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Os resultados obtidos nesta investigação poderão ter implicações para a Educação, em geral, e para a Educação em Ciência, em particular. A nosso ver, poder-se-ão salientar algumas que poderão ser agrupadas em quatro níveis:

- Implicações a nível da sala de aula

Os resultados deste trabalho indiciam, como se referiu no ponto precedente, que os alunos encontram uma maior motivação para a aprendizagem dos conteúdos das disciplinas de Física e de Química, quando lhes é concedida a oportunidade de nela participarem activamente.

Por essa razão, sugere-se a redefinição do modo como se organiza a sala de aula (Duch, 1996 e Butler, 1999). Considera-se ser premente que a sala de aula deixe de ser um espaço físico inflexível, de características estereotipadas, onde o professor e alunos, durante o tempo lectivo respeitante à aula, se situam. Com efeito, para que a Física e a Química possam ser encaradas pelos alunos como uma actividade Humana e não como uma Ciência acessível só a uns tantos privilegiados, é necessário que se revejam as características que habitualmente se associam à sala de aula. Assim, dado que o ensino e aprendizagem da Física e da Química, como actividades humanas que são, dependem, na aula, de encontros entre pessoas – o aluno e professor, alunos e alunos, alunos e técnicos de determinadas áreas, alunos e cientistas –, de contactos com certas entidades e organismos públicos, de pesquisas e consultas de informação em várias fontes, aquela deve ser um espaço aberto que permita o estabelecimento destes intercâmbios.

- Implicações a nível das metodologias a implementar no ensino da Física e da Química

A ênfase que os professores atribuem com frequência à metodologia não pode descurar, quanto a nós o facto de que o ensino só tem mérito quando redunda em aprendizagem (Solaz-Portolés e Sanjosé López, 2008). Quando os professores se lamentam da falta de tempo para leccionar um determinado programa curricular, talvez não reconheçam que é a aprendizagem e não o ensino que consome o tempo, por conseguinte, qualquer metodologia a implementar a nível da sala de aula deve focar a sua atenção na aprendizagem do aluno e nenhum método de ensino, por lógico e claro que se apresente, pode ser considerado meritório se não promover essencialmente a aprendizagem. Convém ainda discernir o tipo de aprendizagem que se deve desejar. Os conteúdos de Física e de Química leccionados constituem, sem dúvida, uma parte importante na educação dos alunos, contudo, não se deve encarar a sua aquisição como objectivo fundamental do ensino. A finalidade última do ensino é conseguida quando os conteúdos enumerados no programa da disciplina se associam a uma mudança de atitude e de estilo de pensamento, capaz de alterar a visão que se tem do mundo contemporâneo. A este respeito, vários autores (Chin, 2001 e Chin e Chia, 2004) referem que a abordagem de ensino orientada para a Aprendizagem Baseada na Resolução de Problemas permite aos alunos obter uma

mas obrigando-os a fazer associações de ideias, de forma a aplicarem-no a diferentes situações mais ou menos complexas e multidisciplinares, o que talvez se viessem a traduzir numa melhoria das classificações dos alunos nos exames nacionais de Ciências no 11º ano. A esse propósito, os resultados deste estudo parecem indiciar uma mudança de atitude e de estilo de pensamento dos alunos, particularmente no que diz respeito ao modo como abordam situações problemáticas. Com efeito, para que as disciplinas de Ciências sejam motivadoras para os alunos e lhes permitam desenvolver competências investigativas, é necessário que eles aprendam a questionar o mundo que os rodeia e que, além disso, sejam capazes, autonomamente, de procurar as respostas às questões que colocam quer através de pesquisa e consulta de informação em várias fontes (Lambros, 2004), quer através da realização de actividades laboratoriais (Chin, 2001). Ora, tal facto parece ficar a dever-se à abordagem de ensino orientada para a Aprendizagem Baseada na Resolução de Problemas. Resulta daí, ser imperativo rever o tipo de abordagem que habitualmente se preconiza nas escolas portuguesas, particularmente aquela de tipo tradicional, que usa o manual escolar (também ele assenta numa perspectiva tradicional) como elemento principal da aprendizagem dos alunos. De acordo com diversos autores (Barrows e Tamblyn, 1980; West, 1992; Duch, 1996; Boud e Feletti, 1997; Neto, 1998; Chang e Barufaldi, 1999 e Lambros, 2004), este último tipo de ensino deve ser substituído por uma linha de actuação dirigida para provocar mudanças de atitude, de valores, de concepções e de actuações pessoais e sociais, que permitam aos alunos fazer frente aos problemas gerados todos os dias no seio das sociedades actuais.

- Implicações a nível da formação de professores

No que respeita à formação de professores, dada a manifesta insuficiência do ensino “tradicional”, do tipo transmissivo, para promover nos alunos a mudança de atitudes e o desenvolvimento de competências fundamentais na resolução de problemas, parece importante sensibilizar os professores para a necessidade de avaliarem as práticas pedagógicas que preconizam e as contrastarem com abordagens de ensino mais flexíveis, que retirem o aluno da habitual posição de receptáculo dos conhecimentos disponibilizados pelo professor (Chang e Barufaldi, 1999 e Roldão, 2003). Para conseguir essa sensibilização, será preciso promover a alteração da perspectiva que o professor tem em relação a este tipo de ensino, sendo, pois urgente facultar formação aos professores para

que a abordagem de ensino orientado para a Aprendizagem Baseado na Resolução de Problemas, seja familiar, uma vez que este exige uma mudança de papéis que pode ser difícil de aceitar e de interpretar pelos professores. Efectivamente, neste caso, o docente terá de adoptar, perante os alunos, uma atitude de que ele não é aquele que, na sala de aula, sabe tudo, mas, deverá antes, actuar como alguém capaz de orientar os seus alunos na aprendizagem, permitindo-lhes ser os construtores do seu próprio conhecimento (Zeegers, 2003). Para isso, o professor terá de, desde logo, permitir aos alunos a possibilidade de estes questionarem e/ou procurarem estratégias e métodos de ensino que os levem a questionar, e depois terá de lhes dar oportunidade de encontrarem respostas para essas questões.

De facto, trazer a lume os resultados de estudos desta natureza, pretende modestamente despertar-se o interesse por um tipo de abordagem de ensino e aprendizagem, propiciar-se a reflexão, e promoverem-se atitudes de revalorização e revisão das práticas pedagógicas perfilhadas (Neto, 1998; Leite e Esteves, 2005 e Barell, 2007).

Por outro lado, saber o que os alunos pensam de uma determinada abordagem de ensino e aprendizagem, como reagem a ela e quais as suas vantagens e desvantagens pedagógicas é, na realidade, fundamental para o professor orientar a sua actividade na direcção mais correcta. Além disso, e dado que o ensino orientado para a Aprendizagem Baseada na Resolução de Problemas requer uma profunda alteração no papel do professor, é importante que a este seja proporcionada a formação capaz de o iniciar neste tipo de ensino e aprendizagem.

- Implicações a nível do programa de Física e de Química

Finalmente, no Ensino Secundário, na disciplina de Física e Química A, o programa alerta para o facto de esta disciplina ser encarada como uma via para o desenvolvimento dos alunos, privilegiando o conhecimento em acção, capaz de promover uma compreensão do mundo na sua globalidade (DES, 2001 e DES, 2004). Para isso, o programa remete para a escolha de situações-problema relacionadas com o dia-a-dia, que sejam familiares aos alunos e a partir das quais se devem organizar estratégias de ensino e de aprendizagem que reflictam a necessidade de esclarecer conteúdos e processos das Ciências e da Tecnologia,

criem contextos problemáticos que levem os alunos a questionar diversos assuntos. No entanto, estes incentivos são insuficientes para garantir um ensino orientado para a Aprendizagem Baseada na Resolução de Problemas, o qual deveria ser mais assumidamente explicitado, mesmo ao nível das orientações programáticas.