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De um modo sintético, os objectivos que nos propusemos alcançar com este estudo têm que ver com vários aspectos: primeiro, avaliar o efeito de uma abordagem de ensino orientado para a Aprendizagem Baseada na Resolução de Problemas no desenvolvimento conceptual dos alunos no tema de Física “Movimentos na Terra e no Espaço”; segundo, avaliar o efeito de uma abordagem de ensino orientado para a Aprendizagem Baseada na Resolução de Problemas na Física “Movimentos na Terra e no Espaço” e na Química “Da atmosfera ao Oceano: soluções na Terra e para a Terra”, na capacidade de resolução de situações problemáticas; terceiro, analisar as opiniões dos alunos e da professora, acerca da abordagem de ensino implementada.

Com o intuito de motivar os alunos a aprender os conteúdos de Física e de Química associados às áreas temáticas “Movimentos na Terra e no Espaço” e “ Da Atmosfera ao Oceano: soluções na Terra e para a Terra”, de os ajudar a desenvolverem competências que lhes permitissem relacionar-se de um modo diferente com o conhecimento veiculado pelas diferentes áreas do saber contemporâneo (e desse modo, entenderem, seguirem e envolverem-se nos debates sobre temas científicos e tecnológicos que esses temas colocam quer para eles como indivíduos quer para a sociedade como um todo), planificou-se e aplicou-se a uma turma do 11º ano uma abordagem de ensino orientada para a Aprendizagem Baseada na Resolução de Problemas.

A avaliação do efeito dessa abordagem de ensino (Aprendizagem Baseada na Resolução de Problemas) foi realizada a dois níveis: aprendizagem de conhecimentos conceptuais e desenvolvimento de competências em resolução de problemas. Avaliou-se, ainda, a adesão dos alunos à abordagem de ensino e aprendizagem proposta e

diagnosticaram-se dificuldades sentidas quer pela professora quer pelos alunos no decurso da implementação da estratégia de ensino adoptada.

Os resultados obtidos (apresentados no capítulo 4) revelaram que, a turma evoluiu, de um modo acentuado do pré para o pós-teste, relativamente aos conceitos associados à área temática “Movimentos na Terra e no Espaço”, revelando aquele, uma maior percentagem de alunos que elabora agora, construções mentais mais próximas das “cientificamente aceite”.

Uma análise pormenorizada dos resultados apresentados no capítulo 4 permite fazer derivar as conclusões que a seguir se explanam.

No que concerne à aprendizagem dos conceitos de velocidade média e velocidade instantânea, conclui-se que a abordagem de ensino proposta parece ter contribuído para que a turma evoluísse no domínio daqueles conceitos.

No que diz respeito ao conceito de aceleração, poderá concluir-se que a abordagem de ensino orientada para a Aprendizagem Baseada na Resolução de Problemas terá contribuído para o sucesso dos alunos da turma nesse domínio, sucesso esse que foi, de alguma forma, relativo, pois as dificuldades parecem permanecer em seis alunos após a implementação do ensino e aprendizagem.

No que concerne à aprendizagem de conhecimentos conceptuais e às dificuldades que os alunos encontram ao lidar com conceitos de Física associados ao binómio força- movimento, os resultados parecem revelar, desagrado à implementação da abordagem de ensino em estudo.

No que diz respeito à Lei da Inércia, conclui-se que a abordagem de ensino e aprendizagem proposta não introduziu melhorias dignas de registo no desempenho dos alunos nesta área.

Por outro lado, e no que se prende com a Terceira Lei de Newton e com a compreensão do conceito de força que lhe subjaz, conclui-se que em contextos semelhantes aos que envolveram o trabalho desenvolvido na consecução dos problemas, a turma evoluiu de um modo notório do pré para o pós-teste. Este resultado poderá dever-se à abordagem de ensino adoptada na turma, visto que parece ter contribuído para a evolução dos alunos em contextos similares aos que foram usados nas aulas. Do conjunto de resultados obtidos neste campo conclui-se, ainda, que os alunos continuam a evidenciar

Passando à capacidade para analisar correctamente gráficos de movimento, conclui-se que o impacto da abordagem proposta parece ter sido bastante positiva, pois a evolução foi acentuada.

No que se liga à gravidade, poderá inferir-se que a abordagem de ensino e aprendizagem proposta, embora contribuísse para uma evolução da turma, conduz ainda à persistência de dificuldades em alguns alunos.

Conclui-se ainda que, apesar de não ser objectivo fundamental desta investigação, quer antes quer após a implementação da abordagem do ensino e aprendizagem em causa, os alunos apresentam ideias e dificuldades semelhantes às recorrentemente descritas em outros estudos (Watts, 1982; Gunstone e Watts, 1985. Neto, 1998; Valente e Neto, 1992;

Leite e Afonso, 2000; Díaz, 2002; Lopes, 2004 e Palma e Leite, 2006). A abordagem de ensino perfilhada, embora não tenha sido suficiente para que todos os alunos ultrapassassem as suas dificuldades e construíssem ideias mais próximas das “cientificamente aceite”, atingindo, desse modo, um nível de aprendizagem elevado (que era o que se desejava), contribuiu globalmente para uma evolução bastante positiva.

No que diz respeito ao objectivo desta dissertação, avaliar o desenvolvimento de competências em resolução de situações problemáticas, os resultados revelaram que a turma, quando sujeita a um ensino orientado para a Aprendizagem Baseada na Resolução de Problemas, parece ter evoluído de um modo bastante acentuado, naquelas competências, o que foi confirmado com os resultados obtidos na segunda fase deste estudo, pois foram propostos aos alunos várias situações problemáticas (Anexos VII, IX e X).

Assim, parece existir alguma legitimidade para se concluir deste estudo, que um ensino desta natureza contribui para o desenvolvimento de competências de resolução de situações problemáticas nos alunos, conclusão esta que é consonante com os resultados obtidos no estudo realizado por Chang e Barufaldi (1999).

Seguidamente, e no sentido de avaliar o segundo objectivo a que nos propusemos, concluí-se, da análise dos resultados obtidos no questionário de opinião, que a abordagem de ensino orientada para a Aprendizagem Baseada na Resolução de Problemas parece ter conduzido a uma reacção muito favorável dos alunos, tendo estes aderido positivamente ao método de ensino em questão. De facto, foi elevado o número dos que optou, aquando da aplicação do questionário, na primeira fase do estudo, pelas categorias de resposta favoráveis à abordagem de ensino implementado pela professora investigadora, o que não

constituiu surpresa, uma vez que tal já tinha sido previsto aquando da análise dos resultados obtidos por Chang e Barufaldi (1999) e Vieira (2007). Este facto constitui um forte indício de um impacte claramente positivo daquela perspectiva de ensino nos alunos. Reforça também esta conclusão a análise dos comentários emitidos pelos alunos quer no âmbito da Questão 17 do questionário de opinião, reiterada por um grupo de sete alunos quando entrevistados na segunda fase do estudo, quer aquando do decurso das aulas. Este é, de facto, um aspecto importante, uma vez que quer os comentários redigidos pelos alunos no questionário, quer os verbalizados na entrevista e na sala de aula permitiram que os alunos explicitassem e clarificassem melhor as opções que assinalaram nas várias questões do questionário de opinião. Ora, tal elimina, de certa forma, a aleatoriedade que a escolha dessas opções poderia implicar assim como o risco das conclusões que delas se poderiam extrair.

Esses comentários permitiram concluir ainda que os alunos têm consciência das diferenças principais entre a abordagem de ensino utilizado na leccionação das restantes áreas temáticas de Química e Física e no ano lectivo transacto (“ensino tradicional”) e a abordagem de ensino preconizado pela professora investigadora no ensino da unidade temática “Movimentos na Terra e no Espaço” e “Da atmosfera ao Oceano: soluções na Terra e para a Terra”. Tal é corroborado pelo facto de os alunos referirem que a abordagem de ensino e aprendizagem implementada pela professora não os obriga a um estudo direccionado para a memorização de leis e fórmulas físicas, como, segundo eles, é hábito num ensino tradicional, mas antes lhes permitiu assimilar essas leis e fórmulas por associação com o contexto no qual se desenvolve a resolução dos problemas. A grande maioria dos alunos que defendeu esta ideia, relevou o facto de este método lhes possibilitar aprender Física e Química no contexto do mundo real. Deram também enfoque ao facto de o método de ensino orientado para a Aprendizagem Baseada na Resolução de Problemas lhes ter proporcionado um papel mais activo no processo de aprendizagem, acarretando isso a necessidade de terem de ser eles próprios a tomar as decisões relevantes conducentes à consecução dos problemas a resolver. Valorizaram também a dinâmica das aulas, particularmente a flexibilidade, o interesse e a motivação na e pela aprendizagem que esta abordagem de ensino promove, por lhes colocar desafios como alunos, indivíduos ou ainda como membros integrantes de uma sociedade em permanente transformação.

Considera-se este último aspecto de cabal importância, uma vez que é imprescindível motivar os alunos para resolver problemas, de forma a que, posteriormente, se sintam interessados na aprendizagem do corpo de conhecimentos necessários à resolução daqueles. Garantida a motivação, a ajuda do professor completará os restantes requisitos de cooperação e diálogo ao longo do ensino, permitindo que o aluno esteja mais capacitado para resolver os problemas e, no futuro, conseguir, pelo menos potencialmente, resolver problemas semelhantes. Entretanto, os seus recursos intelectuais terão sido ampliados, graças a interiorização dos conteúdos e processos de controlo que o professor lhes proporcionou durante o tempo que durou a interacção comunicacional entre ambos (Neto, 1998).

Por último, pode ainda retirar-se a ilação de que, no ensino orientado para a Aprendizagem Baseada na Resolução de Problemas, a principal dificuldade dos alunos é saberem onde e como procurar a informação pertinente para a resolução dos problemas e, após acederem a ela, como usá-la adequadamente na sua resolução (Neto, 1998 e Lambros, 2004). Em relação à professora, conclui-se que a principal dificuldade na condução de um ensino deste género poderá residir na dificuldade de associar contextos problemáticos adequados à temática em estudo e na orientação dos debates gerados em torno dos problemas, sendo também de considerar imponderáveis emergentes da dinâmica indubitavelmente associada ao formato de um ensino e aprendizagem deste cariz.