• Nenhum resultado encontrado

O I NSTITUTO T ERESA V ALSÉ P ANTELLIN

5.1 Rememorando o Papel da Mulher na Sociedade Brasileira

Para Azevedo, na época do Brasil Colônia, o ideário sobre a mulher foi desenvolvido sobre o colonialismo da sociedade portuguesa, que se ligava aos ideais católicos. Assim, a ex- colônia, ainda sob valores monárquicos, estabeleceu um padrão de mulher frágil e abnegada

(ALMEIDA,1998), como características indispensáveis para uma moça de família, que futuramente necessitaria do casamento como realização pessoal. Portanto, sua educação limitava-se às prendas domésticas e o único meio de a mulher estudar era nos conventos femininos da Igreja Católica.

A Igreja como parte da cultura Ocidental, fazia de tudo para manter o estereótipo criado para a mulher (mãe-esposa-dona de casa) que permaneceu até a República, sem muita alteração, tendo o lar ainda como seu espaço privilegiado, recebendo a qualificação de rainha do lar.

Percebe-se que nesse período, toda a educação informal dada à mulher, tinha o propósito de convencê-la do seu dever de participar da sociedade como alguém submisso ao pai, ou ao marido, obedecendo-os e respeitando-os. Tinha a intenção também de contorná-la segundo a imagem criada pelo ideário dominante. Ela mesma seria incapaz de ter o domínio ou direção de sua própria vida.

Como construtora da imagem da mulher, a Igreja Católica, desde a época colonial, dotou-a das seguintes características:

O sexo feminino aglutinava atributo de pureza, doçura, moralidade, cristã, maternidade, generosidade, espiritualidade e patriotismo, entre outros que colocavam as mulheres como responsáveis por toda beleza e bondade que deveriam impregnar a vida social.Essas concepções sobre as qualidades femininas, mais a religiosidade e ausência de instinto sexual das mulheres induzia ao arquétipo religioso da comparação com a virgem da religião católica (ALMEIDA, 1998, p.17- 18).

Deste modo, a Igreja ensinava que a mulher deveria aceitar a natureza dada por Deus (a submissão e o exercício das atividades naturais como, cuidar do marido, casa, filhos, bordar, costurar etc.) e se a mulher se revoltasse contra essa natureza, era considerada rebelde em relação aos princípios celestiais. A mulher, juntamente com os analfabetos e os mendigos, era vista como um “zero à esquerda”, pois lhe era vetado o direito ao voto, entre outras participações sociais.

O Brasil era um país eminentemente rural na Primeira República e uma grande quantidade de pobres e marginalizados ajudava a diferenciar nitidamente o espaço urbano. Mas durante esse período, o país iniciou a transição de sociedade rural com base no modelo agro-exportador, para a sociedade urbana voltada para a industrialização.

Com o intuito de combater o analfabetismo e capacitar pessoas para o trabalho industrializado, as políticas educacionais passaram a se preocupar com o ensino popular e

profissional. Por conseguinte, a preocupação com a formação da mulher tomou rumos diferentes nos últimos anos da Primeira República. A mulher considerada professora natural de seus filhos, deveria estar preparada agora para educar e preparar o novo homem.

Percebe-se que essas transformações foram introduzindo novos padrões de comportamento dentro da sociedade, criando a necessidade de um sistema público de educação que se encontrava ancorado naquilo que Jorge Nagle (1974) categorizou como entusiasmo pela educação e otimismo pedagógico.

As transformações sociais trazidas pela República e principalmente devido à influência do escolanovismo e os ideais do liberalismo ligados à escolarização, colocaram, ainda que de forma discreta, a figura da mulher, até então esquecida entre quatro paredes do lar, como um membro da sociedade e sujeita à necessidade de ser educada.

Segundo Carvalho (1990), a situação da mulher era tão complexa que ela não tinha lugar no mundo político e nem tampouco fora de casa; até mesmo a educação não era considerada como coisa de mulher.

Pode-se afirmar que a educação feminina inexistia na sociedade brasileira durante anos. Essa realidade é compreendida quando se volta à atenção para a Constituição do período imperial que trazia em seu texto a prescrição de ensino primário ou de primeiras letras gratuito para todo cidadão e determinava uma educação diferenciada para a mulher como se pode observar abaixo:

[...] desde o decreto de 15 de Outubro de 1827, o governo imperial havia estabelecido um currículo não profissionalizante para a educação feminina, voltado para a formação de donas-de-casa, compostas das seguintes disciplinas: leitura, escrita,doutrina católica e prendas domésticas.Porém se o Estado instituiu um currículo para a educação feminina e outro mais completo para a educação masculina, não possibilitou, ao mesmo tempo, as condições práticas para a execução desses currículos ou seja não criou as escolas. (MANOEL,1996,p.23) Neste sentido, a formação das meninas ficou prejudicada, pois cresciam sem nenhuma instrução, vivendo em casa e sendo preparadas somente para o casamento.

O entusiasmo pela educação que influenciou da década de 20 atribuiu extrema importância à educação, realçando através dela a valorização do homem. Esse pensamento levanta questões a respeito do analfabetismo, que se constituía na grande problemática para a nação: expansão do ensino primário gratuito. Deste modo, como a mulher se enquadrava dentro população analfabeta do país, a preocupação com sua instrução passou a ser um dos problemas levantados pela educação. A necessidade da formação feminina abriu novas possibilidades à instrução feminina.

Contudo, a Igreja Católica, mostrando-se aliada aos interesses das oligarquias, permaneceu dirigindo boa parte do ensino destinado às mulheres, através de seus colégios religiosos, que foram responsáveis pela educação das filhas da elite, apoiando a formação diferenciada dos sexos. Ainda que a constituição da República já defendesse a laicidade do ensino, afastando a Igreja Católica, pelo menos em termos legais, como instituição oficial para a instrução, não aconteceram grandes mudanças, pois a Igreja prevalecia com seus colégios religiosos e continuava sendo a grande responsável pela formação das filhas das famílias da classe alta e, por não serem colégios gratuitos, não abriram espaços para as camadas desfavorecidas da sociedade.

A educação feminina nessas escolas ou internatos visava preservar a moral e a instrução da mulher para o lar, procurando guardá-la dos desvios que pudessem denegrir a imagem da mulher perfeita (cuidadora do lar e do esposo, segundo Manoel, 1996). No entanto, essas instituições não fugiram do padrão já então colocado sobre a mulher, visto que a educação feminina era uma formação para o lar, estabelecendo uma relação mecânica entre diploma e casamento. Essa era a proposta das filhas da elite quando ingressavam em tais instituições de ensino.

Porém, essas escolas estavam alheias ao mundo do trabalho, atendendo aos anseios da elite. Entretanto, a modernização da sociedade brasileira futuramente iria apontar para um rompimento com essa forma de ver o processo de formação da mulher. Isso pode ser concretizado a partir das expressões da Semana de Arte Moderna de 1922, que passou a traçar um novo perfil de mulher manifesto nas artes e literaturas. Neste sentido, a urbanização da sociedade brasileira passou a exigir da mulher uma escolarização que a retirasse daqueles paradigmas que lhe eram estabelecidos desde a época do Brasil Colônia.

Passou a se pensar na formação profissional da mulher, segundo Almeida (1998), para atuar fora do ambiente do lar também; assim, as filhas da elite, em sua maioria, ainda se preocupavam apenas com o conhecimento cultural estabelecendo a estreita relação diploma e casamento. A partir da crise mundial de 1929 e da Revolução de 1930, a hierarquia elitista começou a ser abalada; então, os diplomas adquiridos por suas filhas passaram a ser utilizados como profissão.

Neste sentido, esse processo de formação das mulheres reforçava a presença de instituições privadas, principalmente das católicas, que eram as grandes responsáveis por esse processo de formação. Estas congregações especificavam em seus colégios uma educação de conduta estética, religiosa e formação para o lar, que salientavam no ensino ministrado às alunas, as virtudes da função natural da mulher: ser mãe-professora.

Desta forma, conforme se verá ao longo da construção da gênese do Instituto , vários momentos dos depoimentos das pessoas que vivenciaram a realidade educacional criada pela instituição, vieram de encontro a uma realidade vivida por estas Congregações durante o período da Primeira República. No que diz respeito ao processo de formação acadêmica centrada em uma disciplina bastante rígida em defesa da construção de um conjunto de valores peculiares à mulher, conforme já foi mencionado, e de certa preocupação com a formação profissional da mulher para tarefas que, agora, pela própria representação social, poderia ser utilizado para a vida fora de casa, mas a qualificação era a mesma: bordado, costura, pintura, prendas domésticas, do marido e filhos, canto e música entre outros.