• Nenhum resultado encontrado

O MARCADOR DE NEGAÇÃO COMUM – NÃO

CONFIGURAÇÃO SINTÁTICA DAS SENTENÇAS COM É RUIM E NEM A PAU NO PB

4.2. DOS MARCADORES DE NEGAÇÃO NO PB

4.2.1. O MARCADOR DE NEGAÇÃO COMUM – NÃO

Para Pollock (1989), “[…] the structure of (negative) sentences in English [...] aside from CP, TP, and AgrP there is also a NegP69”. Assim, o autor, que subdivide a projeção Inflectional Phrase70 (IP) em AgrP e TP, em que os constituintes descarregam as marcas morfológicas de Número e Pessoa e de Tempo e Modo, respectivamente, acastela que, sendo uma sentença de negação, para a projeção NegP os constituintes da negação são movidos.

Com a divisão do IP em duas subprojeções, Pollock (1989) defende que o NegP aparece abaixo do TP e acima do AgrP. Assim, NegP é argumento de Tº, e AgrP é argumento de Negº. Pollock (1989) justifica essa realização porque “extending and modifying the Barriers framework to accommodate the richer structure of IP […] not only VP but also NegP and TP are "inherent" barrier71” (p. 397). Nesse caso, se TP ficasse abaixo de NegP, impediria o movimento de subida de determinados constituintes até a projeção AgrP. Assim, na configuração de Pollock (1989), os constituintes passam pelo AgrP, que, “[...] because of its morphologically "defective" nature, AgrP can only be a barrier by inheritance72” (p. 397), alcançam NegP e são finalizados em TP.

Segundo Pollock (1989), o movimento ocorre de maneira que

68 “A ideia de que marcadores negativos são hospedados em alguma projeção funcional na sentença principal

tem contribuído fortemente com o estudo do status sintático dos marcadores negativos, sendo a questão principal a de quais partículas podem nuclear uma frase negativa e quais não podem” (TRADUÇÃO MINHA).

69 “Na estrutura de sentenças (negativas) em inglês [...], além de CP, TP e AgrP, tem também um NegP”

(TRADUÇÃO MINHA)

70 Do inglês, Frase da Flexão. (TRADUÇÃO MINHA) 71

Estendendo e modificando a estrutura das Barreiras para acomodar a estrutura mais rica do IP [...], não só VP mas também NegP e TP são barreiras "inerentes". (TRADUÇÃO MINHA).

72 [...] por causa de sua natureza morfologicamente “defeituosa”, AgrP não pode ser um barreira por herança”.

148

[...] V moves to Agr, thus forming the amalgamated V+Agr that L-marks VP, thus voiding barrierhood […]. V+Agr next moves to T, forming the amalgamated constituent Ti […]. If the sentence is negative, it L-marks

NegP, thus voiding barrierhood, but does not L-mark AgrP. Not is not an L- marker either. This causes no harm since AgrP, being defective, does not count as a blocking category and is only a barrier by inheritance73 (POLLOCK, 1989, p. 397).

Laka (1990), por sua vez, que analisa sentenças de negação em línguas como inglês, basco e espanhol, não subdivide o IP em duas subprojeções e afirma que IP domina NegP, no inglês, enquanto no basco e no espanhol, NegP domina IP. Desse modo, a marcação da negação, para Laka (1990), que varia de língua para língua, se dá de modo que, ou NegP domina o IP, ou o IP domina NegP.

Em sua abordagem, Laka (1990) afirma que marcadores de negação e de afirmação têm funções equivalentes. Assim,

[...] similarly to the way in which the head Neg can head its own functional projection, there is also a X aff, which projects na Affirmation Phrases. These two heads (Neg and Aff) are further argued to belong in the same syntactic category, I which will call ∑. Thus, both NegP and AffP are claimed to be different instantiations of a more abstract projection: the ∑ phrases7475 (LAKA, 1990, p. 88).

Ou seja, Laka (1990) admite que os marcadores de NegP e os de AffP são projetados na categoria ∑P, disponível para marcadores de afirmação e de negação, instâncias diferentes de projeções abstratas.

Laka (1990, p. 106), considerando os tipos de constituintes de ∑P, afirma que “[…] the type of elements that constitute the category ∑P all relate to the true value of sentence: they either reverse the true value (neg), or they affirm it (aff), or they deny that it is falso (‘so’, ‘ba’)”76. Desse modo, os constituintes responsáveis pela confirmação, anulação ou correção de um valor de verdade ou de parte desse valor são realizados em ∑P.

73 “V se move para Agr, formando assim o V + Agr amalgamado que L-marca VP, anulando assim barreiras [...].

V+Agr seguem o movimento para T, formando o constituinte amalgamado Ti [...]. Se a sentença for negativa, L-

marca NegP, anulando assim barreira, mas não L-marca AgrP. Não é um L-marcador também. Isso não causa dano, uma vez que AgrP, sendo defeituoso, não conta como uma categoria de bloqueio e é barreira por herança”.

74

“[...] similarmente à maneira como o núcleo Neg pode coordenar sua projeção funcional, há também uma projeção X Aff, que projeta uma frase de afirmação. Esses dois núcleos (Neg e Aff) são pertencentes à mesma categoria sintática, a qual eu chamarei de ∑. Assim, tanto NegP quanto AffP são tratadas como instâncias diferentes de uma projeção mais abstrata: ∑P. (TRADUÇÃO MINHA).

75

Cf. Laka, 1990, p. 101.

76 “[...] o tipo de elementos que constitui a categoria ∑P se relaciona com o valor verdadeiro da sentença: eles

invertem o valor verdadeiro (neg), ou o afirmam (aff), ou negam que seja falso ('so', ' BA'). (TRADUÇÃO MINHA).

149

Ouhalla (1990, p. 220), comparando o Árabe Marroquino com o Árabe Libanês, afirma que “languages differ in how they mark sentence negation overtly77”. Inicialmente, essa diferença pode ser identificada em línguas que cuja negação é realizada por um marcador único ou por dois marcadores, como o Árabe e, também, o PB, em que é identificada, igualmente, realização da negação com duplo marcador. Segundo Ouhalla (1990, p. 220), “Languages which mark sentence negation with two elements played a major motivating role for the idea that negative sentences include a NegP in their structure (the NegP hipothesys)78”.

Belletti (1990) segue Pollock (1989) e divide o IP em AgrP e TP. No entanto, a autora assume que AgrP domina TP, ficando o NegP acima do TP e abaixo do AgrP79. Ou seja, NegP é argumento de Agrº, e TP é argumento de Negº. O movimento de subida do verbo, para Belletti (1990), se dá de modo que o verbo sai de Vº e se move até Tº e, em seguida, o complexo [V+T] sobe para Agrº, passando por Negº, cujo marcador também sobe para a esquerda do complexo em Agrº.

Embora as análises de Pollock (1989) e de Belletti (1990) sejam amplamente difundidas, elas vão de encontro ao princípio da Restrição de Movimento de Núcleo (doravante, HMC80), sob a qual um núcleo deve se mover obrigatoriamente para outro núcleo, imediatamente adjacente. Nas análises de Pollock (1989) e Belletti (1990), o verbo não passa por Negº, pois sobe diretamente para a posição de núcleo mais alta, acima de Negº, seja Agrº ou Tº. O constituinte em Negº sobe, isoladamente, para a posição nuclear acima dele.

Zanuttini (1991) considera que as sentenças de negação se subdividem em duas categorias NegP: NegP-1 e NegP-2, das quais NegP-1 deve estar sob o domínio T, enquanto NegP-2 não. A diferença principal entre NegP-1 e NegP-2, é que NegP-1 tem no núcleo um Xº que bloqueia a subida do clítico. Já o núcleo de NegP-2 é um Xmáx que não bloqueia a subida do afixo.

Para Mioto (1992), que segue a subdivisão do IP em AgrP e TP, de Pollock (1989), o NegP aparece acima de AgrP, que está, por sua vez, acima de TP. Sendo assim, o verbo sobe de Vº para Tº e de Tº para Agrº. Chegado em Agrº, o verbo sobe para a direita do não, um

77 “[...] as línguas diferem em como marcam a negação [...]”. (TRADUÇÃO MINHA).

78 “Línguas que marcam a negação da sentença com dois elementos desempenharam um papel motivador para a

ideia de que as sentenças negativas incluem um NegP em sua estrutura (a hipótese NegP)”. (TRADUÇÃO MINHA).

79 Cf. Mioto, 1992, p. 28. 80

150

clítico em Negº. Como NegP é a projeção mais alta, não há bloqueios que impeçam os movimentos de subida, nem do núcleo nem do especificador de NegP.

Como podemos constatar, pesquisadores abrigam o marcador não numa projeção específica, NegP, com a possibilidade de esse marcador poder, também, ser realizado em ∑P, conforme Laka (1990), categoria disponível para marcadores de negação e de afirmação. Eles divergem, no entanto, quanto à posição em que esse NegP é realizado.

Apesar de a projeção NegP estar disponível para os marcadores de negação, nem todo marcador de negação ocupa essa projeção. MNM, como os de Martins (2010, 2012 e 2014), por exemplo, são constituintes que, diferentes do não, não são realizados em NegP, mas em projeções específicas, como mostramos abaixo.