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2. INTENSIFICAÇÃO SUSTENTÁVEL NA OLERICULTURA

2.4 INDICADORES DE SUSTENTABILIDADE EM SISTEMAS DE PRODUÇÃO

Vários têm sido os relatos encontrados na literatura sobre possíveis metodologias para avaliar a sustentabilidade de sistemas de produção agropecuária. Girardin, Bockstaller e Van Der Werf (2000), por exemplo, utilizando uma metodologia denominada agro*eco, testaram 9 indicadores de impactos ambientais em áreas rurais da França e Alemanha. Entre esses incluíam-se a utilização de fertilizantes, pesticidas, irrigação, sucessão de culturas, padrões de cultivo, entre outros. Utilizando-se de uma metodologia denominada apoio-novo rural, Rodrigues et al. (2010) avaliaram o nível de sustentabilidade em diferentes cenários encontrados em propriedades do Brasil. Essa metodologia é bastante abrangente pois visa englobar 5 dimensões de sustentabilidade, incluindo ecologia da paisagem, qualidade ambiental, valores socioculturais, valores econômicos e gestão e administração. Por envolver, medidas como o nível de poluição das águas e a emissão de CO2, por exemplo, o uso dessa metodologia torna-se bastante específico, dado que as medidas têm caráter objetivo e são dependentes de coletas e análises em nível local.

No intuito de amenizar as dificuldades para obtenção de medidas objetivas, Rigby et al. (2001) propõem um método que não visa calcular objetivamente os impactos de um determinado sistema de cultivo, mas que constrói um indicador de sustentabilidade a partir de dados não originalmente projetados especificamente para esse propósito. Os autores ressaltam que embora seja desejável um conjunto de dados mais detalhado e rico, um indicador de sustentabilidade somente terá ampla aplicação se puder utilizar dados não coletados especificamente para o propósito de avaliação de sustentabilidade. Nesse sentido, Rigby et al. (2001) desenvolveram um indicador de olericultura sustentável com base em padrões de uso de insumos. O modelo foi construído a partir de discussões em um grupo focal com produtores e especialistas da Inglaterra. Esse indicador baseou-se em 5 aspectos, incluindo fonte das sementes utilizadas, forma de controle de doenças e pragas, controle de ervas daninhas, manutenção da fertilidade do solo e gestão de culturas.

Dantsis et al. (2010), por sua vez, analisaram a sustentabilidade na olericultura em áreas da Grécia a partir de um indicador formado por três grupos de variáveis: práticas de manejo de culturas, desempenho econômico e características sociais de cada fazenda. Dentro das práticas de manejo de culturas incluíam-se o uso de fertilizantes, pesticidas, o método de irrigação utilizado e as práticas de gestão da fazenda, que envolvem gestão de resíduos, utilização de esterco verde, rotação de culturas, cultivo múltiplo, utilização de máquinas e

cultivo orgânico e convencional. Em linha com o proposto por Rigby et al. (2001), os autores salientam que essa abordagem utiliza indicadores facilmente obtidos que se baseiam em condições reais de fazenda e representam as atuais práticas de gestão agrícola.

Sattler et al. (2010) desenvolveram um modelo de indicador que comtempla as 3 dimensões da sustentabilidade e introduziram o conceito de sustentabilidade fraca e forte para cada uma das dimensões analisadas. Na dimensão ecológica os autores incluíram o uso, a preservação e a melhoria da qualidade do solo, a erosão e a contaminação das águas por pesticidas e fertilizantes. Os autores apontaram, como alternativas sustentáveis, o cultivo mínimo, o plantio na palha, a utilização de culturas de cobertura, aplicação de fertilizantes nas doses recomendadas, o menor uso de pesticidas, a substituição de fertilizantes químicos por orgânicos e de pesticidas sintéticos por biológicos.

Utilizando-se do conceito de intensificação sustentável da olericultura, Firbank et al. (2013) construíram um indicador de sustentabilidade que considera 5 variantes principais, sendo essas: produção agrícola, biodiversidade, controle climático, controle da qualidade do ar e controle da qualidade da água. Com base em uma amostra de produtores britânicos, e utilizando medidas objetivas concluíram que os principais condutores para o aumento da sustentabilidade foram financeiros, uma vez que os agricultores procuraram reduzir os custos de insumos, reduzindo assim também os resíduos e a poluição.

Em linha, Terano et al. (2015) buscaram analisar o nível de sustentabilidade na produção de arroz em áreas agrícolas da Malásia. Os autores construíram um modelo de indicador de intensificação sustentável, incluindo 10 aspectos para medir a sustentabilidade, sendo esses: acidez do solo, conservação da área, controle de ervas daninhas, cronograma de irrigação, forma de preparo da terra, origem da semente utilizada, aplicação de fertilizantes nas quantidades adequadas, gestão da água, controle de pragas, colheita na época correta.

Santiago-Brown et al. (2015), por meio da utilização de um grupo focal, criaram um modelo de indicador para analisar a sustentabilidade de propriedades vinícolas na Austrália. Esse indicador inclui as variáveis ambientais, sociais e econômicas. Dentre essas se incluem a manutenção das propriedades originais do solo, a otimização do uso da água, a manutenção da biodiversidade, a otimização na utilização de químicos, a forma de controle de pragas e doenças, controle da erosão, controle biológico, entre outros. Laurent et al. (2017), também se utilizando de um grupo focal composto por especialistas, produtores e pesquisadores, criaram um indicador para avaliar o nível de sustentabilidade de fazendas produtoras de leite na França. Esse indicador utiliza-se de medidas, tais como gestão dos recursos de pastagens,

impactos das práticas agrícolas, gestão das construções da fazenda, paisagem e gestão local, incluindo água e energia.

Existem muitos pontos de convergência entre os indicadores analisados. O Quadro 2 apresenta um resumo dos principais indicadores utilizados para avaliar a sustentabilidade identificados na presente revisão, bem como os métodos utilizados para a construção de tais indicadores.

Autor Método utilizado Indicadores utilizados

Girardin, Bockstaller, e

Van Der Werf (2000) Agro * Eco

Uso de pesticidas Uso da água para irrigação

Nível de matéria orgânica e cobertura do solo Uso de fertilizantes

Plano de cultivo (rotação e cobertura)

Rigby et al., (2001) Grupo Focal

Uso de pesticidas

Plano de cultivo (rotação e cobertura) Fertilidade do solo

Herbicida utilizado Origem das sementes

Rodrigues et al., (2010) Apoia-Novo Rural

Emissão de poluentes, incluindo pesticidas Número de emissões de partículas

Nível de equilíbrio do solo (PH e nutrientes) Percentual de área natural preservada

Dantsis et al., (2010) Multiattribute Value Theory (MAVT)

Uso de pesticidas Uso de fertilizantes

Gestão ecológica (rotação, adubo orgânico gestão de resíduos)

Quantidade água por tonelada produzida Convencional ou orgânico

Sattler et al., (2010)

Multi-Objective Decision support system for Agro-ecosystem Management

(MODAM)

Uso de pesticidas e fertilizantes Cultivo mínimo

Rotação de culturas

Terano et al., (2015) Paddy Farmer Sustainability Index (PFSI) Uso de pesticidas Uso de Fertilizantes Preparo do solo Gestão de água Semente utilizada Santiago-Brow et al., (2015) Grupo Focal Uso do solo Manejo da irrigação Manutenção da biodiversidade Redução de danos externos Otimização de uso de químicos Controle de pragas e doenças

Laurent et al., (2017) Grupo Focal

Uso de fertilizantes Uso do solo Uso de pesticidas Uso de adubo orgânico Redução da erosão

Quadro 2: indicadores utilizados para avaliar a sustentabilidade na agricultura Fonte: Elaborado pelo autor

Conforme pode ser observado no Quadro 1, existem diferenças significativas entre os indicadores propostos pelos estudos analisados. Todavia, há certa concordância quanto a necessidade da otimização do uso de fertilizantes, do controle eficaz de pragas e doenças e da eficiência no uso da água para irrigação. Poucos desses estudos, no entanto, analisaram

especificamente a situação da sustentabilidade na olericultura, possivelmente devido a isso algumas práticas aplicadas essencialmente na olericultura tenham sido pouco mencionadas, essas incluem, por exemplo, a importância das sementes e mudas utilizadas (RIGBY, et al., 2001), essas quando melhoradas geneticamente e produzidas sob condições adequadas, tem potencial para reduzir o risco de incidência de pragas e doenças, além de propiciar aumento de produtividade (LAMBRECHT; VANLAUWE; MAERTENS, 2016).

Outro ponto pouco observado nos indicadores encontrados na literatura diz respeito à forma de cultivo, esse quando realizado com proteção, por exemplo, com estufas cobertas com plásticos, proporciona maior controle dos fatores que afetam a produtividade, incluindo a incidência de pragas, doenças e a redução de interferências climáticas, tais como, ventos, chuvas e oscilações de temperatura (SABIR; SING; 2013). Tais controles podem permitir inclusive a redução da necessidade de intervenções com defensivos para o controle de pragas e doenças.

Alguns dos trabalhos analisados se utilizam de indicadores objetivos para analisar o nível de sustentabilidade nas áreas agrícolas (RODRIGUES et al. 2010; LAURENT et al. 2017). No entanto, conforme salientado por Rigby et al. (2001), esse tipo de indicador necessita de medidas quantitativas e especificas, fato que dificulta a verificação em muitas situações encontradas em campo. Por exemplo, na presente tese não foi possível verificar quantitativamente in loco a qualidade do solo e da água.

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