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4. APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS DADOS

4.2. Rede Social 2: Escola Modelo

4.2.2. Informante E2

O informante E2 pertence ao sexo feminino, encontra-se na faixa etária entre 20 a 30 anos, possui curso superior completo e é nissei.

Esse indivíduo começa a aprender o português como primeira língua, desde pequeno, mas só inicia o aprendizado do japonês aos 25 anos, ou seja, após já ter completado a fase maturacional da linguagem. Dessa forma, entendemos que E2 aprendeu a língua portuguesa como língua materna e a língua japonesa como língua estrangeira, sendo classificado em nossa análise como segue:

Quadro 29 – contexto de aquisição de línguas de E2

Contexto de aquisição das línguas portuguesa e japonesa E2: Lm + Le

Apesar de serem classificados da mesma maneira quanto a identificação do contexto de aquisição das línguas portuguesa e japonesa, E1 e E2 apresentam nesse quesito situações inversas: aquele aprendeu o japonês como Lm e o português como Le, esse aprendeu o japonês como Le e o português como Lm.

Em relação à sua competência linguística, E2 afirma que fala, entende, lê e escreve a língua portuguesa muito bem. Contudo, declara que não fala, entende, lê, nem escreve nada em japonês, como ilustram as tabelas a seguir:

Quadro 30 – competência linguística de E2: língua japonesa

COMPETÊNCIA LINGUÍSTICA EM LÍNGUA JAPONESA

Fala Nada

Compreensão Nada

Leitura Nada

Escrita Nada

Quadro 31 – competência linguística de E2: língua portuguesa

COMPETÊNCIA LINGUÍSTICA EM LÍNGUA PORTUGUESA

Fala Muito bem

Compreensão Muito bem

Leitura Muito bem

Escrita Muito bem

Ao descrever o uso funcional linguístico de seus familiares, E2 destaca que seu pai e avós paternos falam somente em japonês, enquanto sua mãe, avós maternos e irmãos comunicam-se somente em português, como explicita a tabela a seguir:

Quadro 32 – Uso funcional linguístico dos familiares de E2

USO FUNCIONAL LINGUÍSTICO PELOS FAMILIARES: AMBIENTE FAMILIAR

Sujeitos inseridos no domínio familiar

Língua mais usada por esses sujeitos

Língua menos usada por esses sujeitos77

Pai Japonês X

Mãe Português X

Avó paterna Japonês X

Avô paterno Japonês X

Avó materna Português X

Avô materno Português X

Irmãos Português X

Em relação ao uso funcional linguístico de E2 no ambiente familiar podemos dizer que esse informante usa apenas a língua portuguesa nesse domínio, mesmo possuindo parentes que

77 Destacamos que, quando houver um X nessa coluna, significa que não há uma língua menos usada pelo sujeito em questão, e sim apenas uma língua que esse indivíduo utiliza, constante na coluna ‘língua mais usada por esses sujeitos’.

somente falam a língua japonesa. Contudo, a maioria dos familiares que usam somente o japonês não fazem parte do convívio familiar atual de E2, salvo o pai que fala somente em japonês, mas faz parte do domínio familiar desse informante. Com base nos dados informados no questionário e nas conversas na observação de campo, compreendemos que o pai de E2 somente se comunica com ele em japonês e, esse informante se comunica, na maneira do possível, em português com seu pai, mesmo que o faça de maneira diferente, já que seu progenitor não domina essa língua. Isso somente é possível porque E2, apesar de declarar que não compreende nada de japonês, entende um pouco dessa língua possuindo o que é necessário para se comunicar, nesse contexto, com seu pai. Como demonstra Gardenal (2008) em seu trabalho, a alternância de códigos é uma característica marcante das comunidades nikkeis no Brasil onde seus membros desenvolvem, frente às dificuldades linguístico-comunicativas, uma maneira de lograr a comunicação, mesmo em línguas diferentes: no caso o português e o japonês. O gráfico que segue ilustra o uso funcional linguístico do referido informante no domínio familiar, segundo os dados declarados pelo mesmo:

Gráfico 49 – Uso funcional linguístico de E2: domínio familiar

Apesar de declarar que não fala ‘nada’ de japonês, ao analisarmos as respostas de E2 sobre seu uso funcional linguístico nos domínios social, profissional, específico da Associação Nikkeis e escolar, constatamos que esse informante também usa o japonês em alguns domínios: na Associação Nikkei, às vezes, com os colegas de grupos que participa e no domínio escolar com o professor. Uma possível explicação para E2 ter declarado no questionário que não falava ‘nada’ de japonês pode ser a ‘modéstia’ característica da cultura japonesa: os japoneses, de

0 0,5 1 1,5 2 2,5 3

Pai Mãe Avô materno Avó materna

Uso funcional linguístico de E2 -

domínio familiar

característica sociolinguística da língua japonesa. Para exemplificar, em japonês, quando queremos dizer que ‘somos habilidosos em algo’ não podemos usar o adjetivo habilidoso, nem para a primeira pessoa do singular ‘eu’ (watashi – 私), nem para falar de nossos familiares. Nesse caso, ao invés de usar o adjetivo em questão, a saber, a palavra “jouzu (上手)”, temos que dizer “meu forte é....” usando a palavra “forte” (tokui – 得意).

Outra coisa chamou nossa atenção na análise do uso funcional linguístico de E2: esse sujeito também declarou usar outra língua além do japonês e do português em alguns domínios comunicativos como no social e específico da Associação Nikkei:

Gráfico 50 – Uso funcional linguístico de E2: domínio social

0 1 2 3

Vizinhos Amigos

Uso funcional linguístico de E2:

domínio social

Gráfico 51 – Uso funcional linguístico de TM3: domínio familiar

Gráfico 52 – Uso funcional linguístico de E2: domínio específico de uso na Associação Nikkei

Gráfico 53 – Uso funcional linguístico de E2: domínio escolar

0 1 2 3

Colegas de trabalho Chefe do trabalho

Uso funcional linguístico de E2:

domímio profissional

Português Japonês Outra língua

0 1 2 3

Funcionários Associados Colegas de grupos que participa

Atividades festivas da Associação

Uso funcional linguístico de E2:

domínio específico de uso na

Associação Nikkei

Português Japonês Outra língua

0 0,5 1 1,5 2 2,5 3

Colegas da escola Funcionários da escola

Professor

Uso funcional linguístico de E2:

domínio escolar

Gráfico 54 – Uso funcional linguístico de E2 em todos os domínios investigados

Apesar de percebermos a dominância do uso da língua portuguesa (89,8%) na análise do uso funcional linguístico de E2 nos domínios propostos, também identificamos o uso do japonês (3,2%) e de outra língua (7%) – não especificada pelo informante – em alguns ambientes comunicativos. Isso atesta novamente o caráter dinâmico da situação bilíngue e os diferentes estágios de bilingualidade do falante nos diferentes contextos comunicativos que ele se insere.