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Vantagens e desvantagens do Método Suzuk

75% dos professores dos Conservatórios e 80% dos docentes do particular e cooperativo já teve contacto com alunos no Básico e/ou Complementar que estudaram segundo o método Suzuki, os seus próprios alunos ou mesmo alunos que estudaram com outros professores. No quadro seguinte poderão observar-se as vantagens e desvantagens do método Suzuki indicadas pelos respectivos professores:

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81 Vantagens e

desvantagens

Aspectos mencionados por Profs. Ensino Público e Particular e

Cooperativo

Aspectos mencionados apenas por Profs.

Ensino Público

Aspectos mencionados apenas por Profs.

Ensino Particular e Cooperativo Vantagens do método Suzuki - Memorização; - Afinação; - Concentração; - Maior capacidade auditiva; - Marcas no violino; - Classe de Conjunto; - Motivação; - Aprendizagem mais rápida; - Melodias acessíveis auditivamente; - Peças apelativas; - Maiores capacidades técnicas; - Trabalho do som; - Postura; - Repetição; - Apresentação e postura em palco; - Participação dos pais.

- Início da aprendizagem do instrumento em idade precoce;

- Relação afectiva no ensino das crianças mais novas; - Coordenação.

- Leitura;

- Maiores noções de melodia e frase; - Ensino que parte do concreto para o abstracto;

- Uso das gravações.

Desvantagens do método Suzuki - Nenhuma desvantagem; - Dificuldades de leitura se for aplicado o método ortodoxo. - Afinação; - Mecânico; - Não explora a sonoridade; - Postura tensa; - Marcas;

- Não tem validade para quem quer seguir carreira profissional; - Tocam todos iguais.

- Demasiado dependentes da memorização; - Não há preparação inicial antes de tocarem as peças;

- Leitura à 1ª vista; - Apresentação em palco exibicionista; - Desmotivação se não houver apoio dos pais e escola;

- Demasiado militar. Tabela 4 – Vantagens e desvantagens do método Suzuki segundo

os professores entrevistados

As vantagens referidas com maior frequência pelos professores do ensino público são a realização da “Classe de Conjunto”, a “Motivação”, a “Memorização” e a “Aprendizagem pela au- dição”; os professores do particular e cooperativo indicam a “Memorização”, “Maior capacidade auditiva”, as “Marcas no violino” e “Maiores capacidades técnicas” como sendo as principais van- tagens. Quanto às desvantagens é importante referir que 22% dos professores mencionou não i- dentificar qualquer desvantagem neste método (um professor do ensino público e três do privado e cooperativo). 50% dos professores apontou a dificuldade de leitura como sendo a principal lacu-

82 na dos alunos que frequentam esta metodologia, sempre que é aplicada de uma forma ortodoxa. Este parâmetro obriga-nos a reflectir e a analisar pormenorizadamente as razões enumeradas pe- los professores.

Segundo o testemunho de um professor (J do ensino particular e cooperativo) que fez for- mação na Holanda, e que ocasionalmente assistiu a aulas de Suzuki, a leitura segundo o nosso sis- tema de aplicação do método é muito boa porque na Holanda os alunos já eram muito desenvol- tos tecnicamente, não liam e tocavam tudo de memória o que os levava a cometer muitos erros: “era uma luta constante porque eles não estudavam pela partitura, era o que ouviam e imita- vam”. Este professor, em concordância com quase todos os docentes que referem a leitura como um handicap do Suzuki, refuta com a ideia de que se a leitura for introduzida mais cedo e não como foi concebida no Japão, onde os alunos começavam muito cedo e tinham um longo percur- so de formação, este tabu deixa de ser um obstáculo. Outros defendem também que não depen- de do método, mas sim de cada criança e da Formação Musical.

“…a questão da leitura é a questão mais hipócrita que eu conheço porque eu conheço pouquís- simas escolas que dão método Suzuki em exclusivo, 99% das escolas dão método Suzuki a par com o método tradicional, logo acontece uma coisa muito simples, os alunos frequentam as mesmas turmas de Formação Musical que os outros, portanto os responsáveis se eles sabem mais ou me- nos não são os professores de violino.” (Professor B do ensino particular e cooperativo)

“Já tive alunos que vieram do método Suzuki ortodoxo. (…) Eles não tinham a mínima noção do que era ler uma partitura. (…) Alguns tiveram facilidades, mas outros tinham muitos problemas, a leitura não era fácil porque também a nível de Formação Musical não tinham bases...eu tive pro- blemas. Agora quando nesta escola se começou a praticar um método Suzuki onde também se in- troduziu a leitura de partituras eu deixei de ter esse problema.” (Professor F do ensino particular e cooperativo)

“A ideia de tocar de cor ou aprender a memorizar a música sem a pauta no meu entender é levado até demasiado tarde na idade, e quando finalmente se quer aprender a leitura já a questão parece muito difícil para os conhecimentos adquiridos. Eu li quando é que o Suzuki previa a introdução da leitura e no nosso caso isso acontece 3, 4 anos mais tarde e isso dificulta que o aluno prossiga para o método tradicional.” (Professor N do ensino público)

Para alguns professores, embora denotem nos alunos de Suzuki que a leitura é um pouco mais lenta, isso não constitui um problema e justificam-no.

83 “Às vezes a leitura é um pouco mais lenta, tem acontecido que vêm cá *ao Conservatório+ fazer a prova de admissão e tocam bastante bem e depois lêem muito menos. Para mim isso não é um problema…

*…+

O importante é que se habituem a tocar de memória quer seja com Suzuki ou não porque assim não é estranho para eles, é como cantar uma canção que aprenderam no Infantário, não precisam de partitura.” (Professor M do ensino público)

Os professores que leccionam segundo o método Suzuki reiteram a naturalidade do processo de aprendizagem da leitura.

“[O Suzuki] foca-se na sonoridade, mão esquerda, sentido de afinação que é muito importante. Não vai por exemplo para a leitura, em certas idades alunos que ainda não sabem ler nem escre- ver, começar logo com a leitura não faz sentido, isso pode acontecer a partir do momento em que eles aprendem a ler e a escrever. A aprendizagem segundo o Suzuki parte do concreto para o abs- tracto. Primeiro aprende-se a sonoridade, fazer som, a ouvir, a postura é fundamental como os movimentos correctos, tudo de forma natural, nada tensa. Trabalha-se o som e não a leitura do som. Muitas vezes o método tradicional insiste por aí, e para mim pedagogicamente é errado, por- que obriga-se o aluno primeiro a ler, a ter que imaginar o som sem primeiro o conhecer.

*…+

Os alunos do método tradicional aprendem a ler, isso fazem-no mas não sabem usar as notas, não desenvolvem o sentido de audição, pensar, afinar, frasear, isso tudo passa ao lado e no Suzuki isso é uma prioridade.” (Professor D do ensino particular e cooperativo)

Para concluir esta questão polémica será transcrita uma expressão de um professor (G do ensino particular e cooperativo) que exprime todo este cepticismo:

“A desvantagem que não é directamente do método, mas da forma como os professores encaram o método, é aquela que há muitos anos é apontada, que é a leitura, que por vezes fica negligencia- da. No entanto, penso que neste momento em Portugal todos os professores que praticam bem o método Suzuki sabem que a leitura pode ser iniciada bastante cedo, em tenra idade, portanto eu refiro esta desvantagem como sendo uma coisa na qual somos uma bocadinho apanhados em fal- so, mas penso que essa tendência vai inverter-se muito rapidamente.”

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Participação dos pais

Relativamente à participação dos pais na aprendizagem do violino, os professores são unânimes que é fundamental quando se inicia este processo; quanto mais cedo começam, maior tem que ser a participação e acompanhamento dos pais na aula e no estudo em casa. Posterior- mente, e dependendo de cada aluno, os pais podem começar a depositar maior responsabilidade nos seus educandos. Quanto à idade ideal para se irem retirando, as sugestões situam-se maiori- tariamente no final da Iniciação ou na passagem para os Graus, aquando da adolescência. No Complementar consideram dispensável a presença dos pais na aula, no entanto, o acompanha- mento deve ser constante durante todo o percurso.

No método Suzuki esta triangulação aluno, professor, pai é condição fundamental sobre- tudo quando as crianças começam aos 3, 4 anos de idade. Nos Conservatórios públicos não é mui- to comum os pais assistirem às aulas. Apesar disso, nenhum professor se opõe e referem que fre- quentemente conversam com os encarregados de educação acerca da evolução dos alunos. De ressalvar que por vezes, e segundo testemunho de alguns docentes, a presença dos pais pode in- terferir negativamente no decorrer da aula e compete ao professor aferir a melhor situação. Para além das situações descritas, há professores que defendem que quando os alunos começam aos 10 anos de idade os pais também deveriam estar presentes, ou seja, independentemente da ida- de com que o aluno inicia a aprendizagem os encarregados de educação deveriam acompanhar durante os dois primeiros anos.

“…se os alunos começarem aos 10 anos, então tem que ser feito esse acompanhamento com os pais como se tivessem 3 anos, o problema é que os pais não entendem muito bem isso porque muitas vezes aos 10 anos quem vem para a Academia são os que querem vir…não é porque os pais querem…” (Professor F ensino particular e cooperativo)

“…os pais pelo menos nos primeiros dois anos devem empenhar-se muito sobretudo no início, porque essencialmente nesta fase eles podem ficar perdidos.” (Professor C do ensino particular e cooperativo)

As razões aduzidas para o acompanhamento numa fase inicial são o apoio dos pais na aprendiza- gem do violino, a falta de capacidade de concentração e retenção de toda a informação por parte da criança, a interacção e incentivo para o estudo em casa que podem constituir um grande factor de estímulo e motivação. Estes testemunhos vêm corroborar os resultados obtidos nos questioná-

85 rios apresentados anteriormente que demonstraram que as melhores classificações são obtidas por alunos cujos pais acompanham o desempenho na aula e/ou o estudo em casa.