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Sistema de Produção na Pesca da Tarrafa Camarão

4.1 RECONSTITUIÇÃO DA EVOLUÇÃO E DIFERENCIAÇÃO DOS SISTEMAS

4.1.4 Descrição dos Sistemas de Produção na Pesca Encontrados em Tramandaí RS

4.1.4.5 Sistema de Produção na Pesca da Tarrafa Camarão

O sistema de produção na pesca da tarrafa camarão estava localizado na zona de pesca do estuário e teve como principal espécie alvo o camarão rosa. Estes pescadores usavam como local de pesca preferencial as lagoas da Custódia e Armazém e principalmente o rio Camarão que interliga as duas.

O sistema técnico de captura dos pescadores do tipo tarrafa camarão possuiu como principal arte de pesca a tarrafa de camarão que se diferenciou da tarrafa para peixe por ser maior em comprimento, chegando até 5 metros, e possuir malha menor, em torno de 2,5 centímetros, o que a tornou grande e com conseqüente custo elevado.

A técnica de utilização da arte de pesca foi semelhante ao descrito para tarrafa peixe. A malha da rede utilizada para o camarão foi bastante pequena sendo que esta arte de pesca teve a característica de capturar no seu uso muita fauna acompanhante como alevinos de peixes e siris.

A captura do camarão ocorreu sempre à noite durante os meses de verão. Como os pescadores do tipo tarrafa camarão não utilizavam atrativos luminosos como os pescadores do tipo aviãozinho, algumas estratégias foram moldadas para a ampliação da eficácia da pesca como, por exemplo, a pesca do bolo.

A pesca do bolo foi uma forma coletiva de realização da pescaria onde cada pescador, ao entardecer do dia, se apresentou no local marcado na beira do rio Camarão para fazer parte do grupo. Em dado momento, cada um com sua tarrafa buscou capturar os camarões na margem do rio. Todos os camarões pescados foram colocados em um bolo único. Esse processo ocorreu por várias horas até a madrugada quando existiu a diminuição do volume capturado devido ao nascer do dia. Com o término da pescaria foi realizada a divisão de forma igualitária do volume de camarões pelo número de pescadores que participaram do bolo.

A pesca do bolo foi uma forma de organização utilizada pelos pescadores com a intenção de minimizar o efeito da localização física de pescaria. Como o camarão tem a característica do movimento entre as lagoas da Custódia e Armazém, através do rio Camarão, os pescadores que estivessem posicionados mais próximos da foz, chamados de ponteiros,

conseguiriam maiores volumes de captura do que os posicionados no trecho intermediário do rio. Essa circunstância gerou inúmeras tensões na comunidade. A proposta de uma pesca coletiva foi uma tentativa de diminuir esta situação, porém não houve um consenso entre as unidades de produção.

Alguns relatos de bons momentos de pesca no bolo afirmaram que em um grupo de 50 pescadores em apenas duas horas de pescaria foi possível a captura de 1.300 quilogramas de camarões.

Durante o período de inverno, após a safra do camarão, este tipo de pescador passou a trabalhar com redes de espera de emalhar no objetivo da captura da tainha e do bagre. Preferencialmente esta captura foi realizada nas lagoas de Tramandaí, mas também ocorreram fora do município.

De forma análoga aos pescadores do tipo aviãozinho, os pescadores do tipo tarrafa camarão utilizaram embarcações de pequeno porte, com menos de um metro de largura e até seis metros de comprimento, de madeira, do tipo canoa ou caíque e com motores de popa de baixa potência entre 3 a 8 hp. A quase totalidade dos barcos utilizou vela para sua condução.

No inverno geralmente estes pescadores realizaram a pesca do siri nas lagoas de Tramandaí com a arte de pesca da coca. A coca se caracterizou como uma pequena rede em formato de peneira redonda que utilizou como atrativo para o siri um pedaço de carne de galinha ou peixe em decomposição. A técnica foi de fixar o atrativo no meio da coca e colocá- la na lagoa nos locais de concentração de siri. Normalmente um pescador trabalhou com até cem cocas que foram sendo alocadas na lagoa e após certo tempo eram levantadas para o recolhimento dos siris. A técnica foi considerada simples, mas obrigatoriamente exigiu barco e motor para o deslocamento e a aquisição de iscas para o siri que foi um componente econômico importante nesta pescaria.

A combinação entre a pesca do camarão no verão aliada a pesca de peixe com rede de espera e siri com coca foi a base da captura deste sistema de produção.

Em relação ao desempenho econômico, o sistema de produção na pesca da tarrafa camarão apresentou um produto bruto anual médio de R$21.958,00. O PB deste tipo se encontrou o mais próximo da média em relação aos sistemas estudados.

O consumo intermediário anual médio deste sistema de produção na pesca ficou em R$1.592,50 estando abaixo da média em relação aos outros sistemas. Os principais componentes do CI foram o pagamento dos serviços das descascadeiras do camarão e siri e a aquisição de iscas para captura de siri.

Em relação à utilização de mão-de-obra o sistema de produção tarrafa camarão utilizou em média 1,90 UTHp sendo acima da média se comparado aos demais sistemas de produção na pesca.

O capital imobilizado médio atingiu o valor de R$8.450,00 estando abaixo da média em relação aos demais sistemas e tendo como seus principais componentes a aquisição de barco, dos motores e das artes de pesca como as tarrafas e as cocas. A depreciação média anual do sistema atingiu R$2.350,93 estando também abaixo da média, e alcançando 27,8% do valor total do KI.

A produtividade média do trabalho deste sistema de produção na pesca esteve abaixo da média em relação aos demais sistemas sendo que a divisão do valor agregado bruto médio anual pela quantidade de mão-de-obra utilizada no sistema gerou um valor de R$11.777,81.

As rendas deste sistema de produção na pesca estão subdivididas nos dados que seguem no gráfico: 0,00 5000,00 10000,00 15000,00 20000,00 25000,00 30000,00 35000,00 40000,00 RP RatNP RPS 1 RPS 2 RPST RT R$

Gráfico 9 - Distribuição das rendas do Sistema de Produção na Pesca Tarrafa Camarão

A renda da pesca deste sistema de produção chegou a R$17.954,58 estando acima da média em relação aos outros sistemas. A renda das atividades não-pesqueiras deste sistema foi dimensionada em R$525,00 sendo o valor mais baixo encontrado nos sistemas estudados. Os principais componentes desta renda foram os serviços prestados pelas mulheres com limpeza de casa de veranistas e serviços temporários de pintura e pequenas obras realizados pelos pescadores.

A pesquisa apontou que todos os pescadores deste tipo, com exceção dos aposentados na pesca, acessaram a política pública do seguro desemprego durante o período de piracema dos peixes tendo essa um valor médio de R$2.280,00. Foram encontradas neste tipo de pescadores pessoas com aposentadoria que geraram um valor médio de R$1.235,00. Desta forma a renda total das políticas sociais foi dimensionada em R$3.515,00.

A renda total do sistema abrangeu o valor de R$21.994,58 estando levemente abaixo da média dos sistemas estudados. Este obteve uma RT de 4,82 salários mínimos mensais que foi considerado médio na classificação do IBGE (2007). O Índice de Diversificação das Rendas Familiares indicou que o sistema de produção da tarrafa peixe apresentou um valor médio de 1,42 sendo um dos mais baixos entre os tipos analisados e apontando uma centralidade das rendas nas atividades pesqueiras.

O gráfico tipo radar a seguir apresenta o conjunto dos indicadores sociais, ambientais, políticos e econômicos.

0,00 0,20 0,40 0,60 0,80 1,00 RT IDRF Moradia Nível da Educação Sucessão Profissional T écnicas conservacionistas

PB fora zona principal Participação popular

Qualidade da Participação

Gráfico 10 - Indicadores do Sistema de Produção na Pesca Tarrafa Camarão

Fonte: Pesquisa de campo, agosto 2007.

Em relação ao primeiro indicador social, moradia por condição de saneamento e luz, de forma análoga a outros tipos apresentados as casas destes pescadores estavam entremeadas entre as casas dos veranistas gerando o acesso a boas condições de infra-estrutura básica atingindo 100% do parâmetro ideal.

O segundo indicador social, nível de educação, obteve um índice médio de 44% do parâmetro ideal, tendo entre quatro a cinco anos de estudos formais.

O terceiro indicador social, sucessão profissional, a pesquisa de campo apontou um índice de 100% do parâmetro ideal para este tipo, sendo que nos últimos anos ocorreu um aumento dos meios de produção e existiu nas famílias uma tendência positiva da permanência dos filhos na atividade.

No indicador ambiental técnicas conservacionistas, os pescadores do tipo tarrafa camarão obtiveram um índice de 63% do parâmetro ideal. Os fatores negativos que

contribuíram para esse patamar foram a captura de fauna acompanhante no uso da tarrafa e a pesca de peixes de pequeno porte com rede de emalhar.

No indicador ambiental produto bruto gerado fora da zona de pesca foi obtido um índice de 50% do parâmetro ideal. O principal fator positivo que contribuiu para este patamar foi a captura de peixes como a tainha nas lagoas fora da zona de pesca no período do inverno. No indicador político de participação popular foi atingido o patamar de 56% do parâmetro ideal. Os principais pontos positivos para o atendimento deste índice foram que todos praticaram a pesca coletiva e foram associados do sindicato dos pescadores, e o ponto negativo foi a baixa participação em cursos de formação.

No indicador político qualidade da participação foi atingido o índice de 38% do parâmetro ideal sendo o mais baixo dos sistemas analisados. Os pontos negativos que levaram a este patamar foram a baixa participação em associações, grupos e cursos de formação. Este tipo foi classificado na escada da participação como participantes somente quando existiram incentivos materiais.

Os indicadores econômicos como Renda Total e Índice de Diversificação das Rendas Familiares foram anteriormente apresentados. Cabe a complementação que o indicador RT do sistema de produção tarrafa camarão atingiu 63% do parâmetro ideal, e que o IDRF ao índice de 19% do parâmetro ideal.