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3.4 Prevenção de Resíduo Sólido

3.4.1 Iniciativas de prevenção do resíduo plástico

O gerenciamento de resíduo sólido através de aterros foi uma prática suficiente por grande parte da história das comunidades, em função da diminuta escala e da pequena fração inerte presente neste resíduo sólido. A inserção do plástico na cadeia produtiva e o crescimento exponencial da presença deste material em relação à fração orgânica no RS tornou o tradicional modo de gerenciamento insustentável (JAMBECK, 2015). Este novo cuidado com o RSU exige uma mudança de paradigma. Em face a esta mudança, diversas são as iniciativas ao redor do globo com o intuito de prevenir o resíduo plástico e seus impactos ambientais.

Um exemplo em âmbito global, a MARPOL - International Convention for

the Prevention of Pollution from Ships, é uma convenção internacional com o propósito

de prevenir a poluição causada por substâncias danosas oriundas de navios. Adotada em 1973, a MARPOL traz entre seus objetivos a prevenção da poluição marinha por plásticos e microplásticos oriundos de transporte por navios (CCA IMO, 2018).

Com objetivo semelhante, a Organização das Nações Unidas – ONU lançou um programa denominado Clean Seas – Mares Limpos no Brasil, o qual foi aderido no país alguns meses após o lançamento em 2017. A campanha objetiva a sensibilização de governos, setor privado e sociedade civil a tomar iniciativas para a prevenção do resíduo plástico. Entre as ações, há foco no plástico descartável e no resíduo plástico no ambiente marinho, com desenvolvimento de parcerias e contribuições durante cinco anos. Esta campanha contribui para a conquista dos objetivos traçados pela “Parceria Global para conter o Lixo Marinho” lançado no Rio+20, em 2012, esta parceria global veio apoiar a “Estratégia Honolulu”, desenvolvida em 2011 para promover esforços globais para lidarem com o resíduo marinho e seus impactos ecológicos, econômicos e na saúde humana (CLEAN SEAS, 2018).

No dia mundial do meio ambiente de 2018, a poluição plástica também foi tema das discussões e campanhas da ONU, trazendo à tona a problemática, foram feitas divulgações com a hashtag “beatplasticpollution” – no Brasil: “AcabeComAPoluiçãoPlástica”, nas redes sociais para buscar o engajamento da sociedade civil no tema (NAÇÕES UNIDAS, 2018).

Na América do Norte, o estado da Califórnia nos EUA é pioneiro nas iniciativas de prevenção. Foi o primeiro a proibir o uso de sacolas plásticas, e, no ano de 2014 houve encaminhamento para proibição de venda de água em garrafas plásticas de 600 ml ou menos. Mais recentemente, algumas cidades do estado proibiram a venda de canudos plásticos, medida que foi considerada polêmica, mas já influencia países como Canadá e Reino Unido a fazerem o mesmo (ANDA, 2018). No final de 2015 o então presidente Barack Obama sancionou uma lei de proibição dos microplásticos em cosméticos e produtos de higiene pessoal, que deve entrar em vigor gradativamente no país. No início de 2018 o Canadá veio na mesma direção e consolidou a “SOR/2017-111” que regulamenta o uso de microplásticos nos produtos de higiene pessoal (CANADA, 2017).

Na Ásia, alguns países como a Índia pretendem eliminar o uso de plásticos descartáveis até o ano de 2022 (BARBOSA, 2018). A China, até então considerada o “Depósito de lixo do planeta”, proibiu no início do ano de 2018 a compra de alguns tipos de resíduo, especialmente as aparas e sucatas plásticas, medida que pode influenciar a redução do consumo e descarte do resíduo pelos países exportadores (FONTDEGLORIA, 2018). Na África, o Quênia também proibiu a produção, uso e venda de sacolas plásticas, trazendo à tona uma das legislações mais restritivas para o produto (THE GUARDIAN, 2017). Ruanda e África do Sul também possuem restrições para este produto. Na Oceania, a Austrália tem legislações regionais tratando de proibição de sacolas plásticas e incentivo ao uso de ecobags (READFEARN, 2018).

Os países europeus colecionam iniciativas audaciosas no intuito da prevenção de resíduo plástico. Em setembro de 2016, a França proibiu, através do “Décret n° 2016-1170 du 30 août 2016”, a venda de copos, talheres, pratos e outros utensílios descartáveis, podendo ser substituídos por produtos constituídos predominantemente de material biodegradável de origem vegetal. Esta proibição veio

em complemento à total proibição de sacolas plásticas instituída no mesmo ano (BARBOSA, 2016). Em meados do ano de 2017 o Reino Unido proibiu o uso de microplásticos em produtos cosméticos e de higiene pessoal, seguidos por França e Suécia (CARRINGTON, 2018). Iniciativas da Fundação Ellen MacArthur, no Reino Unido, tem ganhado atenção por promover incentivo de ações visando ferramentas da economia circular para os plásticos, projeto denominado “The new plastics

economy” (NEW PLASTICS ECONOMY, 2018).

Outra iniciativa de prevenção de resíduo plástico relevante para esta pesquisa, trata-se do denominado “Plastic Zero – avoiding plastics as waste”. O objetivo do Plastic Zero foi promover a redução do uso banal de plásticos e estimular atividades de prevenção e reciclagem, com participação de três cidades europeias, uma universidade e três empresas de gerenciamento de resíduo sólido. O projeto buscou dados em campo sobre as tecnologias disponíveis e manejos utilizados para resíduo plástico, posteriormente, aplicou soluções iterativas e participativas, utilizando algumas vezes a avaliação do ciclo de vida, e, finalmente, mapeando os processos para que fossem passíveis de reprodução em outros locais (PLASTIC ZERO, 2018).

De maneira destacada, a iniciativa da Alemanha vai ao encontro do objetivo de prevenir e reduzir o resíduo plástico e outros, provenientes de embalagens de bebidas. A regulamentação das embalagens no país tem histórico desde 1991, quando, após a entrada de garrafas PET reutilizáveis no mercado, o governo estabeleceu a cota de 72% de embalagens para que retornassem ao sistema produtivo ou de reciclagem. Esta cota não foi atingida, mas a legislação continuou evoluindo, com o estabelecimento do “PETCYCLE” em 1999, que realizava o pagamento ao consumidor pelo retorno da garrafa PET (SNELL; NASSOUR; NELLES, 2017). Com a evolução foi implantado o “Deustsche Pfandsystem GmbH -DPG”, um sistema de retorno de garrafas de vidro, garrafas PET e frascos de alumínio, que gratifica monetariamente o consumidor no ato do retorno. Com campanhas como “Pfand gehört daneben”, caracteriza a compra da bebida como um “penhor” da embalagem que será quitado com a devolução da mesma (PFAND-GEHOERT- DANEBEN, 2018). Este sistema foi implantado no ano de 2005, com estruturação legal e organizacional, impondo a restituição monetária pelas empresas de bebidas para os consumidores. As embalagens de bebidas de 0,1 até 3 litros estão incluídas nesta obrigatoriedade, com exceção de alguns tipos, como bebidas infantis e bebidas

derivadas de leite (ŽMAK; HARTMANN, 2017). Para viabilização deste sistema, são instaladas máquinas automáticas em diversos locais, que recolhem a embalagem e emitem um voucher que pode ser descontado em dinheiro nos locais especificados (DPG-PFANDSYSTEM, 2018). Esta estruturação demonstrou resultados significativos no retorno de embalagens, com cerca de 96% das garrafas PET destinadas para reciclagem ou reuso. A Figura 18 demonstra a evolução da coleta de garrafas PET desde 1998, com previsões para 2020 na Alemanha.

Figura 18: Evolução da coleta de garrafas PET na Alemanha (em 1000 toneladas)

Fonte: Snell, Nassour e Nelles (2017)

Em 27 de março de 2019 o Parlamento Europeu aprovou o TA/2019/0305, um documento que compila propostas para “Redução do impacto de determinados produtos de plástico no ambiente”, unificando e potencializando as iniciativas existentes Esta regulamentação impõe aos Estados-Membros que regulamentem a proibição de plásticos descartáveis até o ano de 2021. O regulamento aponta principais produtos a serem proibidos ou substituídos por material reciclável, inclusive, orienta para metas que previnam a utilização de partes plásticas de materiais descartáveis de vidro ou metais, como por exemplo, garrafas de vidro descartáveis que contenham tampas de plástico. Em todo o documento é citada a priorização da prevenção de resíduos segundo a hierarquia de gestão de resíduo sólido estabelecida na Diretiva 2008/98/CE do Parlamento Europeu e do Conselho (PARLAMENTO

EUROPEU, 2008), assim como a responsabilidade da União Europeia em promover a prevenção em seu território. Um dos principais impactos que justificam a aprovação do documento é a prevalência dos materiais plásticos nos resíduos oceânicos, inclusive os artigos de pesca são discutidos. São determinadas ainda algumas metas para que os materiais plásticos usados retornem à cadeia produtiva através de reuso ou reciclagem. Diversos produtos específicos são citados na norma, com indicações de alternativas, e, lista de produtos plásticos indicados à prevenção. Além disso, a intensão da norma é que todo o processo siga princípios da Economia Circular (EUROPEAN PARLIAMENT, 2019).

No Brasil, algumas iniciativas começam a ganhar espaço. O município de São Paulo, com tentativas e percalços desde o ano de 2011, regulamentou a proibição da venda de sacolas plásticas (RÉGIS et. al., 2015). No Rio de Janeiro, foi criada a lei que visa proibir o uso de canudos plásticos em estabelecimentos alimentícios, sancionada em julho de 2018 (ESTADÃO, 2018). Considerando os projetos de lei, alguns municípios brasileiros discutem sanções ao uso de canudos plásticos descartáveis (TRIGUEIRO, 2018). Recentemente o Estado de São Paulo sancionou uma lei que proíbe o fornecimento de canudos plásticos por estabelecimentos comerciais aos seus clientes, em todos os municípios do estado (SÃO PAULO, 2019). De maneira mais abrangente, dois projetos de lei seguem tramitando para aprovação, um deles, o Projeto de Lei nº 6528/16, visa a proibição da manipulação, a fabricação, a importação e a comercialização de produtos de higiene pessoal, cosméticos e perfumaria que contenham microesferas de plástico, no território brasileiro (CÂMARA DOS DEPUTADOS, 2018). Outra proposta bastante audaz é o Projeto de Lei do Senado nº 92/2018, que dispõe sobre a obrigatoriedade da utilização de materiais biodegradáveis na composição de utensílios descartáveis destinados ao acondicionamento e ao manejo de alimentos prontos para o consumo, proibindo assim os polímeros convencionais para estes usos (SENADO FEDERAL, 2018). Considerando a complexidade do tema, as iniciativas de prevenção dependem do esforço das diferentes esferas, desde o poder público, sociedade civil e setor privado. Entretanto, é visível a percepção mundial dos impactos causados pelo resíduo plástico e a necessidade em lidar com iniciativas de prevenção.