• Nenhum resultado encontrado

4 ANÁLISE DOS RESULTADOS

4.2 POLÍTICAS DE PREVENÇÃO DA CORRUPÇÃO NO BRASIL

4.2.2 Incentivo à Participação e ao Controle Social

O controle social já figurava como objetivo da CGU desde o Relatório de Gestão de 2002, a partir do reconhecimento que o controle institucional, por melhor que seja desenvolvido, é insuficiente para dissuadir a má aplicação e o desvio de recursos públicos. No exercício de 2003, com o lançamento do programa de fiscalização de municípios a partir de sorteios públicos, o incentivo à participação e o fomento ao controle social figurou entre os objetivos do programa.

A partir de 2004, por meio do Programa Olho Vivo no Dinheiro Público, a CGU passou a desenvolver ações de capacitação de agentes públicos municipais, conselheiros e lideranças comunitárias. As atividades de educação presencial abordaram conteúdos como licitações, contratos, convênios, gestão e controle de material, funcionamento e responsabilidades dos conselhos municipais no acompanhamento da aplicação dos recursos federais pelos municípios, dentre outros. O programa já realizou mais de 440 ações de capacitação presencial em todo o país, atingindo mais de 50 mil pessoas, além de 14 mil concluintes dos cursos a distância voltados para o controle social. Veja a seguir os números do Programa a cada ano:

Tabela 3 – Eventos presenciais do programa Olho Vivo

Ano Quantidade de Eventos de capacitação Municípios envolvidos Público atingido 2004 3 12 312 2005 10 79 2.297 2006 33 259 6.599 2007 52 444 10.585 2008 26 224 4.157 2009 50 364 8.892 2010 44 376 5.762 2011 93 396 5.904 2012 98 110 4.500 2013 33 424 1.977 Total: 442 2.688 50.985

Fonte: Controladoria-Geral da União

A tabela mostra redução do público atingido em 2013 pelo fato de nesse ano o programa ter sido objeto de uma reformulação que incluiu a incorporação de outras ações desenvolvidas pela CGU. Como resultado, no exercício seguinte as ações de capacitação presenciais foram remodeladas e ampliadas, incluindo oficinas direcionadas à população e aos servidores públicos, além de mesa redonda sobre a importância do controle social e de vistorias para verificar a aplicação dos recursos públicos nas localidades. As 28 ações realizadas em 2014, envolvendo cidadãos de 91 municípios e do Distrito Federal, capacitaram 3.903 conselheiros municipais, agentes públicos e lideranças locais para a prática do controle social, alcançando um público médio de 140 participantes por evento. Na modalidade de capacitação a distância, o curso Controle Social e Cidadania atingiu um público de 3.000 cidadãos e 1.500 agentes públicos. Já as ações realizadas em 2015 capacitaram quase 5 mil conselheiros municipais, agentes públicos e lideranças locais para a prática do controle social, considerando cursos presenciais e à distância. Na modalidade de capacitação a distância, o curso Controle Social e Cidadania atingiu um público de mais de 22 mil alunos capacitados, entre cidadãos e agentes públicos, até o final de 2015.

Com o objetivo de apresentar as práticas de sucesso da participação social e de debater os limites e possibilidades do exercício do controle social, a CGU realizou, em setembro de 2009, o I Seminário Nacional de Controle Social, com a participação de 600 pessoas de todo o país. Os participantes do Seminário propuseram a convocação de uma conferência nacional para tratar de transparência e controle social, o que foi aceito pelo órgão.

A primeira Conferência Nacional sobre Transparência e Controle Social (Consocial), promovida e coordenada pela CGU pela primeira vez em um processo conferencial – se dedicou ao debate exclusivo de temas como transparência, controle social e prevenção e combate à corrupção. Com o tema "A Sociedade no Acompanhamento e Controle da Gestão Pública" a 1ª Consocial envolveu 2.750 municípios – incluindo todas as capitais – de todos os estados e do Distrito Federal, mobilizando quase 1 milhão de brasileiros e contando com a participação direta nos debates de mais de 153 mil pessoas. Antes da Etapa Nacional, houve ainda uma etapa virtual, que contou com a participação de quase 3.000 internautas, e mais de 300 conferências livres, que ampliaram e estimularam a participação de grupos até então distantes dos processos conferenciais. Esses encontros permitiram o acolhimento de ideias oriundas de todo o país e dos mais distintos espaços, como associações de classe, colônias de imigrantes, comunidades quilombolas, aldeias indígenas, sindicatos, universidades, escolas, do exterior, entre outros.

Na realização da Etapa Nacional, ocorrida em Brasília no mês de maio de 2012, 1.300 delegados eleitos, provenientes de todo o Brasil, discutiram durante três dias e aprovaram propostas para o incremento da transparência e acesso à informação, o fortalecimento do controle social e o avanço na prevenção e combate à corrupção no Brasil. O resultado final da 1ª Consocial compôs um rol de 80 diretrizes e propostas para o incremento das políticas públicas de transparência, acesso à informação, fortalecimento do controle social, prevenção e combate à corrupção. Estas propostas serviram de suporte para a criação do Plano Nacional sobre Transparência e Controle Social, bem como para construção de políticas públicas e projetos de lei.

Além do programa Olho Vivo no Dinheiro Público e da Consocial, aqui destacados, outras ações têm sido desenvolvidas com o objetivo de estimular a participação da sociedade e o controle social, como por exemplo o programa Fortalecimento da Gestão Pública, voltado a capacitação de gestores públicos, o programa de capacitação do Controle Interno, voltado a capacitação dos órgãos de controle interno de estados e municípios e a escola virtual da CGU, entre outras.

Correa e Capanema (2009, p. 12) afirmam que as ações da CGU com a sociedade civil têm como alicerce a capacitação do cidadão e a promoção da transparência, iniciativas que atuam como subsídio ao exercício da accountability

societal. Loureiro et al. (2012, p. 65), ao tratar da ação da CGU voltada ao fomento do controle social, afirmam que “os dirigentes da CGU perceberam claramente que estavam atuando dentro de um novo contexto democrático e de grande valorização das instituições participativas (inclusive em termos constitucionais), e, portanto, seria preciso envolver atores sociais para conseguir, a um só tempo, combater a corrupção e capacitar a sociedade para cobrar mais dos governos.” Acrescentam ainda os autores que “o caso da CGU é expressivo dessa nova realidade, pois ela não atua mais apenas como controladora, mas também como ativadora das energias políticas e sociais da cidadania” (LOUREIRO et al., 2012, p. 65).