• Nenhum resultado encontrado

2.3 AVALIAÇÃO DO IMPACTO DAS TIC NA EDUCAÇÃO PÚBLICA

2.3.4 Indicadores: os sinalizadores da mudança

Os indicadores são instrumentos utilizados para facilitar a percepção acerca da materialização de resultados e impactos. O reconhecimento de sua importância também se constitui um avanço no que tange a condução das avaliações.

Segundo Januzzi (2011, p. 58), a avaliação permite a “análise do comportamento dos indicadores ao longo do tempo, e para tanto faz-se necessário apurá-los para diversos contextos socioeconômicos e/ou arquétipos organizacionais”. Em tese, todo processo de avaliação, deve prever um conjunto de indicadores. Adesões e/ou elaborações de sistemáticas de monitoramento e avaliação requerem a definição de indicadores que demonstrem os efeitos ou impactos causados pela iniciativa implementada. Para Novaes e Carneiro (2012, p.129), os indicadores “se destinam a operacionalizar os critérios previamente estabelecidos no processo de avaliação. Representando, portanto, a medida de verificação desses critérios”.

No que tange aos usos dos sistemas de indicadores, cabe destacar a compreensão de Terribili Filho (2010, p. 26) sobre a importância dos indicadores, pois segundo este autor, eles permitem “comprovar empírica e objetivamente a progressão de uma ou várias dimensões de um projeto diante de metas preestabelecidas”. Para o autor, eles devem atender a dois requisitos básicos: “permitir comparações históricas para se avaliar as variações ocorridas” e “favorecer o estabelecimento de prognósticos”, ou seja, a construção de cenários futuros a partir dos dados e fatos gerados e/ou percebidos nas avaliações. De modo abrangente Calil (2012, p. 65), situa os indicadores como “instrumentos de interpretação dos processos sociais. ”

Nota-se, a partir das diferentes visões sobre os indicadores, a estreita relação com as dimensões de impacto, presentes em algumas práticas avaliativas, que servem de base para compreender como estas categorias influenciam o contexto educacional, conforme será explorado adiante, mas antes disso, cabe citar Armani (2000, p. 61), ao destacar o importante papel dos indicadores:

[...] dão evidências das mudanças ocorridas num fenômeno, mas não são as mudanças propriamente ditas nem são suas causas. Eles são apenas os sintomas das mudanças, funcionando com instrumentos de aproximação para captar processos complexos de mudança. Eles apenas indicam que algo – uma situação ou relação – que julgamos ter relação significativa com a evolução do fenômeno em questão variou em determinada forma, o que nos dá indicações valiosas para captar a evolução do processo.

A partir da década de 1990, tem sido crescente os avanços em processos avaliativos na área educacional, as avaliações externas em larga escala, e as avaliações institucionais, estruturadas e conduzidas pelos próprios municípios. Notou- se também a evolução na construção de indicadores para verificar os avanços ou recuos, no que se refere ao desempenho dos aspectos ligados à gestão, bem como, à aprendizagem dos estudantes, associados às diversas práticas avaliativas (avaliações institucionais, aplicação de testes e provas, etc.).

Em consonância com as políticas educacionais, o Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (IDEB)3 é o indicador que tem atraído, de forma acentuada, a atenção dos profissionais da educação. Seus resultados, publicados a cada biênio, apresentam sequências históricas que apontam os resultados anteriores, confrontando-os com as metas estabelecidas. A cada publicação se renovam as discussões sobre os rumos da educação.

Entre os profissionais da educação há um consenso: o IDEB é importante, entretanto não deve se constituir enquanto o único meio para evidenciar as mudanças no quesito qualidade da educação. Importa ressaltar que nesse mesmo período o Brasil ingressa também no panorama internacional das avaliações, com destaque para o Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (PISA). Essas avaliações ocupam cada vez mais espaço na agenda dos gestores educacionais, e contraditoriamente geram um grande volume de dados e carregam um repertório técnico que dificulta a compreensão e a tomada de decisão para a reversão dos cenários mapeados. Sobre essa situação, afirmou Blasis (2013, p. 253):

[...] embora ocupem espaço cada vez maior no desenho das políticas educacionais de estados e municípios, as informações produzidas pelas avaliações externas ainda não são suficientemente exploradas como subsídio para a gestão educacional e o trabalho pedagógico. Observam-se dificuldades para a compreensão e uso dos resultados dos testes padronizados nos profissionais da educação, o que indica a necessidade de

3 O Ideb é um indicador de qualidade educacional que combina informações de desempenho em exa-

mes padronizados (Prova Brasil ou Saeb) – obtido pelos estudantes ao final das etapas de ensino (4ª e 8ª séries do ensino fundamental e 3ª série do ensino médio) – com informações sobre rendimento escolar (aprovação). Foi desenvolvido para ser um indicador que sintetiza informações de desempe- nho em exames padronizados com informações sobre rendimento escolar (taxa média de aprovação dos estudantes na etapa de ensino). Como o Ideb é resultado do produto entre o desempenho e do rendimento escolar (ou o inverso do tempo médio de conclusão de uma série) então ele pode ser interpretado da seguinte maneira: para uma escola A cuja média padronizada da Prova Brasil, 4ª série, é 5,0 e o tempo médio de conclusão de cada série é de 2 anos, a rede/ escola terá o Ideb igual a 5,0 multiplicado por 2 1, ou seja, Ideb = 2,5. Já uma escola B com média padronizada da Prova Brasil, 4ª série, igual a 5,0 e tempo médio para conclusão igual a 1 ano, terá Ideb = 5,0 (BRASIL, 2016).

trabalho direcionado para atender essa demanda, tanto por parte de escolas como de secretarias de educação.

Ademais, nota-se ainda a forte tendência em considerar válido apenas os aspectos quantitativos (taxas de rendimento educacional, distorção série/idade, relação de matriculados, dentre outros), quando o assunto em questão é a elaboração desses indicadores. A verificação das variáveis quantitativas não deve, porém, ser uma via exclusiva. Sobre essa questão, Minayo (2009, p. 85) nos diz que os indicadores assinalam tendências, e que nenhum deles pode “aportar certeza absoluta quanto aos resultados de uma ação ou de um processo”. A autora destaca que a sua função é sinalizar, pois eles “são instrumentos que não operam por si mesmos”. Minayo (2009, p. 88) enfatiza que indicadores qualitativos devem ser “construídos de forma participativa e considerados como balizas avaliativas, que permitem mapear com mais profundidade a natureza das mudanças ocorridas e em processo. ”

Em convergência com a perspectiva reorçada ao longo deste estudo, relacionada à avaliação participativa, Calil (2012, p. 84) sinaliza que um dos “potenciais mais fortes dos indicadores, que ainda é pouco explorado do ponto de vista organizacional, é a capacidade de produzir conhecimento novo a partir da própria experiência” como estratégia de enriquecimento da prática institucional com as aprendizagens geradas.