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O percentual de 27% de mulheres no contexto desta empresa representa um avanço da participação feminina num setor predominantemente masculino. Mas, na realidade, apesar desta participação, o número de mulheres marítimas é ainda muito diminuto e reservado apenas a algumas áreas de atividade dentro do setor. Em 1992, quando a Organização Marítima Internacional (OMI) fez uma estimativa da percentagem de mulheres marítimas, foi relatado como apenas um ou dois por cento da população marítima total (Belcher et al., 2003). O último relatório de mão-de-obra da BIMCO (Baltic & International Maritime Council) e ICS (International Chamber of Shipping) (BIMCO/ICS, 2016) indica que apenas um por cento é representada por mulheres oficiais e marinheiras no setor de convés e máquinas.

Na atualidade, as mulheres atuam em diferentes áreas dentro dos complexos marítimos, como operadoras de máquinas, guardas-portuárias, eletricistas, na vistoria e conferência de cargas, manuseio de equipamentos de grande, médio e pequeno portes, como engenheiras, administradoras

Farias, Sacha 39 e praticantes de prático, atividades antes exercidas exclusivamente por mão-de-obra masculina (Milhomem, 2016). O resultado do INSAT mostrou que a função de marinheiro e moço ainda tem um predomínio de trabalhadores homens, pois na pesquisa nenhuma mulher tinha essas funções. Através do inquérito foi possível apurar que a maior parte dos trabalhadores homens (59%) e mulheres (70%) acham que não serão capazes de continuar nesta atividade de trabalho, quando atingirem os 60 anos de idade, dado que é visível que as mulheres não pensam em envelhecer nessa atividade, pois muitas pensam em ser mãe e fica complicado manter-se distante dos filhos e também devido a diversos problemas de saúde relacionados com o trabalho tanto para homens como mulheres. Outro dado apurado e relevante é que 81% das mulheres e 82% dos homens tenham medo de sofrer lesão (acidente ou doença profissional) causada pela atividade de trabalho, assim confirma que realmente é considerado um trabalho perigoso.

Os trabalhadores têm plena consciência dos riscos físicos do ambiente de trabalho a que estão sujeitos, como pode ser verificado na Tabela 17. O INSAT permitiu corroborar estas conclusões, uma vez que quase todos os trabalhadores afirmam estar expostos a ruído, 74% das mulheres e 95% dos homens e a vibrações, 81% das mulheres e 92% dos homens, devido ao ambiente de trabalho principalmente na praça de máquina pela existência de uma quantidade de motores a funcionar e sendo um ambiente fechado, o que faz o ruído ser ainda maior. No global, podemos perceber que os homens estão mais expostos a fatores de risco físico do ambiente de trabalho, do que as mulheres.

Tabela 17 - Percentagem de exposição a fatores de risco físico do ambiente de trabalho

(27 participantes) Feminino (73 participantes) Masculino

Ruído nocivo ou incómodo 74% 95%

Vibrações (oscilações ou tremores no corpo ou nos membros) 81% 92%

Radiações (Ex: material radioactivo, RX) 26% 19%

Variações térmicas (Ex.: calor, frio, vento, humidade) 70% 90%

Poeiras ou gases 85% 93%

Iluminação inadequada 56% 58%

Na Tabela 18 verifica-se que quanto aos fatores toxicológicos de riscos, ambos os géneros sofrem bastante com agentes químicos, pelo fato do navio transportar diferentes produtos petrolíferos e pelos produtos químicos usados a bordo.

Tabela 18 - Percentagem de exposição a fatores toxicológicos de risco

(27 participantes) Feminino (73 participantes) Masculino Agentes Biológicos (contato, manuseamento com bactérias, vírus, fungos

ou material de origem orgânica ou vegetal ou animal) 11% 36% Agentes Químicos (colas, tintas, solventes, pigmentos, corantes,

vernizes, diluentes, desinfetantes, gases) 93% 96%

Amianto (ex.: revestimentos e coberturas de edifícios) 11% 11% Nanopartículas (limpeza industrial, produção de medicamentos,

Mestrado em Engenharia de Segurança e Higiene Ocupacionais

40 Resultados e Discussão

Na Tabela 19, novamente, percebe-se que ambos os géneros sofrem bastante dos seguintes fatores psicossociais: ter que ultrapassar o horário normal de trabalho, ter que dormir as horas poucos usuais por causa do trabalho, pelo afastamento significativo que interfere a rotina familiar, ter que “pular” refeições, entre outras. O fator que menos afeta ambos os géneros é levar trabalho para casa, que se deve ao fato de que quando os inquiridos estão em casa, a maioria está em repouso e não leva trabalho para desenvolver.

Tabela 19 - Percentagem de exposição psicosociais de risco: tempos de trabalho

Feminino

(27 participantes) (73 participantes) Masculino

f % f %

Ter que ultrapassar o horário normal de trabalho 26 96% 72 99% Levar trabalho para casa, para além do meu trabalho 5 19% 13 18% Ter que dormir a horas pouco usuais por causa do trabalho 25 93% 61 84% Ter que "pular" ou encurtar uma refeição, ou nem realizar a pausa por causa do

trabalho 20 74% 62 85%

Não conhecer o meu horário de trabalho com antecedência (ex.: dia seguinte, 1

semana, 1 mês, 3 meses) 12 44% 29 40%

Afastamento significativo que interfere com a rotina familiar ou social 25 93% 64 88% Ter que manter disponibilidade permanente a qualquer hora do dia (ex.:

pessoalmente, por telefone, por email) 24 89% 64 88%

Fazer deslocações profissionais frequentes (ausência ou afastamento

significativo que interfere com a rotina familiar ou social) 23 85% 63 86% Dos 27% de mulheres, apenas 18% estão em trabalhos na praça de máquinas e na guarnição do convés, onde o esforço físico é maior. Já dos 73% de homens, 49% desempenham trabalhos na praça de máquinas e guarnição do convés, o que se pode refletir nos resultados dos fatores de riscos físicos sentidos pelos homens apresentarem percentagens maiores (Tabela 20). Das mulheres inquiridas, a maioria desempenha funções de oficiais, e trabalham no passadiço e no centro de controle de carga do navio, logo utilizam os monitores por mais tempo, por isso apresentam 96% de exposição a monitor/visor e os homens, uma exposição um pouco menor (85%).

Tabela 20 - Percentagem de exposição dos trabalhadores a fatores físicos de risco

Feminino Masculino

f % f %

Fazer gestos repetitivos (movimentos repetitivos continuamente, num

curto espaço de tempo) 13 48% 40 55%

Fazer gestos preciosos e minuciosos 9 33% 46 63%

Adotar posturas penosas (posições do corpo dolorosas, custosas,

desconfortáveis) 17 63% 56 77%

Fazer esforços físicos intensos (ex.: cargas pesadas manuseadas ou

movimentadas) 14 52% 47 64%

Permanecer muito tempo de pé na mesma posição: 16 59% 53 73% Permanecer muito tempo de pé com deslocamento (ex.: arrastar, puxar,

empurrar, e andar muito a pé) 15 56% 48 66%

Permanecer muito tempo sentado 15 56% 38 52%

Subir e descer com muita frequência (ex.: escadas, rampas, ...) 25 93% 71 97% Trabalhar em altura, em ambientes subterrâneos ou com risco de

soterramento 11 41% 43 59%

Trabalhar com equipamento elétricos suscetíveis de causar eletrocussão 8 30% 42 58%

Trabalhar com monitor/visor 26 96% 62 85%

Trabalhar num contexto/local cujo espaço é pouco adaptado ao tipo de tarefa que realizo (ex.: espaço restrito, pouco acessível, pouco organizado, ...)

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