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IMPENHORABILIDADE DO BEM DE FAMÍLIA E DIREITO À MORADIA NA

4.1 IMPENHORABILIDADE DO BEM DE FAMÍLIA E DIREITO À MORADIA NA CONSTITUIÇÃO FEDERAL: ANÁLISE DOUTRINÁRIA

Quando se fala em bem de família, deve-se ressaltar que a questão adentra tanto ao direito de família quanto ao direito que encampa o patrimônio, os bens, destacando-se que:

No direito brasileiro, o tema em questão está situado em uma área de confluência entre o Direito de Família e o Direito das Coisas, propiciando relevantes discussões que, todavia, desbordam o Direito Privado, à medida que a proteção familiar de natureza patrimonial prevista na Lei n° 8.009/90 decorre de uma imposição do Estado, em prol do direito à moradia do núcleo familiar, materializando na legislação ordinária a garantia fundamental encartada na Constituição da República (CORDEIRO, 2011, p. 106).

Nesse diapasão, o direito que envolve o patrimônio das famílias visa à proteção desse grupo, especialmente com foco em assegurar que se conserve sua mordia, de acordo com a Constituição Federal.

Souza (2017, p. 17) relata que o bem de família não é adotado como um imóvel, mas se trata de um direito que recai sobre determinado imóvel em que a família vive e segue esclarecendo que:

O conjunto de direitos, ao incidir sobre a residência, transforma-se em qualidade da mesma. De outra sorte, o bem de família representa também uma exceção ao Direito das Obrigações, que exige que todo o patrimônio do devedor esteja sujeito à execução para quitação de dívidas frente aos credores (SOUZA, 2017, p. 17). Trata-se de um esclarecimento de essencial valor, compreender que o bem de família é muito mais do que uma estrutura, mas um direito constitucional que visa proteger os cidadãos para que tenham onde viver, mantendo sua dignidade e almejando melhores condições de vida para todo o grupo familiar (SOUZA, 2017, p. 17).

Arnaldo Rizzardo (2019, p. 855) leciona que:

No elenco dos direitos e garantias, têm-se como da maior relevância aqueles que dizem com a vida e a dignidade do ser humano, envolvendo naturalmente a proteção à moradia, que deve constituir uma das principais metas políticas do

próprio Estado. Nesta dimensão, introduziram-se leis destinadas a proteger o patrimônio formado pelos bens utilizados para as pessoas se abrigarem e viverem individualmente ou no conjunto familiar.

O bem de família surge, assim, como ideal de proteção para que todas as pessoas que vivem em um mesmo grupo e compartilham um mesmo espaço não sejam retiradas dele, o que poderia comprometer toda a sua vida.

Quanto aos bens que são impenhoráveis, o Código de Processo Civil define que:

Art. 649. São absolutamente impenhoráveis:

I - os bens inalienáveis e os declarados, por ato voluntário, não sujeitos à execução; II - os móveis, pertences e utilidades domésticas que guarnecem a residência do executado, salvo os de elevado valor ou que ultrapassem as necessidades comuns correspondentes a um médio padrão de vida;

III - os vestuários, bem como os pertences de uso pessoal do executado, salvo se de elevado valor;

IV - os vencimentos, subsídios, soldos, salários, remunerações, proventos de aposentadoria, pensões, pecúlios e montepios; as quantias recebidas por liberalidade de terceiro e destinadas ao sustento do devedor e sua família, os ganhos de trabalhador autônomo e os honorários de profissional liberal, observado o disposto no § 3o deste artigo;

V - os livros, as máquinas, as ferramentas, os utensílios, os instrumentos ou outros bens móveis necessários ou úteis ao exercício de qualquer profissão;

VI - o seguro de vida;

VII - os materiais necessários para obras em andamento, salvo se essas forem penhoradas;

VIII - a pequena propriedade rural, assim definida em lei, desde que trabalhada pela família;

IX - os recursos públicos recebidos por instituições privadas para aplicação compulsória em educação, saúde ou assistência social;

X - até o limite de 40 (quarenta) salários mínimos, a quantia depositada em caderneta de poupança.

XI - os recursos públicos do fundo partidário recebidos, nos termos da lei, por partido político.

§ 1o A impenhorabilidade não é oponível à cobrança do crédito concedido para a aquisição do próprio bem.

§ 2o O disposto no inciso IV do caput deste artigo não se aplica no caso de penhora para pagamento de prestação alimentícia.

Art. 650. Podem ser penhorados, à falta de outros bens, os frutos e rendimentos dos bens inalienáveis, salvo se destinados à satisfação de prestação alimentícia. (BRASIL, CPC, 2020).

Trata-se de um rol exemplificativo, existem outros bens que não são sujeitos de penhora.

Xavier (2018, p. 22) ensina que “instituído o bem de família por meio do registro no Cartório de Imóveis, torna-se impenhorável e inalienável”. No entanto, mesmo o bem de família legal não será alvo de penhora, salvo em situações específicas legalmente definidas.

Por outro lado, a Lei nº 8.009/90 esclarece as exceções ao instrumento supracitado, conforme segue:

Art. 3º A impenhorabilidade é oponível em qualquer processo de execução civil, fiscal, previdenciária, trabalhista ou de outra natureza, salvo se movido:

I – Revogado;

II - pelo titular do crédito decorrente do financiamento destinado à construção ou à aquisição do imóvel, no limite dos créditos e acréscimos constituídos em função do respectivo contrato;

III – pelo credor da pensão alimentícia, resguardados os direitos, sobre o bem, do seu coproprietário que, com o devedor, integre união estável ou conjugal, observadas as hipóteses em que ambos responderão pela dívida;

IV - para cobrança de impostos, predial ou territorial, taxas e contribuições devidas em função do imóvel familiar;

V - para execução de hipoteca sobre o imóvel oferecido como garantia real pelo casal ou pela entidade familiar;

VI - por ter sido adquirido com produto de crime ou para execução de sentença penal condenatória a ressarcimento, indenização ou perdimento de bens.

VII - por obrigação decorrente de fiança concedida em contrato de locação. (BRASIL, Lei nº 8.009, 2020).

Nesse cenário, Souza (2002, p. 646) esclarece que existem incongruências na legislação brasileira quanto à possibilidade de penhora do bem de família e leciona que o devedor terá seus bens protegidos, enquanto seu fiador poderá ter o bem de família penhorado para pagar o que está em inadimplência e, assim, a doutrina vem se esforçando no sentido de evitar que o fiador possa ter seu bem penhorado, o que fere o princípio da isonomia, protegendo-se a parte que deve e cobrando a parte que tão somente aceitou garantir o negócio.

Ao conceder fiança, o fiador não toma para si a dívida, não se torna o devedor, isso somente ocorrerá caso a parte integrante do negócio não cumpra com seus deveres e, assim, o fiador será exigido a cumprir com o papel de garantidor. No entanto, penhorar seu bem de família enquanto protege-se o bem daquele que realmente tem responsabilidade pela dívida torna-se um desrespeito grave à isonomia constitucionalmente definida (SOUSA, 2002, p. 646-647).

Gagliano e Pamplona Filho (2012, p. 289) corroboram com tal visão destacando que há previsão legal para a penhora do bem de família do fiador, o que estabelece uma diferença entre a garantia de direito dele e da pessoa que contraiu para si um dever e não foi capaz de adimplir, como a locação de um imóvel, com isso, fica evidente uma situação que fere o próprio texto constitucional (GAGLIANO; PAMPLONA FILHO, 2005, p. 289).

Cordeiro (2011, p. 124) leciona que, “portanto, quanto a essa exceção de impenhorabilidade, divergem tanto doutrina quanto jurisprudência em relação à sua suposta inconstitucionalidade”.

Outra situação refere-se ao fato de que a existência de dívidas sobre o próprio bem de família abre espaço para que sua penhora ocorra, ou seja, caso o proprietário deixe de adimplir com os impostos e taxas que existem sobre os imóveis, a penhora poderá ocorrer (CORDEIRO, 2011, p. 123).

De acordo com Sousa (2017, p. 28), o direito à moradia assegurado na Constituição Federal deve apresentar exatamente as mesmas características que os demais direitos fundamentais, definindo-se essas características como “[...] impenhorabilidade, intransmissibilidade, indisponibilidade e imprescritibilidade. Esta disposição corrobora o caráter fundamental da moradia, diminuindo-lhe a importância patrimonial; por extensão, tal lógica pode ser aplicada também ao bem de família”.

Em outras palavras, o bem de família torna-se impenhorável pelo fato de sua existência justificar-se a partir do direito fundamental à moradia, de outra sorte, caso a instituição do bem de família não estivesse diretamente atrelada a esse direito fundamental, poderia não estar protegida por essas importantes formas de resguardo (SOUSA, 2017, p. 28).

Vasconcelos (2002, p. 100-101) afirma que a questão da impenhorabilidade do bem de família tem uma característica essencial que refere-se ao fato de haver uma proteção ao direito da família de ter acesso à moradia, o que garante sua segurança, dignidade e outros tantos direitos, porém, em nenhum momento, há qualquer forma de referência ao tipo de família.

Nessa seara, qualquer que seja a configuração de família, como irmãos que vivem na mesma residência, isso não elimina seu direito de proteção ao bem de família para garantia do direito constitucional à moradia. O bem de família atende unicamente à moradia da família, sem haver qualquer menção no dispositivo legal quanto ao modelo de família a ser protegido (VASCONCELOS, 2002, p. 101).

Tartuce (2008, p. 236), sobre o reconhecimento de variadas formações familiares para a proteção do bem de família, ressalta

Outra aplicação prática a ser citada é que a jurisprudência tem ampliado o conceito de família para os fins da impenhorabilidade da referida lei. Isso porque, nos termos do art. 226 da Constituição Federal, a família seria decorrente do casamento, da união estável ou da entidade monoparental (constituída entre ascendentes e descendentes).

Compreende-se, assim, esse reconhecimento das diversas formações familiares como uma evolução no direito e na proteção das famílias.

Caso a família tenha vários imóveis e tenha residência em todos eles, a impenhorabilidade recairá sobre aquele que apresenta menor valor “[...] por força do Art. 5° da Lei n° 8.009/90, a não ser que ocorra a instituição do bem de família voluntário, na forma do Código Civil atual, respeitada a limitação do valor” (CORDEIRO, 2011, p. 126).

Isso evidencia que apenas um imóvel será tido como bem de família, protegido pela impenhorabilidade, caso existam outros imóveis, ainda que a família resida nesses

diferentes locais em momentos diversos do ano, por exemplo, não poderão se todos protegidos pelo instituto do bem de família. Caberá análise para identificar qual dos imóveis tem menor valor para que este se constitua como o bem de família.

Não se pode ignorar, ainda, o papel essencial da instituição do bem de família como forma de assegurar o cumprimento do direito à moradia.

Nesse sentido, o bem de família deve ser entendido como um meio de garantir a proteção da célula familiar e, mais especificamente, de resguardo ao direito fundamental à moradia, amparado nos princípios da dignidade da pessoa humana e da proteção da família. Para tanto, vale relembrar a amplitude da proteção em virtude do conceito atual de família resultante do art. 226 da CF/88, elencando um rol meramente exemplificativo (SOUZA, 2018. p. 35).

Todas as pessoas têm o direito de viver em um local que lhes conceda proteção, de acordo com a Constituição Federal, a moradia tem um papel muito mais amplo do que apenas ser um endereço, é um local de convívio, um local de proteção e de compartilhamento e, assim, sua proteção deve ocorrer integralmente.

Após todos esses esclarecimentos, considera-se essencial proceder de um levantamento jurisprudencial para verificar o posicionamento do Tribunal de Justiça de Santa Catarina.

4.2 IMPENHORABILIDADE DO BEM DE FAMÍLIA E DIREITO À MORADIA NA CONSTITUIÇÃO FEDERAL: ANÁLISE JURISPRUDENCIAL

Para a análise jurisprudencial, foram selecionados julgados do período de 2016, 2017, 2018, 2019 e 2020, somente do Tribunal de Justiça de Santa Catarina. A data definida para a seleção dos julgados foi assim estabelecida como forma de demonstrar se houve alguma alteração no posicionamento nos últimos 5 anos.

De cada um dos anos definidos para a análise forma selecionados 2 julgados, totalizando 10 dispositivos, o que acredita-se ser suficiente para prestar bons esclarecimentos a respeito do tema.

Inicia-se com julgado de 2016 (Blumenau), que ressalta:

RECURSO JECível - BEM DE FAMÍLIA - IMPENHORABILIDADE - BEM DADO EM GARANTIA EM OUTRA EXECUÇÃO - IRRELEVÂNCIA. 1- Não perde o caráter de imóvel familiar o bem dado em garantia em outra execução. 2- Sem custas e honorários. Recorrente vencedor. No sistema do Juizado Especial só paga despesas processuais e verba sucumbencial quem perde o recurso (art. 55). (TJ-SC - RI: 00005505520078240050 Pomerode 0000550-55.2007.8.24.0050, Relator: Emanuel Schenkel do Amaral e Silva, Data de Julgamento: 13/12/2016, Segunda Turma de Recursos - Blumenau) (SANTA CATARINA, TJSC, 2016a).

O julgado acima deixa evidente que um bem dado em garantia em outra execução não deixa de ser considerado bem de família, desde que seja o local em que o grupo familiar reside.

O próximo julgado, também de 2016 (Joinville), evidencia que:

AGRAVO DE INSTRUMENTO. FIANÇA EM CONTRATO DE LOCAÇÃO. PENHORA SOBRE IMÓVEL. BEM DE FAMÍLIA. IMPENHORABILIDADE. RECURSO ESPECIAL MANEJADO. DECISÃO DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA ANULANDO O ARESTO. IMPOSIÇÃO DE ANÁLISE EXPRESSA DA MATÉRIA. TEMA JÁ ENFRENTADO EM RECURSO REPETITIVO. IMPOSSIBILIDADE DE DISCUSSÃO. RECURSO PROVIDO. "É legítima a penhora de apontado bem de família pertencente a fiador de contrato de locação, ante o que dispõe o art. 3º, inciso VII, da Lei n. 8.009/1990" (Tese Julgada sob o rito do art. 543-C do CPC - Tema 708 (Súmula 549/STJ) "É válida a penhora de bem de família pertencente a fiador de contrato de locação" (Súmula 549 do STJ). (SANTA CATARINA, TJSC, 2016b).

O caso em tela deixa evidente que apesar da impenhorabilidade do bem de família, no caso de fiador essa penhora poderá ocorrer e, assim, o fiador responderá com seu bem de família por dívida de locação de outrem, para quem ofereceu garantia quando da realização do negócio.

Neste ponto é preciso reforçar que Gagliano e Pamplona Filho (2012, p. 289-290) destacam que existem magistrados que estão contrariando essa visão, por entenderem que se trata de um desrespeito à isonomia, proteger o bem de família do dever, deixando descoberto o do fiador. No entanto, o tema ainda demanda de maiores debates para que se estabeleça, eventualmente, uma visão unânime.

O próximo julgado data de 2017 e define:

PROCESSUAL CIVIL E CIVIL - EMBARGOS DE TERCEIRO - CONTRATO DE LOCAÇÃO RESIDENCIAL - INADIMPLÊNCIA - FIADOR - BEM DE FAMÍLIA - IMPENHORABILIDADE - DESCABIMENTO - LEI N. 8.009/1990, ART. 3º, VII - STJ, SÚMULA N. 549 - CÔNJUGE - INDIVISIBILIDADE - INSUBSISTÊNCIA - PROTEÇÃO APENAS DA MEAÇÃO De acordo com a Súmula n. 549 do Superior Tribunal de Justiça: "É valida a penhora de bem de família pertencente a fiador de contrato de locação". Ademais, "Consoante precedente da Corte Especial, é possível que os bens indivisíveis sejam levados à hasta pública por inteiro, reservando-se ao meeiro a metade do preço alcançado" (AgRg no Ag n. 928.463/SP, Min. Rogerio Schietti Cruz). (SANTA CATARINA, TJSC, 2017a).

O julgado de 2017 novamente apresenta a possibilidade de penhora de bem de família de fiador, que indica que ainda é comum que tal definição seja mantida, ou seja, o fiador pode perder seu bem de família por inadimplência do real devedor de uma locação de imóvel.

PROCESSUAL CIVIL - BEM DE FAMÍLIA - IMPENHORABILIDADE - SUPRESSÃO DE INSTÂNCIA - NÃO CONHECIMENTO Em sede de agravo de instrumento, matéria não apreciada em primeiro grau não pode ser objeto da análise em segundo grau, sob pena de supressão de instância. PROCESSUAL CIVIL E CIVIL - EMBARGOS DE TERCEIRO - CUMPRIMENTO DE SENTENÇA - PENHORA - BEM DE FAMÍLIA - CABIMENTO - CPC, ART. 843 - CÔNJUGE - INDIVISIBILIDADE - PROTEÇÃO DA MEAÇÃO Nos termos do art. 843 do Código de Processo Civil de 2015, é permitida a penhora por inteiro de imóvel de propriedade do devedor casado, preservando-se a quota-parte do produto da alienação do bem à parte alheia à execução (SANTA CATARINA, TJSC, 2017b). O julgado deixa evidente a possibilidade de penhora, ainda que o bem esteja em valor superior ao da dívida, retornando-se ao proprietário o valor que restar após a quitação de seus débitos.

Partindo-se para a análise do ano de 2018, percebe-se:

AGRAVO DE INSTRUMENTO. AÇÃO MONITÓRIA EM FASE DE CUMPRIMENTO DE SENTENÇA. DECISÃO INTERLOCUTÓRIA QUE RECONHECEU A IMPENHORABILIDADE DO IMÓVEL CONSTRITO. RECURSO DA EXEQUENTE BEM DE FAMÍLIA. IMPENHORABILIDADE PREVISTA NO CAPUT DO ART. 3º DA LEI N. 8.009/90. IMÓVEL PENHORADO QUE FOI OBJETO DE CONTRATO DE EMPREITADA. PLEITO DE INCIDÊNCIA DA EXCEÇÃO PREVISTA NO INCISO II DO REFERIDO ARTIGO. NORMA DE ÍNDOLE EXCEPCIONAL QUE NÃO ADMITE INTERPRETAÇÃO EXTENSIVA. A EXPRESSÃO "CRÉDITO DECORRENTE DE FINANCIAMENTO" DEVE SER INTERPRETADA DE FORMA RESTRITIVA, DE MODO QUE PERMANECE A IMPENHORABILIDADE DO BEM DE FAMÍLIA. As normas instituidoras da impenhorabilidade, nos termos do art. 3º da Lei n. 8.009/1990, por preverem exceções, estão sujeitas à regra de hermenêutica que determina a interpretação restritiva em decorrência de sua natureza. Logo, não se pode, até mesmo por um princípio de hermenêutica, dar elasticidade interpretativa a um dispositivo legal que encerra norma restritiva de um direito, para se entender que o crédito decorrente de um contrato de empreitada com fornecimento de material de construção não cumprido seja considerado decorrente de financiamento destinado à construção ou à aquisição do imóvel (SANTA CATARINA, TJSC, 2018a).

O magistrado mantém a impenhorabilidade do bem de família por entender que, ainda que existam exceções nas quais a penhora possa vir a ocorrer, o contrato de empreitada não se trata de uma delas. Porém, no caso de dívida para a aquisição do próprio bem, a penhora poderá ser conduzida (DUTRA; FERREIRA, 2011, p. 178).

Segue novo julgado de 2018, que define:

DIREITO COMERCIAL E PROCESSUAL CIVIL - AGRAVO DE INSTRUMENTO E AGRAVO INTERNO - REINTEGRAÇÃO DE POSSE - MEDIDA LIMINAR DEFERIDA NO JUÍZO A QUO - INSURGÊNCIA DO RÉU - 1. IMPENHORABILIDADE BEM DE FAMÍLIA - MEDIDA QUE VISA A ALIENAÇÃO DO BEM EM LEILÃO PÚBLICO - DÍVIDA QUE DECORRE DE FINANCIAMENTO À AQUISIÇÃO DO IMÓVEL - POSSIBILIDADE DE SOFRER MEDIDA EXPROPRIATÓRIA - ARGUIÇÃO INACOLHIDA - 2. AUSÊNCIA DOS REQUISITOS PARA O DEFERIMENTO DA LIMINAR - CONSOLIDAÇÃO DA PROPRIEDADE DO FIDUCIÁRIO - CONSTITUIÇÃO

EM MORA DO FIDUCIANTE - REQUISITOS OBSERVADOS -INTELIGÊNCIA DO ART. 30 DA LEI 9.514/97 - TESE REJEITADA - 3. IMPOSSIBILIDADE DE PURGAR A MORA - AUSÊNCIA DE INTIMAÇÃO PESSOAL - FIDUCIANTE EM LOCAL INCERTO E NÃO SABIDO - INTIMAÇÃO POR EDITAL - VALIDADE - INTELIGÊNCIA DO ARTIGO 15 DA LEI 9.492/97 - TESE INACOLHIDA - 4. REQUERIMENTO DE DILAÇÃO PROBATÓRIA - NECESSIDADE DE EXAME EM PRIMEIRO GRAU - SUPRESSÃO DE INSTÂNCIA - AGRAVO DE INSTRUMENTO DESPROVIDO E AGRAVO INTERNO PREJUDICADO. 1. O art. 3º, II, da Lei n. 8.009/90, ao permitir a penhora de bem de família para garantia de financiamento contratado à sua aquisição, não ofende o direito social de moradia previsto no art. 6º da CF/88. 2. À reintegração de posse, nos casos envolvendo sistema financiamento imobiliário, basta a consolidação da propriedade da instituição fiduciária, com a constituição em mora do adquirente, nos termos do artigo 30 da Lei 9.514/97. 3. É eficaz notificação extrajudicial por edital, se esgotadas as tentativas de intimação pessoal do adquirente para purgação da mora. 4. Em sede de agravo de instrumento cabe ao juízo ad quem apenas a análise acerca do acerto ou desacerto da decisão guerreada, sendo vedada a análise de questões não examinadas em primeiro grau, pena de supressão de instância (SANTA CATARINA, TJSC, 2018b).

O magistrado destaca que o bem de família poderá ser penhorado para o adimplemento de financiamento destinado à sua própria aquisição. Ressalta-se a importância de tal posicionamento, por impedir a aquisição sem intenção de quitar o débito utilizando-se do bem de família para tal finalidade. Dutra e Ferreira (2011, p. 177) enfatizam que a lei do bem de família visa à proteção de patrimônio que resguarda essa família de viver em condições inadequadas e, assim, aproveitar dessa condição para aquisição de imóvel sabendo- se insolvente não poderá gerar essa proteção.

Em 2019, as decisões selecionadas também foram duas. Na sequência, a primeira delas:

AGRAVO DE INSTRUMENTO. CUMPRIMENTO DE SENTENÇA. PENSÃO ALIMENTÍCIA DECORRENTE DE REPARAÇÃO CIVIL POR ATO ILÍCITO. PENHORA. BEM DE FAMÍLIA. IMPENHORABILIDADE NÃO OPONÍVEL. EXEGESE DO INCISO III DO ARTIGO 3º DA LEI N. 8.009/1990. ORIGEM DO DÉBITO. IRRELEVÂNCIA. PRECEDENTES JURISPRUDENCIAIS. IMÓVEL REGISTRADO EM NOME DO EMPRESÁRIO. DÍVIDA DA FIRMA INDIVIDUAL. CONFUSÃO PATRIMONIAL E DA PERSONALIDADE JURÍDICA. PENHORA AUTORIZADA. DECISÃO MANTIDA. RECURSO DESPROVIDO. "A pensão alimentícia está prevista expressamente no art. 3º, III, da

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