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Em 1990 foi promulgada a Lei nº 8.009, que destaca que o bem de família é impenhorável. A referida lei coloca a salvo o imóvel próprio do casal ou do grupo familiar de qualquer forma de penhora, desde que essa família resida no imóvel. O bem de família pode ser voluntário ou legal, de acordo com sua instituição e especificidades que apresenta. Quanto ao bem de família legal, apresenta-se:

Art. 1º O imóvel residencial próprio do casal, ou da entidade familiar, é impenhorável e não responderá por qualquer tipo de dívida civil, comercial, fiscal, previdenciária ou de outra natureza, contraída pelos cônjuges ou pelos pais ou filhos que sejam seus proprietários e nele residam, salvo nas hipóteses previstas nesta lei. Parágrafo único. A impenhorabilidade compreende o imóvel sobre o qual se assentam a construção, as plantações, as benfeitorias de qualquer natureza e todos os equipamentos, inclusive os de uso profissional, ou móveis que guarnecem a casa, desde que quitados. (BRASIL, Lei nº 8.009, 2020).

Nesse sentido, caso a família seja proprietária do imóvel, porém não faça uso residencial do mesmo para si, não há que se falar em proteção do bem de família, por não atender aos requisitos mínimos para esse tipo de uso.

É chamado de voluntário quando atende aos requisitos do art. 1.711 do Código Civil, demanda de realização de escritura pública ou testamento, definindo que um bem imóvel serve “bem de família”, ou seja, para abrigo e proteção do grupo familiar, destacando- se o texto do CC, que define:

Art. 1.711. Podem os cônjuges, ou a entidade familiar, mediante escritura pública ou testamento, destinar parte de seu patrimônio para instituir bem de família, desde que não ultrapasse um terço do patrimônio líquido existente ao tempo da instituição, mantidas as regras sobre a impenhorabilidade do imóvel residencial estabelecida em lei especial (BRASIL, CC, 2020).

Sobre o bem de família voluntário, este precisa ser legalmente instituído, conforme o CC, que aduz:

Art. 1.714. O bem de família, quer instituído pelos cônjuges ou por terceiro, constitui-se pelo registro de seu título no Registro de Imóveis (BRASIL, CC, 2020). Tal instituto, nessa seara, “[...] depende de ato voluntário do proprietário, formalizado por escritura pública ou testamento e tem por efeito a indisponibilidade do imóvel em que a família reside, durante a vida dos cônjuges ou até a maioridade civil dos filhos” (XAVIER, 2018, p. 22).

Seja o bem de família legal ou voluntário, ele sempre faz referência ao bem imóvel que atua como único local de residência da unidade familiar e, em alguns casos, pode englobar valores guardados pelo grupo para situações emergenciais, conforme o texto a seguir:

O bem de família voluntário, assim como o legal, consiste em um imóvel residencial urbano ou rural, com suas pertenças e acessórios, destinado ao domicílio familiar. Podendo, ainda, abranger valores mobiliários, ou seja, aplicações financeiras neste âmbito de proteção convencional, desde que vinculados à preservação física do imóvel ou ao sustento da família, para, assim, garantir a entidade familiar meios de prover a sua subsistência, desde que esses valores não ultrapassem o valor do imóvel (SILVA, 2019, p. 18).

Ainda que existam semelhanças entre o bem de família legal e o voluntário, existem procedimentos e requisitos que diferenciam esses institutos entre si, conforma destaca Silva (2019, p. 19), ao citar que:

As duas espécies de bem de família, deste modo, se divergem no sentido de que, o bem de família voluntário decorre da vontade dos interessados, sendo necessário, ainda, o atendimento de certas formalidades e requisitos para sua instituição. No tempo em que o bem de família legal não depende de manifestação do seu instituidor e não está condicionado a qualquer formalidade, bastando residir no imóvel para torná-lo, por força de lei, impenhorável

A diferença central encontra-se, então, na manifestação da vontade (bem de família voluntário) ou no reconhecimento legal (bem de família legal) de seu papel como forma de proteção da entidade familiar em qualquer que seja sua configuração.

Lobo (2011 apud XAVIER, 2018, p. 23), a respeito das diferenças entre os dois institutos, afirma que “[..] o bem de família legal tem por finalidade a proteção da moradia da família, enquanto o bem de família voluntário visa à proteção da base econômica mínima da família: tem conteúdo mais aberto e amplo que o primeiro”.

Para uma compreensão mais específica quanto as especificidades de cada uma dessas formas de concretização do bem de família, apresenta-se a Tabela 1, na sequência:

Tabela 1: Bem de família legal x bem de família voluntário

LEGAL VOLUNTÁRIO

Previsão legal: Lei nº 8.009/1990 Previsão legal: art. 1.711 a 1.722 do Código Civil

Instituição: protegido automaticamente pela legislação do país

Instituição: ato voluntário dos membros da entidade familiar

Limites: sem definição legal, engloba o único imóvel destinado à residência da família

Limites: máximo 1/3 do patrimônio

Exceções (penhorabilidade):

Titular de crédito de financiamento para a construção ou aquisição do imóvel;

Para pagamento de pensão alimentícia; Impostos e taxas referentes ao próprio imóvel (inclusive condomínio);

Imóvel adquirido como produto de crime ou em execução de sentença penal condenatória; Obrigação decorrente de fiança em contrato de locação urbana;

Cobrança de crédito para a Procuradoria Geral Federal por conta de benefício previdenciário ou assistencial recebido de forma indevida (dolo, fraude ou coação).

Exceções (penhorabilidade):

Dívidas assumidas antes de sua instituição; Dívidas de impostos do próprio bem; Dívidas de condomínio.

Fonte: Adaptado de Silva (2019, p. 20).

Não somente o local de moradia (casa, prédio etc.) será impenhorável como forma de proteção ao bem de família, como os acessórios que ali se encontram (BRASIL, CC, 2015). Sobre o tema, Silva (2019, p. 17) leciona que “inequívoco, até o momento, que bem de família é o imóvel destinado a moradia da entidade familiar, bem como todos os bens móveis que o guarnecem, que serão impenhoráveis pela força da lei”.

Após abordar o bem de família e a questão legal envolvida com o tema, parte-se para o esclarecimento do bem de família como forma de assegurar o cumprimento do princípio da dignidade da pessoa humana.

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