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SUMÁRIO 1 Introdução

2. INDUSTRIALIZAÇÃO, RACIONALIZAÇÃO E INOVAÇÃO NA CONSTRUÇÃO CIVIL

2.1. Industrialização

A história da industrialização se identifica com a história da mecanização, ou seja, com a evolução das ferramentas e máquinas para a produção de bens. De forma gradativa, as atividades exercidas pelo homem com auxílio da máquina foram sendo substituídas por aparelhos mecânicos, eletrônicos ou por automações (BRUNA, 1984).

Enquanto no método artesanal o trabalhador realizava as funções principais e seus ajudantes as funções secundárias, no método industrial, o oficial fazia a operação de algumas funções, ou em alguns casos uma única função, adquirindo grande destreza e automatismo (RIBEIRO, 2002).

A industrialização está essencialmente associada aos conceitos de organização e de produção em série, os quais devem ser entendidos e analisados de forma mais ampla as relações de produção envolvidas e a mecanização dos meios de produção (BRUNA, 1984).

A história da industrialização pode ser dividida em três grandes fases: a primeira, que assinala os primórdios da era industrial e assiste ao nascimento das máquinas genéricas ou polivalentes. A segunda fase, assiste à transformação dos mecanismos no sentido de ajustá-los à execução de determinadas tarefas. E, finalmente a terceira fase, inicia-se em torno dos anos 50 deste século na qual assiste- se de forma gradual à substituição das atividades que o homem exercia sobre a máquina: a diligência, a avaliação, a memória, o raciocínio, a concepção, a vontade etc., estão sendo substituídos por aparelhos mecânicos, eletrônicos ou, genericamente, por automatismos (BRUNA, 1984).

De todas as indústrias do setor secundário da economia, a indústria da construção civil foi a que mais levou tempo para se integrar no processo da industrialização, mantendo ainda algumas características do método artesanal (ROSSO, 1980). Devido ainda a dificuldades como; as flutuações constantes da demanda e influências de fenômenos conjunturais (ROSSO, 1980), variada gama de serviços envolvendo diferentes ramos industriais, ordem distintas e a busca de novas

formas e aspectos arquitetônicos (RIBEIRO, 2002), eram motivos de submissão da lentidão no desenvolvimento da industrialização na construção.

Bender (1976), descreve que essas mesma situações ainda na década de 1970 já aconteciam, o que mostra que muito pouco foi feito para mudar essa realidade, ele questionava que:

“Como é possível que na era dos computadores, viagens espaciais e produção em série de qualquer classe de artigo, estamos apenas começando a industrializar o processo de construção? Como pode um dos setores mais importantes da economia mundial estar tão pouco avançado que só recentemente a industrialização da construção foi considerada um tema de discussão importante? ”

Campos (2014) afirma que a industrialização da construção civil atuou na cadeia produtiva de seus materiais e não no modo de construir. As estruturas, vedações e outros componentes passaram somente a ser fabricados de maneiras diferentes, foi difícil para a indústria da construção civil compreender e tratar o edifício como um produto.

Entende-se assim, que a industrialização da construção é um meio para se atingir determinados objetivos que são basicamente os mesmos de outras áreas da indústria: produzir em maior quantidade, com melhor qualidade, menor custo e tempo (GOMES et al., 2013). Além do mais, “evoluir no sentido de aperfeiçoar-se” (BRUMATTI, 2008). Conclui-se então, que para a utilização de sistemas industrializados ser eficiente, é necessário inserir nos processos construtivos inovações tecnológicas, bem como, aplicar uma visão sistêmica e global à construção (RIBAS, 2006).

2.2. Racionalização

Aliado aos princípios da industrialização, “a racionalização é um processo mental que governa a ação contra os desperdícios temporais e materiais dos processos produtivos, aplicando o raciocínio sistemático, lógico e resolutivo, isento de influxo emocional” (ROSSO, 1980). Em outras palavras, a racionalização de um processo construtivo é um conjunto de ações que substituem as práticas convencionais por métodos tecnológicos baseados em raciocínio sistemático, visando eliminar o empirismo das decisões (RIBEIRO, 2002).

Na realidade, racionalização da construção é exercer o controle de materiais e mão de obra, aplicando eficientemente os recursos, utilizando com

estratégia o capital, e adotando o planejamento e gestão para aumentar a produtividade e extinguir as eventualidades das informações. Em outras palavras a racionalização deve ser aplicada a edificação tanto como produto, quanto como processo, ou seja, a edificação deve ser racionalizada desde a sua concepção e estendendo essas ações para a produção, afim de que possam ser corretamente implementadas. (ROSSO, 1980).

Em seu trabalho Barros (1996) propõe uma definição da racionalização com um enfoque microeconômico, restrito as atividades de produção de um empreendimento, nomeada de racionalização construtiva:

Racionalização construtiva é um processo composto pelo conjunto de todas as ações que tenham por objetivo otimizar o uso de recursos materiais, humanos, organizacionais, energéticos, tecnológicos, temporais e financeiros disponíveis na construção em todas as suas fases.

Vivan (2016) coloca que, para o êxito das intervenções da racionalização, é necessário que suas diretrizes passem a compor os fundamentos das decisões inerentes ao processo de projeto, visto que dessa maneira a racionalização continua naturalmente durante a construção da edificação.

Considerando dessa forma, o grande potencial de racionalização e de industrialização, proporcionado pelo sistema LSF, Crasto (2005) e Santiago, Freitas e Crasto (2012) destacam algumas estratégias e ações, listadas a seguir, que podem ser adotadas durante o processo de construção em LSF, com o intuito de garantir a racionalização dos processos:

a. Construbilidade;

b. Planejamento das etapas do empreendimento, que se inicia com a definição do produto e segue até a entrega da obra;

c. Coordenação modular e dimensional;

d. Associação da estrutura de aço com outros sistemas compatíveis; e. Formação de esquipes multidisciplinares visando operações

simultâneas entre o processo de projeto e fatores condicionantes do canteiro de obras;

f. Compatibilização de projetos; g. Detalhamento técnico;

h. Antecipação das decisões;

i. Elaboração dos Projetos para a Produção a partir da formação das equipes multidisciplinares visando a interação entre processos; j. Visão sistêmica comum a todos os profissionais que atuam no

projeto.

2.3. Inovações na construção civil

Inovações tecnológicas para Toledo, Abreu e Jungles (2000), são estratégias competitivas para empresas diversas. Diferentes áreas prezam as inovações tecnológicas por vários motivos, sejam eles, melhoria do produto final, maior eficiência, melhor qualidade e implementação de mudanças (ORGANIZAÇÃO PARA COOPERAÇÃO ECONÔMICA E DESENVOLVIMENTO, 1997).

Na construção a utilização dessas inovações tecnológicas trazem benefícios como agilidade nos processos construtivos, redução do tempo de obra, maior qualidade nos serviços, e de modo global, melhoria nos índices de desempenho, produtividade, redução de desperdício e tempo (REZENDE; BARROS; ABIKO, 2002).

Para a homologação e adoção de sistemas e processos inovadores devem ser considerados questões que vão além do aumento da produtividade e da redução de custo da construção, deve-se considerar o desenvolvimento de produtos que repercutam positivamente na vida útil do edifício atendendo aos requisitos dos usuários (SANCHES; FABRICIO, 2012).

São definidas seis razões importantes que incentivam a inserção de inovações tecnológicas no setor da construção civil. Primeiro, existe a evolução do produto final, que nesse caso é a própria edificação, o que demanda alterações nos processos construtivos. A ordem dos acontecimentos pode ser alterada de forma que uma mudança na tecnologia construtiva pode gerar transformações na construção. Outro fator são as necessidades dos clientes, que demandam novas solicitações à cada etapa de execução da obra, como é o caso de prazos reduzidos ou menor impacto ambiental (REZENDE; ABIKO, 2004).

Existe ainda o desenvolvimento de novos elementos e materiais, que necessitam da implementação de novas tecnologias no processo construtivo. A

concorrência no mercado da construção civil, é definida como mais um fator à introdução de inovações tecnológicas, pois as empresas buscam se destacar das demais e assim poder atrair mais clientes. Outro fator é a ação do governo, que pode ser por meio de financiamento e fomento à pesquisa, da qualificação da mão de obra, do desenvolvimento de normas e legislações que busquem o aprimoramento da qualidade das edificações, além da utilização de novas tecnologias em seus projetos públicos. Um último fator é o custo de implantação da inovação tecnológica e quanto maior ele for, maior será a dificuldade de introdução no processo da construção civil (REZENDE; ABIKO, 2004).

No entanto, segundo Blachère (1977), existem alguns fatores que freiam o desenvolvimento industrial e a inovação tecnológica. Um fator é a própria regulamentação, que define normas a serem seguidas na construção civil. Em alguns casos ela pode ser muito restrita, o que dificulta a aplicação dos sistemas industrializados. Outra questão é a necessidade da produção em série, que em muitas situações não é viável, podendo ser um obstáculo na utilização de certa tecnologia. O tamanho e o número de empresas ligadas à construção civil também atuam como um freio à industrialização, já que a construção convencional está muitas vezes baseada na produção local e direcionada.

Outro ponto negativo é comentado no trabalho de Lim, Schultmann e Ofori (2010), que a inovação é frequentemente classificado como um investimento de custo intensivo no indústria da construção civil com retornos indefinidos, e que as peculiaridades da indústria consideram a inovação como instrumento menos competitivo para lucros diretos.

Além disso, um fator importante é a carência de cultura científica no setor da construção. Muito do que se cria nesse setor é baseado no empirismo, ou seja, são desenvolvidas técnicas a partir da sua funcionalidade e aceitação na prática. Com isso, as inovações tecnológicas são vistas como soluções milagrosas, fato que desvia do verdadeiro caminho do progresso. Porém, apesar desses fatores funcionarem como obstáculos, eles não impedem o desenvolvimento industrial e “servem de desculpa a muitos, pois explicam os fracassos e dispensam o esforço de iniciar (BLACHÈRE, 1977).

As experiências com sistemas inovadores no passado repercutiram culturalmente em resistência institucional em abandonar padrões convencionais de

construção (REZENDE; BARROS; ABIKO, 2002). Segundo Kempton e Syms (2009), a utilização de tecnologias não suficientemente desenvolvidas repercutiram em casos desastrosos. Experiências negativas tornaram o setor da construção civil menos receptivo a inovações tecnológicas repercutindo em progressiva desatualização tecnológica (GONÇALVES et al., 2003).

Alguns estudos incluindo o programa do IPT (1988) consideram a indústria da construção civil, como atrasada se comparada a outros setores mais dinâmicos, resultando em características específicas do setor, como: mão de obra pouco qualificada, baixa mecanização, baixa produtividade, grande desperdício e alta incidência de patologias, como mostrado no Quadro 3.

Quadro 3 - Fatores característicos do atraso tecnológico da construção

Características do atraso tecnológico na construção 1 Base manufatureira da construção