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3. O MODELO DE PRECEDENTES NO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL DE

3.7 PRECEDENTES NO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL DE 2015

3.7.2 Julgamento de casos repetitivos – IRDR (Incidente de Resolução de

3.7.2.1 Incidente de resolução de demandas repetitivas IRDR

Analisando o artigo 976 do Código de Processo Civil, para a instauração do incidente de resolução de demandas repetitivas devem ser preenchidos os seguintes requisitos: (i) efetiva repetição de processos; (ii) controvérsia sobre a mesma questão de direito; (iii) “risco de ofensa à isonomia e à segurança jurídica” e a (iv) pendência de causa perante o Tribunal.308

O artigo 977 indica quem pode requerer a instauração do IRDR: juiz ou relator, por meio de ofício (inciso I), pelas partes, por meio de petição (inciso II), Ministério Público e Defensoria Pública, também por meio de petição (inciso III).

Quando não for o autor, o Ministério Público intervirá na qualidade de fiscal da ordem jurídica. Em caso de desistência ou abandono pela parte requerente, poderá assumir a titularidade, de acordo com o artigo 976, §2º.

Para a suscitação do IRDR, conforme requisito acima mencionado, deve estar tramitando no Tribunal ao menos alguma ação que possa ser considerada como demanda repetitiva, conforme é defendido no Enunciado n. 344 do FPPC: “a instauração do incidente pressupõe a existência de processo pendente no respectivo tribunal”.

Isso demonstra a necessidade de uma adaptação da forma de atuar pelo Ministério Público, especialmente nas Procuradorias de Justiça. A Procuradoria

308 DIDIER JR., Fredie; CUNHA, Leonardo Carneiro da. Curso de direito processual civil: o

processo civil nos tribunais, recursos, ações de competência originária de tribunal e querela

nullitatis, incidente de competência originária de tribunal. 13 ed. Salvador: Juspodivm, 2016. p.

de Justiça, por atuar em 2º grau, possui maiores condições de avaliar se uma mesma questão vem sendo reiteradamente decidida no Tribunal. O Ministério Público, portanto, deve criar mecanismos para aferição da existência de demandas repetitivas nos recursos que lhe chegam, para avaliar a necessidade de instauração do IRDR.

Importante destacar que caso não esteja no tribunal alguma ação em grau de recurso que seja representativa de demanda repetitiva, essa falta pode ser suprimida pela existência de uma causa de competência originária, consoante o Enunciado 345 do Fórum Permanentes de Processualistas Civis.309

O julgamento do IRDR possui dois efeitos. O principal efeito é a aplicação da

ratio decidendi aos processos pendentes, suspensos ou não. Em outras

palavras, o julgamento de mérito do IRDR terá efeito de precedente. O objetivo principal do IRDR é “produzir uma decisão cuja conclusão possa ser replicada em muitos outros processos; [...] é a aplicação da ratio decidendi fixada no IRDR para todos os outros processos em que se discuta a questão comum”.310

Importante se atentar ao âmbito de aplicação da ratio decidendi. Somente serão afetados os processos que tramitem na jurisdição do respectivo tribunal.

Outro efeito é o julgamento dos casos afetados, conforme o artigo 978, parágrafo único, com a aplicação da tese jurídica (ratio decidendi) fixada.

Se houver recurso da decisão que julgou o mérito do IRDR e se o mérito desse recurso for julgado pelo STJ ou STF, a tese jurídica firmada será aplicada em todo o país a todos os processos individuais ou coletivos que versem sobre idêntica questão de direito, conforme dispõe o artigo 987, §2º, do CPC/2015.

309 Enunciado 345 do FPPC: “o incidente de resolução de demandas repetitivas aplica-se a

recurso, a remessa necessária ou a qualquer causa de competência originária”. Cf. DIDIER JR., Fredie; CUNHA, Leonardo Carneiro da. Curso de direito processual civil: o processo civil nos tribunais, recursos, ações de competência originária de tribunal e querela nullitatis, incidente de competência originária de tribunal. 13 ed. Salvador: Juspodivm, 2016. p. 627.

310 CABRAL, Antônio do Passo. Arts. 975 a 987. In: CABRAL, Antônio do Passo; CRAMER,

Ronaldo. Comentários ao Novo Código de Processo Civil. 2 ed. Rio de Janeiro: Forense, 2016. p. 1.464.

É possível a revisão do precedente formado por meio do IRDR. Possuem legitimidade para requerer a revisão o próprio tribunal, Ministério Público e Defensoria Pública. As partes não possuem essa legitimidade,311 nos termos dos

artigos 986 e 977, III, do CPC.

Para a revisão deve o interessado demonstrar “os argumentos fáticos e jurídicos que podem servir de baliza para demonstrar a necessidade de revisão da posição firmada no IRDR”.312

O IRDR é procedimento no qual existe forte presença de interesse público. Os motivos para essa conclusão são os seguintes: ser um procedimento destinado a formação de precedente;313 desistência do recurso ou abandono da causa selecionada para instauração do IRDR não impede o julgamento do mérito do incidente (CPC/15, art. 976, §1º); obrigatoriedade da intervenção do Ministério Público, podendo instaurar o incidente ou assumir a sua titularidade quando ocorrer desistência ou abandono do recurso.314

Sobre esse último ponto deve ser esclarecido que o Ministério Público não é obrigado a assumir essa titularidade. Pode entender que não há interesse público a ser guarnecido com o prosseguimento do feito, tal qual já ocorre nos casos de ações coletivas (artigo 5º, §3º, da Lei n. 7.347/1985).315 No entanto,

mesmo se isso acontecer, o Tribunal de ofício pode continuar processando o incidente.316

311 CABRAL, Antônio do Passo. Arts. 975 a 987. In: CABRAL, Antônio do Passo; CRAMER,

Ronaldo. Comentários ao Novo Código de Processo Civil. 2 ed. Rio de Janeiro: Forense, 2016. p. 1.462.

312 Ibidem, p. 1.464. 313 Ibidem, p. 1.442. 314 Ibidem, p. 1.443.

315 Explica Mazzilli: “Em matéria de ação civil pública ou coletiva, implicitamente, a nova redação

do §3º do ar. 5º da LACP passou a admitir que as associações civis autoras possam manifestar desistências fundadas, caso em que o Ministério Público não estará obrigado a assumir a promoção da ação. Daí, podemos validamente deduzir que, se existem desistências fundadas, formuladas por associações civis, então, por identidade de razão, também pode haver desistências fundadas de quaisquer colegitimados, até mesmo do próprio Ministério Público” (MAZZILLI, Hugo Nigro. A defesa dos interesses difusos em juízo. 21 ed. São Paulo: Saraiva, 2008. p. 382)