que as partes podem recusar o perito nomeado.

325REIS, Alberto dos - Código de Processo Civil anotado.1ª ed. …, p. 213.

326AMARAL, Jorge Augusto Pais de - Direito Processual Civil…, p. 343.

327VARELA Antunes; BEZERRA, J. Miguel; NORA, Sampaio e - Manual de Processo…, p. 591.

328O n.º 1 do art. 470º do CPC diz que “É aplicável aos peritos o regime de impedimentos e suspeições que vigora para os juízes, com as necessárias adaptações”. O art. 120º do CPC estabelece o fundamento de suspeição.

69 As causas de impedimento, suspeição e dispensa legal do exercício da função de perito podem ser alegadas pelo próprio perito ou pelas partes, dentro do prazo de 10 dias a contar do conhecimento da nomeação. Se o conhecimento da causa for superveniente, o pedido pode ser feito nos 10 dias subsequentes329.

Das decisões decretadas sobre estes incidentes, segundo o n.º 3 do art. 471º do CPC, não cabe recurso dada a “simplicidade da matéria e a relativa urgência das diligências probatórias”330. Sempre que houver lugar à nomeação de novo perito, em resultado destes mesmos incidentes, ou seja necessária a remoção do perito inicialmente nomeado, ou em caso de impossibilidade deste realizar a perícia, é o juiz quem indica o profissional para assumir a diligência331.