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4.3.8. Relação Coordenadores – IDC: sugestões para articular a IDC com o TP

4.3.8.2. Incentivo à Formação de Professores

Os entrevistados apontam a necessidade de incentivar a Formação de Professores, que deve primar por uma melhor articulação entre a Investigação em Didáctica e as práticas lectivas, concretamente relacionadas com o TP. São referidos quatro aspectos:

 formação de grupos integrando professores e investigadores;  cursos de Pós-graduação;

 acções de formação no âmbito da Didáctica das Ciências;

CAPÍTULO IV – Apresentação e discussão dos resultados

Formação de grupos integrando professores e investigadores

O entrevistado E1 não parece motivado para um trabalho desse tipo, afirmando que “a partir de um certo momento começa a haver um fosso entre a Investigação, ao nível académico e a prática no terreno, ou a pessoa procura muito... também temos o factor tempo, a disponibilidade para”. E3 mostra-se céptico e afirma que os professores não estão “muito habituados a ser chamados a colaborar”, apesar de haver “colegas que são muito abertos... temos de nos deslocar para outras cidades para desenvolver esses trabalhos”, pelo menos em Viseu, uma vez que não existe uma Universidade perto, que tenha investigadores a desenvolver trabalhos no âmbito da Didáctica das Ciências. E4 acha viável a integração de investigadores e professores em trabalhos conjuntos e sugere uma proposta nesse âmbito. Afirma: “perto do Monte de Santa Luzia [considerado um Geomonumento, onde se edificará um Museu do Quartzo], existem as escolas todas [da cidade]. Se houver uma formação com saída de campo para fazer a caracterização, quer geológica, quer biológica, bem organizada pelos investigadores da Didáctica, ao nível científico bem estruturada... vai motivar muito os professores... é uma actividade totalmente diferente”. Sugere a criação de, não só “um núcleo de uma escola”, mas de “uma zona de escolas, uma espécie de núcleo regional”. Refere que se “a Universidade está interessada na divulgação daquilo que estão a fazer a nível de investigação... deverá ser feito ao nível de um núcleo de escolas, mas a nível de uma região”, contemplando não só os professores de Ciências, mas “também de Físico-Química ou outras disciplinas”. E4 defende que a “integração dos professores em projectos de investigação aproxima-os mais” da IDC. Tal como E3, refere a inexistência de Universidades Públicas na região e que na “escola há um certo isolamento”. Defende a necessidade de optimizar a “articulação com as Universidades, já que os núcleos de Investigação em Didáctica estão nas Universidades e mais apoio ao nível da formação dos professores”. Esta opinião é igualmente partilhada por E5. O entrevistado E7 refere que “deveria partir-se deles [investigadores], no fundo trabalham e esse trabalho fica limitado, não chega, não se aplica no terreno... há uma certa separação entre quem investiga e chega a determinadas conclusões e quem tem de aplicar. Acaba por ser um desperdício de esforço”. Também E8 defende que os investigadores deveriam dar o primeiro passo na aproximação às escolas e que se um investigador “chega a resultados e faz sugestões para o ensino” a presença dos investigadores nas escolas “deveria fazer parte da Investigação em Didáctica”.

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Cursos de Pós-graduação

No que concerne à frequência de cursos de Pós-graduação em Didáctica das Ciências, E3 menciona que tem colegas que “fizeram Mestrado mas fica muito caro, depois é o trabalho que têm e o envolvimento que têm de ter para conseguir atingir os objectivos e a despesa associada”. Refere, ainda, que “há alguns anos atrás houve acções que achei muito interessantes em termos do Trabalho Experimental em Ciências e surgiram até dois Mestrados que poderiam ser interessantes, mas nunca me meti porque teria de ir para Coimbra ou para Aveiro”. Para E6, a Pós-graduação “é uma maneira de entusiasmar alguns. Esses que estão ligados poderão influenciar os outros”. E4 afirma estar mais sensibilizada para Didáctica das Ciências, uma vez que está “a fazer o Mestrado”, defende que “é através da investigação que nós fazemos que... estamos mais sensibilizados”. E7 refere que apesar de representar “trabalho adicional”, um trabalho de Pós-Graduação “seria bastante interessante, principalmente se fosse um trabalho centrado em certas questões da escola, passava muito mais a mensagem para a escola, na sua totalidade, do que um elo aqui, além outro e estarem a trabalhar, no fundo, desarticulados”. E8 menciona a importância de haver alguém nas escolas que “faz essa formação na Universidade e traz uma lufada de ar fresco”. Essas pessoas, ou grupo de pessoas poderão dinamizar a reflexão sobre indicadores da Didáctica das Ciências. Afirma, ainda, que as “pessoas aprendem de determinada forma, no seu Curso e no seu Estágio, se frequentam um Mestrado levam uma reciclagem, se não ficam só com aquilo que aprenderam... as pessoas acomodam-se e fazem a sua prática”. E8 frequentou um Mestrado na área da sua especialidade, que não lhe parece de grande utilidade para as práticas lectivas, reconhecendo que se tivesse frequentado um Mestrado em Ensino relacionado com a sua área de especialidade encontraria, mais facilmente, a sua aplicabilidade.

Acções de formação no âmbito da Didáctica da Ciências

Os entrevistados E3, E4 e E5 defendem que deveria existir “mais apoio ao nível da formação” dos professores, até porque, como refere E3, “se é importante que os professores tenham formação é necessário existirem condições” referindo-se, concretamente, aos preços de algumas acções de formação que considera exagerados, sendo “a formação dos professores” suportada pelos próprios.

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O entrevistado E1 refere que “o contacto com novas linhas de investigação” ou vem “com as acções de formação ou dificilmente” se proporcionará. E2 afirma que frequenta assiduamente as acções de formação propostas, “embora não apareçam muito os resultados da Investigação em Didáctica”. O entrevistado E3 destaca a preocupação dos professores para frequentarem “acções de carácter científico”, afirma que no campo da “Química e da Física sentimos que está sempre a surgir informação nova e temos necessidade”, todavia constata que quando “há uma palestra em termos científicos e outra da Didáctica há um grande número de professores que escolhem a da Didáctica, o que significa que há uma recepção razoável”. Relativamente às acções da Didáctica das Ciências “tudo deve ser feito de acordo com os interesses... os próprios temas a serem abordados, a maneira como se divulga fará com que haja uma maior ou menor adesão”. Os entrevistados E4 e E5 defendem que deveria haver mais acções de formação no âmbito da Didáctica das Ciências e partilham a opinião de E2 de que a oferta dos Centros de Formação é muito limitada nesta área. Também E7 critica os Centros de Formação afirmando que “nem sempre aquilo que os Centros de Formação oferecem e oferecem na área [de residência], vem de encontro às reais necessidades” ao nível da Didáctica das Ciências. Refere que o Departamento de Ciências formulou propostas de formação ao nível do Trabalho Experimental e que o Centro de Formação não conseguiu dar resposta. Destaca as dificuldades em frequentar algumas acções de formação em horário pós-laboral. O entrevistado E8 critica os horários, a brevidade e a falta de continuidade das acções de formação e exemplifica: “tivemos aquela formação [CTSA] e até ficámos um bocado entusiasmados, mas depois não houve continuidade”. Refere que os Centro de Formação não apresentam muitas acções relacionadas “com Didáctica das Ciências. Só quando há mudanças curriculares é que surge a Didáctica” e que é durante os períodos de reorganização curricular “que as pessoas se predispõem a procurar formação”. Todavia, se a Didáctica “lhes for dada a conhecer de uma forma atractiva vão querer experimentar”, uma vez que “não há rejeição” por parte dos professores.

Os entrevistados E7 e E8 apontam para a inconsistência da lei que regula a progressão na carreira docente que exige, apenas, a frequência de acções de formação que valem determinados créditos, independentemente dos temas e dos trabalhos desenvolvidos no âmbito dessas acções. O Coordenador E7 refere que os professores, mediante a necessidade de créditos e a escassa oferta em termos de formação, procuram “num instante

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fazer uma acção de formação para os ter, qualquer que ela seja e acabam por não fazer aquilo que corresponde às suas reais necessidades” e E8 afirma que os professores “quanto mais perto de mudar de escalão, mais preocupação têm” com a formação.

Reflexão sobre indicadores da Investigação em Didáctica das Ciências

O entrevistado E8 menciona a existência de “um certo desfasamento entre o que se investiga em Didáctica e o que se faz”. Segundo E3, as “pessoas não sabem o que está a ser feito, até pode ser muito interessante aquilo que se faz e até ser muito útil”, afirma: “se não sabemos como é que poderemos dar importância”. E1 refere que a disponibilidade para a reflexão sobre indicadores da IDC parte um pouco de cada um, que “há muito pouco estímulo”. Esta opinião é partilhada por E5 e E6. O entrevistado E2 exemplifica a indisponibilidade de alguns professores relativamente ao planeamento e à discussão do Trabalho Prático, dizendo que “fogem um bocado” porque é trabalhoso. O entrevistado E5 afirma que “a tentativa era que todos os professores gostassem de colaborar” na implementação de estratégias inovadoras, mas “só participa quem, efectivamente, gosta e quer”. Considera que “deveria haver um reconhecimento” para com os professores mais inovadores, “mas, efectivamente, não existe”, o que poderá ser “um obstáculo... motivo para alguma resistência às inovações”. O entrevistado E4 é de opinião que os próprios professores deveriam “sentir uma necessidade... criar uma autonomia e uma sensibilidade” relativamente à Investigação em Didáctica das Ciências “muitas vezes, não adquirida no curso”.

Os entrevistados E4, E5 e E8 afirmam que é necessário criar mecanismos que favoreçam o trabalho colaborativo entre os professores. E4 defende “um trabalho conjunto e cooperativo das escolas da região” aproveitando as potencialidades biológicas e geológicas de uma dada região em termos de ensino das Ciências. Refere que não há troca de ideias entre os professores envolvidos em projectos de investigação e os restantes colegas e que são os “trabalhos de investigação que têm metodologias e aspectos sobre uma região estudada, que deviam ser divulgados em revistas e explicados... ser acessível a qualquer pessoa que esteja interessada”. O desconhecimento dos professores relativamente a trabalhos de investigação de outros colegas está bem patente na seguinte afirmação de E8: “a Coordenadora da área disciplinar está a fazer algo que não sei muito bem o quê, um trabalho qualquer na Universidade, mas não sei o que está lá a fazer”. Este

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entrevistado defende que, se os professores se dedicassem mais, poderiam implementar algumas das propostas dos investigadores, afirmando que “ou uma pessoa se dedica, faz aquilo como manda o figurino ou então...”.

Os entrevistados E7 e E8 reconhecem potencialidades ao nível dos núcleos de estágio para dinamizarem, nas escolas, a reflexão e a implementação de novas metodologias no âmbito da Didáctica das Ciências. E7 refere que supervisionou estágios de Biologia/Geologia e pode comparar as duas situações, a sua, enquanto estagiária e a das suas estagiárias e refere “que há realmente evolução no aspecto da Didáctica”. O entrevistador E8 considera os estagiários “os mais inovadores e actualizados”, como tal, “podem trazer alguma novidade aos outros professores”.

Resumindo, a integração de investigadores e professores em trabalhos conjuntos não é consensual nas opiniões dos entrevistados. E1, E3 e E6 não equacionam essa possibilidade, quer por falta de disponibilidade, quer pela distância que separa a escola das Universidades. E4 defende que essa integração é fundamental e aproxima-os mais. E7 e E8 afirmam que deveriam ser os investigadores a dar o primeiro passo, indo mais vezes às escolas. Relativamente aos cursos de Pós-graduação, E3 afirma que implicam trabalho e despesa. E4 refere que é através da investigação que os professores fazem que ficam mais sensibilizados, como tal, a Pós-graduação é essencial. Para E6, a Pós-graduação é uma forma de “entusiasmar alguns” professores que poderão influenciar outros. Opinião corroborada por E8, que afirma que as pessoas envolvidas em Pós-graduações poderão ser a “ponte” entre a IDC e os professores de Ciências. E3 e E7 referem a necessidade de criar incentivos para a realização de Pós-graduações. Os entrevistados afirmam que não existe estímulo, nem reconhecimento para os professores mais inovadores e que têm de existir

apoios financeiros e condições para a Formação de Professores. Os entrevistados E7 e

E8 referem que a lei que regula a progressão na carreira docente exige, apenas, a frequência de acções de formação que valem determinados créditos, independentemente dos temas contribuírem, ou não, para a inovação das práticas. Os entrevistados reconhecem a influência das acções de formação nas suas práticas lectivas, todavia constatam que existe pouca oferta ao nível dos Centros de Formação. Referem que o local e a hora a que se realizam determinadas acções de formação e a brevidade das mesmas são factores que

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condicionam a adesão dos professores, estes procuram mais formação na altura das reorganizações curriculares. Apontam a necessidade de criar mecanismos que proporcionem uma maior disponibilidade para a reflexão sobre indicadores da IDC e uma comunicação efectiva entre professores que frequentam Pós-graduações em Didáctica das Ciências e os restantes professores. Enfatiza-se a necessidade de criar hábitos de trabalho colaborativo entre os professores. Refere-se, ainda, o papel importante dos núcleos de estágio na reflexão e a implementação de novas metodologias em conjunto com os restantes professores.

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