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INFRA-ESTRUTURA E SERVIÇOS BÁSICOS DA UNIDADE PRISIONAL

No documento Saúde mental no sistema prisional (páginas 92-97)

PARTE I DISSERTAÇÃO 27 1 Introdução

5. RESULTADOS E ANÁLISE

5.3 INFRA-ESTRUTURA E SERVIÇOS BÁSICOS DA UNIDADE PRISIONAL

5.3.1 Estrutura física, vagas e lotação

Na maioria das unidades visitadas, as informações preliminares foram fornecidas por um funcionário. Em três unidades (PS1, UPA4 e PT2) observou-se variação na informação do número de vagas - a informação preliminar do funcionário foi de um número menor de vagas do informado pelo administrador.

De 14 unidades visitadas, a maioria (oito) localiza-se em área urbana, enquanto seis localizam-se em área rural. De 12 unidades acessadas (Tabela 6), apenas uma não está superlotadas, e está com o número exato de detentos para a quantidade de vagas. Destas, onze atendem o sexo masculino, e cinco o sexo feminino.

Tabela 6 – Vagas, lotação e idade das unidades prisionais

*Na data de visitação, de acordo com informação do administrador ou funcionário de confiança

&

Informação fornecida por funcionário (não administrador) #

Dado não fornecido

Unidade Vagas* Lotação* Det./cela* Idade do prédio*

UE1 72 200 1 - 32 Aprox. 80 anos

UPA4 84 135 7 - 8 02 anos PT1 366 366 6 06 anos PS1 641 900 7 - 8 Mais de 20 anos PS6 104 301 6 - 8 Aprox. 40 anos PS2 66 135 # Aprox. 80 anos PT2 1.058 1.274 4 - 6 07 anos UPA3 12 27 6 - 7 12 anos PT3 760 1035 # 38 anos PS3 135 329 > 6 37 anos

UPA1& 78 87 > 8 10 meses UPA2& 28 109 3 - 6 07 anos

Total 3404 4898 - -

As demais unidades, o número de detentos por cela variou de 32 indivíduos numa cela, sendo que a média simples de detentos por cela ficou entre 5,4 a 9,7 indivíduos (Tabela 6). Apenas uma das unidades há disponibilidade de celas individuais, como preconiza a LEP, para cerca de 20% do total de detentos daquela unidade.

A média de idade dos prédios ficou em 27,5 anos. Observa-se, entretanto, uma grande variação – enquanto há estruturas construídas há cerca de 80 anos, outras unidades pouco mais de um ano da inauguração.

De modo geral, os presídios encontram-se em péssimo estado de conservação, são feios, sujos, escuros, com forte odor fétido, e um espaço mínimo para a acomodação do detento. Em unidades superlotadas observaram-se diversas formas de adaptações, desde a acomodação de diversos indivíduos numa cela, sendo que em uma unidade, os detentos chegam a dividir a “cama” em dois ou até três indivíduos. Um presídio, que já chegou a comportar quase quatro vezes sua capacidade, na data da visita estava num número quase três vezes maior da capacidade (PS6). O administrador relatou que os detentos precisam levar seu colchão para dormir no pátio por falta de espaço físico, e o teto de grade é coberto com uma lona à noite para evitar chuva.

“Aqui a gente tem infiltração nas celas. São dois pisos, então a parte de

baixo tem bastante infiltração, a gente tem que a toda hora fazer manutenção (...). Se torna até insalubre, o local. (...) Pros agentes também, porque a gente acaba vivendo nesse meio. Se é insalubre pros presos, é insalubre pros funcionários também.” (PS3)

É comum a realização de reformas quando o espaço físico da unidade permite, à custa da segurança do prédio. Duas unidades prisionais avançadas visitadas (UPA2 e UPA3) foram adaptadas da cadeia da delegacia do município. Numa delas o administrador vem realizando reformas constantemente na estrutura visando ampliação do espaço e acomodação dos detentos. Outras unidades (PS1, PS2 e PS3 e PS6) vêm passando por diversas reformas, realizadas em administrações anteriores. Em duas destas unidades (PS1 e PS3), há comprometimento da arquitetura e, da mesma forma, da segurança e da salubridade da própria unidade.

“Com todos os problemas estruturais do prédio – um prédio dessa

aquela fuga no ano passado (...) a segunda vez foi tentativa, no mesmo local. (...) É de se esperar mais problemas pela estrutura que tem.” (PS6)

Também foi observada, em algumas unidades, uma atitude de defesa por parte do administrador em relação à situação de superlotação de sua unidade. Tais administradores tendem a manifestar racionalizações e conformação com a situação de sua unidade, negando problemas relacionados à superlotação. Porém, de modo geral, foi observado consenso entre os administradores de que a superlotação e infra-estrutura precária geram dificuldades em todos os setores da unidade.

5.3.2 Manutenção, limpeza, e salubridade da unidade

As unidades prisionais, por se tratarem, na sua maioria, de prédios antigos, recebendo detentos acima de sua capacidade, muitas vezes acabam tendo de passar por reformas pouco planejadas para um pequeno espaço físico. Numa das unidades (PS6), havia um alojamento desativado, pois o teto havia cedido, causando infiltrações e problemas na eletricidade. As detentas tiveram de ser deslocadas para o local reservado para o berçário.

Em todas as unidades prisionais visitadas, são os próprios detentos – geralmente presos na condição de “regalias”5 os responsáveis pela manutenção e reparo das estruturas básicas do prédio, em serviços tais como reformas simples, reparos elétricos, hidráulicos e sanitários. Podem ocorrer situações em que o detento “perde” a condição de “regalia”. Em algumas situações, é comum a unidade recorrer ao DEAP para realização de melhorias na unidade, ou mesmo utilizar de recursos próprios:

“Toda manutenção limpeza, ou se não toda, mas 90% é feita pelos

próprios detentos. Limpeza, manutenção, poda de árvores, corta grama, troca lâmpada fiação elétrica, construção de novos espaços físicos... praticamente 95% são eles que fazem.(...) Eles mesmo que vem construindo a própria penitenciaria, isso se torna um perigo se não estiver uma boa supervisão.”

(PT3)

5

“Presos regalias”: são os detentos que demonstram bom comportamento à equipe de segurança, ganham sua confiança, e são escalados para realização de serviços gerais dentro da unidade, geralmente sem vínculo empregatício formal.

Em geral, estes detentos “regalias” não recebem salário, pois não se considera atividade laboral. Apenas na unidade terceirizada os detentos que realizam as atividades de manutenção e reparo das unidades recebem os mesmos benefícios (salário e redução da pena) dos que estão vinculados à outras atividades laborais (mais detalhes no item 5.5.1).

Num presídio, o administrador queixou-se de dificuldades na manutenção tendo em vista a superlotação e idade do prédio, e relaciona a problemas de saúde nos detentos:

“Por exemplo, se for ver a rede de esgoto, é bastante frágil. Um prédio

que é construído para abrigar 70 homens, 80 homens internos, nós temos lá dentro 250. Isso acarreta uma série de problemas no esgoto... transborda, aí não se consegue fazer a limpeza direito... Isso aí com o tempo você sabe que pode complicar. Então nós temos as doenças sazonais: nessa época, doenças de pele, furúnculo. No inverno, as doenças respiratórias.” (PS6)

A limpeza das unidades prisionais, de modo geral, ocorre da mesma forma: as áreas comuns são realizadas pelos “regalias”, sendo as celas de responsabilidades dos seus “moradores”. Em duas unidades (UE1 e PT1), há um funcionário responsável pela coordenação dos detentos que trabalham na limpeza das áreas comuns da unidade.

Os próprios administradores relacionam a falta de higiene das celas com questões culturais do próprio detento, relacionando também, a falta de higiene com doenças dermatológicas6:

“Por mais que prezamos pela higiene e limpeza e conservação do

ambiente sempre haverá (...) micose, escabioso, piolho... (...) É uma realidade que, infelizmente, por mais que combatamos, por mais que conscientizamos a respeito da higiene pessoal, isso é uma coisa pessoal deles, eu não vou lá dar banho no preso (risos)” (UPA4)

Um participante administrador acredita em um caráter educativo e disciplinador da detenção neste aspecto:

“Algumas tem que ser chamada atenção porque já vem com uma cultura

delas próprias, né..(...)) Então daí tu tem que chegar, conversar, dizer que a higiene pessoal faz parte do disciplinamento dentro de uma unidade, que isso é

dever dela enquanto reeducanda, que não é uma opção dela, que na rua ela pode não tomar banho, mas aqui ela tem.” (PS2)

A salubridade do ambiente prisional está vinculada às condições de infra-estrutura e lotação da unidade prisional. Se por um lado, há esta percepção da cultura dos detentos em negligenciar sua própria higiene, não se percebeu a mesma situação em todas unidades – aquelas poucas com melhor infra-estrutura e lotação mais próxima do adequado, os detentos mostram-se em melhores condições de higiene, aparência e conduta, e suas celas também estão em melhores condições de higiene. Portanto, se percebe nestes discursos uma tentativa de culpar o detento pelas condições desumanas em que são expostos. Discurso este, que é prejudicial inclusive para o próprio agente prisional, que acaba por coabitar no mesmo ambiente insalubre7.

5.3.3 Alimentação dos detentos

Com exceção da unidade prisional terceirizada, o serviço de dietética do Departamento de Administração Prisional (DEAP) é responsável pela elaboração do cardápio nas prisões catarinenses. Esse cardápio é elaborado por profissionais nutricionistas, e enviados periodicamente às unidades prisionais, levando em consideração o número de detentos, buscando uma dieta balanceada.

Apenas na unidade especial há refeitório específico para os detentos. Em todas as demais unidades visitadas, o alimento preparado é colocado em marmitas, e levadas até as celas, onde lá mesmo os detentos fazem suas refeições. Dois administradores demonstraram preocupação maior em relação em prover alimentação adequada e de qualidade aos detentos. Um deles gostaria de uma nutricionista em sua própria unidade para elaborar dietas específicas para os detentos com doenças crônicas e em uso de “medicação pesada”. Em outras duas unidades, o administrador revelou preocupação quanto ao aprovisionamento de comida aos detentos face ao seu número crescente, pois, sem um número fixo de detentos, não há uma previsão de qual a quantidade de alimentos que deve preparar a cada dia.

Em todas as unidades prisionais, os próprios detentos que são responsáveis pela preparação dos alimentos. Numa das unidades, a

preparação é feita por outra unidade maior. Em todas as unidades visitadas, os funcionários podem optar por comer os mesmos alimentos preparados pelos próprios detentos, o que pode funcionar como um controle interno da qualidade do alimento dos detentos. Em geral, os

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