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TAB II BORRACHA AMAZONICA NAS EXPORTAÇÕES MUNDIAIS, NO PERÍODO DE 1892 a 1940.

I.IV O início da Crise Urbana.

A crise urbana do Estado do Acre e, especificamente de Rio Branco - a capital, inicia-se em fins da década de 50 e incrementa-se em início da década seguinte e é, a partir de então, que esta crise se internaliza na região, dada a diminuição da atividade produtiva dos seringais do Estado do Acre.

- termo regional utilizado para caracterizar pequenos e estreitos caminhos na floresta, abertos a facão pelo seringueiro, para se comunicar a um varadouro.

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- espécie de estrada rudimentar aberta na floresta, pelo seringueiro, que objetiva a ligação viária entre as estradas de seringas, as colocações e as vias de escoamentos da produção.

- grande construção central do seringal, local de residência do seringalista ou gerente, onde ali são realizadas os escambos comerciais do seringal como a compra da produção do seringueiro, bem como o aviamento de produtos básicos de subsistência do seringueiro a nível de consignação.

Para Castro (1990, p. 28), essa decadencia gumífera ocorre: “Exclusivamente a partir de 1960 que a atividade extrativa [da borracha] entra em extrema decadência e vários seringalistasjque j á não produzem suficientemente para a manutenção do seringal] abandonam sua produção, permanecendo na área muitos seringueiros, na qualidade de posseiros. Alguns não se adaptam ao trabalho [a partir desse momento] sem a presença do patrão para lhes garantir o sustento durante o período das chuvas, quando não é possível dedicar-se à seringa, e rumam para as cidades, principalmente para a capital, abandonando a colocação* ”.

Esta migração ocorre em número até certo ponto insignificante. O fato que mais caracteriza este processo migratório, em massa, dos exodistas no caso do Acre, é a forma repulsiva empregada num segundo momento pelos novos proprietários da terra. O fazendeiro, contrário à atividade de exploração monoextrativista, que antes ocorria nos seringais, realiza grandes derrubadas na floresta e implanta imensos campos para as pastagens do gado, que começa a criar no processo de transformação do seringal em grande fazenda. Ao seringueiro, que não detinha a legitimação ou posse legal da colocação, terra que ocupava - na posse onde trabalhava, restava-lhe a migração espontânea ou a forma de maior ocorrência na região, a repulsiva, à qual o seringueiro estava exposto como posseiro nesses seringais.

Esses seringueiros, sem outras opções para permanecerem em suas áreas de posse, rumam para as cidades do Estado, fugindo do esquema que agora se forma na estrutura dos antigos seringais. Era interessante ao novo proprietário das terras do antigo seringal a total desocupação de sua área, para ali poder implantar suas pastagens em seus projetos “agro”pecuários.

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- pequena propriedade (geralmente posse) no interior dos seringais nativos da região, onde o seringueiro vivia e produzia a borracha para suprir a produção do Barracão, garantir a sua subsistência e gerar o lucro dos seringalistas.

O saldo que emerge dessa mudança radical na estrutura dos seringais da região, é de imediato sentida, no éxodo rural que potencializa- se, mais ou menos, em meados da década de 70 quando as populações dos municípios acreanos se multiplicam em índices nunca antes alcançados. Tanto pela presença dos ex-seringueiros que são expulsos dos seringais, quanto pela imigração que a partir daí passa a ocorrer de outras regiões, trazida em função da ampliação da exploração econômica da chamada fronteira agrícola do país e pela expectativa de melhores condições de vida dos expropriados sem terra, que daí decorrem.

A partir desse momento advém o agravamento dos problemas sociais urbanos já existentes, com as necessidades que se ampliam. Este novo contingente de populações urbanas dos municípios leva o Estado a uma crise urbana nunca antes experimentada.

É de se notar, que todo esse processo de mudança estrutural que ocorre de forma abrupta na região, acontece quando o Estado ressente-se de investimentos que venham ao encontro de atender o seu abastecimento, principalmente, nas áreas da agricultura e da pecuária, com metas a buscar soluções para os problemas de importações de alimentos básicos que neste momento ocorre em todo o Estado.

O que se tem a partir deste momento, pela via da complacência e da conivência do governo estadual, é o domínio dos grandes projetos pecuaristas, sanando no Estado através de um modelo monopolizador, o problema do abastecimento de carnes e derivados, mas por outro lado, agravando ainda mais as restrições de acesso às áreas potencialmente agrícolas, sem mencionar os conflitos de terras, o êxodo rural e os graves problemas ambientais.

O resultante dessa nova estrutura predominante, é a elevação do preço da terra, ora pela presença dos grandes projetos nas áreas de melhores

acessos de rede de transportes e de localização, ora pela especulação imobiliária rural que se forma a partir de então.

Assim, a saída buscada pelos “sem terra e sem teto” dos antigos seringais do Acre é inevitavelmente a migração para as cidades do Estado, em primeiro momento tangidos pela necessidade de sobrevivência fora de suas antigas áreas de posses e, num segundo momento, pela nova estrutura econômica que se instala na região, onde os antigos seringueiros são descartados.

O que se assiste então, a partir da mudança estrutural que ocorre na região, é a chegada, em massa, desses contingentes rurais, contribuindo, na formação, da noite para o dia, de imensos novos bairros, localizados quase sempre nas periferias das cidades; e na ampliação de bairros já existentes anteriormente nas periferias das cidades do Estado, quase sempre na forma de invasões.

I.V - A Expectativa de Saída para a Crise da Borracha.