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Infraestrutura Nacional de Dados Espaciais no Brasil (INDE)

2.6 DADOS CIENTÍFICOS NO BRASIL

2.6.3 Infraestrutura Nacional de Dados Espaciais no Brasil (INDE)

Uma infraestrutura de dados espaciais é descrita como um conjunto de tecnologias, políticas e arranjos institucionais que facilitam a disponibilidade e o acesso aos dados espaciais. Ela contribui para o estabelecimento de padrões, bem como a integração de informações geoespaciais.

A informação geoespacial (IG), por sua vez, é definida pela INDE (2017) como aquela que

associa a cada entidade ou fenômeno uma localização na Terra, traduzida por sistema geodésico de referência, podendo ser derivado das tecnologias de levantamento, associadas a sistemas globais de posicionamento apoiados por satélites, bem como de mapeamento ou de sensoriamento remoto.

Augusto (2010) descreve a informação geoespacial como sensível e de extrema importância para áreas estratégicas tais como, o monitoramento ambiental, serviços de aviso de fenômenos da natureza (tornados, enchentes), proteção de florestas, previsão do tempo, monitoramento de mudanças climáticas dentre outros. Além disso, a autora enfatiza que esse tipo de informação na maioria dos casos é produzida, mantida e adquirida por organizações públicas em todas as esferas do governo.

Em âmbito mundial, no ano de 1994, Bill Clinton, por meio da Ordem Executiva 12906, criou a National Spatial Data Infrastructure, ato legal que reconheceu a importância da informação geoespacial ao afirmar que ela é “crítica para promover o desenvolvimento econômico, melhorar a nossa gestão de recursos naturais e proteger o meio ambiente”.

Ainda em âmbito mundial, em 2002 tem início a preparação da Directiva INSPIRE50 pela Comunidade Europeia. Na ocasião foram criados Grupos Temáticos para a) dados de referência e metadados, b) arquitetura e normas, c) políticas de dados e assuntos legais, d) estratégias de implementação e financiamento e e) análises de impacto.

A Diretiva entrou em vigor cinco anos depois, em 15 de maio de 2007 sob a designação Diretiva 2007/2/EC do Parlamento Europeu e do Conselho e 14 de março de 2007, publicada no Jornal Oficial das Comunidades, em 25 de abril de 2007, que estabelece a criação da Infraestrutura Europeia de Informação Geográfica. Esta Diretiva pretende promover a disponibilização de informação de natureza espacial, utilizável na formulação, implementação e avaliação das políticas ambientais da União Europeia. Percebe-se assim, a criação de um marco legal para tratar a informação geoespacial em âmbito mundial.

No Brasil, a INDE é criada por meio do Decreto nº 6.666 de 27 de novembro de 2008 que “institui, no âmbito do Poder Executivo federal, a Infraestrutura Nacional de Dados Espaciais - INDE, e dá outras providências”.

Dentre os objetivos da INDE, o decreto estabelece:

50 Trata-se de uma diretiva enquadradora que define as condições globais para a criação da Infraestrutura Europeia

de Informação Geográfica e dá a possibilidade aos cidadãos europeus de facilmente encontrarem, através da Internet, informação útil em termos de Ambiente e outras temáticas, permitindo também que as autoridades públicas beneficiem mais facilmente de informação produzida por outras autoridades públicas.

I - promover o adequado ordenamento na geração, no armazenamento, no acesso, no compartilhamento, na disseminação e no uso dos dados geoespaciais de origem federal, estadual, distrital e municipal, em proveito do desenvolvimento do País;

II - promover a utilização, na produção dos dados geoespaciais pelos órgãos públicos das esferas federal, estadual, distrital e municipal, dos padrões e normas homologados pela Comissão Nacional de Cartografia (CONCAR); e III - evitar a duplicidade de ações e o desperdício de recursos na obtenção de dados geoespaciais pelos órgãos da administração pública, por meio da divulgação dos metadados relativos a esses dados disponíveis nas entidades e nos órgãos públicos das esferas federal, estadual, distrital e municipal.

Para atingir os objetivos dispostos, o próprio decreto já estabeleceu no §1o que seria “implantado o Diretório Brasileiro de Dados Geoespaciais – DBDG, que deverá ter no Portal Brasileiro de Dados Geoespaciais, denominado “Sistema de Informações Geográficas do Brasil – SIG Brasil”, o portal principal para o acesso aos dados, seus metadados e serviços relacionados”.

No Brasil, a INDE nasce com o propósito de:

catalogar, integrar e harmonizar dados geoespaciais existentes nas instituições do governo brasileiro, produtoras e mantenedoras desse tipo de dado, de maneira que possam ser facilmente localizados, explorados e acessados para os mais diversos usos, por qualquer cliente que tenha acesso à Internet. Os dados geoespaciais serão catalogados através dos seus respectivos metadados, publicados pelos produtores/mantenedores desses dados (INDE, 2017).

As instituições brasileiras envolvidas na INDE são o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e a Secretaria de Planejamento e Investimentos Estratégicos do Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão. A Gestão da INDE, por sua vez, é realizada por meio de um Conselho Superior, um Conselho Consultivo, um Comitê Técnico e Grupos de Trabalho. Atualmente o Portal Brasileiro de Dados Espaciais já disponibiliza para consulta um conjunto de normas referentes a: a) padronização de marcos geodésicos, b) caracterização do Sistema Geodésico Brasileiro, c) parâmetros para transformação de Sistemas Geodésicos, d) recomendações para levantamentos relativos estáticos, e) normas técnicas da cartografia nacional, f) perfil de metadados Geoespaciais do e Brasil – (Perfil MGB) e, g) e-PING padrões de interoperabilidade de governo eletrônico.

A consulta à literatura internacional revela que as iniciativas para tratar a informação geoespacial iniciam na década de 1990. No Brasil, essas iniciativas ganham corpo na década de 2000, e a criação de um marco legal para o país exigiu a articulação de diferentes atores e instituições, em diferentes níveis governamentais. A partir de 2008, por meio da publicação do Decreto da INDE, percebe-se a criação de uma legislação específica para a área, que culminou

com a padronização de marcos geodésicos, dentre outras atividades, que enfim culminaram com a criação de padrões de interoperabilidade para esse tipo de informação.

No âmbito da informação sobre Ciências Espaciais em nível mundial, merece ser comentada a observação de Borgman (2015) de que a área segue o modelo OAIS, fato que certamente contribuiu para o amadurecimento da área no Brasil, culminando com a publicação da INDE.