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INCOMPATIBILDADE COM SENTENÇAS SUBORDINADAS

DOS MARCADORES É RUIM E NEM A PAU NO PB

3.2. DAS SENTENÇAS COM NEM A PAU

3.2.5. TESTES PARA IDENTIFICAÇÃO DAS SENTENÇAS DE NEGAÇÃO ANAFÓRICA (SNA) DO É RUIM E NEM A PAU

3.2.5.5. INCOMPATIBILDADE COM SENTENÇAS SUBORDINADAS

Além dos testes apresentados acima, Cavalcante (2012) analisou o não final em sentenças subordinadas e afirmou que “[...] é inaceitável em sentenças subordinadas de qualquer tipo” (p. 54).

Apliquemos a sentenças subordinadas os marcadores é ruim e nem a pau às sentenças subordinadas entre (148) e (152), abaixo:

(148) a. *Ana constatou que é ruim que ela vai! (Objetiva Direta) b. Ana constatou que nem a pau ela vai!

c. Ana constatou que ela nem a pau vai! d. Ana constatou que ela não vai nem a pau!

(149) a. *É bom que é ruim que Ana vai! (Subjetiva) b. *É bom que nem a pau Ana vai!

c. *É bom que Ana nem a pau vai! d. *É bom que Ana não vai nem a pau!

(150) a. A verdade é essa: é ruim que Ana vai! (Apositivas) b. A verdade é essa: nem a pau Ana vai!

c. A verdade é essa: Ana nem a pau vai! d. A verdade é essa: Ana não vai nem a pau!

63 Como não tenho a língua nativa do PE, tomei a liberdade de abrigar os marcadores internos lá/cá numa

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(151) a. *Saiu o resultado do jogo que é ruim que eu assisti?! (Relativa) b. Saiu o resultado do jogo que nem a pau eu assisti?!

c. Saiu o resultado do jogo que eu nem a pau assisti?! d. Saiu o resultado do jogo que eu não assisti nem a pau?!

(152) a. *Se é ruim a banda tocar, o show será cancelado! (Adverbial) b. Se nem a pau a banda tocar, o show será cancelado!

c. Se a banda nem a pau tocar, o show será cancelado! d. Se a banda não tocar nem a pau, o show será cancelado!

Entre as subordinadas de (148) a (152), o marcador é ruim só é aceitável com as apositivas. Nas demais, provoca agramaticalidade. Por sua vez, o nem a pau é incompatível, apenas, com a subjetiva. Nas demais, mostrou-se convergente.

Diante do que expusemos e da submissão dos marcadores é ruim e nem a pau aos testes de Martins (2010), para as SNM, e aos testes de Cavalcante (2012), para as SNA, nos quais o é ruim e o nem a pau comportaram-se distintamente, aviltramos que, apesar dessas diferenças, ambos os marcadores, quando inseridos numa mesa discursiva, se opõem a uma asserção previamente ativada, seja ela declarativa ou interrogativa, de afirmação ou de negação.

Pelo traço de Polaridade Relativa [Objection] identificado em ambos os constituintes, bem como pela coerência com os principais testes de Martins (2010) e pela equivalência entre o é ruim, o nem a pau e alguns MNM do PE, acastelamos que, apesar de algumas diversidades nos testes, ambos os marcadores são SNM do PB. Defendemos, ainda, que o nem a pau, trazendo para a mesa aquela ambiguidade apontada por Horn (1989), é, também, um MNM do PB.

RESUMO DO CAPÍTULO

Ao longo desta seção tratamos dos marcadores é ruim e nem a pau, de modo a mostrar suas semelhanças e diferenças, bem como os tipos de sentenças em que são realizados, além da configuração dos constituintes que tornam esses marcadores uma expressão fixa e cristalizada, haja vista eles serem configurados por mais de um termo.

Inicialmente falamos do marcador é ruim, assegurando que ela é uma expressão cristalizada, comumente utilizada entre os falantes do PB, constituída por termos que, sendo fixos, não podem ser entremeados ou invertidos. Como é um marcador periférico de negação,

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afirmamos que ele se realiza na periferia à esquerda, posição em que vem, sempre, seguido do complementizador que, se entre ele e a expressão fixa, é ruim, não aparecer o marcador discursivo heim. Dissermos que o é ruim pode ocupar também a última posição da sentença, sendo que, nessa posição, ele é realizado com o marcador discursivo heim.

Além da posição, argumentamos que o é ruim tem escopo amplo sobre toda a sentença que segue o complementizador ou que precede o é ruim.

Como fizemos com o é ruim, mostramos que o nem a pau, comum na oralidade, é uma expressão fixa e cristalizada que não pode ser entremeada por nenhum outro constituinte, do mesmo modo que não pode ser invertida.

No entanto, diferente do é ruim, asseguramos que o nem a pau é um marcador periférico, podendo aparecer acima ou abaixo do verbo, ou interno, sendo pré ou pós-verbal.

Dependendo da posição em que se realize e da Polaridade Absoluta da pressuposição que está sobre a mesa discursiva, o nem a pau pode corrigir alguma variável do valor de verdade, coerente com os MNM, ou anular todo esse valor, como os MNR. Do mesmo modo, é um marcador que pode estabelecer concordância negativa, comportamento de um IPN.

Quanto ao escopo do nem a pau, acastelamos que, a depender da posição, ele pode ter escopo amplo, anulando o valor de verdade da asserção prévia, ou escopo estreito, que recai sobre alguns constituintes da sentença.

Como defendemos que ambos os constituintes são MNM, apesar de o nem a pau, em algumas situações comunicacionais, se comportar também como MNR ou um IPN, trouxemos, a fim de verificarmos como os marcadores deste trabalho se comportam, testes de Martins (2010, 2012, 2014) que classificam as SNM ou distinguem os MNM. Sendo assim, submetemos nossas sentenças a tais testes e confirmamos que o é ruim é, incondicionalmente, um MNM periférico, cujo comportamento é semelhante ao do marcador uma ova. Por sua vez, o comportamento do nem a pau é distinto e depende da posição em que ele se realize, bem como da mesa em que seja efetivado: se se realiza numa mesa com pressuposição de afirmação, com Polaridade Absoluta Positiva [+], a Polaridade Relativa da sentença em que o nem a pau se realiza tem traços [Objection] ou [Reverse], configurando-se, respectivamente, como um MNM ou um MNR, e confirmando a ambiguidade apresentada em Horn (1989); se se realiza numa mesa com sentença de negação, com Polaridade Absoluta Negativa [-], o nem a pau pode atribuir à sentença em que aparece Polaridade Relativa [Objection] ou [Reverse] ou, ainda, Polaridade Relativa [Same], uma vez que vem a estabelecer concordância negativa com o não pré-verbal, presente na pressuposição.

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A fim de ratificarmos os apontamentos sobre ambos os marcadores, considerando os testes de Martins (2012), submetemos os mesmos marcadores a testes propostos por Cavalcante (2012) para classificação das Sentenças de Negação Anafórica (SNA). Com todos os testes de Cavalcante (2012), o é ruim foi incompatível, confirmando que ele é um legítimo e exclusivo MNM. O nem a pau, por sua vez, mostrou-se ora compatível, ora incompatível, mais uma vez, dependendo da posição em que foi realizado.

Apesar das divergências identificadas no marcador nem a pau e da flexibilidade aos testes de Martins (2010) e aos de Cavalcante (2012), ratificamos que ambos os marcadores deste trabalho são, sim, MNM do PB, sendo que o é ruim é, exclusivamente, um MNM, que se realiza apenas em SNM, enquanto o nem a pau, além de um MNM, realizado em SNM, pode também ser também um MNR, estabelecendo o traço [Reverse], ou um IPN, se realizado abaixo do verbo numa mesa com cg negativo, onde atribui Polaridade Relativa [Same] à sentença.

Na próxima, e última seção, trazemos análises de Martins (2014) sobre a configuração sintática das SNM, de modo a apresentar a sintaxe de sentenças com é ruim e nem a pau. Nosso objetivo é mostrar onde os marcadores é ruim e nem a pau são gerados, se dependem ou não de processos de movimento e se ocupam, de fato, alguma projeção em CP.

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SEÇÃO 4

CONFIGURAÇÃO SINTÁTICA DAS SENTENÇAS