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II. Indústria Aeronáutica Mundial: Estrutura e Competitividade

II.2. Estrutura de Mercado

II.2.8. Indústria Aeronáutica Sul-Coreana

A indústria aeronáutica sul-coreana é recente, tendo sido criada a partir da iniciativa governamental de dominar a tecnologia aeroespacial. A consolidação dessa indústria se deu através da fusão das três maiores empresas aeronáuticas coreanas, o que permitiu a criação de uma empresa líder, a Korea Aerospace Industries (KAI), que tem no Estado seu principal acionista individual338. Esta reestruturação patrimonial foi coordenada pelo

governo sul-coreano, garantindo à KAI direitos de participar em todos os projetos aeronáuticos militares da Coréia do Sul. Em contrapartida, a KAI é designada como uma organização exclusiva da indústria aeroespacial sul-coreana. Esse vínculo entre o Estado e a empresa implica no fato do governo sul-coreano providenciar a totalidade de recursos para o desenvolvimento de projetos militares e metade do custo de desenvolvimento dos projetos civis. Por sua vez, a KAI tem de atender aos interesses públicos no que se refere ao desenvolvimento da indústria aeroespacial339.

O projeto do governo é que a Coréia do Sul tenha, até 2020, a 10° indústria aeroespacial do mundo, com faturamento superior à US$ 5 bilhões. Em suma, o objetivo do governo sul-coreano é ter uma indústria aeronáutica equivalente à brasileira, em apenas uma década. Para isto o governo tem investido em projetos militares e espaciais: a) o avião

336 HAL, 2008.

337 A criação, em 1969, da Indian Space Research Organisation (ISRO) permitiu a Índia se posicionar de

forma competitiva no mercado mundial de satélites e veículos lançadores (ISRO, 2008).

338 O Korea Development Bank possui 30,5% do capital da KAI (KAI, 2007). 339 KAI, 2008.

de treinamento avançado T-50, US$ 2,5 bilhões; b) o helicóptero médio KUH, US$ 1,3 bilhão; c) a produção de satélites e veículos lançadores, US$ 4,8 bilhões em 20 anos340. KAI – Korea Aerospace Industries Ltd.

Criada em 1999, a partir da fusão das divisões aeronáuticas e aeroespaciais dos três maiores Chaebols coreanos341 — a Samsung Aerospace, a Daewoo Heavy Industries e a

Hunday Space and Aircraft Company —, a KAI é a empresa chave para implantação da indústria aeronáutica na Coréia do Sul. O objetivo inicial desta empresa era aprofundar a nacionalização do processo produtivo do caça supersônico F-16 Fighting Falcon, que, desde 1991, vinha sendo montado pela Samsung Aerospace sob licença da empresa norte- americana Lockheed Martin342. Segundo a própria KAI, “these production preparation and activities served as precious momentum for drastic national aircraft industry development”343.

Em 2007, esta empresa apresentou uma receita de US$ 852 milhões e empregou 2.775 funcionários, sendo 743 na área de P&D344. A KAI está voltada para o

desenvolvimento e produção de aeronaves militares, com destaque para os aviões de treinamento e helicópteros, além de estar realizando grandes investimentos em aeroestruturas de materiais compostos e sistemas eletrônicos. Por fim, ainda participa do programa espacial da Coréia do Sul345.

Os principais programas atualmente desenvolvidos pela KAI são de aviões militares: a) KT-1 Ungbi: avião de treinamento turboélice, da mesma categoria do

Supertucano, desenvolvido em 1998 pela Samsung Aerospace e, posteriormente, com a

340 AIAB, 2007.

341 Os Chaebols são organizações empresariais criadas na Coréia do Sul logo após a guerra com a Coréia do

Norte nos anos 50. Estes grandes conglomerados, de controle familiar e grande ligação com o Estado, foram criados com o objetivo de promover a industrializar da Coréia. São estruturas semelhantes aos Zaibatsus japoneses, com a diferença de não possuírem bancos dentro de sua estrutura.

342 O programa estimado em US$ 5,5 bilhões produziu mais de 120 unidades do caça KF-16 na planta

industrial de Sacheon na Coréia do Sul, entre 1991 e 2004 (KAI, 2008).

343 KAI, 2008. 344 KAI, 2007.

345 O programa especial da Coréia está centrado no desenvolvimento e produção do Korea Multi-Purpose Satellite (KOMPSAT) e do Koreia Space Launch Vehicle-1 (KSLV-1), (CHIN-YOUNG, 2008).

fusão das empresas, se tornou o primeiro projeto desenvolvido pela KAI346; b) T-50 Golden Eagle: jato de treinamento avançado, de velocidade supersônica, que também pode

desempenhar as funções de um caça leve, lançado em 2002. Este tem sido o principal projeto da KAI desde sua fundação e foi desenvolvido em conjunto com a norte-americana Lockheed Martin, que transferiu grande parte da tecnologia ao longo deste processo. A KAI também se destaca na fabricação de helicópteros, inicialmente produzindo sob licença os modelos 427 e 429 da Bell norte-americana e, desde 2006, investindo em um projeto próprio denominado Korean Utility Helicopter (KUH), com apoio tecnológico da Eurocopter, que participa com 30% dos recursos de desenvolvimento. Finalmente, destaca- se a participação da KAI em diversos programas internacionais como fornecedora de aeroestruturas.

KAL-ASD – Korean Airlines - Aerospace Division

A Divisão Aeroespacial da Korean Airlines (KAL-ASD), fundada em 1976, teve participação vital no desenvolvimento da indústria aeronáutica da Coréia do Sul. Na década de 1980 realizou a montagem final dos caças supersônicos F-5E Freedom Fighter adquiridos da Northrop norte-americana. Nos últimos anos a KAL-ASD tem se destacado na produção de aeroestruturas em materiais compostos, sendo fornecedora destes produtos para as principais empresas aeroespaciais do mundo. Recentemente foi selecionada pela Boeing para fornecer as wingtips347 do projeto 787.

Cabe relembrar que um dos objetivos do presente trabalho é realizar um estudo mais aprofundado da indústria aeronáutica brasileira e da sua inserção internacional. Sendo assim, ela é tratada de forma exclusiva no próximo capítulo, no qual se encontra a sua evolução histórica e uma análise mais completa da sua estrutura de mercado, concluindo com uma discussão sobre os desafios que lhe foram impostos pelas recentes e profundas mudanças da indústria aeronáutica mundial.

346 O KT-1 Ungbi já foi exportado para a Indonésia e recentemente venceu a Embraer e a Pilatus numa

concorrência para fornecimento de aviões de treinamento avançado para Força Aérea da Turquia (GOMES, 2007).

347 Wingtips são extremidades curvas das pontas das asas que permitem maior sustentação e manobrabilidade