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Imunidade dos Templos na Administração e na Jurisprudência

4 A IMUNIDADE TRIBUTÁRIA FRENTE AOS TEMPLOS DE QUALQUER

4.4 Imunidade dos Templos na Administração e na Jurisprudência

Em virtude de ser uma matéria que vem trazendo muitas divergências, vale aqui citar Alvarenga, onde o mesmo coloca na íntegra a consulta feita à Secretaria da Receita Federal do Brasil, sobre o alcance da imunidade tributária às instituições religiosas:

CONSULTA: Imóvel rural pertencente a templo de qualquer culto goza de imunidade do ITR?

Depende. A imunidade tributária, em rigor, não alcança o templo propriamente dito, isto é, o local destinado a cerimônias religiosas, mas, sim, a entidade mantenedora do templo, a igreja.

A palavra ‘templos’ tem sido entendida com certa dose de liberalidade. São considerados ‘templos’ não apenas os edifícios destinados à celebração pública dos ritos religiosos, isto é, os locais onde o culto se professa, mas, também, os seus anexos. Consideram-se ‘anexos dos templos’ todos os locais que tornam possível ou viabilizam o culto. Assim, são ‘anexos dos

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COELHO, Werner Nabiça. A Imunidade Tributária dos Templos – Breves Considerações. Revista Tributária e de Finanças Públicas, São Paulo, RT v. 48, jan. 2003, p. 126.

80

Ibidem, p. 129, 81

NOGUEIRA, Ruy Barbosa. Imunidades contra Impostos na Constituição anterior e sua

disciplina mais completa na Constituição de 1988. 2 edição revista e atualizada. São Paulo:

templos’, em termos de religião católica, a casa paroquial, o seminário, o convento, a abadia etc., desde que, é claro, não sejam empregados em fins econômicos. Se a religião for protestante, são anexos a casa do pastor, o centro de formação de pastores etc. Se a religião for a israelita, a casa do rabino, o centro de formação de rabinos etc.

A imunidade tributária, destarte, não se estende aos imóveis da igreja não relacionados com as suas finalidades essenciais, bem como às rendas provenientes de aluguéis de imóveis, da venda de objetos sacros, da exploração comercial de estacionamentos, da venda de licores etc., ainda que os rendimentos assim obtidos revertam em benefício do culto. Por quê? Simplesmente porque estas não são funções essenciais de nenhum culto. Por fim, o imóvel rural de templo de qualquer culto somente será alcançado pela imunidade tributária se vinculado às finalidades ou funções essenciais da igreja, ou seja, no qual funcione centro de formação de religiosos (como seminário, convento etc.), admitida a produção de alimentos tão-somente para consumo próprio dos internos, portanto, sem destinação comercial (CF, art.150, VI, ‘b’ e § 4º).

Mais alentado, o trabalho desenvolvido na Procuradoria Geral do Município do Rio de Janeiro, que versa sobre ocorrência de imunidade com relação ao Imposto de Transmissão de Bens Imóveis (Proc. 04/340.044/96), em 29 de novembro de 1996, qual transcrevemos alguns tópicos:

‘1. A instituição religiosa não é detentora de imunidade. Esta, por ser objetiva, se restringe ao templo.

2. A imunidade abrange a totalidade do imóvel e não apenas a área onde é celebrado o culto.

3. A ocorrência ou não de Imunidade quanto ao ITBI só pode ser verificada no momento da transmissão, que se dá com a transcrição do título de transferência no Registro Geral de Imóveis’

‘(...) A base de cálculo do IPTU é o valor venal da unidade imobiliária, assim entendido o valor que esta alcançaria para compra e venda à vista, segundo as condições do mercado, como se lê no caput do art. 63 da Lei 691/84’ (CTN - art. 33, caput).

O valor venal do imóvel, apurado no momento da transmissão, também é a base de calculo do ITBl, segundo se verifica no art. 14 da Lei 1364/88.82

Observa-se a casa pastoral, esta é utilizada em partes para o desenvolvimento de atividades relacionadas à vida social da igreja e em partes para a vida social do padre, ou seja, não se pode fazer uma subdivisão; não tem como colocar duas inscrições imobiliárias para um mesmo imóvel, fazendo com que dessa forma a imunidade tributária venha a atingir também os aposentos do padre ou pastor como queiram.

Na tentativa de fazer com que o imóvel venha a ser alvo de Imposto sobre a Propriedade Predial e Territorial Urbana, ou seja, da cobrança do IPTU, o município do Rio de Janeiro, tentou de várias formas a cobrança, mas como fica evidente restou por vencido, como salienta as decisões a seguir:

MANDADO DE SEGURANÇA - Imunidade tributária - O lançamento do imposto predial e territorial urbano - IPTU incidente sobre parte do imóvel que compõe o prédio destinado a culto religioso, se constitui em prática de

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ALVARENGA, José Eduardo. Imunidade Tributária dos Templos Religiosos. Disponível em <http://www.abdir.com.br/doutrina/ver.asp?art_id=&categoria= Arbitragem > Acesso em :9 de agosto de 2010.

ilegalidade por parte da autoridade municipal, a impor a concessão de segurança. (Apelação nº 14.274/93 - 3ª CC do TA/RJ - decisão unânime).83

O presente julgado demonstra que além do prédio onde se realiza os cultos de qualquer natureza, sua estrutura também está imune a aplicações tributárias, dessa maneira fica claro que a legislação tem um alcance muito maior para a palavra templo, do que simplesmente o local de realização do culto.

‘MANDADO DE SEGURANÇA, CONCEITO DE AUTORIDADE COATORA. PRAZO DECADENCIAL, CONTAGEM, LANÇAMENTO DE IPTU, TEMPLO RELIGIOSO. Para efeito de imunidade considera-se templo não apenas aquele espaço físico delimitado em que o culto é celebrado mas se estende o seu conceito e, por conseguinte a Imunidade, aos seus anexos e espaços contíguos, utilizados em atividades a ele, direta ou indiretamente, ligadas, desde que tais atividades não sejam de natureza econômica, em cujo escopo não se encontre o lucro.’ (Apelação nº 10.123/94 - 4ª CC do TA/RJ - decisão unânime)’.84

Ainda sobre a firmeza de que trata a seguinte matéria, cabe a transcrição de alguns julgados que serão apropriados para esclarecimentos da decisão acima proferida:

EMBARGOS À EXECUÇÃO FISCAL. IMUNIDADE TRIBUTÁRIA. CONSTITUIÇÃO FEDERAL. ENTIDADE RELIGIOSA. REQUERIMENTO ADMINISTRATIVO. 1. A imunidade tributária, prevista no artigo 150, inciso VI, letra ‘b’, da Constituição Federal, de que gozam as entidades religiosas, não depende de requerimento administrativo. Compete à Administração Pública, caso entenda que houve desvirtuamento na utilização do prédio destinado ao TEMPLO religioso, comprovar tal fato. 2. Recurso conhecido e improvido. Unânime. TJDFT. APC Nº 1999 01 1 079455-4; 5ª T., v.u., Publ. em 10/10/2001; DJU. 3, PÁG. 74.85

Nesta decisão em tela, o julgador demonstra que não é a entidade religiosa que precisa demonstrar que utiliza a edificação para o desenvolvimento dos cultos religiosos, mas sim a entidade pública que precisa demonstrar que tal edificação não está sendo utilizada para tal fim, e com isso possa cobrar impostos dela.

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BRASIL. Tribunal de Alçada Civil do Rio de Janeiro. Disponível em: <http://www.tjrj.jus.br>. Acessado em: 12.set.2010.

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Ibidem. 85

BRASIL. Tribunal de Justiça do Distrito Federal e seus Territórios. Disponível em: < http://www.tjdft.jus.br/ >. Acessado em: 12.set.2010.

DIREITO TRIBUTÁRIO. ENTIDADE DE ASSISTÊNCIA SOCIAL VINCULADA À ENTIDADE RELIGIOSA. IMUNIDADE TRIBUTÁRIA. 1. As entidades de assistência social gozam de imunidade tributária em relação aos impostos predial e territorial urbano no que diz respeito aos prédios diretamente vinculados aos seus objetivos institucionais. 2. Em relação aos templos religiosos, a Constituição Federal quer resguardar através da imunidade tributária, constante do art. 150, a ampla liberdade religiosa e de culto, tornando-a livre da incidência de impostos em geral. Portanto, são insuscetíveis de incidência tributária os locais destinados ao culto religioso, assim entendidos aqueles onde se reúnem pessoas com a finalidade de professar a fé religiosa.’ TJDFT. Embargos Infringentes em APC 15262000- DF, j. em, 25.10.2000, 1ª Cam. Civ., v.u., DJU, 18.4.2001, p. 23.86

Nesta parte da jurisprudência, o julgador, além de demonstrar que as entidades religiosas são alvo da imunidade tributária, também estende o benefício às entidades de assistência social que estão vinculadas a estas entidades religiosas, fazendo assim as mesmas gozarem de tal benefício.

DIREITO CONSTITUCIONAL E TRIBUTÁRIO. TEMPLO RELIGIOSO. IMPOSTO TERRITORIAL URBANO IMUNIDADE. A imunidade tributária concedida constitucionalmente aos templos religiosos não está sujeita a qualquer condição implementada por qualquer outra norma de hierarquia inferior. Diferentemente do que se passa com a isenção, nem sempre é ocioso enfatizar, a imunidade tributária não é favor legal, nem está sujeita a qualquer requerimento. Honorários. Condenação da Fazenda Pública em embargos julgados antecipadamente (art. 10 § 4o; do CPC).’ TJDFT. APC 4593097-DF, j. em 15.12.1997, 5ª T. Civ., v.u., DJU.3. 17.05.1998, p. 7687

Já, nesta decisão, o julgador salienta que o benefício da imunidade tributária não é um favor concedido às instituições de qualquer culto, e por isso não pode ser questionado por legislações inferiores, assim se tornando isenta do IPTU municipal.

EMBARGOS A EXECUCAO FISCAL. COBRANCA DE IPTU. TEMPLO RELIGIOSO. IMUNIDADE CONSTITUCIONAL. A Constituição Federal veda expressamente a instituição de impostos sobre templos de qualquer natureza (artigo 150, inciso VII, alínea ‘b’. Apelação desprovida. ‘ TJPR. APC. 0091946-2 – Londrina, 2ª Cam. Civ., v.u., j. 21.08.1996, DJ 06/09/96.88

Este julgado segue o mesmo rito do anterior, confirmando que a instituição religiosa é imune ao pagamento de qualquer tipo de imposto.

REMESSA NECESSÁRIA - PRELIMINAR - EXISTÊNCIA DE RECURSO ADMINISTRATIVO - REJEIÇÃO - MÉRITO: TEMPLO- IMUNIDADE TRIBUTÁRIA - IMPOSSIBILIDADE DE COBRANÇA DE IMPOSTOS. SENTENCA MANTIDA. A existência ou não de recurso administrativo não impede o reconhecimento do direito pelo judiciário. Preliminar rejeitada.

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BRASIL. Tribunal de Justiça do Distrito Federal e seus Territórios. Disponível em: < http://www.tjdft.jus.br/ >. Acessado em: 12.set.2010.

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Ibidem. 88

BRASIL. Tribunal de Justiça do Paraná. Disponível em: < http://www.tjpr.jus.br/ >. Acessado em: 12.set.2010.

Mérito: a impetrante, sendo um templo está sob pálio da imunidade tributária, prevista na Constituição Federal, não podendo a municipalidade cobrar impostos.’ TJES. Remessa ex-officio. Proc. 024920159266 – Vitória. 2ª Cam. Cível, v.u., j. 29.11.1994, pub. 09.05.1995.89

A presente decisão vem confirmar o que se vê nas decisões anteriores aqui demonstradas, que a fazenda municipal não pode cobrar impostos dos templos de qualquer natureza, pois os mesmo são imunes a qualquer aplicação de impostos, pois estão elencados dentro dos requisitos previstos na Constituição Federal Brasileira que é a lei maior de nosso país.

MANDADO DE SEGURANÇA – TEMPLO RELIGIOSO - IMUNIDADE TRIBUTÁRIA CONSTITUCIONAL QUANTO AO I.P.T.U., EM RELAÇÃO AO IMÓVEL DA IMPETRANTE - DECISÃO DE 1/]. GRAU MANTIDA. 1. A norma constitucional assegura a imunidade sobre os templos de qualquer culto e não visou apenas proteger a igreja onde se celebram reuniões, mas também seus anexos e áreas destinadas a atividade de culto religioso.’ TJES. Remessa ex-officio. Proc. 024920100872 – Vitória. 3ª Cam. Cível. V.u. j. em 16.08.1994, pub. 20.12.199490

Pode-se ver com as explanações jurisprudenciais, a importância que a imunidade tem para os templos de qualquer culto, não estando apenas limitada ao seu patrimônio físico, sendo já decidido de unanimidade pelos tribunais nacionais que a imunidade atinge todos os seus bens e recursos oriundos da atividade religiosa.

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