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A questão seguinte direcciona-se para o início da aprendizagem aos 10 anos de idade, su- portada integralmente pelo Estado através do ensino articulado, nas Escolas ou Academias de Música de ensino particular e cooperativo; de seguida, solicita-se aos professores que têm experi- ência com alunos que começam nesta faixa etária e na Iniciação que comparem o desempenho de ambos. 89% considera que o início aos 10 anos de idade é “tarde” ou “um pouco tarde” para co- meçar a tocar violino; apenas 11% considera que é igualmente possível começar aos 10 anos as- sim como começar mais cedo. Para isso, basta terem força de vontade porque a maturidade supe- ra as dificuldades técnicas, são mais rápidos a adquirirem conhecimentos, são mais cerebrais e

86 têm mais controlo sobre si mesmos. Os restantes 89% de professores não partilha desta opinião; embora haja quem “enalteça” a democratização do ensino, alguns professores admitem constatar que para além do currículo estar desajustado, e quase obrigar estes alunos a desistirem porque não conseguem acompanhar o grau de exigência, surgem obstáculos que deveriam ter sido ultra- passados na Iniciação. As principais dificuldades dos alunos que começam nesta faixa etária apon- tadas pelos professores apresentam-se no seguinte quadro.

Aspectos físicos

Aspectos técnicos Aspectos cognitivos Ensino e percurso académico Resultados - Disponibilidade física; - Tensões; - Flexibilidade; - Agilidade. - Dificuldades técnicas; - Destreza técnica; - Desenvoltura; - Coordenação; - Menos naturalidade. - Maior responsabilidade; - Mais conscienciosos; - Intelectualmente mais desenvolvidos, condição que não é determinante; - Leitura. - Menos oportunidades; - Menor tempo de aprendizagem; - Ensino condensado e sob pressão; - Falta de rotina de trabalho. - Inferiores; - Mais lentos; - Mais atrasados; - Menos garantias de sucesso.

Tabela 5 – Principais dificuldades dos alunos que iniciam o estudo do violino aos 10 anos segundo os professores entrevistados

Os aspectos que foram referidos por um maior número de professores são o trabalho efe- ctuado de uma forma condensada e sob pressão, seguindo-se as dificuldades técnicas enumera- das anteriormente. Vários professores focaram que o início aos 10 anos de idade e até mais tarde é perfeitamente exequível nas Escolas Profissionais com um ensino intensivo, com maior tempo de aula e acompanhamento semanal a nível de instrumento, aulas de Música de Câmara e Or- questra; o professor J do ensino particular e cooperativo apelidou este tipo de ensino como “criar galinhas no aviário”. Embora com resultados visíveis, e devido à especificidade do tipo de ensino, este projecto não abrange o estudo das Escolas Profissionais de Música.

Dois professores fazem referência ao currículo nacional que deveria ser reajustado, con- templando os alunos que iniciaram os seus estudos na Iniciação e os que começam apenas aos 10 anos, ou então a democratização do ensino da música pode restringir-se a apenas dois anos efec- tivos de frequência. Vários professores comungaram da opinião que este estereótipo de aluno di- ficilmente singrará para a vida profissional.

87 “Se um pai logo desde a nascença põe o seu filho ou filha a ouvir música de qualidade e logo desde cedo, 3, 4 anos lhes permite o início num instrumento, as possibilidades dessa criança vir a optar pela música são maiores do que alguém que começa aos 10 e se vai comparar com os outros e vê logo que já está atrasado, mesmo em termos psicológicos, a nível de expectativas que eles possam ter relativamente a uma possível carreira, são muito menores do que os outros.” (Professor D do ensino particular e cooperativo)

“…se o Ministério considera que os alunos entram com esta idade e vão continuar com a música isso é uma ideia errada porque só um ou dois é que querem continuar, mas por isso eu digo inves- tir tanto dinheiro começando com 10 anos não faz sentido, acho que deviam começar com 7 ou 8 anos e não com 10, porque poderia ser feita uma preparação e realmente os que têm rendimento terem direito, terem então este tipo de ensino gratuito e não todos.” (Professor C do ensino parti- cular e cooperativo)

Há professores que referem que a realização de provas de selecção103 e a existência de cotas (numerus clausus) para ingressar no ensino articulado poderá vir a elevar os patamares de qualidade. Segundo estes professores, nestes últimos anos, as escolas da rede de ensino particu- lar e cooperativo angariaram o maior número possível de alunos para este regime, sem qualquer critério de selecção e por vezes sem condições físicas para isso.104

“Neste momento há escolas sem capacidades para terem esses alunos *alunos do regime articulado], sobretudo condições físicas. Há muitas escolas onde os alunos não têm salas de estudo, e isso é grave nos instrumentos que os alunos não podem estudar em casa, é o caso do piano, percussão, e outros instrumentos mais caros que as escolas optaram por emprestar ou alugar. Há muitas escolas que não oferecem salas para os alunos poderem estudar. Até pode haver salas livres de manhã, mas de manhã os alunos têm escola. Nesse aspecto há alunos a mais para as condições físicas que as escolas têm, isso teria que ser solucionado de alguma forma, ou impondo cotas ou limite do número de alunos, ou o Ministério financiar de alguma forma, criar financiamen- to para que algumas escolas pudessem criar estruturas para isso.” (Professor E do ensino particular e cooperativo)

Nem todos partilham desta opinião, um dos professores entrevistados considera que es- tas provas de selecção não irão surtir qualquer efeito porque em 10 minutos não se pode aferir as capacidades do aluno, entoar bem, por exemplo, não significa ter aptidões para um instrumento.

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Em vigor a partir do ano lectivo 2010/2011.

88 De referir ainda que a democratização do ensino e a possibilidade dos alunos terem aces- so ao estudo de um instrumento obrigou a que algumas aulas do ensino vocacional fossem dadas nas escolas de ensino regular, por vezes sem condições logísticas para isso:

“Vão-se dar aulas para as escolas em dias em que não há funcionários de apoio a fotocópias, estantes…perde-se muito quando as aulas de Instrumento são dadas nas escolas.” (Professor E do ensino particular e cooperativo)