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Tomando como referência o conjunto de todas as técnicas de recolha de dados seleccionadas e os instrumentos desenvolvidos e utilizados ao longo das várias fases que compõem o estudo, optou-se por, numa primeira análise, coligir conjuntamente, e para cada aluno, todos os dados recolhidos, com intuito de fazer emergir mais eficazmente o perfil de cada um no contexto da investigação. Considera-se que esta análise de conjunto para cada aluno potencia a percepção do estado inicial (pré), do estado final (pós) e, consequentemente, da evolução no decurso do ensino e aprendizagem dos conteúdos da unidade temática “Movimentos na Terra e no Espaço”, aplicados na 1ª fase e na evolução da resolução de situações problemáticas, na 2ª fase deste estudo.

Posteriormente, analisou-se o conjunto dos resultados obtidos em cada um dos instrumentos utilizados. O modo como se efectuou essa análise está exposto a seguir, para cada um dos instrumentos.

3.8.1 - Teste de conhecimentos de Física (Questões de 1 a 11) e de Química (Questões de 1 a 6) – 1ª e 2ª fases do estudo

Para o efeito do tratamento de dados recolhidos por aplicação dos testes de conhecimentos, foi feita uma análise de conteúdo em simultâneo às respostas de cada aluno, quando existiam, do pré-teste e do pós-teste. Para além de uma análise quantitativa, que permitiu calcular a percentagem de respostas para cada uma das categorias definidas e visualizar o modo como se distribuíam as respostas dos alunos pelas várias categorias consideradas, antes e após a implementação do ensino orientado para a Aprendizagem Baseada na Resolução de Problemas, foi efectuada uma análise qualitativa [devido à reduzida dimensão da amostras (n=28)], com foco na compreensão das justificações avançadas pelos alunos para reforçar as respostas dadas às diversas questões que compunham o teste de conhecimentos. Tratou-se, na realidade, de uma análise de conteúdo (Bardin, 2007), que teve a ver fundamentalmente com a clarificação das ideias presentes nas justificações perfilhadas pelos alunos. Não obstante a maior dificuldade em trabalhar com palavras do que com números, devido ao facto de as palavras possuírem significados e sentidos diversos que as tornam mais difíceis de manipular e interpretar (Neto, 1998), procurou-se consumar essa análise de conteúdo através da identificação de ideias e aspectos presentes nas respostas dos alunos que as tornassem susceptíveis de uma categorização, que a seguir se enuncia:

- Resposta cientificamente aceite (C_Ac)

As respostas abrangidas por esta categoria contêm as ideias científicas principais requeridas para uma explicação correcta e fundamentada das situações contempladas em cada uma das questões. Essas ideias devem, obviamente, ser concordantes com o nível dos alunos e os critérios estabelecidos no programa para o Ensino Secundário (DES, 2004). Os aspectos a constar nas respostas dos alunos incluídas nesta categoria encontram-se no capítulo seguinte.

- Resposta cientificamente incompleta (C_In)

resposta contenha aspectos cientificamente aceites, se simultaneamente integrar aspectos cientificamente rejeitados, não é contabilizada nesta categoria.

- Resposta cientificamente rejeitada (C_Re)

Foram incluídas nesta categoria todas as respostas que ou não contenham aspectos cientificamente aceites, ou contenham simultaneamente aspectos cientificamente aceites e rejeitados.

- Não explica a resposta/opção (S_Ex)

As respostas incluídas nesta categoria englobam os casos em que o aluno, embora tendo respondido ou assinalado a opção correcta, não justifica a resposta/opção que perfilhou.

- Não responde (S_Re)

Nesta categoria foram incluídos todos os casos em que se verificou ausência total de resposta.

- Outras (Outr)

Estão incluídas nesta categoria todas as respostas que ou não se inserem nas categorias acima definidas, ou não foram consideradas suficientemente inteligíveis.

Após a categorização das respostas, calculou-se a certeza média que os alunos tinham nas respostas incluídas nas categorias “cientificamente aceite”, “cientificamente incompleta” e “cientificamente rejeitada”, antes e após o ensino e aprendizagem.

Sempre que se justificou, incluíram-se excertos das respostas dos alunos envolvidos no estudo, a título de ilustração, clarificação ou complemento de ideias. A apresentação desses excertos das respostas é identificada pelo número de ordem atribuído a cada aluno.

Por fim, com os dados recolhidos através do teste de conhecimentos, analisou-se o percurso individual de cada aluno em termos de progressão verificada. Para o efeito, considerou-se que progrediu o aluno cujas respostas passaram da categoria “cientificamente incompleta”, “cientificamente rejeitada”, “não explica a resposta/opção”, “não responde” e “outras” para a categoria “cientificamente aceite”.

Considerou-se, ainda, que progrediram os alunos cujas respostas transitaram da categoria “cientificamente rejeitada”, “não explica a resposta/opção”, “não responde” e “outras” para a categoria “cientificamente incompleta”. Por outro lado, regrediram os alunos que fizeram o percurso oposto. Mantêm os alunos que não modificaram as posições adoptadas no pré-teste. Aqueles alunos que não puderam ser incluídos nestes tipos de percurso foram contabilizados na designação outras. As análises efectuadas permitiram comparar a evolução do pré-teste para o pós-teste.

3.8.2 - Teste de aferição do desempenho dos alunos na resolução de situações problemáticas – 1ª e 2ª fases do estudo

Para tratamento dos dados recolhidos pelo teste de aferição, calculou-se a percentagem de alunos que manifestou as diferentes competências em resolução de situações problemáticas, verificando-se a sua evolução do pré-teste para o pós-teste. Assim, tendo em conta as competências de resolução de problemas amplamente relevadas na literatura (Barrows e Tamblyn, 1980; Duch, 1996; Bound e Feletti, 1997; Ross, 1997; Chang e Barufaldi, 1999; Parales, 2000 e Lambros, 2004) e com o intuito de dar suporte a este cálculo, optou-se, por incidir a avaliação naquelas que mais directamente se prendem com um ensino orientado para a Aprendizagem Baseada na Resolução de Problemas. Tornou- se, então, necessário definir que aspectos das propostas de resolução alvitradas pelos alunos poderiam evidenciar uma consciência dos processos fundamentais no âmbito da resolução de problemas. Consideraram-se as categorias a seguir mencionadas:

C1 – O aluno identifica/interpreta/compreende a situação problemática criada

C2 – O aluno prevê/identifica factores relevantes e avalia o peso relativo dos mesmos

C3 – O aluno planifica/define múltiplas tarefas conducentes à resolução do problema C4 - O aluno prevê/identifica fontes de pesquisa

C5 – O aluno planifica estratégias de resolução

C6 – O aluno considera a necessidade do trabalho de equipa e da discussão de opiniões

Os aspectos a constar nas respostas dos alunos inseridas nas várias categorias consideradas apresentam-se no capítulo seguinte.

A actividade de categorização implicou que a investigadora decompusesse o texto original redigido pelos alunos em unidades de significado, numerasse essas mesmas unidades e as classificasse em função do sistema de categorias estabelecidas (Huberman e Miles, 1991). Note-se que as categorias C1, C6 e C8 são do tipo interpretativo (Huberman e Miles, 1991), por requererem que a professora investigadora efectue algumas inferências a partir das respostas dos alunos.

Tal como no caso do teste de conhecimentos, sempre que necessário, ilustrou-se a classificação das respostas formadas com extractos do texto escrito pelos alunos envolvidos no estudo. A apresentação desses extractos é identificada pelo número de ordem atribuído a cada aluno.

Analisou-se, também, o percurso individual de todos os alunos de cada grupo, em termos da progressão verificada nas várias categorias definidas. Para o efeito, considerou- se que progrediu o aluno cujas respostas ou passaram a apresentar aspectos susceptíveis de as incluir nas categorias em causa, ou mostraram um desenvolvimento das competências em resolução de problemas associadas a essas categorias. Regrediu o aluno que fez o percurso contrário. Manteve aquele aluno que não desenvolveu as competências associadas às categorias em causa, ou, tendo já manifestado no pré-teste a presença dessas competências, as manteve.

3.8.3 - Questionário de opinião – 1ª fase do estudo

A análise do questionário de opinião foi feita de modo parcelar, de acordo com a natureza das diferentes partes do questionário, que eram quatro. A primeira parte, com cinco questões, estava relacionada com a avaliação da abordagem de ensino adoptado e da sua eficácia. Na segunda parte estão inseridas as questões 6, 7, 8, 9 e 10, acerca das actividades realizadas durante as aulas em que se abordou a temática “Movimentos na Terra e no Espaço”. A terceira parte engloba as questões numeradas de 11 a 15, relativas ao trabalho de grupo e, finalmente, a quarta parte é constituída pelas questões 16 e 17, em que os alunos expressaram pelas suas próprias palavras o que acharam sobre determinados aspectos das aulas.

As respostas às primeiras quinze questões deste questionário foram objecto de análise quantitativa, o que permitiu calcular a frequência absoluta em cada uma das questões que os alunos podiam assinalar no questionário de opinião.

Fundamentou-se e explicitou-se esta análise com a transcrição das opiniões dos alunos, quer recolhidas com recurso aos comentários por eles redigidos, no âmbito das questões 16 e 17 do questionário em causa, quer decorrentes das notas de campo resultantes da observação efectuada, quer dos diários de cada sessão de trabalho. As opiniões transcritas representam tanto excertos textuais das opiniões por eles redigidas como registos de conversas apreciadas entre esses mesmos alunos e a professora. Os excertos incluídos têm como objectivo fundamental mostrar sentimentos, atitudes e estados finais dos alunos relacionados, no essencial, com a abordagem de ensino orientada para a Aprendizagem Baseada na Resolução de Problemas.

Para que fosse possível diferenciar a via pela qual foram recolhidos os comentários, indicou-se, no final de cada uma das transcrições, uma notação a referir a procedência daqueles. Assim, os comentários com origem nas questões 16 e 17 do questionário opinião, foram designados por QO (Questionário de Opinião), enquanto os comentários registados nas notas de campo observacionais e nos diários de aula de cada sessão de trabalho com os alunos, foram identificados através da denominação DA (Diário de Aula).

3.8.4 - Notas de campo/Diários de aula – 1ª e 2ª fases do estudo

Por fim, trataram-se e analisaram-se os dados procedentes dos registos efectuados no decurso das aulas (notas de campo) e no final destas (diário de aula onde eram registadas as dificuldades sentidas pela professora e alunos).

Para ambos os instrumentos, identificaram-se as passagens de textos redigido para cada aula que, pela sua relevância, adequabilidade e consistência, correspondiam às categorias de análise que antes se haviam decidido tratar. Uma vez identificadas as categorias que tipificavam os registos efectuados, estes foram, como já se referiu, sempre que se considerou justificável, acrescentados à clarificação das respostas/opiniões dadas pelos alunos da turma.

3.8.5 - Entrevista de grupo – Focus Group – 2ª fase do estudo

Relativamente à entrevista de grupo, Focus Group, o modelo desenvolvido para a análise teve em conta que os dados recolhidos são respostas elaboradas pelos inquiridos a questões abertas. Por isso, a análise de conteúdo considerada a mais adequada foi a técnica de tratamento da informação recolhida.

Para utilizar esta técnica (Bardin, 2007), tornou-se indispensável transcrever as entrevistas áudio gravadas ouvindo-as repetidas vezes, para minimizar possíveis ambiguidades.

Atribuiu-se uma letra a cada um dos sete alunos(as) entrevistados(as): A, B, C, D, E, F e G.

Na análise de conteúdo, foram definidas Categorias de Respostas com as ideias subjacentes às respostas de mais do que um aluno (Bardin, 2007).