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Foi possível observar nas conversas eletrônicas transcritas a seguir o uso de movimentos colaborativos para a construção conjunta da LE. É o que pode ser visto no excerto 1 da dupla Vicky e Cristine 29 a seguir.

Excerto 1

Tarefa 1.

Dupla Vicky e Cristine

28 As convenções utilizadas na transcrição advém do artigo de Schnack, Pisoni e Ostermann (2005), encontradas em maiores detalhes no APÊNDICE 3 deste documento.

Vicky: Since many time ago. so:, we can see a Muslin, a Jewish, and a ã:: a big group of skinheads in this video. What happened Cristine?

Cristine: Ã:: the first guy was reading a newspaper, ã:::=

Vicky: = Is a Muslin guy?

Cristine: Yeah. And ã:: the other man was jus- Just seat in the train, and look other guy. Yes?

Esse excerto sugere que a natureza do diálogo foi colaborativa, já que as participantes Vicky e Cristine buscaram uma perspectiva comum sobre a leitura do vídeo, em que consideram a outra em sua produção através de pedidos de confirmação e de aceitação como Is a Muslim guy? (É um cara muçulmano?) e Yes? (Sim?). A pergunta Is a Muslim guy? parece indicar a importância dada por Vicky de se identificar os personagens por seus grupos culturais, já que seus nomes não aparecem no filme, além de apontar para uma busca de aceitação e incorporação de sua produção pela colega Cristine. Tem-se também o uso de pedido de participação, no qual através da pergunta What happened Cristine? (O que aconteceu, Cristine?), Vicky pede a contribuição da colega com a intenção de compartilhar a produção.

O excerto 2 retirado da conversa da dupla Mathias e Nilton30 sugere a importância do “pedido de participação” como movimento colaborativo que leva a uma produção mais rica na LE e os aprendizes se esforçam para expressar as suas opiniões e construir um entendimento mais completo da história.

Excerto 2

Tarefa 1.

Dupla Mathias e Nilton

Mathias: What do you think about? I think this summarizes. Isn’t it?

Nilton: Yes.

Mathias: Can you add something? Something else?

Nilton: Well. I don’t know. Well you gonna see that they only realize the boy was a jew because of

30

Observa-se que o aluno Nilton participou das atividades relativas à primeira tarefa além de responder ao questionário final.

the cell phone. Because he:: he hid the necklace he had.

Mathias: And also:: ã:: if you analyze deeper the film, it’s about pressure as well. it’s about culture pressure. And it’s about racism.

Nilton: Yeah.

Mathias: Ã:: and how groups ã had meet ã: have to live in the same area but don’t get on. Basically it’s about intolerance.

Além das perguntas de pedido e oferecimento de feedback positivo, como em Isn’t it? (Não é?) de Mathias e yes e yeah de Nilton, percebe-se que os aprendizes buscam contribuir a partir de seus recursos para a produção conjunta. Outros movimentos importantes que dão indícios sobre a mediação da colaboração consistem na aceitação e incorporação da contribuição do outro, em que temos os aprendizes completando a elocução uns dos outros, como mostra o excerto 3.

Excerto 3

Tarefa 2.

Participantes Vicky e Cristine

Cristine: and what do they have in common?

Vicky: they seem:: to be::

Cristine: sad?

Vicky: yeah right (2.0)

Cristine: They seem sad

Vicky: and [alone?]

Cristine: [alone ]

Cristine: and they

Vicky: ã:: like:: the same (1.0) age

Cristine: yeah, like the same age and they (1.0) no, I think she’s younger than

Vicky: younger? Yeah?

Vicky: (it seem like) they have the same frustrations, you know?

No excerto 3, além disso, temos a “metafala” com a correção e discussão sobre a forma da língua, em vermelho, que surge como função da produção e como resultado da construção colaborativa. É importante lembrar que Storch (2002) apontou como um dos comportamentos do padrão colaborativo interacional, a correção do outro. Contudo, percebe- se que a correção pode ser vista tanto como a correção do outro quanto como autocorreção. Esse bidirecionamento da correção se deve ao padrão colaborativo da interação que envolve a construção de uma perspectiva conjunta sobre os objetivos da tarefa, gerando um espaço de apoio para a construção de conhecimento sobre a LE com o diálogo entre atividades intrapsicológicas e interpsicológicas.

Por último, observa-se tanto no Excerto 3 como em outros excertos a seguir a presença de mais de um fator de mediação através do destaque em diferentes cores. Conforme foi apontado no início do capítulo 3 e nas seções 3.3 e 5.6., a aprendizagem de inglês como LE é um fenômeno considerado nesta pesquisa como um sistema complexo que se constitui pela atuação de diversos fatores de mediação que impactam uns nos outros e se influenciam mutuamente durante a interação. A natureza complexa da aprendizagem de inglês como LE, portanto, exige que sejam consideradas essas inter-relações apesar de que, buscando compreender melhor a mediação como objeto de análise, foca-se cada fator de mediação por vez.

No excerto 4, observa-se a aceitação da contribuição do colega com o uso da expressão yeah, I agree with you (sim, concordo com você) ou simplesmente com a afirmativa, na forma de yeah e yes, usada extensivamente por todas as duplas como modo de oferecer feedback positivo para o colega e preencher os espaços vazios da conversa.

Excerto 4

Tarefa 2.

Ronald: feature it means like ã:: característica?

Mathias: ((explicando em português)) yeah, features seria (1.0) é uma espécie de carac- ã:: (1.0) característica, [alguma] coisa que tá no:: ã:::

Ronald: [uhm]

Ronald: for me, is the:: is the is their (1.0) their temper

Mathias: their temper?

Ronald: ye::s

Mathias: yeah, I agree with you. (1.0) Their temper is very neurotic and both want to have a friend, in common=

Ronald: =yeah, in common, yeah. What do they have in common?

Mathias: well, the: the: the willing of having a friendship

Ronald: yeah the willing of having a friendship. Wow what a nice phrase! @@@@

Mathias: @@@@@@@ or the will (1.0) the will (1.0)

Ronald: yeah

Mathias: the will of having, well the willing of having a a a of having a a a (1.0) a f-friendship. Okay

Somado à aceitação da contribuição do outro, tem-se a incorporação da contribuição do outro como em yeah, in common, yeah (sim, em comum, sim) e, logo em seguida, yeah the willing of having a friendship (sim, o desejo de ter uma amizade) o que concretiza o compartilhamento da produção e promove um engajamento de ambos os aprendizes para a produção de sentido na LE. Além disso, observa-se o uso da frase de incentivo Wow what a nice phrase! (uau, que frase boa!) que carrega a função colaborativa de demonstrar a aceitação e a importância da contribuição do outro assim como controla a frustração do colega, apontando pontos positivos em sua produção, o que pode ser considerado um indício da mediação do andaimento.

A partir dos resultados desses 4 primeiros excertos, observa-se a inter-relação entre os diversos movimentos colaborativos que acabam por formar a mediação da colaboração enquanto sistema complexo, conforme a Figura Nº 12.

Figura 12: Diagrama da mediação da colaboração como sistema complexo.

A partir da Figura Nº 12, entende-se que a colaboração envolve movimentos como o “pedido de participação”, a contribuição para a produção da língua, a aceitação e a apropriação da contribuição do outro para a construção conjunta da língua. Os dados apresentados até aqui demonstram a relevância do padrão colaborativo para a aprendizagem da LE, pois este é o amálgama entre os aprendizes, que devem compartilhar conhecimentos para resolver problemas linguísticos e comunicativos, gerando, com isso, um espaço mais propício para a aprendizagem.

A seguir, passa-se a discutir com maiores detalhes os indícios de andaimento.