• Nenhum resultado encontrado

Para revelar uma visão geral das novas tendências sobre capacidade tecnológica e inovação, Santos et al. (2015) realizaram uma análise dos dez artigos mais citados publicados entre 2011 e 2014. Na análise desses artigos, percebe-se que as pesquisas sobre inovação e capacidades tecnológicas também convergem para outros temas, desde a abordagem tradicional direcionada à empresa até as questões que ligam a inovação ou capacidades tecnológicas a mais assuntos sociais ou ambientais no outro extremo.

Partindo de abordagens tradicionais (mas nada desatualizadas), Camisón e Villar- López (2014) trazem para discussão a inovação organizacional (ou seja, a introdução de novos métodos organizacionais para gestão empresarial) e tentam revelar suas conexões com a capacidade tecnológica. Com base em uma pesquisa realizada com 144 empresas espanholas, os autores concluem que a inovação organizacional favorece a capacidade de inovação tecnológica, principalmente na inovação de produtos e processos. Os resultados também indicam que tanto a inovação organizacional quanto as capacidades tecnológicas podem levar a um desempenho empresarial superior (CAMISÓN; VILLAR-LÓPEZ, 2014).

Algumas das implicações das capacidades tecnológicas e inovação para a empresa são exploradas por outros artigos. Khota, Zheng e George (2011) afirmam que a idade da firma pode influenciar as atividades inovadoras que resultam da entrada em novos nichos tecnológicos. Os resultados mostram que as empresas mais jovens tendem a se beneficiar do impacto gerado pelas atividades inovadoras, enquanto as empresas mais antigas são capazes de gerar mais saídas dessas atividades (KHOTA; ZHENG; GEORGE, 2011). Quando a entrada em novos nichos corresponde à internacionalização da empresa, Kyläheiko et al. (2011) mostram que as capacidades tecnológicas podem ter um impacto positivo e significativo nesse esforço e também na inovação.

Indo além da empresa, Phaal et al. (2011) oferecem uma estrutura para o mapeamento da emergência industrial baseada em ciência e tecnologia, que traz uma perspectiva completa sobre várias etapas desse processo, como as fases relacionadas à conversão do conhecimento científico em capacidade tecnológica. O quadro revela uma ferramenta importante para gerentes e formuladores de políticas para melhorar o desenvolvimento de estratégias.

Outros autores que exploram o papel do conhecimento e sua gestão para as capacidades tecnológicas e inovação são Kim et al.(2012). Eles investigam o papel da proteção da propriedade na inovação e no crescimento econômico, descobrindo que a proteção de patentes é determinante para a inovação nos países desenvolvidos e que a forma de proteção contribui para o crescimento econômico. Para os países em desenvolvimento, o cenário é diferente, as patentes não têm o mesmo efeito e os modelos de utilidade (uma forma menor de direitos de propriedade intelectual) tomam seu lugar na determinação da inovação e do crescimento (KIM et al., 2012).

Os países em desenvolvimento e, em alguns casos, os BRICS, são um assunto recorrente em artigos recentes publicados referentes a capacidades tecnológicas e inovação.

Fu, Pietrobelli e Soete (2011) discutem o papel da inovação externa e dos esforços nativos destinados a melhorar a mudança tecnológica e a industrialização nos países em desenvolvimento. A esse respeito, concluem que, embora as tecnologias estrangeiras criadas em países desenvolvidos possam parecer uma boa ideia, a tecnologia do Norte tende a não ser adequada às principais realidades do Sul, exigindo esforços para desenvolver inovações nativas também (FU; PIETROBELLI; SOETE, 2011). Além disso, os autores destacam a necessidade de estruturas institucionais e de governança modernas e adequadas por parte dos países em desenvolvimento, para que a inovação nativa se torne uma realidade.

Dantas e Bell (2011) exploram a evolução das redes de conhecimento no contexto das economias emergentes, no caso o Brasil. Concentrando-se em sistemas de inovação, eles estudam a coevolução das capacidades da empresa de acordo com a sequência em que a rede muda de tipo. Como as redes podem melhorar os recursos da empresa, essas mesmas capacidades são responsáveis por habilitar ou restringir as formas de redes possíveis (DANTAS; BELL, 2011).

Vidican et al. (2012) estudam sistemas de inovação setoriais para, mais especificamente, o surgimento de um setor de energia solar nos Emirados Árabes Unidos, que tem capacidades industriais e tecnológicas limitadas. Reforçando o que foi proposto por Fu, Pietrobelli e Soete (2011), Vidican et al. (2012) afirmam que no primeiro momento do sistema de inovação há uma necessidade de tecnologia estrangeira para melhorar o conhecimento nativo, mas a próxima fase envolve um esforço para construir capacidades locais, quebrando assim a dependência criada no início. Além disso, para melhorar o sucesso dos sistemas de inovação criados e do setor de energia solar, as redes de transferência e criação de conhecimento devem ser fortalecidas, e as estruturas institucionais devem ser favoráveis (VIDICAN et al., 2012).

Diferente das abordagens anteriores, Kaplinsky (2011) discute o papel da inovação de e para regiões de baixa renda. Além de argumentar em favor da necessidade e importância das inovações para os pobres, Kaplinsky (2011) sugere que alguns países que vivem nessas condições têm muitas capacidades tecnológicas, como China e Índia, e novas trajetórias de inovação estão surgindo delas. O autor conclui que essas capacidades e inovações podem se tornar uma fonte de mudança tecnológica, não apenas para o Sul, mas também afetando o Norte.

Outro ponto importante em estudos envolvendo capacidades tecnológicas é que parece estar surgindo algumas novas tendências. Algumas possibilidades são que a inovação não vem apenas da capacidade tecnológica, mas também do complemento de diferentes tipos de capacidades (WANG; LU; CHEN, 2008; ARGYRES, 2011). O comportamento inovador baseia-se em uma metacapacidade chamada capacidade de inovação que parece ser um resultado de capacidades complementares (desenvolvimento tecnológico, operações, gerenciamento e transação) (ZAWISLAK et al., 2011).

O estudo de Divella (2016) fornece novos insights sobre o papel da cooperação no processo de desenvolvimento de capacidades tecnológicas no nível da empresa. Os resultados confirmam que as diferenças entre as empresas em relação às capacidades tecnológicas e o papel da cooperação não podem ser totalmente apreciadas quando empresas inovadoras são consideradas em pé de igualdade, independentemente de terem sido capazes de desenvolver as novas tecnologias introduzidas.

Já Del Prado e Rosellon (2017) descrevem como as práticas de gestão de recursos humanos (RH) estimulam os processos de inovação e contribuem para as capacidades tecnológicas das empresas. As descobertas revelam que as práticas de recursos humanos, em particular o recrutamento, e as funções de treinamento e desenvolvimento influenciam as habilidades e o aumento de capacidade em alguma extensão. Para que as empresas sustentem e aumentem suas capacidades tecnológicas, uma estratégia mais formal e sistemática de inovação e atualização tecnológica deve ser buscada.

Conforme já citado anteriormente, Naidoo e Hoque (2018) recomendaram que o impulso para a inovação como um fator determinante da vantagem competitiva futura da empresa deve levar em consideração a capacidade tecnológica, especificamente a tecnologia da informação. Já no estudo de Si, Wang e Welch (2018), a abordagem de estudo de casos múltiplos foi adotada para explorar como as PMEs manufatureiras chinesas aprendem e aumentam suas capacidades tecnológicas através de um processo contínuo de refinamento e melhoria de produto com base em inovações imitativas. E Wang e Chen (2018) sugerem que a inovação de produtos não apenas permite que as organizações introduzam novos produtos no mercado, mas também desafia as organizações a renovarem suas capacidades tecnológicas, adaptando-as às mudanças tecnológicas.

Assim, revendo a literatura sobre as capacidades tecnológicas podemos encontrar muitas definições do conceito. A diversidade do conceito é confirmada por vários autores, que

reconhecem que existem inúmeras contribuições empíricas e teóricas na literatura sobre inovação e capacidade tecnológica, resultando em um grande número de definições e abordagens (JIN; VON ZEDTWITZ, 2008; REICHERT et al., 2012; GONZALEZ; DA CUNHA, 2012) que depende do objetivo dos pesquisadores (JIN; VON ZEDTWITZ, 2008).