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4 A IMUNIDADE TRIBUTÁRIA

4.3 C LASSIFICAÇÕES DAS IMUNIDADES

4.3.3 Imunidade Condicionada (contida no art 150, VI, c, da CF)

A imunidade tributária prevista no artigo 150, inciso VI, alínea c, da Constituição Federal, se destina também às entidades de assistência social sem fins lucrativos. É chamada de imunidade subjetiva ou condicionada, porque não é autoaplicável, ou seja, para que tais entidades tenham o benefício reconhecido, se faz necessário o cumprimento dos requisitos legais previstos no art. 14 do CTN.

Nesse sentido, as imunidades condicionadas são facilmente identificadas em função do cumprimento de requisitos estabelecidos em leis infraconstitucionais.

Portanto, típico exemplo de imunidade tributária condicionada é aquele inscrito no art. 150, inciso VI, alínea “c”, da Constituição Federal. Tal dispositivo constitucional estabelece a imunidade relacionada aos impostos em relação ao patrimônio, renda e serviços dos partidos políticos, inclusive suas fundações, das entidades sindicais de trabalhadores, das instituições de educação e de assistência social, sem fins lucrativos, atendidos os requisitos da lei. O parágrafo quarto do mesmo artigo estabelece, ainda, que a imunidade em questão compreende apenas o patrimônio, a renda e o serviços, relacionados com as finalidades essenciais das entidades mencionadas.

Em tese, a imunidade condicionada pressupõe a presença dos seguintes elementos: (i) patrimônio, renda ou serviços; (ii) relação dos aspectos anteriores com as suas finalidades essenciais; (iii) entidade sindical de trabalhador, partido político, incluindo suas fundações, instituição de educação ou de assistência social; (iv) ausência de finalidade lucrativa; (v) atendimento dos requisitos legais.

No entanto, o cumprimento dos requisitos legais é tão relevante que o Código Tributário Nacional reconheceu a possibilidade de suspensão do benefício, caso o artigo 14 não seja observado por tais entidades.

4.3.3.1 Requisitos legais

Quanto aos requisitos legais, o Código Tributário Nacional estabelece que:

Art. 14. O dispositivo na alínea c do inciso IV do artigo 9º é subordinado à observância dos seguintes requisitos pelas entidades nele referidas:

I – não distribuírem qualquer parcela de seu patrimônio ou de suas rendas, a qualquer título;

II – aplicarem integralmente, no País, os seus recursos na manutenção dos seus objetivos institucionais;

III – manterem escrituração de suas receitas e despesas em livros revestidos de formalidades capazes de asseguram sua exatidão.

Nesse sentido, para que haja o reconhecimento ao benefício da imunidade tributária, é relevante que a entidade de assistência social pertencente ao Terceiro Setor cumpra com todos os requistos supracitados.

Após o cumprimento de todos os requisitos legais, é importante que a entidade de assistência social faça o requerimento administrativo perante o fisco competente, como por exemplo, o requerimento do ato declaratório da imunidade tributária do imposto de importação, que deverá ser apresentado perante a Secretaria da Receita Federal do Brasil. Já o requerimento para o reconhecimento da imunidade tributária dos impostos estaduais deverá ser apresentado perante a Secretaria de Fazenda do Estado, e o requerimento para reconhecimento da imunidade dos impostos municipais deverá ser efetuado perante a Secretaria de Finanças do Município.

Todavia, caso a autoridade administrativa competente indefira o pedido de reconhecimento da imunidade tributária, a entidade de assistência social que atende aos requesitos legais, ou seja, aquela que faz jus ao benefício da imunidade poderá buscar auxílio junto ao poder judiciário, para reconhecimento do referido benefício.

4.3.3.2 A manutenção das finalidades essenciais

São duas as linhas básicas de interpretação das finalidades essenciais, inscrita no artigo 150, parágrafo quarto. Uma vertente, de entendimento mais restritivo, procura identificar uma relação direta entre a atividade realizada e os fins da atividade em foco, ou seja, uma receita decorrente de uma atividade não relacionada com as finalidades da entidade não estaria acobertada com a imunidade tributária.

Outra vertente, de entendimento mais flexível, busca um vínculo indireto, ou seja, centrado na destinação dos valores arrecadados, entre as finalidades essenciais da entidade. Nesse sentido, considerando a ausência de finalidade lucrativa, os recursos arrecadados financiam a manutenção e o desenvolvimento das finalidades essenciais.

Assim, com acerto, a evolução da jurisprudência do Supremo Tribunal Federal tem apontado entendimento favorável para vertente mais flexível, como por exemplo, a imunidade ao ICMS quando da entrada de mercadoria importada destinada a integrar o patrimônio da entidade (RE nº 203.755), bem como a imunidade tributária ao imposto de importação e ao imposto sobre produtos industrializados na importação de “bolsas” para coleta de sangue para utilização na prestação de serviços da entidade (RE nº 243.807).

Nesta linha acerca do entendimento mais aberto ou flexível, alerta Ives Gandra da Silva Martins “a junção do princípio estatuído nos arts. 173, §4º, e a150, § 4º, impõe a exegese de que as atividades, mesmo que relacionadas indiretamente com aquelas essenciais das entidades imunes enunciadas nos incisos b e c do art. 150, VI, se forem idênticas ou análogas às de outras empresas privadas, não gozariam da proteção imunitória”. 42

Com efeito, se faz necessária a aplicação do princípio da razoabilidade, afim de que seja verificada a conduta, o comportamento, bem como a dinâmica social destas entidades, para que não haja desvios de finalidades ou prejuízos a livre concorrência.

Por essa razão, o STF, prolatou a Súmula nº 724 “Ainda quando alugado a terceiros, permanece imune ao IPTU o imóvel pertencente a qualquer das entidades referidas pelo art. 150, VI, “c”, da Constituição, desde que o valor dos aluguéis seja aplicado nas atividades essenciais de tais entidades”.

Como assevera Luciano Amaro43, “uma entidade assistencial, pode, por exemplo, explorar um bazar, vendendo mercadorias, e nem por isso ficará sujeita ao imposto de renda”.

42 MARTINS, Ives Gandra da Silva. Comentários à Constituição do Brasil. São Paulo: Saraiva, v. 6. 1990, p. 203.

Nesse sentido, temos que uma das finalidades da imunidade tributária condicionada é incentivar as instituições assistenciais na materialização dos direitos fundamentais previstos na própria Constituição, como por exemplo, o direito ao ensino, ao desenvolvimento tecnológico, à proteção e preservação do meio ambiente, à cultura, à saúde etc.

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