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Impossibilidade de aplicação da regra do art 27 da Lei 9.868/99 para casos em que é

No documento Jurisprudência e confiança (páginas 114-116)

1 PRINCÍPIO DA CONFIANÇA – DELIMITAÇÃO, FUNDAMENTO NORMATIVO

2.2 ESTRUTURA DO PRINCÍPIO DA CONFIANÇA NA ATIVIDADE JURISDICIONAL

2.2.1 Base da confiança

2.2.1.2 Critérios objetivos da base da confiança

2.2.1.2.2 Impossibilidade de aplicação da regra do art 27 da Lei 9.868/99 para casos em que é

Um segundo argumento, levantado no julgado do IPI insumos alíquota zero e não tributados304, dá conta de que não se poderia aplicar a regra prevista no art. 27 da Lei 9.868/98, tendo em vista que tal regra somente é aplicável quando do reconhecimento da inconstitucionalidade de uma lei em oposição ao anterior reconhecimento da constitucionalidade. Assim, tendo em vista que na matéria de fundo o tribunal teria apenas modificado seu entendimento para agora reconhecer a constitucionalidade da norma, não haveria hipótese normativa legal para aplicação da modulação dos efeitos.

Todavia, o próprio Supremo Tribunal Federal já se manifestou pela possibilidade da aplicação da regra quando do posterior reconhecimento da constitucionalidade de uma norma. No julgamento da ADI 3.756, o STF deu pela improcedência do pedido, entretanto determinou que o cumprimento da decisão se desse somente após a publicação do acórdão da ADI. Historiando os fatos tem-se que por meio dessa ADI se pleiteava a declaração de

inconstitucionalidade de dispositivos da Lei de Responsabilidade Fiscal (art. 1º, § 3º, II, e art. 20, II e III da LC 101/2000) que versam sobre a aplicação dos limites globais das despesas com pessoal do Poder Legislativo em relação ao Distrito Federal (DF). O DF entendia que a limitação dos gastos prevista para os Estados não era aplicável a si, pois a organização dos Poderes em seu âmbito é semelhante à organização dos Poderes Públicos no Município e não semelhante à organização dos Poderes Públicos no Estado. Assim o Distrito Federal objetivava a aplicação da limitação de despesa com pessoal prevista para os Municípios (6%) e não a limitação prevista como Estado (3%)305. O Ministro relator embasou seu posicionamento em questões de fato dos autos para julgar a impossibilidade de adequação retroativa por parte do município306, que vinha aplicando faticamente o limite maior de despesas. Nesse sentido, a aplicação da regra da modulação invertida mostra-se aceita e acolhida pelo STF nos casos em que configuradas questões de impossibilidade de fato da retroação dos efeitos.

Entretanto, em outro julgado, na ADI 1040, a aplicação da prospectividade da declaração de constitucionalidade foi rejeitada sob o argumento de impossibilidade da inversão do princípio da presunção de constitucionalidade das leis. A ADI versava sobre a exigência temporal de dois anos de bacharelado em Direito como requisito para inscrição em concurso público para ingresso nas carreiras do Ministério Público da União, prevista no art. 187 da Lei Complementar n.º 75/93307.

305 SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL. Tribunal Pleno. ADI 3756 ED. Relator: Min. Carlos Britto. Julgado em: 21 jun. 2007. DJe 19 out. 2007.

306 EMENTA: CONSTITUCIONAL. AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE. EMBARGOS DE DECLARAÇÃO. ILEGITIMIDADE RECURSAL DO GOVERNADOR DO DISTRITO FEDERAL. ACOLHIMENTO PARCIAL DOS EMBARGOS MANEJADOS PELA MESA DA CÂMARA DO DISTRITO FEDERAL. 1. Não havendo participado do processo de fiscalização abstrata, na condição de autor ou requerido, o Governador do Distrito Federal carece de legitimidade para fazer uso dos embargos de declaração. Precedentes. 2. No julgamento da ADI 3.756, o Supremo Tribunal Federal deu pela improcedência do pedido. Decisão que, no campo teórico, somente comporta eficácia ex tunc ou retroativa. No plano dos fatos, porém, não há como se exigir que o Poder Legislativo do Distrito Federal se amolde, de modo retroativo, ao julgado da ADI 3.756, porquanto as despesas com pessoal já foram efetivamente realizadas, tudo com base na Decisão nº 9.475/00, do TCDF, e em sucessivas leis de diretrizes orçamentárias. 3. Embargos de declaração parcialmente acolhidos para esclarecer que o fiel cumprimento da decisão plenária na ADI 3.756 se dará na forma do art. 23 da LC nº 101/2000, a partir da data de publicação da ata de julgamento de mérito da ADI 3.756, e com estrita observância das demais diretrizes da própria Lei de Responsabilidade Fiscal. (grifou-se)

307 EMENTA: AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE. ART. 187 DA LEI COMPLEMENTAR Nº 75/93. EXIGÊNCIA DE UM BIÊNIO NA CONDIÇÃO DE BACHAREL EM DIREITO COMO REQUISITO PARA INSCRIÇÃO EM CONCURSO PÚBLICO PARA INGRESSO NAS CARREIRAS DO MINISTÉRIO PÚBLICO DA UNIÃO. ALEGADA OFENSA AOS ARTS. 5º, I, XIII E 37, I da CF. 1. A exigência temporal de dois anos de bacharelado em Direito como requisito para inscrição em concurso público para ingresso nas carreiras do Ministério Público da União, prevista no art. 187 da Lei complementar nº 75/93, não representa ofensa ao princípio da razoabilidade, pois, ao contrário de se afastar dos parâmetros da maturidade pessoal e profissional a que objetivam a norma, adota critério objetivo que a ambos atende. 2. Ação direta de inconstitucionalidade que se julga improcedente (SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL.

A questão, todavia, não deve ser analisada sob o prisma da aplicação, ou não, do art.27 da Lei 9.868/99 à espécie. Tal artigo expressamente se refere, unicamente, às decisões que declaram a inconstitucionalidade308 de lei ou ato normativo. Não se pretende aqui, em face dos limites do presente trabalho, analisar a possibilidade de ampliação do efeito do art. 27 da lei citada. O que é certo, contudo, é que a premissa da aplicação da prospectividade dos efeitos quando da modificação de jurisprudência decorrente diretamente do princípio constitucional da confiança, e não em decorrência do artigo citado da legislação ordinária.

Reprisando nossas considerações dos capítulos anteriores relativamente ao fundamento normativo do princípio da confiança, em breve síntese, tem-se que o princípio da confiança representa-se na eficácia reflexiva do princípio da segurança jurídica, o qual visa afastar a inviolabilidade dos direitos fundamentais de propriedade e liberdade.

Verifica-se, nessa linha, que o fundamento normativo do princípio da confiança localiza-se em norma constitucional, não dependendo, portanto, de autorização de qualquer dispositivo infraconstitucional para que efetivamente seja invocado e aplicado quando da ocorrência de modificação na jurisprudência.

No documento Jurisprudência e confiança (páginas 114-116)