• Nenhum resultado encontrado

O I NSTITUTO T ERESA V ALSÉ P ANTELLINI

A C ONGREGAÇÃO S ALESIANA NO B RASIL ENTRE O FIM DO S ÉCULO XIX E OS A NOS

2.1 O Início da Presença Salesiana no Brasil

Segundo a concepção de Santos (2000), era predominante na sociedade brasileira no século XIX, o princípio segundo o qual competia às elites, também católicas, dirigir seus destinos mesmo no campo educacional. Para reformar a sociedade através da formação da elite, o episcopado procurou multiplicar os colégios católicos encontrando nas próprias classes superiores os meios para fundá-los, fenômeno que explica a chegada das Ordens e Congregações Religiosas dedicadas à educação.

Partindo deste pressuposto, Dom Bosco enviou seus missionários ao Brasil a pedido do Bispo do Rio de Janeiro, Dom Pedro Maria de Lacerda. Vieram sete salesianos: três padres, três irmãos coadjutores e um clérigo, transferidos do Uruguai, acompanhados pelo inspetor Pe. Luis Lasagna, em 1883. Como pioneiros, instalaram-se em Niterói, contando com o apoio de D. Lacerda e de outras personalidades religiosas e leigas, todos simpatizantes dos salesianos, embora tenham sido rejeitados pelas facções anticlericais.

Para a compreensão deste estudo sobre o estabelecimento dos salesianos no Brasil, são citados os fatos mais relevantes da história da Igreja Católica no Brasil e de sua influência no mundo político e social, para que se possa explicar sua ascendência sobre a educação escolar brasileira.

Na Idade Média, o poder da Igreja Católica sobrepunha-se na ideologia popular, mantendo o controle sobre a política monárquica vigente em Portugal. Como conseqüência

dessa ingerência, o clero mantinha sob o seu domínio as rédeas da educação escolar, moral, disciplinar e religiosa, segundo Almeida (2004).

O sistema monárquico não demonstrava tanto interesses pelos níveis de escolaridade aplicados às camadas sociais, níveis estes que, sob o controle da Ordem Jesuítica, eram pouco esclarecedores no sentido de contribuir com o desenvolvimento científico-cultural da população ou com o desenvolvimento do homem criativo e questionador que pudesse influir nas questões políticas locais.

A Igreja no Brasil Colônia era um departamento de Portugal “[...] em vista dos direitos de Padroado conferidos pela Santa Sé à Coroa de Portugal [...]” (AZZI, 1983: p.15). Até as primeiras décadas do século XIX, era a monarquia lusitana que detinha o poder sobre a Igreja no Brasil, conservando-se, posteriormente ao período colonial, sob o domínio imperial que prevaleceu no país até a instauração do sistema político republicano.

Havia em Portugal, no Século XVI, uma grande sintonia entre Igreja e poder estatal, o que deixava a Igreja livre para intervir nas estruturas sociais. A formação do homem cristão era prioridade, fator que colocava a Igreja totalmente envolvida com a educação naquele período. Como até o final do século XVI o conceito de Estado não tinha as conotações que se tem atualmente, a Igreja exercia o poder hegemônico.

Assim, o Padroado era um sistema que a Igreja de Roma utilizava para delegar aos administradores civis “[...] certo controle de uma Igreja local ou nacional, por apreço ao seu zelo, sua dedicação e seus esforços para difundir a religião e como estímulo para futuras obras [...].” Neste sentido, a Igreja interliga-se ao descobrimento e colonização do Brasil e assume determinada influencia sobre a educação (MOURA, 2000: p. 21).

A Companhia de Jesus, em sua missão de catequese indígena em terras brasileiras, compreendeu que através da instrução educativa em escolas, as crianças nativas seriam preparadas como homens do futuro. Para se alcançar esta meta, os jesuítas decidiram trazer de Portugal, as crianças do Colégio dos Meninos Órfãos de Lisboa, entidade criada pela Companhia de Jesus (MOURA, 2000: pág. 33)

[...] chegando em 1550 os órfãos de Lisboa juntaram-se aos meninos indígenas da Bahia. Alguns já sabiam as coisas da religião; com o convívio dos recém-chegados, aperfeiçoaram seus conhecimentos e todos juntos entraram pelas povoações pagãs, pregando, ensinando, atraindo aquelas almas a Deus.

No entanto, a educação da população nativa não era prioridade da ordem jesuítica na colonização brasileira, senão como instrumento necessário para a renovação cristã. A vinda dos pequenos órfãos de Portugal facilitaria a obra jesuítica junto às crianças nativas no Brasil.

Desde então, houve uma nítida distinção entre colégio e escola: para a educação da população nativa, fundaram-se escolas para se ensinar ler, escrever e contar. Os colégios eram fundações designadas para estudos com abrangência maior de conhecimentos, destinados ao ensino formal das esferas sociais economicamente privilegiadas de colonizadores que chegavam.

Ao mesmo tempo em que eram criadas escolas e colégios, construíam-se dioceses e paróquias, enquanto novas ordens religiosas chegavam ao Brasil: beneditinos, carmelitas, franciscanos, além dos jesuítas, dedicando-se à educação e catequese dos índios. A educação era pública até a expulsão dos jesuítas das terras brasileiras no século XVIII. Até então, foram fundados colégios em diversos estados como Rio de Janeiro, Bahia, Pará, Espírito Santo, Paraíba (onde existiu o primeiro colégio de ensino geral em humanidades e latim), Maranhão, Ceará, Paraná, Santa Catarina, São Paulo etc. Moura (2000) informa que até a metade do século XVIII, já havia colégios, escolas e seminários com ensino primário e secundário.

Na opinião de Paiva (2003), a história da educação no período jesuítico refere-se mais ao desenvolvimento de colégios, sem abordar a questão social da época. Para o autor, a escolarização tem o sentido característico do contexto social de cada época, conceito que Dewey (1979) esclarece ao definir a educação como o processo de dirigir, conduzir ou elevar. Educar, portanto, é modelar os seres de acordo com os paradigmas sociais vigentes.

Segundo a opinião de Azevedo (2003), a organização escolar é o reflexo da estrutura social de uma comunidade, ou seja, trazem as características mais marcantes de uma sociedade: sua estrutura, densidade, heterogeneidade e qualidade organizacional. Assim, o sistema escolar e todas as diferentes atividades exercidas numa determinada sociedade, sofrem as modificações de acordo com a forma social local. Um sistema pedagógico em vigor é compreendido sob a luz da organização social em que se desenvolve e evolui.

Seguindo do mesmo autor, um sistema educacional é imposto pelo sistema social vigente que ninguém pode contradizer sem se comprometer, profundamente, com a harmonia que rege a vida de seus pares. Assim, se houver desrespeito às normas regulares aceitas e impostas pela maioria que compõe a sociedade, haverá incompatibilidades e o inevitável rompimento entre o homem e o seu meio social, impedindo-o de ter uma vida normal. Portanto, Educação e Sociedade são inseparáveis.

Esta organização educacional não se fez de uma forma evolutiva normal, isto é, das bases para o ápice, ascendendo gradativamente. Deu-se sob o domínio das formas sociais e de acordo com suas transformações em volume e densidade, a partir do momento em que surgiram as divisões de trabalho profissional e científico. Azevedo (2003) explica que, com

estratificação social, as instituições42 escolares formaram-se segundo a evolução social que sempre ocorreu das classes aristocráticas para as camadas populares. Neste sentido, os sistemas pedagógicos são organizações públicas ou particulares, segundo os níveis sociais hierarquizados.

No sistema escolar moderno vêem-se três camadas superpostas: a primeira é básica, constituída por unidades elementares de ensino destinadas a proporcionar a educação comum; a segunda, escolas de ensino médio, possuem um sistema educacional homogêneo que prepara o aluno para especializações futuras; a terceira é composta pelas universidades para a formação de profissionais intelectuais. Intermediando estas camadas, encontra-se o ensino profissional para os ofícios e profissões.

Portanto, o meio ambiente em que o sujeito vive o faz seguir alguns conceitos de sociabilidade, isto é, para a melhor inter-relação com o outro, algo que não fazia parte do contexto educacional do Brasil Colônia.

O simples fato de existir, no período jesuítico, o colégio e a escola, já traz a idéia de hierarquização, de criação de classes sociais, de estratificação social. Assim, a ordem jesuítica construiu uma organização social que deu, aos filhos das classes sociais hegemônicas, o acesso à educação escolar, de acordo com um currículo de disciplinas selecionadas pelos próprios jesuítas como disciplinas importantes43 para a aprendizagem dos que estavam destinados às carreiras de destaque na época (sacerdócio, direito e medicina).

Eram esses filhos de classes elitizadas os que ocupariam cargos elevados em qualquer dos segmentos de atividade comercial; os indígenas, destinados à força de trabalho escravo, freqüentariam escolas primárias basicamente alfabetizadoras, segundo Paiva, (2003). Neste momento, é bom lembrar o comentário de Enguita (1989; p.111) sobre o discurso dos pensadores da classe burguesa em ascensão, sobre educação popular: por um lado, necessitavam da educação como meio de preparação que garantisse seu próprio poder em detrimento do poder da Igreja e, de forma geral, para conseguir uma aceitação da nova ordem social. Por outro lado, havia o temor de, ao permitir que a classe popular recebesse instrução

42Instituição é um termo que deriva do latim institutio, onis e tem diversos sinônimos: criação, formação,

disposição, arranjo, escola entre outros. No sentido de escola, segundo Saviani (2007), é um grupo de indivíduos reunidos em torno de um professor, mestre ou orientador teórico. Portanto, a expressão instituição educacional é uma redundância, já que educação está implícita na palavra instituição. Saviani comenta que instituição é um termo que, embora apresente diversidade lexicológica, guarda o sentido de alguma coisa criada, organizada e constituída pelo homem, para atender a uma determinada necessidade de caráter permanente. Portanto, nenhuma instituição é criada transitoriamente e sim como um sistema de práticas contando com agentes, instrumentos e meios operacionais.

43O Ratio Studiorum organizava o currículo colegial: Gramática Média, Gramática superior, Retórica,

Humanidades, Filosofia e Teologia, estas duas últimas disciplinas para os pretendentes à formação sacerdotal, conforme explicações de Paiva, (2003).

escolar mais elevada, despertasse nela as ambições indesejáveis, isto é, de concorrer a cargos destinados à elite. Era, portanto, aceitável naquela época que os conhecimentos populares não fossem além das ocupações realizadas pela classe de trabalhadores.

Na opinião de Paiva (2003), a seleção curricular jesuítica impunha aos brasileiros a cultura portuguesa, mantendo uma estrutura social nos moldes de Portugal, que não conhecia outra organização social senão aquela fundamentada no patriarcalismo e na aristocracia.

A história do Brasil Colonial está repleta de fatos marcados pela geração de conflitos que a estratificação social criou, pois o clima entre portugueses e os brasileiros nativos era de guerra, de violências em que os colonos indígenas tentavam preservar suas terras de invasões estrangeiras, já que os portugueses necessitavam delas para a instalação de seus projetos colonizadores. A educação colegial jesuítica modelava o estudante para assumir seu papel de guardião da cultura portuguesa.

O próprio meio em que se deu o processo de colonização das terras brasileiras, no tocante a distribuição do solo, da estratificação social, do controle do poder político, já fornece um extraordinário cenário de como seria o desenvolvimento da educação escolar nacional.

Na opinião de Romanelli (1978), a ação educativa jesuítica foi favorecida por dois fatores: o social e o cultural. O social envolveu a construção social de acordo com o modelo português. Os hábitos aristocráticos da sociedade portuguesa foram assimilados pelas esferas sociais dominantes no Brasil, pois, sendo uma raça branca, deveria ser distinta da população nativa.

Quanto ao fator cultural, uma classe dominante que detinha o poder político- econômico, deveria ser detentora do sistema cultural importado. Desta forma, a sociedade latifundiária e escravocrata tornou-se aristocrática, favorecendo a campanha educativa jesuítica, que elegia os aprendizes segundo sua esfera social, ou seja, uma minoria herdeira dos negócios da família, conforme Romanelli, (1978), embora o ensino, durante o período jesuítico, tenha sido gratuito, segundo Moura, (2000).

Educação, segundo os jesuítas, deveria ser modelada pela autoridade eclesiástica, sem abrir espaços para conhecimentos que pudessem sugerir nos aprendizes a possibilidade de interferências no mundo sócio-econômico brasileiro, já que a produtividade na época, não requeria inovações nem na administração e nem na mão de obra. O ensino escolar poderia, desta forma, permanecer restrito à intelectualidade, sem a preocupação de desenvolvimento de uma agricultura primária e da mão e obra escrava.

Educavam-se jovens de famílias abastadas para viverem ociosamente. Assim, a ideologia jesuítica em relação ao produto da educação era preservada, isto é, formação de servidores e de prosélitos, principalmente estes últimos que, seguindo a vocação sacerdotal, deveriam fortalecer a irmandade da Companhia de Jesus.

Embora o sistema social patriarcal tenha sido inserido no Brasil pelos jesuítas e os colégios fossem acessíveis somente para o sexo masculino, Moura (2000) comenta que a fundação do primeiro colégio interno para moças, no estado do Maranhão, foi um acontecimento importante no setor educacional no Brasil em 1752, uma iniciativa pioneira no campo da educação no Brasil, sob o controle da Companhia de Jesus.

Até então, aplicavam-se no Brasil: curso primário (ler, escrever e contar), curso secundário e superior com cursos de teologia (ministrados nos seminários), filosofia e artes. A partir daí iniciaram-se as tentativas de implantação da universidade no Brasil.

A história da educação católica e a história da educação no Brasil confundem-se: a maioria dos estabelecimentos de ensino, do período em estudo, pertenceu a algum órgão da Igreja. Somente alguns, a contar: ensino militar (talvez a primeira escola laica de ensino brasileira), dois ou três seminários, algumas aulas de clérigos seculares e outras de filosofia nos conventos carmelitas e franciscanos estavam fora da jurisdição da Ordem dos Jesuítas. A inter-relação do Estado e Igreja no Brasil estendeu-se até o final do domínio imperial e o desempenho da Igreja no contexto educacional progrediu com o consentimento da autoridade civil.

A expulsão dos jesuítas e a destruição do modelo colonial do ensino jesuítico foi obra do Marquês de Pombal, dando início a outro período na história da educação no Brasil que durou até 1808, data da chegada da Corte no Rio de Janeiro. As ações do Marquês trouxeram profundas transformações no cenário educacional brasileiro, reduzindo a dedicação da Igreja nesse sentido.

Todos os colégios jesuíticos foram fechados, destruindo, de forma radical, toda a organização escolar construída pelos seguidores de Inácio de Loyola44, a Companhia de Jesus, que foi substituída pelas escolas monásticas dos beneditinos, franciscanos e carmelitas, relata Moura, (2000).

A reforma pombalina visava a estatização das escolas e a uniformidade curricular. Na verdade, pela sua grande ascendência sobre o Rei de Portugal, o Marquês conseguiu que o

44 Inácio de Loyola, o caçula dos Senhores de Loyola, (1491-1556) nasceu na Espanha, de uma família

tradicionalmente católica. Convertendo-se à fé cristã aos 30 anos de idade, reuniu alguns companheiros dando início à Congregação que seria denominada Companhia de Jesus, em 15 de agosto de 1534, tendo sido reconhecida pelo Papa Paulo III, oficialmente, em 1540 (RYBADENEYRA, 1967; QUEVEDO, 1990).

Estado tivesse o controle e domínio total da Igreja, fator que influenciava o Brasil. Em relação às suas decisões para a colônia, ficou definido que deveriam ser implantadas duas escolas publicas (uma masculina e outra feminina), em cada aldeia indígena.

Pombal foi responsável pela centralização da educação pelo Estado. Substituindo os missionários, os diretores impunham a língua portuguesa em detrimento da linguagem nativa. Para as meninas, as aulas se limitavam à aprendizagem de tarefas domésticas (costura, bordado, prendas domésticas etc.), considerando-se que, para elas, era suficiente este tipo de ensino. As funções educativas passaram a ser administradas pelo Estado (que, até então, não havia interferido no setor), num sistema de parceria com a Igreja, instituindo um o modelo de aulas de disciplinas isoladas.

Mas, a responsabilidade do Estado limitava-se ao pagamento do salário dos professores e à elaboração de diretrizes curriculares das disciplinas a serem aplicadas. O restante ficava sob a responsabilidade do professor, ou seja, o que se relacionava às condições espaciais para dar aulas, a infra-estruturação desse espaço que, em geral, era na própria residência do professor, além dos recursos pedagógicos necessários ao ensino. Esta foi, na verdade, a versão brasileira daquilo que se denomina educação pública estatal, de acordo com Saviani, (2004).

Neste momento a Igreja continuou cumprindo seu papel de destaque na educação, pois os colégios de padres que detinham a quase exclusividade sobre o ensino, deram espaços para as escolas régias cujas aulas eram ministradas por mestres escolhidos pelos bispos ou por padres-mestres e capelães de engenho, organizando-se paulatinamente e se responsabilizando pela educação dos jovens. Os professores eram, na maioria, padres seculares atuando no ensino publico e particular, pois os clérigos compunham uma classe culta formada pela Universidade de Coimbra, segundo Moura, (2000).

Após a saída dos jesuítas e do Marquês de Pombal do Brasil, a congregação do Oratório recebeu o convite do governador de Pernambuco para a assunção do trabalho jesuítico no Colégio de Recife. Nesse mesmo século, foram introduzidas as cátedras de filosofia (por D.Maria I) e da gramática latina (por D.João VI) como disciplinas oficiais no Brasil. Em 1808 o Brasil deixou de ser colônia portuguesa, com a chegada da Corte ao Rio de janeiro.

A facção da Igreja Católica com tendências burguesas, nas quais prevaleciam os interesses materiais em detrimento aos valores espirituais perdeu, aos poucos, seu poder. A Igreja dedicou-se à formação de clérigos e o Estado burguês assumiu a formação dos

cidadãos. Os seminários pios surgidos a partir desse movimento transformador foram submetidos pela Igreja Católica e restritos ao ensino teológico.

Os colégios de ensino secundário fundados por religiosos católicos durante o período imperial possuíam funções propedêuticas apesar de funcionarem em sua grande maioria em regime de internato e semi-internato, não tinham afinidade repleta com os Colégios- Seminários, conforme será visto no decorrer deste estudo, na descrição da no Brasil.

Esse sistema educacional seletivo prevaleceu mesmo depois da expulsão dos jesuítas no século XVIII (que se deu precisamente em 1759), atravessando as barreiras do tempo desde o período colonial até o período republicano, sem sequer ser reestruturado, embora a demanda social de educação tenha crescido e exigido a formação escolar das camadas sociais populares, fator que induziu a “[...] sociedade a ampliar sua oferta escolar.” (ROMANELLI, 1978: pg. 35).

A esse respeito, é interessante se comentar sobre as origens da ordem disciplinar que prevaleceu nas escolas desde o período colonial. Enquanto os jesuítas exerceram o poder na educação, muitos seminários foram fundados para a formação de sacerdotes seculares, por jovens que eram filhos dos proprietários de terras.

Foram eles quem deram continuidade ao sistema pedagógico jesuítico ao se tornarem mestres-escola dos descendentes da camada oligárquico-rural e professores de aulas régias inseridas no período pombalino. O ensino tornou-se fragmentado e, mesmo com o seu nível rebaixado, orientou-se para objetivos idênticos aos religiosos e literários e com iguais métodos pedagógicos que enfatizavam a autoridade e estreito disciplinamento presente nos castigos feitos com varas de marmelo e palmatórias de sucupira, com tendências de sufocar qualquer pensamento voltado para a originalidade, a iniciativa e a força criadora individual, para por em seu lugar a submissão, o respeito à autoridade e escravidão aos modelos antigos conforme descreve Sodré (1984).

Essa pedagogia educacional jesuítica impôs regras disciplinares que, no século XVIII, despertaram grandes interesses. A criação de corpos dóceis, submissos como se fossem autômatos manipuláveis, podendo-se aprisioná-los e sujeitá-los pela força do poder é o que se define como disciplina. Diversos sistemas disciplinares já vinham de longa data, tendo sido exercidos nos conventos e nos exércitos, mas que, no século XVIII tornaram-se instrumentos de dominação, segundo Foucault (1993).

Aqui, Foucault tem definições específicas da disciplina como receita de dominação, da escravização, da domesticidade, do asceticismo e do monástico. A disciplina do século XVIII era a que visava, além do desenvolvimento de habilidades e sujeição, também a obediência

enquanto um instrumento de utilidade das políticas coercitivas. Portanto, a prática disciplinar poderia ser vista em diversos ambientes, desde os quartéis submetendo e organizando as tropas, aos colégios que eram:

[...] o modelo do convento se impõe pouco a pouco; o internato aparece como regime de educação senão o mais freqüente, pelo menos o mais perfeito, torna-se obrigatório em Loui-le-Grand quando, depois da partida dos jesuítas, fez-se um