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Mediante a análise de obras que tratam sobre a história da educação, pode-se constatar

que as orientações de Lutero sobre a forma de organização da educação escolar, tanto para os

colégios de ensino secundário e para a universidade como em sua proposta de criação das

escolas elementares, sofreram forte influência de seu amigo Filipe Melanchthon (1497-1560),

sendo difícil saber de fato a autoria e originalidade de algumas idéias e decisões tomadas para

reformar ou até mesmo criar uma nova estrutura para a instrução escolar.

Melanchthon, sobrinho neto de Reuchlin, foi o humanista alemão que se tornou o

principal exemplo de uma conversão rápida, tornando-se o intelectual mais destacado entre os

primeiros discípulos de Lutero (SKINNER, 1996, p. 313). Lutero conhece Melanchthon em

1518 quando este entra, aos 21 anos, na Universidade de Wittenberg para lecionar as línguas

antigas. Lutero passa a admirá-lo desde seu discurso inaugural na universidade, tornando-se,

conforme sua declaração, seu amigo até a morte, o qual o acompanhou durante todas as fases

pelas quais a Reforma passou. Durante a tradução que Lutero fez da Bíblia, Melanchthon se

torna uma pessoa fundamental para que ele alcance esse objetivo com qualidade, pois sempre

o consultava sobre o grego e o chamava para tirar dúvidas sobre as passagens bíblicas.

É Melanchthon o responsável por introduzir na Universidade, com seus estudos sobre

os clássicos gregos e latinos, uma nova forma de ensinar, diferente da escolástica e que

cativava os ouvintes. Assim, ele vai aos poucos reformando seus métodos e tornando-se cada

vez mais notável. Para explicitar sua importante atuação nas reformas na Universidade, Ruy

Nunes (1980, p. 64) afirma que “restaurou-se a aliança da reforma com o humanismo graças

ao talento e ao esforço de Melanchthon que tornou a Universidade de Wittenberg a mais

Wittenberg, Melanchthon trabalhou durante os últimos 42 anos de sua vida, sendo que, graças

à sua influência, ela se tornou modelo de muitas outras na Alemanha, atraindo milhares de

estudantes e formando os professores mais ilustres da época (MONROE, 1968, p. 180).

Como já citado, é sob iniciativa e orientação de Melanchthon que o Conselho de

Nurenberg funda, em 1526, o Ginásio de Egídio ao lado de três escolas de latim já existentes

na cidade. Dada sua capacidade de promoção e organização das escolas, ele ficou conhecido

como o “preceptor da Germânia” e, segundo Franco Cambi (1999, p. 250), “a elaboração das

estruturas organizativas e dos conteúdos culturais próprios das escolas secundárias da

Reforma é devida sobretudo a Filipe Melanchthon”, que tentava efetuar uma convergência

entre humanismo e luteranismo. No entanto, ele não demonstrou interesse pelas escolas

populares vernáculas; Frederick Eby (1976, p. 69) chega afirmar que ele sentia até mesmo

desprezo por elas, considerando o latim como única língua apropriada para o ensino

elementar.

Paul Monroe (1968, p. 179) afirma que Melanchthon foi para a Reforma Educacional

o que Lutero foi para a Reforma religiosa, sendo que seu título de Preceptor da Alemanha não

teria sido sem motivos justos, pois, por ocasião de sua morte, quase todas as cidades em toda

a Alemanha tinham modificado suas escolas seguindo o conselho direto de Melanchthon ou

suas sugestões gerais e “não havia quase nenhuma escola de alguma importância que não

contasse com alguns de seus alunos entre seus professores”.

Sendo assim, não há dúvidas de sua relevância e influência na vida de Lutero, no

próprio desencadeamento da Reforma proposta para a Igreja e, principalmente, para a

ocorrida na organização das escolas, sobretudo as de ensino secundário. Ruy Nunes (1980, p.

100-1) expressa bem essa relação, afirmando que “[...] Lutero prescreve as normas

[...] o ministro da educação de Lutero. Escreveu manuais escolares, organizou o sistema escolar de Saxe, redigiu juntamente com Lutero as Diretivas aos inspetores escolares e o livro Visita das Escolas, reorganizou as universidades de Marburg, Koenigsberg, Iena, Halmstadt, Dorpat, Leipzig e Heidelberg, e dava orientação e assistência aos mestres luteranos da Germânia. (Ibid)

Melanchthon orientou a reforma educativa por meio de correspondências e visitas às

escolas, sendo que “por intermédio da organização dos regulamentos escolares da Saxônia,

em 1528, redigido a pedido do Eleitor, tornou-se o fundador do sistema escolar do estado

moderno” (MONROE, 1968, p. 180). Ele era solicitado com freqüência pelas autoridades

municipais para dar sugestões à reorganização de suas escolas, sendo que “no período inicial

da Reforma protestante, nenhum homem foi tão procurado quanto Melanchthon, para orientar

a fundação das escolas latinas municipais” (EBY, 1976, p. 70).

No ensino elementar, Lorenzo Luzuriaga (1959; 1963) destaca Johannes Bugenhagen

(1485-1558) como colaborador de Lutero e responsável pela inspiração de uma série de

ordenações municipais no norte da Alemanha onde ele, em processo de reorganização das

igrejas da região, estabelece diversos preceitos sobre a educação pública. Em todos esses

estatutos religiosos, de diferentes cidades do norte da Alemanha, “se recomenda e ordena a

criação de escolas, ao ponto de haver-se chamado BUGENHAGEN de pai da Escola primária

pública alemã, embora também predominasse nele a consideração eclesiástica” (Idem, 1959,

p. 08).

Ruy Nunes (1980, p. 178) afirma ter sido Bugenhagen o “mais ardente defensor da

reforma da Igreja alemã”, após ter aderido ao luteranismo em 1520. Ele também teria ajudado

Lutero no seu trabalho de tradução da Bíblia e pronunciado sua oração fúnebre; ele “labutou

ardentemente a favor do luteranismo”.

Ele foi considerado um reformador prático da Igreja, possuindo maior capacidade de

incluíam escolas separadas para meninas e foi quem deu os passos mais significativos na

evolução das escolas vernáculas (EBY, 1976, p. 69).

No entanto, na questão educacional, apesar de, na avaliação de Ruy Nunes (1980, p.

179), ter superado Lutero e Melanchthon quanto às realizações em prol das escolas

protestantes germânicas, seus planos escolares “não conseguiram, no fim das contas,

implantar a escola popular na Alemanha do século XVI, uma vez que a Guerra dos Trinta

Anos acabou com esses primeiros e animosos ensaios de renovação escolar”.

A atuação desses e outros seguidores da Reforma que, de alguma forma, contribuíram

para mudanças educacionais, espelham um pouco do que afirmou Frederick Eby (1976, p.53)

sobre as ações de Lutero na área da educação escolar: “Tratou principalmente de amplos

princípios gerais; os pormenores, deixou-os para outros completarem”.