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4.4 EMPRESA D – PROJETOS EM 3D

4.4.1 Inovação na Empresa D

O Quadro 14 apresenta as dimensões da inovação que foram identificadas na Empresa D, a partir da entrevista com os seus dirigentes.

Quadro 14 - Dimensões da Inovação na empresa D Pesquisa e

desenvolvimento (4.1)

– Estrutura: investimento em P&D processos

- Descobertas: informações externas para aprimorar tecnologias já existentes.

- Experimentação: desenvolvimento de protótipos. Relacionamentos

(4.2)

– IES: laços estreitos - Alianças:governo japonês. Inovação na Empresa D Equipe de projetos (4.3)

– Constituição: engenheiros e técnicos especializados - Organização do trabalho: conforme o projeto. - Competências: desenvolvidas sistematicamente

- Interação: equipe trabalha em conjunto para desenvolver projeto, em um mesmo ambiente físico.

- Responsabilidade pelo projeto: Dirigente 9 - Treinamento: interno e externo.

- Visita técnica: sempre que necessária. Produtos

(4.4)

– Novidades: produtos singulares

- Significado de novos produtos: novas utilidades Desenvolvimento

de processos (4.5)

– Método novo: todos os sistemas desenvolvidos no Brasil - Melhoramento de existentes: aperfeiçoamneto contínuo. Comportamental

(4.6)

- Estímulo a novas ideias

- Construção de uma cultura inovadora Mercados

(4.7)

– Novos nichos: estudos futuros.

- Novas fontes de provisão: clientes potenciais em diferentes áreas.

Estratégias de competição

(4.8)

– Novas estratégias: Disponíveis e bem delimitadas. - Redes de negócios: restrita

Nota: Os números da segunda coluna identificam a questão constante no protocolo de pesquisa. Fonte: Dados da pesquisa

A estrutura de pesquisa e desenvolvimento da Empresa D está baseada na fabricação de diferentes protótipos de peças mecânicas que necessitam de moldes. Os moldes são para fundição, feitos com materiais nobres podendo passar de R$200 a R$300 mil, e dependendo do tamanho da peça a ser confeccionada, pode chegar até um milhão de reais. O dirigente 9 explica:

“Dependendo do resultado da fabricação do molde a peça pode ficar errada, e eles perdem o molde, pois não tem como ajustá-lo, gerando o prejuízo alto. Se tiver um molde pode-se até aumentar o diâmetro, mas diminuir não, pois já se tirou o material e não tem como repor. Então, eles gastavam milhões e tinham que jogar fora porque não ficou conforme eles precisavam na prática a funcionalidade da peça. Assim com a impressão 3D que é muito barata, comparando com o preço do molde: se o molde custa R$ 500 mil, consegue-se fazer uma peça por R$5 mil. Se ele achar que o desenho dele está errado, podemos fazer outra peça por mais R$5 mil. Então, isso barateou muito o processo deles, e eles se interessaram (dirigente 9) ” .

Mesmo o Japão possuindo essa tecnologia, o interesse deles é firmar o contrato que englobe as empresas para dekasseguis aqui no Brasil. Salienta-se que o fenômeno ‘dekassegui’, é conhecido como a ida de brasileiros de origem japonesa e seus cônjuges para trabalhar no Japão, a maioria como operários na indústria, que caracterizou a metade da década de 1980 ate o início dos anos 2000. Com a volta deles do Japão, foi preciso criar condições para que eles obtivessem uma ocupação e condições de subsistência.

Assim, de acordo com o dirigente 8, o governo japonês deseja ajudar os japoneses e seus descendentes que estão instalados aqui, a desenvolverem o seu próprio negócio, e devem apresentar os resultados para o governo dizendo como está indo o seu negócio. Por isso eles tiveram interesse em buscar uma empresa aqui, o que simplificaria e baratearia o desenvolvimento de tecnologia comparativamente se fosse desenvolvida no Japão. Por esse motivo eles firmaram uma parceria com a empresa D, para fazer esse trabalho.

Tem-se ainda que mesmo sendo uma tecnologia antiga, para 90% da população é uma tecnologia nova, pois a maioria ainda não tem acesso e supõe que seja muito cara. Pelo menos aqui no Brasil, é uma tecnologia que ainda está engatinhando.

Se acabar o termo de confidencialidade com o governo japonês, a empresa D terá condições de buscar um novo nicho de mercado. O dirigente 8 afirma que:

“[...] com certeza, pois já fomos procurados por outras empresas, principalmente da área automobilística, mas infelizmente não pudemos atender e declinamos da proposta. Na verdade, o contrato que temos com o Japão, não é só para impressão 3D, e sim para fabricar o maquinário como um todo. Chegamos a fazer máquinas em miniatura para eles, para verificarmos algumas particularidades do funcionamento, e depois desenvolvermos. Assim eles unem o útil ao agradável (dirigente 8).”

O governo japonês indica qual empresa irá receber nosso apoio para desenvolver os protótipos, sendo que aqui na região da empresa D é para a área agrícola. A maioria do pessoal que vem do Japão é para essa área, então a região é muito rica nesse setor. Assim, todos os produtos e projetos que a empresa D desenvolve, incluindo os maquinários, são para essa área.

Com relação ao processo de fabricação dos protótipos, efetuou-se uma inovação nas impressoras, pois se desenvolveu e aprimorou-se o cabeçote, visando suprir as diferentes necessidades dos clientes. A impressora 3D funciona assim: entra um filamento, esse cabeçote aquece esse filamento, e ele vai depondo material. E a impressão vai surgindo. O que se tinha no passado é que o cabeçote não era tão preciso, e as impressões não ficavam tão perfeitas. De acordo com o dirigente 8:

“Hoje, com esse novo cabeçote, consegue-se uma riqueza de detalhes nas peças, que antes não tínhamos. Não patenteei nada, mas também ninguém tem acesso, e não pretendo vender a impressora (se fosse fazer isso, provavelmente teria que correr atrás disso). Preciso ter boa qualidade na impressora por causa dos protótipos, para saírem com a melhor precisão possível. Por exemplo, conseguimos imprimir um relógio, com todas as suas peças sendo elaboradas nessas impressoras (dirigente 8)”.

Há um contrato de exclusividade entre o governo japonês e a empresa D. Assim, as impressoras estão sob vigilância de câmeras por 24 horas e somente pessoas autorizadas têm acesso ao laboratório. Durante o processo de fabricação ninguém tem acesso ao laboratório e o governo japonês paga por essa exclusividade.

O dirigente 9 e a equipe de projetos percebem que essa tecnologia pode crescer ainda mais, a partir de um trabalho contínuo da equipe, que se mantém coesa e que se complementa em termos tecnológicos.

Com relação aos fornecedores, os materiais necessários para a fabricação dos produtos são encontrados no mercado nacional com facilidade de acesso e disponibilidade.

Já com relação à comercialização do produto final, o governo japonês tem uma equipe, normalmente indicada pela empresa D, para comercializar algumas máquinas, e quando verificam a possibilidade de venda para outros clientes, eles as comercializam. Mas, enfatiza, que a maioria das máquinas desenvolvidas é destinada aos dekasséguis.

Na realidade o foco deles não é vender o maquinário que eles desenvolvem, e sim atender aquele dekassegui que solicitou ajuda. O dirigente 8 exemplifica:

[...] que a máquina que desenvolveram para plantar alface, eles verificaram que valeria a pena comercializá-la, e venderam 5 ou 6 para o mercado, pela equipe que indicamos, mas que respondem direto para eles. A máquina planta duas fileiras de alfaces por vez, na terra, e o agricultor ganha na padronização, no plantio correto com a pressão certa para que todas as alfaces fiquem no mesmo tamanho, e cresçam mais rápido (dirigente 8).

Outro exemplo citado pelo dirigente 9, é a máquina fabricada para as empresas de Holambra, que semeia a orquídea. Deve ser colocada só uma semente por potinho, e se for feita manualmente, pode acontecer de colocar duas/ três o que provoca desperdício. Com a máquina, só uma semente fica no potinho o que melhora muito a produtividade e reduz o desperdício das sementes. Por outro lado, tem produtor que quer cruzar duas sementes, e confeccionou-se um bico especial que planta as duas sementes ao mesmo tempo. Assim, desenvolvem-se diferentes funcionalidades para a mesma máquina.

Encerrando a análise das dimensões da inovação na Empresa D, foi possível mapear, entre os tipos de inovação teórica, aquelas que se destacaram em termos de co-ocorrência (Figura 13) pelo número de incidentes (quotations). Lembrando que consideramos como incidentes as passagens de textos das entrevistas que foram identificadas e selecionadas para exemplificar a linha empírica a partir da linha teórica.

Figura 13 - Co-ocorrência da inovação na empresa D: dimensões e incidentes da análise textual pelo Atlas.ti

Fonte: Elaborado pela autora

Foram identificados 47 incidentes, que permitem apontar as dimensões mais evocadas no caso D, pelos dirigentes 8 e 9: em primeiro lugar evidencia-se a inovação em estratégia (14/2 – incidentes/ entrevistados), próxima da inovação em processo (12/2), seguida pela inovação do produto (10/2) e pela inovação comportamental (8/2). A dimensão menos lembrada pelos dirigentes é a inovação do mercado (3/2). Pode-se ressaltar que a estratégia merece destaque devido ao contrato exclusivo com o governo japonês, não é só para

impressão 3D, e sim para fabricar o maquinário como um todo. A empresa D já fabricou máquinas em miniatura para esse cliente, buscando verificar algumas particularidades do seu funcionamento, e em seguida após aprovação eles desenvolveram o projeto final. O dirigente 8 ressaltou que, mesmo que acabe a exclusividade, poderá buscar novos clientes e fontes de provisão nesse mesmo ramo de atuação.