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4.1 3 PEDAÇOS DA HISTÓRIA (16/04, cartaz em anexo nº 02)

4.1.6. INFÂNCIA, ESCOLA E OUTRAS HISTÓRIAS (04/06)

Novamente Amália discorreu sobre a escola primária e o grande interesse dela em freqüentar uma escolinha, dizendo não saber exatamente de onde vinha esse interesse e que talvez fosse pela influência de um primo de oito anos.

A realidade escolar foi, nos primeiros anos, muito gratificante para ela. O mundo era sua escola, e ela era dona deste mundo. O caderno de Amália era percebido por ela como a extensão do quadro no qual a professora escrevia. A escola foi significada como um espaço onde Amália era o centro das atenções, o centro de tudo o que era importante, sentar ao lado da professora, falar nas atividades cívicas e em comemorações.

A passagem do prefeito pela escola, quando Amália estava na 3ª série, foi crucial para que essa imagem da escola fosse alterada. As atividades programadas num determinado dia seriam vistas pelo prefeito da cidade, mas ele se atrasou e a programação precisou ser modificada. Este momento foi muito sofrido para ela:

(...) por causa que o prefeito se atrasou e tudo se atrasou e eu

fui cortada do planejamento e não consegui entender aquilo. As coisas ficaram um pouco nublada, aí começaram a perder a graça e comecei de repente a ver que o mundo não era tão fácil.(...) acabou meu show.

A realidade de Amália mudaria não apenas na escola. Os pais se desentenderam, e a mãe se mudou com as filhas para uma das casas que a avó alugava. O mundo da imaginação infantil entrou em cena. A avó era dona de uma pequena mercearia e tinha mercadorias guardadas num depósito. Amália brincava com seus colegas. Montava seu pequeno comércio de chicletes pré-históricos, como ela disse. Além disso, ela confeccionava roupas de boneca e vendia a suas amigas. Ganhava muito dinheiro para uma criança, e a mãe, desconfiada, a proibiu de continuar a vender coisas para seus colegas. Ela também lembrou de brincar de escolinha numa sala que sua avó usava para fazer pão caseiro. Havia cadeira, quadro e mesa para a brincadeira. Amália relatou que nessa época começou a se envolver mais com as coisas da escola e com uma professora de história. A professora era excêntrica para os alunos, e, além disso, tinha uma sobrecarga de trabalho. Amália passou a auxiliá-la nas tarefas escolares e correção de cadernos e provas.

Ela também relatou sobre seu avô materno, homem calmo e carinhoso, mas que, devido ao derrame que havia sofrido, se comunicava de uma maneira muito diferente, era afetuoso com Amália e participava a seu modo das travessuras da neta. Ela lembrou de passagens em que o avô, que parecia completamente ausente, surpreendia Amália com sustos. Em suas palavras:

(...) ele quieto né? Aí eu vou incomodar ele até ele fazer

alguma coisa. Aí eu fui lá, levantei a gola dele, quando eu ia fazer AH!, ele, foi ele quem fez AHH! pra mim (Risos). Ele AHH! bem assim pra mim. Levei um susto tão grande, aquilo foi muito legal. Ele reagiu, foi muito legal, ele ficava quieto parecia que tava ausente, mas ele não tava ausente (Risos)

ele tava lá, foi muito legal, gosto de lembrar as horas assim com ele (...).

Amália relembra o nascimento da irmã e de como se sentia responsável por ela uma vez que sua mãe lhe deu esta função:

(...) ela (referindo-se a própria mãe) foi me passando a idéia

de que a Daniela era um bebê e nós duas tínhamos de cuidar dela (...) eu tive essa preocupação de protegê-la por que era minha função e essa coisa assim eu tenho muito incutida assim há muitos anos.

Além destas lembranças, há também uma sobre o psicotécnico que fez durante o primeiro grau. Como Amália se saiu bem nos teste, sendo informada de que poderia fazer qualquer tipo de escolha, como ela mencionou:

(...) eu fiz um raio de um teste tipo um psicotécnico, um

negócio assim na escola, e tinha lá quatro classificações e eu fiquei 25% pra cada uma. Então, a professora acho que tava exausta na hora que me chamou pra me dizer a minha avaliação, ela disse: Olha minha filha tu pode ser o que tu

quiser, tu pode ser o que tu quiser. Olha aqui deu 25%, se tu quiser ser uma artista, um camelô, um vendedor, um não sei o que, um engenheiro, pode ser o que tu quiser, deu pra qualquer coisa. Sabe ai eu disse assim: Ai, será que é assim

mesmo? Tipo assim, né? Então, ir pro magistério pra mim foi a coisa mais natural.

Ainda neste encontro, Amália repetiu algumas histórias que já haviam sido mencionadas como aquela em que passou a trabalhar no salão de beleza de sua mãe, do magistério, e de tudo que impossibilitou seus estágios; mencionou que havia diferenças na educação que sua irmã recebia, em comparação a sua própria educação, como freqüência em colégios (público e privado), assuntos familiares que eram omitidos, pois sua irmã era

muito pequena, para compreender tudo que se passava, porém a diferença de idade entre

Amália e sua irmã era apenas de um ano e oito meses.

Nesta sessão, após desligarmos o gravador, a reorientanda se emocionou e chorou. Os comentários dela foram a respeito das cobranças feitas por sua mãe em relação a soluções que Amália precisaria tomar no tocante a problemas do dia-a-dia e que a entrevistada seria consultada com freqüência para resolvê-los. Neste exato momento, como

uma confirmação do que ela havia me dito, seu celular tocou. Era sua mãe perguntando o que deveria fazer em relação à venda ou não do salão de beleza. A entrevistada enxugou as lágrimas e disse que ligaria mais tarde. Questionada se ela conseguiria deixar a própria mãe resolver o problema e ligar somente durante a noite, ela afirmou que não conseguiria, que ainda seria muito difícil agir diferente.

4.1.7. VIDA EXPRESSA NUMERICAMENTE