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4.7 Principais dificuldades encontradas pelos alunos e pela Professora no decurso da implementação da abordagem de

ensino em estudo

O diagnóstico das principais dificuldades encontradas pelos alunos no decurso do ensino orientado para a Aprendizagem Baseada na Resolução de Problemas que a seguir se traça resultou da observação directa dos alunos quer na sala de aula, quer no âmbito das pesquisas desenvolvidas no exterior da mesma. Acresce, ainda, a contribuição das conversas ocorridas entre a professora investigadora e os alunos, de um modo mais formal, no decorrer das aulas, assim como das conversas que aconteceram, de modo mais informal, fora da sala de aula. Uma análise conjunta de todos estes dados indica que uma parte significativa das dificuldades sentidas pelos alunos encontra abrigo em três áreas de dificuldades distintas, que a seguir se expõem:

· Dificuldades decorrentes da incapacidade de identificação e aceder a fontes de investigação adequadas para a investigação em curso

Como já foi referido, os alunos foram incentivados a usar as suas habilidades e conhecimentos pessoais para identificarem e procurarem as fontes de pesquisa necessárias. Merece a pena sublinhar que, tendo sido dada liberdade aos alunos para procurarem fontes de pesquisa adequadas, conducentes à recolha de informação relevante para a resolução do problema em análise, seria natural esperar que alguns alunos sentissem dificuldades em as

pouco à vontade, na primeira fase do estudo, na definição das fontes de pesquisa relevantes apresentando inicialmente, indícios de uma total desorientação: “Nós pensamos em procurar na biblioteca… mas vamos lá procurar o quê?” , “Podemos ir à Internet, mas a professora tem de nos dar os sites…é que a Internet tem muitas coisas!” Na segunda fase deste estudo, os alunos já pareciam conseguir com algum sucesso identificar e seleccionar as fontes de informação adequadas.

· Dificuldades relacionadas com a gestão das fontes de informação

Verificou-se que alguns grupos de trabalho, quer antes quer após terem acedido com sucesso às fontes de pesquisa relevantes, no âmbito da investigação em curso, eram incapazes de definir o que fazer com elas. A esse propósito, é eloquente a observação feita por alguns alunos em relação ao destino a dar às notícias recolhidas pelo grupo de trabalho: “Não podemos chamar a professora? [para nos ajudar a decidir se a notícia é importante ou não para a resolução do problema] ”

· Dificuldades temporais

Segundo a opinião dos alunos, e pelo facto de esta abordagem de ensino e aprendizagem implicar algum trabalho extra-aula (2.ª fase), geraram-se “conflitos” entre disciplinas, na medida, em que o tempo necessário para a realização de determinadas tarefas se sobrepõe ao tempo que se tem disponível para estudar e realizar trabalhos de casa de outras disciplinas. “Penso que o tempo que temos disponível para realizar este tipo de aulas é curto e não nos deixa tempo para fazermos outra coisa”, “Não temos tempo para andar a investigar. Temos muitos testes e testes intermédios nacionais…”(Questão 17, Q.O.).

Vale a pena, também, chamar a atenção para as principais dificuldades sentidas pela professora investigadora-autora deste estudo, durante a implementação do ensino orientado para a Aprendizagem Baseada na Resolução de Problemas.

§ Dificuldades decorrentes da gestão dos debates

No decurso dos debates, houve necessidade de gerir as intervenções dos vários grupos e de conduzir a turma rumo à consecução dos objectivos que inicialmente se tinham traçado. Aqui surgiram algumas dificuldades, por duas razões que se reputam de essenciais: primeiro, porque, em certa altura, as conversas derivaram para situações que pouco relevo tinham no contexto da investigação em causa. Nessas ocasiões, foi difícil, sem privar a necessidade dos alunos de saber mais sobre determinado assunto e sem lhes limitar a curiosidade natural e o apreço pela compreensão do meio físico onde estavam integrados, conduzi-los de novo para os problemas abordados; segundo, porque foi igualmente complicado gerir a intervenção como professora investigadora-autora sem produzir interferências susceptíveis de “minar” o estudo que se estava a desenvolver.

· Dificuldades decorrentes da necessidade de acompanhamento dos alunos no exterior à sala de aula

De facto, houve necessidade de gerir a mobilidade dos alunos em várias vertentes diferentes (idas à biblioteca, contactos com determinadas entidades e organismos, realização de entrevistas ao público em geral, etc.) o que, por vezes, obrigava a que os alunos trabalhassem fora da escola. Na verdade, este aspecto revelou-se bastante complicado, pois os alunos tinham o seu horário muito preenchido. No entanto, mostraram-se sempre disponíveis para executar as tarefas extra-aula.

· Dificuldades emergentes da mudança de papel

A simultaneidade em ser professora investigadora-autora gerou conflitos de interesse. Como professora, o impulso natural, quando um aluno colocava uma dúvida, era responder, satisfazendo a sua fome de saber; como investigadora, por outro, a autora procurava que fosse o próprio aluno a delinear o percurso de investigação a adoptar para solucionar o seu problema, não fornecendo, como tal, a resposta para aquele. Casos houve em que foi difícil impedir que o papel de professora (educadora) se sobrepusesse sob o papel de investigadora. Tal ocorreu especialmente nos casos em que se estava convicta da

Em suma, no que respeita a dificuldades sentidas, verifica-se que estas decorreram, no caso dos alunos, da incapacidade para identificar e aceder a fontes de informação adequadas para a investigação em curso, da incapacidade para gerir as fontes de informação e da ausência de tempo extra-aula disponível. No caso da professora investigadora e autora, as principais dificuldades encontradas centram-se na adequação dos contextos problemáticos que conduzissem aos objectos de ensino leccionados nas áreas temáticas (“Movimentos na Terra e no Espaço” e “Da Atmosfera ao Oceano: soluções na Terra e para a Terra”), gestão dos debates e na necessidade da mudança de papel.

Ora, a grande maioria destas dificuldades tinha já sido prevista no âmbito da revisão de literatura efectuada no capítulo 2. Com efeito, Boud e Feletti (1997) haviam já reconhecido e identificado a existência de dificuldades no ensino orientado para a Aprendizagem Baseada na Resolução de Problemas. Contudo, não havia encontrado referência particular a dificuldades que se consideraram poder constituir o principal obstáculo à implementação de uma abordagem de ensino deste cariz: contextos adequados, gestão dos debates e limitações de tempo.

CAPÍTULO 5

5.1- Introdução

Este capítulo inicia-se com a apresentação das principais conclusões do estudo (5.2) organizadas em função das questões de investigação formuladas em (1.3). Serão, depois discutidas as implicações do estudo (5.3), as principais limitações (5.4), e, por fim, apresentam-se algumas sugestões para futuras investigações (5.5).