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5. RESULTADOS E DISCUSSÃO

5.6 SÍNTESE DOS RESULTADOS OBTIDOS

Para atender aos objetivos da presente tese e com o intuito de melhorar a explicação relativa aos determinantes de adoção de PIS, realizaram-se análises por meio de dois modelos estatísticos. O primeiro, logit binário, permitiu identificar que variáveis relativas a recursos de produção (adiantamento em insumos, área própria e patrimônio produtivo) foram determinantes para diferenciar os produtores mais sustentáveis. As variáveis relativas a forma de comercialização dos produtos (comercialização e certificação) também se mostraram significativas para diferenciar os produtores mais sustentáveis. Os dados estão disponíveis no Quadro 8.

MODELO LOGIT MODELO BINOMIAL NEGATIVO

Variáveis explicativas Recursos (ativos) e capacidades relacionados a adoção Variáveis explicativas Recursos (ativos) e capacidades relacionados a adoção

Comercialização Recurso de mercado Comercialização Recurso de mercado Adiant. Insumo

comprador Recurso financeiro Certificação Recurso de mercado Certificação Recurso de mercado Controle Capacidade de gestão

Patrimônio

produtivo Recurso de produção

Cursos de

irrigação e cultivo Recurso de aprendizagem Área própria Recurso de produção Condição do

produtor Capacidade de gestão Patrimônio

produtivo Recurso de produção

Quadro 8: Comparativo entre os resultados dos modelos estatísticos utilizados Fonte: Elaborado pelo autor

Os resultados obtidos pelo modelo binomial negativo permitiram uma análise mais completa. Identificou-se que, em relação aos recursos de produção, somente a variável Patrimônio produtivo mostrou-se importante para explicar a adoção. As variáveis relativas aos ativos de mercado (Comercialização e Certificação), por sua vez, se mostraram igualmente importantes quando analisadas sob esse modelo.

Todavia, algumas variáveis relativas a capacidade de gestão (Controle das despesas e a Condição do produtor) e a aquisição de conhecimento externo (Cursos de irrigação e cultivo), que não auxiliaram na explicação pelo modelo logit, apresentaram-se importantes para explicar a adoção na análise binomial negativa. Tais fatores estão relacionados à aprendizagem e à formação de capacidades, que são determinantes para tomadas de decisões

estratégicas, relativas a condução da atividade e à adoção de novas tecnologias. Nesse sentido, portanto, o modelo binomial apresenta vantagens em relação ao modelo logit binário.

A literatura tradicional de adoção e difusão de tecnologias considera que a disseminação da informação (GRILICHES, 1957) e as características dos indivíduos (DAVID, 1969) são determinantes para a adoção de inovação. Entretanto, a adoção de inovações na agricultura, geralmente, envolve mudanças no processo de produção existente (HERVAS-OLIVER; SEMPERE-RIPOLL; BORONAT-MOLL, 2014). Nesse sentido, Teece, Pisano e Shuen (1997) propuseram um modelo que relaciona a adoção de inovação nas empresas ao desenvolvimento de capacidades dinâmicas, conforme apresentado. Esse modelo é calcado em três aspectos: processos empresariais, posições dos ativos e escolhas organizacionais. A Figura 10 sintetiza esse processo dinâmico entre os olericultores estudados. Nessa é possível perceber que a posição dos ativos, depende das escolhas feitas anteriormente pela organização. As mudanças na posição dos ativos, por sua vez, tende a provocar alterações nos processos produtivos, isso porque as condições de demanda se alteram frequentemente, elevando o nível de incerteza do mercado.

Figura 10: Síntese do processo de adoção de PIS entre olericultores familiares da Região Serrana Fluminense

Fonte: Elaborado pelo autor

Quando um olericultor procura mudar sua posição de mercado e obter vantagens competitivas, pode optar em atender mercados diferenciados, por exemplo, com certificação de garantia de origem. Nesse sentido, Priem, Li e Carr (2012) propõem que às inovações de sucesso são aquelas dirigidas pelos consumidores e não somente pela base tecnológica ou de recursos. Assim, a opção estratégica dos produtores, por exemplo, o mercado pretendido, tem impacto na posição dos ativos de mercado e ativos de produção. Esses ativos por sua vez, levam a alteração dos processos produtivos.

ESCOLHAS DA ORGANIZAÇÃO (Acesso ao mercado/decisão dos produtores) POSIÇÃO DOS RECURSOS (Valor do patrimônio produtivo; Condição do produtor) MUNDANÇAS NOS PROCESSO DE PRODUÇÃO POSIÇÃO DE MERCADO (Certificado; canais alternativos de comercialização) NOVAS ROTINAS ORGANIZACIONAIS (Aprendizagem organizacional por meio de novos procedimentos)

CONHECIMENTO

(Cursos, conhecimento incorporado aos recursos).

Adoção de

Isso ocorre porque a obtenção de alguma certificação exige mudanças nos processos de produção. Tais alterações envolvem escolhas organizacionais, que incluem procedimentos padronizados, melhor aproveitamento dos insumos, normas mais rígidas relacionadas a segurança alimentar, entre outras. Essas mudanças permitem a descoberta de uma maneira diferente de fazer as coisas. Um processo de certificação, exige certa homogeneidade nos processos, comum a todos os indivíduos da organização. Esses procedimentos, inevitavelmente, envolvem a utilização de novas rotinas organizacionais (NELSON; WINTER, 1982). Tais rotinas por sua vez, possibilitam a solução dos problemas e a superação dos desafios, propiciando a aprendizagem organizacional e a formação de capacidades, que são fundamentais para explicar os comportamentos heterogêneos entre os produtores (BARNEY, 1991).

Dentro desse contexto, os dados empíricos aqui analisados mostram que a adoção de PIS entre os olericultores familiares depende do acesso a mercados mais exigentes e da decisão dos produtores em atender ou não tais mercados. A decisão de entrar nesses mercados implica em alteração de processos produtivos e rotinas organizacionais. Os produtores que possuem maior pontuação no indicador optaram, em algum momento, por atender mercados mais exigentes, como varejistas e indústrias. Essa opção gerou a necessidade da introdução de novas tecnologias, incluindo a irrigação por gotejamento e o cultivo protegido. Essas escolhas, por sua vez, exigem um reposicionamento dos recursos de produção e investimentos em inovações. Essa realidade exige mudanças que implicam em aquisição de conhecimento, por exemplo, a partir da participação em cursos que tratam de técnicas de irrigação e cultivo. Essas mudanças dependem ainda da aprendizagem, que, por sua vez, é também determinada pelas novas rotinas, se estabelecendo um processo dinâmico.

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