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2.2 VISÕES DA RELAÇÃO SOCIEDADE-NATUREZA

2.2.1 Agroecologia e Sustentabilidade

2.2.1.3 Indicando o Estado de Sustentabilidade

Definidas as dimensões que abrangeram a medida da sustentabilidade do sistema, o próximo passo foi a busca de indicadores dentro de cada dimensão.

Indicadores de sustentabilidade foram definidos como um conjunto de parâmetros que possibilitam medir as intervenções realizadas pelo homem em um sistema, e comunicar de forma simplificada o estado deste em relação a um padrão ou a outro sistema.

A construção de indicadores para avaliação do grau de sustentabilidade de um determinado objeto deve levar em conta a premissa de que cada agroecossistema co-evolui de forma diferente dentro da relação Sociedade-Natureza, e desta forma é quase impossível construir indicadores universais que possam ser amplamente usados em qualquer condição. A busca de possíveis indicadores de âmbito universal é uma característica herdada pela visão moderna da Natureza na qual tudo poderia ser analisado e comparado se ocorresse a simplificação do complexo. A sustentabilidade por si só é um tema de complexidade e sua fragmentação de forma padronizada faz com que se perca a chance de entender as ligações entre as suas partes (MARZALL; ALMEIDA, 2000).

Para Deponti, Eckert e Azambuja (2002), é necessário para avaliação da sustentabilidade caracterizar os pontos críticos que limitam um sistema e conseqüentemente realçar as suas vulnerabilidades. De certa forma, esses pontos críticos, por serem mais variáveis e facilmente detectáveis, são os temas centrais de discussão dentro de um sistema

que apontam os seus avanços ou retrocessos deste em relação à sustentabilidade. Se a determinação destes pontos críticos for criteriosa poder-se-á de certa forma reduzir o número total de indicadores, pois se avaliarão temas mais centrais que influenciam diretamente a sustentabilidade do sistema.

Para Waquil et al. (2007), a justificativa para a escolha dos indicadores dentro de cada dimensão é a busca de caracterização e distinção dos objetos de estudos com grande riqueza de informações, sem no entanto sobrepô-las em excesso. Neste sentido, procura-se um número de variáveis em cada uma das dimensões que sejam complementares para expressar as identidades.

Para Sepúlveda (2005), não é extremamente necessário que o número de indicadores por dimensão seja sempre o mesmo para poder realizar uma avaliação da sustentabilidade, basta que seja respeitado certo equilíbrio evitando uma sobreavaliação de uma e subavaliação de outra dimensão da sustentabilidade.

De antemão alguns limites do trabalho com indicadores na sua proposta de análise da sustentabilidade devem ser salientados para se evitar uma falsa expectativa.

A sustentabilidade entendida no referencial teórico passa essencialmente por uma avaliação temporal. Necessariamente deve ocorrer um acompanhamento do objeto de estudo em diferentes momentos de observação para a afirmação que ele está se tornando mais ou menos sustentável.

O atual estudo constitui-se de forma análoga a uma ‘fotografia’ de um dado momento e, por esta maneira, não teve o poder de expressão da trajetória de sustentabilidade do objeto. O método proposto não conseguiu apontar se o objeto estava em um curso de crescimento ou de decréscimo da sustentabilidade.

Esse limite foi fundamental, pois sempre ocorrerá a tentação da afirmação que um dado sistema foi mais ou menos sustentável, o que não se teve base teórica para afiançar.

Nesse aspecto, a possibilidade concreta foi o comparativo da sustentabilidade entre os sistemas de produção na pesca e sua discussão em relação à sustentabilidade com base na Agroecologia. Nesse tipo de análise, a evolução ou a trajetória da sustentabilidade tem seu efeito minimizado, visto que existiu a comparação entre as ‘fotografias’ dos sistemas em estudo e a discussão teórica.

Desta forma, o conceito de indicador de sustentabilidade adotados nesta pesquisa se aproximou do que Sepúlveda (2005) propôs como indicador de desenvolvimento sustentável.

Desta maneira, para o atual estudo foi definido o uso de nove indicadores dentro das quatro dimensões da sustentabilidade. Na dimensão econômica foram utilizados os indicadores renda total e índice de diversificação da renda familiar. Na dimensão social optaram-se pelos indicadores moradia por condição de saneamento e luz, nível educacional e sucessão profissional. Na dimensão ambiental foram avaliados os indicadores técnicas conservacionistas e produto bruto gerado fora da zona de pesca. E na dimensão política dimensionaram-se os indicadores participação popular e qualidade da participação.

A avaliação dos dois indicadores econômicos teve por objetivo o entendimento da estrutura da renda familiar, bem como sua distribuição entre nos diversos fatores de sua composição. A relação destes com a sustentabilidade estiveram alicerçadas na necessidade econômica das famílias para a reprodução social.

Os indicadores sociais avaliados foram escolhidos por serem considerados peças chaves nas mudanças dentro dos sistemas analisados. Acreditou-se em uma conexão entre os aspectos de educação formal, infra-estrutura da moradia e sucessão profissional que tivesse um poder de explicação dos processos sociais encontrados na pesquisa e sua interface com a sustentabilidade dos sistemas.

Os indicadores ambientais foram o de maior grau de dificuldade em sua construção. Existiu a premissa da impossibilidade de realização de um estudo de cunho biológico dos estoques pesqueiros. Essa limitação levou a utilização de parâmetros legais para avaliação deste indicador. Cabe salientar que a legislação existente para as zonas de pesca do estudo possui características de resguardo da capacidade de renovação dos estoques pesqueiros, sendo considerada apropriada em um estudo de sustentabilidade.

Os indicadores políticos escolhidos para este estudo buscaram vislumbrar a quantidade e a qualidade da participação dos pescadores dentro dos espaços existentes para o grupo social. O aumento da cidadania, a partir de uma maior participação, foi o elo com a sustentabilidade.

O grupo de indicadores econômicos, sociais, ambientais e políticos procurou abranger os pontos-chave dentro de cada uma das quatro dimensões buscando realçar os

locais onde possíveis intervenções gerariam avanços ou retrocessos do sistema em relação à sustentabilidade.

Dentro de cada indicador a sua variação entre o ponto mais sustentável (próximo à unidade ou 100%) e o ponto insustentável (próximo a zero ou 0%) invariavelmente foi arbitrada por um parâmetro que indicou o limite idealizado que representou que o sistema estava em uma condição de sustentabilidade. Esta construção foi arbitrada pelo autor com base no referencial teórico utilizado.