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A influência do El Niño, La Niña e Dipolo do Atlântico no clima da RMF

ETAPA 4 Análise ampliada de Fortaleza

3. APORTES CLIMÁTICOS

3.3 A influência do El Niño, La Niña e Dipolo do Atlântico no clima da RMF

El Niño e La Niña são fenômenos atmosféricos de impactos globais que afetam os climas brasileiros, particularmente no nordeste do Brasil influenciam na precipitação. Ambos referem-se às variações na temperatura da superfície do oceano pacífico com caráter mais intenso e abrangente. Os episódios podem ser considerados muito fracos, fracos, moderados e fortes dependendo do valor da temperatura da água do mar, a extensão e o período de atuação (ARAGÃO, 1990).

Para um melhor entendimento considerou-se a RMF dentro de um contexto maior, estando essa inserida na Região Nordeste do Brasil, optou-se por abordar a ação do El Niño e La Niña nessa região nacional.

Em condições normais, os ventos superficiais sobre o equador tem o sentido leste- oeste (ventos alísios), carregando água quente superficial para oeste, ocasionando uma grande diferença de temperatura entre as águas do Pacífico leste e oeste. Em contrapartida as águas frias e profundas, a leste, são direcionadas para a superfície (ressurgência). Na costa da Indonésia, esse processo provoca o aquecimento do ar atmosférico mais próximo da superfície das águas oceânicas, tornando-o quente e úmido, gerando a ascensão do ar devido à baixa pressão atmosférica, propiciando a formação de nuvens e de chuva (Figura 9a). Sobre águas frias do Oceano Pacífico oeste ocorre a subsidência do ar devido a alta pressão atmosférica impedindo a formação de nuvens e de precipitação. Todo esse processo caracteriza a Célula de Circulação Equatorial de Walker.

Quando se tem o El Niño (aquecimento anormal das águas superficiais e sub- superficiais do oceano Pacífico central, próximo a linha do Equador), ocorre o enfraquecimento dos ventos de leste, podendo inverter o sentido, e o transporte de água quente no sentido leste-oeste decresce, conseqüentemente o acúmulo de água quente no Pacífico oeste diminui, assim como a ressurgência das águas frias no Pacífico leste. A Célula de Walker se parte em duas na região do oceano Pacífico central e enfraquece podendo desaparecer em eventos fortes de El Niño (Figura 9b). “O ar que em condições normais, sobe no pacífico oeste e desce no Pacífico leste, passa a subir no Pacífico central e descer no Pacífico oeste e norte da América do Sul, diminuindo as chuvas nessas regiões” (BERLATO e FONTANA, 2003: 24).

Em situações de La Niña, ocorre uma intensificação das condições normais do oceano Pacífico, ou seja, têm-se um maior aquecimento das águas no Pacífico oeste, gerando ventos de sentido leste-oeste mais fortes, fortalecendo a Célula de Walker, aumentando o transporte de águas quentes para oeste e ressurgência das águas frias a leste.

Em relação à região Nordeste brasileira o El Niño e La Niña influenciam principalmente na precipitação pluvial, ocasionando estiagem e chuva respectivamente.

Nos períodos de El Niño há uma mudança na posição do ramo ascendente da Célula de Walker. Em condições normais, a ascensão do ar ocorria no oceano Pacífico Equatorial Oeste, enquanto que na atuação do El Niño essa ascensão ocorre mais a leste do oceano Pacífico equatorial, ocasionando a bipartição da célula de Walker e conseqüentemente a formação de dois ramos descendentes de ar, um que compreende a região da Indonésia e outro a região do Nordeste Brasileiro e parte da Amazônia. O ar descendente vem dos altos níveis da troposfera e funciona como uma barreira inibindo a formação de nuvens, e a entrada de sistemas atmosféricos causadores de precipitação. Quando o El Niño atua no período da

quadra chuvosa do Estado do Ceará, ele impede a entrada da ZCIT sob o Estado, diminuindo significativamente a precipitação.

Figura 09a e 09b – Condição oceânica e atmosférica do Oceano Pacífico. Fonte: CPTEC, 2010.

Em anos de La Niña ou sem a atuação dos dois fenômenos, a célula de Walker não é alterada e o ar descendente não alcança o Nordeste do Brasil permitindo a formação de nuvens, a entrada de sistemas atmosféricos. Ressalta-se que tanto o El Niño como a La Niña não são responsáveis exclusivos pela ausência ou não de precipitação no Nordeste Brasileiro, haja vista a influência da Temperatura da Superfície do Mar do Oceano Atlântico Norte e Sul, assim como da atuação dos sistemas atmosféricos atuantes.

Outro grande fenômeno oceânico-atmosférico que influencia a precipitação na Região Nordeste, particularmente na RMF, é o Dipolo do Atlântico. De acordo com Aragão (1998: 841) o Dipolo do Atlântico

é uma mudança anômala da temperatura da água do mar do Oceano Atlântico Tropical. Esse fenômeno muda a circulação meridional da atmosfera (Hadley) e inibe ou aumenta a formação de nuvens sobre o Nordeste do Brasil e alguns países da África, diminuindo ou aumentando a precipitação. Quando as águas do Atlântico tropical Norte estão mais quentes e as águas do Atlântico Equatorial e Tropical Sul estão mais frias, existem movimentos descendentes anômalos sobre o nordeste do Brasil e alguns países da áfrica do Ocidental, inibindo a formação de nuvens e diminuindo a precipitação, podendo causar secas. Por outro lado, quando as águas do Atlântico Tropical Sul estão mais quentes, existem movimentos ascendentes anômalos sobre o Nordeste do Brasil e países da áfrica Ocidental, acelerando a formação de nuvens , aumentando a precipitação.

Dessa forma, as flutuações interanuais de precipitação no Nordeste brasileiro vão depender em grande escala da temperatura dos oceanos Pacífico (com a atuação ou não do El Niño e La Niña) e Atlântico (com Dipolo positivo ou negativo).

Os estudos de Aragão (1996, 1998), Moura et al (2000) e Ferreira et al (2004), verificaram que a influência concomitante dos oceanos Pacífico e Atlântico no Nordeste brasileiro ocorrem de dois modos principais: os anos de La Niña e Dipolo Negativo (Atlântico Sul quente e Atlântico Norte frio) correspondem a anos com excesso de chuva; já os anos com El Niño e Dipolo Positivo (Atlântico Sul frio e Atlântico Norte quente) correspondem a episódios de seca.

Em anos neutros, ou seja, onde não se têm a atuação da La Niña nem El Niño, o Dipolo do Atlântico comanda em grande escala as precipitações na RMF, principalmente na quadra chuvosa, influenciando diretamente na posição da ZCIT. Nobre e Shukla (1996) apontam que tal padrão de anomalias de TSM possibilita a ocorrência de gradientes meridionais de anomalias de TSM, influenciando bastante na posição latitudinal da ZCIT, e conseqüentemente alterando a distribuição sazonal de precipitação pluviométrica sobre o Atlântico Equatorial, parte norte do Nordeste do Brasil, até a parte central da Amazônia. Cabe salientar que pode ocorrer a atuação dos fenômenos vinculados ao oceano Pacífico e Atlântico com conseqüências inversas, ou seja, enquanto um oceano gera condições favoráveis à precipitação na RMF, o outro oceano gera condições desfavoráveis. Nesses casos as condições favoráveis ou não à precipitação estarão vinculadas à intensidade de atuação de cada fenômeno.