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5.2 Pesquisa junto aos adolescentes no núcleo do PLAM no Bairro Jacarecanga

5.2.3 Do ato Infracional e Internação

O adolescente em conflito com a lei, embora enquadrado, pela circunstância da idade, não tem sua conduta considerada como crime ou contravenção, mas, na linguagem do legislador, este ato é denominado como ato infracional.

O ECA, em seu artigo 103, define como ato infracional a conduta prevista em lei como crime ou contravenção penal praticado por adolescentes.

No conexo à responsabilização de adolescentes em conflito com a lei, o ECA prevê o cumprimento de medidas sócio-educativas, as quais são aplicadas pela autoridade judiciária competente, considerando a gravidade da infração e/ou sua reiteração, a

disponibilidade de programas e serviços para o cumprimento das medidas em nível municipal, estadual e regional, e a capacidade dos autores em cumpri-las.

Dentre as medidas sócio-educativas, a única que cessa a liberdade do adolescente é a internação. A internação constitui-se em medida privativa da liberdade, sujeita aos princípios da brevidade, excepcionalidade e respeito à condição peculiar de pessoa em desenvolvimento. No rol das medidas sócio-educativas prescritas pelo ECA, a internação é a que mais apresenta aspectos punitivos ou repressivos por sua própria natureza.

5.2.3.1 Cometimento do ato infracional.

Objetivamos saber o que influenciava aqueles jovens a cometerem atos infracionais, mais notadamente se isso estava relacionado à família, amigos, estrutura social, falta de religião, impunidade, legislação ou outros fatores.

Os pesquisados no percentual de 64%, nos descreveram que foram induzidos por seus amigos; 3% por falta de religião; 2% por ausência de apoio do governo; 1% por impunidade; 6% asseveraram que o direcionamento partiu de familiares; 5% não responderam; enquanto que 19% citaram outros fatores não contemplados no quesito. Perguntados, tais como:

Por querer ser o que nunca fui; Roupa de marca; porque quis (9); tenho inimigo (3); não fiz nada estava sentado, aí, a polícia chegou e encontrou maconha perto de mim (1) ; a mãe não pode me dar as coisas (1); discussão mesmo (1); queria uma mobilete (1); Para comprar alguma coisa para meu filho (1); momento de fraqueza (2).

O adolescente, em sua sede de querer pertencer a um grupo, acaba por assimilar padrões de comportamento questionáveis, uma vez que, para ingressar, tem que passar por rituais próprios de acordo com o líder do grupo.

Freitas (2002) analisa o grupo de amigos como um espaço de experimentação, onde todos se entendem e se alto valorizam. Por isso, este é um “lugar” de grande importância para o adolescente, e é comum que o uso das drogas comece como uma forma de participação no grupo.

Em alguns casos, o uso de drogas se perpetua no grupo como sinônimo de status, sucesso e rebeldia, sendo, essa prática, entendida pelo jovem como a melhor maneira dele obter destaque e pertencer àquele círculo social. O uso das drogas aparece como experimentação de novas atividades e situações do grupo; a onipotência oferece a sensação de que nada de errado acontecerá, expondo a perigo os integrantes da aliança.

Gráfico 13 - Influência para cometimento de ato infracional 64% 3% 1% 5% 19% 2% 6%

Foram induzidos por amigos O direcionamento partiu de familiares Falta de religião Falta de apoio do governo

Impunidade Outros fatores

Não respondeu

5.2.3.2 Do tipo do ato infracional

Ninguém nasce criança ou adolescente em conflito com a lei. Para se chegar à delinquência, passa-se pelo abandono e começa-se pelos pequenos furtos, furtos qualificados, numa escalada para o roubo, o tóxico, o homicídio e o latrocínio. Se o jovem delinqüente vive numa sociedade profundamente desumana e injusta, é preciso acusar e mudar o modelo econômico e social, concentrador de rendas, estimulador de privilégios, responsável pelo verdadeiro genocídio social perpetrado contra a criança e o adolescente marginalizado, subnutrido, doente e carente de educação e formação profissional. Se os nossos púberes estão transformando-se em delinquentes, todos nós temos nossa parcela de culpa pela nossa omissão e nosso comodismo (CHAVES, 1997).

Quanto ao ato infracional praticado, totalizamos 162 (cento e sessenta e dois). Concluímos, que entre os entrevistados, tivemos adolescentes autores de mais de um ato infracional. Os atos mais exercidos por esses jovens foram roubo - 82 (oitenta e dois), porte ilegal de arma de fogo - 31 (trinta e um), e furto - 25 (vinte e cinco).

Os atos contra o patrimônio apresentam-se em evidência, totalizando, no caso do roubo e do furto, 107 (cento e sete), enquanto que as ações contra a pessoa totalizaram-se em 17 (dezessete) casos, sendo, 8 (oito) homicídios e 9 (nove) lesões corporais.

No que se refere ao ato infracional de tráfico de entorpecente, apenas 7 (sete) dos assistidos já exerceram esta prática delituosa.

Gráfico 14 - Atos infracionais praticados

5.2.3.3 Da Internação

A medida sócio-educativa de internação restringe o convívio do adolescente com a sociedade pelo período máximo de três anos e é aplicada aos atos infracionais cometidos mediante grave ameaça ou violência contra a pessoa, descumprimento de medida anteriormente imposta, ou reincidência de outras infrações graves.

Quando abordamos a questão, mais da metade dos entrevistados responderam afirmativamente, ou seja, 51% dos entrevistados já cumpriram medida sócio-educativa de internação, enquanto que 49% informaram que ainda não tinham a experiência da sistematização.

Gráfico 15 - Da internação

Procuramos, na conjuntura, identificar o número de vezes que esses que responderam de forma afirmativa estiveram sob o regime de internação, quando verificamos

51% 49% Sim Não 50, 61% 19, 14% 15, 43% 4, 94% 5, 56% 4, 32%

Roubo Porte ilegal de arma de fogo

Furto Homicídio

Lesão Corporal Tráfico

Fonte: Dados dos entrevistados Fonte: Dados dos entrevistados

que 55% estiveram sob o regime da internação uma vez, 29% duas vezes, e 16% tiveram a experiência em torno de três a cinco vezes.

Gráfico 16 - Número de vezes sob regime de sistematização

55% 29%

16%

Uma vez Duas Vezes T rês a cinco vezes

Os motivos dessas internações foram diversos, prevalecendo os atos infracionais praticados contra o patrimônio (49%), acompanhados pelo porte ilegal de arma de fogo (16%), tráfico de entorpecentes (2%), outros (33%).

Gráfico 17 - Tipicidade do Ato Infracional

49%

16% 2%

33%

Atos infracionais praticados contra o patrimônio Porte ilegal de arma de fogo

T ráfigo de Entorpecente Outros

Acompanhando a linha de raciocínio do quesito, alcançamos que, dos jovens pesquisados e que tiveram a experiência da sistematização, 41(quarenta e um) se encontravam entre os 15 e 17 (quinze e dezessete) anos, enquanto que 10 (dez) tinham entre 13 (treze) e 14 (quatorze) anos.

Fonte: Dados dos entrevistados Fonte: Dados dos entrevistados

Percebemos durante as entrevistas que os jovens inseridos na faixa etária de 15 (quinze) aos 17 (dezessete) anos de idade são os que mais buscam se libertar do aconchego familiar. O que nos leva a crer, ser a ausência da família um facilitador para a inserção do jovem em ações delitivas.