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Relação do Patrimônio, Renda e Serviços dos Templos de Qualquer

4 A IMUNIDADE TRIBUTÁRIA FRENTE AOS TEMPLOS DE QUALQUER

4.2 Relação do Patrimônio, Renda e Serviços dos Templos de Qualquer

Para melhor desvendar as relações entre o patrimônio, os serviços e as rendas das instituições religiosas, apresenta-se a citação de Costa, a qual relata o seguinte:

Na efetivação da imunidade tributária dos templos de qualquer culto, deve o intérprete verificar, no caso concreto, se a mencionada garantia constitucional está em consonância com outros princípios insculpidos na Carta Magna, principalmente os princípios da proporcionalidade e da isonomia, decorrendo daí a importância de se limitar a aplicação de tal benefício somente às finalidades essenciais dos templos (§4º, art. 150, CF), que são aquelas inerentes à própria natureza da entidade – vale dizer, os propósitos que conduziram à sua instituição.67

Desse modo, verifica-se a importância de que os templos de qualquer culto devem considerar outros princípios constitucionais e limitar suas ações às finalidades essenciais, ou seja, manter seus propósitos.

Mas, apesar dessa definição imposta pela Constituição Federal do Brasil, em seu artigo 150, § 4º, ainda assim se torna difícil a análise e interpretação de quais seriam as atividades consideradas essenciais no desenvolvimento das atividades das organizações religiosas, e nesse âmbito de se saber quais delas se encaixam nessa vertente jurídica, surge a seguinte pergunta: quais são as finalidades consideradas essenciais no desenvolvimento das atividades religiosas?

Seguindo a linha doutrinária nacional, há duas vertentes interpretativas com relação a essa pergunta, ou seja, as atividades essenciais das instituições religiosas abrem duas correntes de interpretação doutrinária. Nesse contexto, Costa se posiciona com as seguintes palavras:

A primeira corrente, denominada restritiva, exige que o patrimônio, as rendas e os serviços em questão tenham origem nas atividades essenciais da entidade e se destinem à sua manutenção. Em síntese, esta linha de pensamento entende que é irrelevante, para os fins de demarcação da imunidade das organizações religiosas, a destinação dos recursos auferidos, importando, tão-somente, a sua origem.68

67

COSTA, Regina Helena. Imunidades Tributárias: Teoria e Análise da Jurisprudência do STF. São Paulo: Malheiros, 2001, p. 159.

68

Esta orientação doutrinária restritiva não é pacífica ante a celeuma existente entre outros doutrinadores brasileiros, ou seja, esta vertente doutrinária é defendida por uma minoria dos doutrinadores nacionais, a qual também não encontra embasamento constitucional para sua aplicabilidade.

Desse modo, não cabe a imunidade tributária sobre os ganhos auferidos pelas instituições religiosas, quando esses recursos não são oriundos diretamente da vinculação do ato religioso, como, por exemplo, quando se agregam receitas de imóveis alugados ou de móveis, como estacionamento de veículos e demais produtos que possam ser comercializados pelas instituições religiosas ou da prestação de serviços.

Na visão de Greco, que é adepto dessa primeira vertente, encontra-se o seguinte posicionamento:

o § 4º do art. 150 da Constituição Federal de 1988 se preocupa de onde as rendas vêm. Assim, para fins de aplicação do dispositivo constitucional, não importa a sua aplicação [...], mas, sim, é preciso identificar se eles foram gerados por atividades ligadas às suas finalidades essenciais.69

Faz-se aqui destaque em especial a Guilherme von Müller Lessa Vergueiro, o qual é adepto ao mesmo posicionamento de Marco Aurélio Greco. Ele entende que essa primeira corrente é a mais sensata. O autor assim se expressa:

Ao lado dessa posição condizer com nossas premissas, essa linha parece ser a mais sensata, vez que a demarcação da imunidade de uma receita não pode ficar condicionada a sua ulterior destinação. Isso porque a permissão ou a proibição da tributação se perfaz no momento da realização de determinado fato tributário e não na pertinência do emprego posterior desses recursos.

Professar em sentido contrário rompe com toda a teoria da fenomenologia da incidência tributária que sustenta que a hipótese tributária somente incide quando do relato lingüístico da ocorrência do fato tributário. Nessa situação, não bastaria que a receita derivasse da prática de alguma atividade litúrgica pelo templo, mas seria necessário que essa fosse empregada nos seus propósitos. Não é difícil constatar a sua improcedência.

Ademais, o aspecto subjetivo da pertinência ou não do emprego dos recursos em mister vinculado a sua finalidade essencial torna bastante nebuloso o universo da destinação para fins de demarcação da imunidade dessas receitas, o que macula a sua eleição como critério delimitador da imunidade. 70

O que se tem com essa concepção é uma singularidade muito grande, diante da grande complexidade que é a realidade vivida, não somente pelas entidades religiosas de culto de qualquer natureza, mas também as outras instituições assistenciais e educacionais. Essas representam um determinado valor e executam em seu âmago atividades específicas, as quais são consideradas de

69

GRECO, Marco Aurélio. Imunidade Tributária, São Paulo: RT, 1999, p.718. 70

tamanho benefício à sociedade pelo legislador, que acabam por serem beneficiadas com o mesmo incentivo e amparo da Constituição Federal.

Destaca-se ainda a iniciativa privada, que no tocante aos estudiosos é considerada o segundo setor da economia, o qual tende a auferir lucros com qualquer de suas atividades realizadas, e os compara com o poder público, o qual é considerado primeiro setor, não tendo o objetivo de auferir lucro com suas ações cujo foco é a sociedade. A remuneração ocorre através do pagamento de taxas, impostos e contribuições, sendo que o saldo positivo que eventualmente vem a ser auferido pelo setor público é mero resultado acidental da postura intervencionista do Estado na economia local.

Ainda na explanação das entidades divididas em setores, surge um terceiro setor, no qual se enquadram as entidades religiosas de qualquer culto, ou seja, aqui aparecem as entidades de cunho beneficente, as quais desenvolvem suas atividades sem o objetivo de auferir lucro. O que elas tendem a fazer é buscar por todos os meios possíveis obter superávit com suas receitas e despesas, o que segundo especialistas é primordial para que tenham uma sobrevida e possam manter seus programas assistenciais.

Ainda seguindo as palavras de Costa, tem-se o seguinte posicionamento:

as atividades ou operações que dão origem a estas rendas geralmente não estão relacionadas com suas finalidades essenciais, até porque o objetivo social das organizações religiosas, além do próprio exercício do culto, envolve muitas vezes atividades de assistência e promoção social, de maneira que as propostas estatutárias de tais entes gera, em verdade, na grande maioria de casos, despesas, custos, e não receitas.71

Desse modo, a melhor expressão a ser usada na aplicação do benefício da imunidade tributária são as rendas relacionadas com as atividades essenciais, ou seja, deve ser concedido o benefício da imunidade tributária às rendas auferidas pelas instituições religiosas, mesmo que essas rendas não sejam ganhas dentro dos templos, pois esses ganhos ajudam a manter a instituição e seus programas assistenciais, mas ainda se faz uma ressalva aqui, no sentido de que esses ganhos tem que ser lícitos e comprovados.

No caso das areceitas oriundas de atividades além dos cultos, cabe às entidades públicas analisarem essas rendas auferidas pelas instituições religiosas e por conseqüência as entidades religiosas serão obrigadas a comprovar que seu

71

COSTA, Regina Helena. Imunidades tributárias: teoria e análise da jurisprudência do STF. São Paulo: Malheiros, 2001, p.161.

superávit está sendo utilizado em seus programas sociais, caso contrário poderão dessa forma ser alvo da cobrança de impostos.

Nesse sentido, apresentam-se ainda as palavras de Greco, o qual assim se expressa:

há que se destacar que tal interpretação não pode ser extremada, porque a execução de atividades econômicas pelos templos de qualquer culto deve observar o princípio constitucional da livre concorrência, pois é impensável que tais instituições concorram desigualmente com a iniciativa privada, beneficiando-se da imunidade, enquanto o particular fique completamente sujeito à altíssima carga tributária de nosso País.72

O autor ressalta a importância de que a busca em obter superávit não pode sobrepujar a livre concorrência, agindo com desigualdade, em prejuízo das organizações que arcam com a carga tributária nacional, considerada alta pelos analistas econômicos.

Por outro lado, está a segunda vertente, que é considerada liberal e ampliativa. A esse respeito, Costa assim se expressa:

A segunda corrente, intitulada liberal ou ampliativa, e a prevalente hoje na doutrina e jurisprudência, que admite que as entidades imunes possam prestar serviços, auferir rendas e adquirir patrimônio através de outras atividades que não estejam diretamente relacionadas com as finalidades essenciais das instituições religiosas, desde que não ocorra, contudo, afronta ao princípio constitucional da livre concorrência e que os recursos obtidos sejam integralmente aplicados em sua manutenção.73

Ainda em relação à segunda vertente, que é defendida por Martins, salienta-se que a imunidade em tela deve ser entendida da seguinte maneira:

objetiva não permitir ao Estado que imponha restrições às relações do ser criado com Seu Criador [...]. A liberdade em relação ao culto, qualquer que ele seja, é assegurada, como o culto é assegurado, contra qualquer pressão do Estado, principalmente quando os detentores do poder são agnósticos ou ateus.74

Seguindo a mesma linha do doutrinador citado, a corte suprema da nação brasileira, salienta que ao ampliar o beneficio da imunidade tributária aos fins comerciais das atividades praticadas pelas instituições religiosas sem fins lucrativos, não estará ferindo dessa maneira o princípio constitucional da livre concorrência, dando a essas instituições uma vantagem sobre os demais concorrentes e ao

72

GRECO, Marco Aurélio. Imunidade Tributária, São Paulo: RT, 1999, p.720. 73

COSTA, Regina Helena. Imunidades tributárias: teoria e análise da jurisprudência do STF. São Paulo: Malheiros, 2001, p.163.

74

mesmo tempo prejudicando os empresários que não são alcançados com o benefício da imunidade tributária.75

Portanto, há duas correntes que discutem os limites da imunidade dos templos de qualquer culto. Uma é restritiva, preocupando-se com a invasão dessas entidades no campo privado, prejudicando assim a livre concorrência, já que seus custos são menores em virtude da imunidade tributária. A outra corrente defende que os templos precisam buscar a obtenção de superávit com a realização de atividades extras além dos cultos, haja vista que essa sobra financeira é aplicada em benefício da sociedade.

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