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IMPORTÂNCIA DA CRIAÇÃO DE COMUNIDADES DE APRENDIZAGEM

2. CAPÍTULO II – ENQUADRAMENTO TEÓRICO

2.1. O ENSINO A DISTÂNCIA

2.1.3. IMPORTÂNCIA DA CRIAÇÃO DE COMUNIDADES DE APRENDIZAGEM

Um dos principais aspectos decorrentes da realização de formação a distância tem a ver com a separação física entre formandos e entre estes e o formador. Se no ensino presencial este factor não se coloca, uma vez que todos eles se reúnem de forma regular num mesmo espaço físico, já no espaço virtual facilmente pode ocorrer uma sensação de isolamento que, em último caso, pode levar à desmotivação e até à desistência da frequência de determinado curso realizado com base neste modelo organizativo. Para ultrapassar esta sensação de isolamento é preciso que o curso seja conduzido de forma a criar nos alunos o sentido de comunidade.

Por outro lado, os problemas e desafios do mundo moderno apresentam tais dimensões e complexidade que a sua resolução envolve, cada vez mais, o trabalho em equipa (Santos e Ferreira, s/d). Assim, nos últimos anos, tem-se assistido a um esforço nítido tendente ao estabelecimento de estratégias que permitam a aprendizagem por meio da construção de comunidades virtuais.

Vários autores definem estas comunidades de aprendizagem, que devem evoluir para verdadeiras comunidades aprendentes, na perspectiva do construtivismo comunal, como sendo caracterizadas por espaços utilizados de forma didáctica por grupos de pessoas com interesses comuns, nos quais os aprendentes trabalham, de forma conjunta, na perspectiva de maximizar a sua aprendizagem individual e a da própria comunidade (Giardina e Mve, s/d). Define-se, então, por uma conjugação de saberes dos vários aprendentes com o objectivo último da construção do conhecimento e, mais ainda, do desenvolvimento de competências numa lógica de conhecimento em acção.

O avanço tecnológico, sobretudo o surgimento da Internet, tem vindo a expandir a oferta de produtos e serviços de suporte ao trabalho cooperativo. A utilização destes métodos e ferramentas que possibilitam o trabalho colaborativo e mesmo cooperativo chegou também à esfera educacional, sendo já relativamente frequente a utilização de expressões como “trabalho cooperativo em educação”, “aprendizagem colaborativa”, “aprendizagem cooperativa” e até, mais recentemente, do termo “aprendizagem cooperativa distribuída” (Santos e Ferreira, s/d).

O termo “trabalho cooperativo” possui uma longa história nas ciências sociais, sendo primeiramente empregue no século XIX como designação geral para todo e qualquer trabalho que envolvesse múltiplos actores. A colaboração, a troca de informação, a capacidade de comunicação, o respeito pelas diferenças individuais e o exercício efectivo da negociação constituem requisitos fundamentais para o trabalho

cooperativo. Para haver cooperação torna-se imprescindível a existência de um “ambiente democrático” onde todos se possam expressar livremente. O papel da comunicação é fundamental, podendo ser realizada de diferentes formas, desde encontros presenciais (face a face) até ao recurso a meios electrónicos. Actualmente, os serviços das redes de comunicação têm potencializado o trabalho cooperativo, especialmente apoiado em CSCW (Computer Supported Cooperative Work) (Santos e Ferreira, s/d).

A “aprendizagem cooperativa” incorpora as diversas facetas do trabalho cooperativo, mas agrega também novos elementos: a intencionalidade da aprendizagem e a tutoria. A interdependência (positiva), a confiança mútua, a interação, a responsabilidade individual e a partilha e socialização das informações entre alunos e professores, empenhados na concretização de uma tarefa comum (ou de um objectivo compreendido e compartilhado por todos) constituem pilares de sustentação fundamentais para a aprendizagem cooperativa (Santos e Ferreira, s/d). Portanto, uma comunidade de aprendizagem envolve um grupo de pessoas que se organizam com o objectivo de se apoiar mutuamente no desenvolvimento de actividades, interagindo, colaborando, partilhando recursos e construindo um sentimento de pertença; estes são alguns dos inúmeros aspectos que sustentam uma comunidade (Rodrigues et al., s/d).

Esta perspectiva comunitária de construção do conhecimento não se pode basear apenas na utilização das tecnologias da informação e comunicação como fontes de informação, já que assim se estaria a retirar potencialidades a meios que podem, quando devidamente aproveitados, ser excelentes instrumentos para novos e motivadores processos de aprendizagem. As TIC deverão, antes, ser a base que sustenta um processo comunitário, que aproveita os diversos saberes adquiridos de participantes tão diferenciados entre si, de uma forma construtiva, para assumir uma perspectiva essencialmente “comunitária e relacional”. Desta forma, os aprendentes, em comunidade, ajudam a construir conhecimento, através de uma efectiva participação na própria construção desse conhecimento e na dinâmica que conseguem estabelecer com o mundo envolvente, com a “comunidade de sujeitos” a que passam a pertencer (Swan, 2002).

Para que a criação de comunidades virtuais de aprendizagem consistentes se verifique é necessário que se crie um ambiente de aprendizagem amigável, desinibidor, que não afaste os menos dotados tecnicamente. Este ambiente deverá ter algumas semelhanças com aspectos verificáveis numa formação em presença, como sejam a possibilidade de ver quem está “presente” na “sala” ou a disponibilidade de fazer um

intervalo num “bar virtual”. Algumas pesquisas indicam, de forma inequívoca, que este tipo de interacção estabelecida entre os elementos da comunidade gera uma espécie de camaradagem que contribui para a formação da sua identidade e para o desenvolvimento de um espírito colectivo e de partilha.

O conceito de comunidades de aprendizagem não é totalmente novo, uma vez que alguns investigadores sócio-construtivistas (como Dewey, Vygotsky e Wittgenstein) já referenciavam este tipo de modelo. Pode mesmo considerar-se que algumas das mais importantes “orientações” sobre a planificação de actividades nos cursos de ensino a distância emanam dos pressupostos sócio-construtivistas de Vygotsky, que atribui uma enorme importância ao trabalho colaborativo e cooperativo, considerando que o conhecimento é fruto das relações intra e interpessoais. O referencial teórico que sustenta o recurso à aprendizagem cooperativa pode, então, ser resumido na ideia de que a interacção entre os sujeitos é fundamental para o seu desenvolvimento pessoal e social. De facto, essa interacção possibilita a transformação da realidade de cada sujeito, mediante um “sistema de trocas” com os seus pares. Através das diferenças individuais, a aprendizagem cooperativa vai sendo edificada, a partir dos processos de reflexão e de construção social do conhecimento sustentados na interacção entre os indivíduos envolvidos (Santos e Ferreira, s/d).

Nas conclusões que retiram a partir da análise de um curso efectuado a distância com professores, subordinado ao tema da Educação Especial, Sloczinski e Santarosa (2004) afirmam que as interacções realizadas ao longo do curso possibilitaram o estabelecer de relações entre os participantes que permitiram “formar uma comunidade cognitiva, em que cada membro social fez-se co-responsável pelo processo de aprendizagem de todos” (p. 1119).

A aprendizagem cooperativa não implica necessariamente o recurso às novas tecnologias, exige apenas uma postura pedagógica inovadora e adequada aos tempos que correm. Contudo, é evidente que a Internet proporciona serviços cada vez mais estáveis, seguros e “amigáveis” para a criação de ambientes virtuais de aprendizagem cooperativa distribuída, onde alunos e professores cooperam entre si, sem as limitações de barreiras geográficas e de tempo (Santos e Ferreira, s/d). Em traços muito gerais, a “aprendizagem cooperativa distribuída” consiste no desenvolvimento de actividades centradas na aprendizagem cooperativa tendo a Internet como suporte. No que concerne a este tipo de aprendizagem, há um ponto “nevrálgico” que não pode ser negligenciado e que reside na constatação de que, neste tipo de ambientes, mesmo havendo a mediação das máquinas, o que existe são pessoas que se encontram para aprender juntas.

Na aprendizagem cooperativa distribuída, como se compreende, a comunicação e a interacção são pontos-chave. Em ambientes distribuídos, a cooperação pode ocorrer de forma síncrona ou assíncrona, assunto que retomaremos mais adiante neste relatório.