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1 INTRODUÇÃO

2.6. Indicadores econômico-financeiros para análise de instituições financeiras

2.6.2. Indicadores de Capital e Risco

Segundo Tobin (1977), a função essencial de um intermediador financeiro é atender às expectativas dos vários agentes econômicos que fazem parte da sua atividade. E, para fazer frente a tais expectativas, é fundamental que tais instituições mantenham níveis de capital próprio (PL) suficientes para lastrear financeiramente suas atividades operacionais, de acordo, não só com as exigências regulatórias, mas também com o que o mercado considera como níveis de segurança adequados, a fim de torná-la capaz de suportar os diversos tipos de riscos aos quais elas estão sujeitas.

Risco pode ser definido como “[...] um evento, esperado ou não, que pode causar impacto no capital ou nos ganhos de uma instituição” (TRAPP e CORRAR, 2005, p. 27).

Tais riscos, que são inerentes à atividade bancária, as tornam, de acordo com Assaf Neto (2002), bastante sensíveis, não só às condições econômicas, mas também à política monetária e ao comportamento das taxas de juros, os quais se apresentam em constante transformação. E o montante de recursos necessários para fazer frente a eventuais perdas deverá vir, necessariamente, dos recursos próprios mantidos pela IF.

O Bacen define risco em sua Circular 3.681, de 04 de novembro de 2013 (BACEN, 2013b), da seguinte forma:

I) risco operacional é a possibilidade de ocorrência de perdas resultantes dos seguintes eventos:

 falhas na proteção e na segurança de dados sensíveis relacionados, tanto às credenciais dos usuários finais, quanto a outras informações trocadas com o objetivo de efetuar transações de pagamento;

 falhas na identificação e autenticação do usuário final;  falhas na autorização das transações de pagamento;  fraudes internas;

 fraudes externas;

 demandas trabalhistas e segurança deficiente do local de trabalho;

 práticas inadequadas relativas a usuários finais, produtos e serviços de pagamento;  danos a ativos físicos próprios ou em uso pela instituição;

 ocorrências que acarretem a interrupção das atividades da instituição de pagamento ou a descontinuidade dos serviços de pagamento prestados;

 falhas em sistemas de tecnologia da informação;

 falhas na execução, cumprimento de prazos e gerenciamento das atividades envolvidas em arranjos de pagamento.

A definição acima inclui o risco legal associado à inadequação ou deficiência em contratos firmados pela instituição de pagamento, a sanções em razão de descumprimento de dispositivos legais e a indenizações por danos a terceiros decorrentes das atividades envolvidas em arranjo de pagamento.

II) Risco de liquidez é a possibilidade de a instituição de pagamento:

 não ser capaz de honrar eficientemente suas obrigações esperadas e inesperadas, correntes e futuras sem afetar suas operações diárias e sem incorrer em perdas significativas;

 não ser capaz de converter moeda eletrônica em moeda física ou escritural no momento da solicitação do usuário.

III) Risco de crédito é a possibilidade de ocorrência de perdas associadas ao não cumprimento pela contraparte de suas respectivas obrigações financeiras nos termos pactuados, à redução de ganhos ou remunerações, às vantagens concedidas na renegociação e aos custos de recuperação, incluindo o inadimplemento:

 do usuário final perante o emissor de instrumento de pagamento pós-pago;  do emissor perante o credenciador de instrumento de pagamento pós-pago;

 de instituição de pagamento devedora de outra instituição de pagamento em função de acordo de interoperabilidade entre diferentes arranjos.

A definição do montante necessário para fazer frente a tais riscos é de difícil determinação e vem sendo objeto de diversos acordos de nível internacional, com vistas a assegurar o adequado funcionamento do sistema financeiro.

Tais acordos são objetos de estudo do Banco de Compensações Internacionais (Bank for International Settlements – BIS). Criado em 1930, este banco é, de acordo com o site do Bacen (BACEN, 2015d), uma organização internacional que fomenta a cooperação entre os bancos centrais e outras agências em busca da estabilidade monetária e financeira. E, por meio do Comitê de Supervisão Bancária da Basileia (Basel Committee on Banking Supervision – BCBS) divulgou, em 1988, o primeiro Acordo de Capital da Basileia, oficialmente denominado International Convergence of Capital Measurement and Capital Standards, vulgarmente conhecido como Acordo de Basileia, com o objetivo, segundo Trapp e Corrar (2005), de criar exigências mínimas de capital para IF como forma de fazer face ao risco de crédito.

Em 2004, o acordo foi revisado com a fim de buscar uma medida mais precisa dos riscos incorridos pelos bancos internacionalmente ativos. Tal revisão foi chamada de Basileia II e foi direcionada aos grandes bancos tendo como base, além dos Princípios Essenciais para uma Supervisão Bancária Eficaz (BACEN, 2006), três pilares mutuamente complementares, de acordo com Bacen (BACEN, 2015d):

I) Pilar 1: requerimentos de capital;

II) Pilar 2: revisão pela supervisão do processo de avaliação da adequação de capital dos bancos;

III) Pilar 3: disciplina de mercado.

Em fevereiro de 2013, o Bacen (2015b) publicou os requerimentos para implementação da terceira revisão do Acordo de Basileia, chamado de Basileia III, que aumenta significativamente os percentuais de requerimento de capital principalmente dos componentes do patrimônio de referência com maior capacidade para absorver perdas. O cronograma para implantação da nova estrutura de capital, imposta por tal acordo, teve início em 1º de outubro de 2013 e busca seguir o cronograma internacional acordado até a conclusão do processo, em 1º de janeiro de 2022.

O cronograma para introdução gradual das medidas busca fornecer prazo suficiente para a adaptação dos sistemas financeiros nacionais, permitindo que cada uma das instituições, quando necessário, ajuste a sua base de capital (BACEN, 2015e).

Segundo esse mesmo comunicado, as alterações relacionadas à apuração do capital para risco de crédito que não implicaram capital adicional e aquelas que poderiam ser implantadas com facilidade entrariam em vigor já a partir daquela data, 01 de março de 2013.

Segundo Assaf Neto (2002), os principais indicadores utilizados pelo mercado para avaliação de capital e risco de uma IF são os seguintes:

I) Leverage ou Alavancagem: aponta a relação entre os Ativos da IF e seu PL. Ele revela quantas vezes o ativo da IF é maior que o capital próprio investido.

Equação 13

𝐿𝑒𝑣𝑒𝑟𝑎𝑔𝑒 = 𝐴𝑡𝑖𝑣𝑜 𝑇𝑜𝑡𝑎𝑙 𝑀é𝑑𝑖𝑜𝑃𝐿 𝑀è𝑑𝑖𝑜

II) Relação Capital/Depositantes: indica a relação entre capital próprio e os Depósitos da IF.

Equação 14

𝑅𝑒𝑙𝑎çã𝑜 𝐶𝑎𝑝𝑖𝑡𝑎𝑙/𝐷𝑒𝑝𝑜𝑠𝑖𝑡𝑎𝑛𝑡𝑒𝑠 = 𝑃𝐿 𝑀é𝑑𝑖𝑜

𝐷𝑒𝑝ó𝑠𝑖𝑡𝑜𝑠

III) Relação Capital/Depositantes: descreve a relação entre o Ativo Permanente e o PL da IF

Equação 15

𝐼𝑚𝑜𝑏𝑖𝑙𝑖𝑧𝑎çã𝑜 𝑑𝑜 𝐶𝑎𝑝𝑖𝑡𝑎𝑙 𝑃𝑟ó𝑝𝑟𝑖𝑜 = 𝐴𝑡𝑖𝑣𝑜 𝑃𝑒𝑟𝑚𝑎𝑛𝑒𝑛𝑡𝑒 𝑀é𝑑𝑖𝑜𝑃𝐿 𝑀é𝑑𝑖𝑜

Esse conjunto de indicadores demonstra a solidez da IF no que concerne à capacidade de fazer frente aos riscos inerentes à sua atividade, por meio de seu capital próprio.