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O entendimento de que as inovações são determinantes no contexto organizacional toma impulso a partir da Revolução Industrial, culminando na percepção de que é um fator central na busca por competitividade. A Primeira Revolução tornou-se conhecida como era das indústrias manufatureiras (com destaque para o setor têxtil) e aos transportes aquaviários e ferroviários; na Segunda Revolução o destaque ficou com a eletricidade e a química,

resultando em novos tipos de motores (elétricos e à explosão); e a Terceira Revolução baseada na microeletrônica e em novos materiais (semicondutores) importantes na montagem do próprio sistema tecnológico, e que transformaram irremediavelmente as formas de comunicação e de informação (ALMEIDA, 2005; SILVA; ESPÍNOLA; VILLAR, 2006).

Dessa forma, as inovações que se seguem na Segunda e na Terceira Revolução Industrial alteram o cenário global e evidenciam ainda mais a importância de inovar, não apenas para as nações, mas também para as organizações, sistemas educacionais, ciência, tecnologia, etc. (BRULAND; MOWERY, 2006).

Durante os séculos XIX e XX, os estudos sobre inovação ganharam espaço, sobretudo a partir de uma perspectiva de crescimento econômico. Teóricos ortodoxos compreendem as inovações como fatores externos e casuais, evitando análises mais aprofundadas sobre o conceito. O primeiro teórico a apresentar a inovação como central para a análise do crescimento econômico é Schumpeter (1934), de quem se extrai a definição aqui adotada: “inovação é refletida em resultados: um novo bem ou uma nova qualidade de um bem; um novo método de produção; um novo mercado; uma nova fonte de fornecimento; ou uma nova estrutura organizacional, que pode ser resumida como ‘fazer diferentemente as coisas’” (apud CROSSAN; APAYDIN, 2010, p.1155).

Assim, baseado no economista austríaco, vários autores foram desenvolvendo, ampliando ou restringindo o conceito de inovação. Pode-se considerar que a inovação é um processo que envolve geração, adoção, implementação e incorporação de novas ideias, práticas ou artefatos dentro da organização (VAN DE VEN; ANGLE; POOLE 1989); ou quando uma nova tecnologia é incorporada a produtos, que são diferentes daqueles já produzidos pela empresa (TIDD; BESSANT; PAVITT, 2005). Pode ser ainda uma melhoria da gestão organizacional e de suas relações com o ambiente externo e interno (HAINES; SHARIF, 2004; HEFFNER, 2006); ou um processo que se inicia com a criação de uma ideia e finaliza com o lançamento do produto no mercado (CARLSON; WILMOT, 2006; ROBERTS, 2007).

Diante dos conceitos expostos, considerando a I como peça chave para promover o crescimento das empresas, faz-se necessário enxergar a mesma como um processo contínuo e gerenciável por ferramentas próprias, que asseguram ótimos resultados.

A partir de Schumpeter, os estudos sobre inovação ganharam espaço nas análises econômicas, criando uma cisão entre duas correntes principais: os ortodoxos e os

neoschumpeterianos (NELSON; WINTER, 2005). Alguns dos temas discutidos por diferentes autores que tratam da inovação em anos recentes correspondem à Difusão de Inovações (ROGERS, 1995; HALL, 2006), Inovação Aberta (CHESBROUGH, 2003, 2006; MOREIRA; TORKOMIAN; SOARES, 2015), Geografia e Sistemas de Inovação Locais, Setoriais e Nacionais (ASHEIM; GERTLER, 2005; ADNER; KAPOOR, 2010; SOARES et al., 2016), e Políticas Públicas e Inovação (CALLIGARIS; TORKOMIAN, 2003; CASSIOLATO; LASTRES, 2005; QUINTANA-GARCIA; BENAVIDES-VELASCO, 2008; GARNICA; TORKOMIAN, 2009).

Basicamente, a inovação é o esforço realizado pelas empresas de maneira que garanta a sua adequação ao ambiente no qual estão inseridas, permitindo a elas estabelecer uma estratégia de perpetuidade para o negócio (FREZATTI et al., 2014). Já Cagnazzo, Taticchi e Botarelli (2008, p.321) afirmam que “a inovação é o encontro entre uma necessidade de mercado e uma tecnologia ou modelo de negócio que cria valor tanto para a empresa como para os seus clientes”.

O Manual de Oslo, desenvolvido pela Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OECD, 2018, p.21) define uma inovação como sendo “um produto ou processo novo ou melhorado (ou combinação deles) que difere significativamente dos produtos ou processos anteriores da unidade e que foi disponibilizado a usuários em potencial (produto) ou colocados em uso pela unidade (processo)”. Essa definição usa o termo genérico “unidade” para descrever o ator responsável pelas inovações, referindo-se a qualquer unidade institucional em qualquer setor, incluindo famílias e seus membros individuais. A OECD (2018) considera que existem dois tipos de inovação: inovações de produtos ou de processo de negócios.

A inovação é um processo multi-estágio pelo qual as empresas transformam ideias em produtos, serviços ou processos novos ou melhorados, visando a diferenciação no mercado e aumento da competitividade, alcançando o sucesso (BAREGHEH; ROWLEY; SAMBROOK, 2009).

Sawhney, Wolcott e Arroniz (2006) afirmam que a inovação só é relevante quando cria valor para os clientes, um novo e substancial valor por meio de produtos e serviços; e para a empresa, por meio de mudanças em uma ou mais dimensões do sistema de negócios, utilizando a criatividade. Já a inovação, na visão de Pärttö e Saariluoma (2012), tem a missão

de resolver problemas, através de atividades de design, marketing de produto e vendas, além da difusão e aceitação dos usuários.

Ainda, as inovações podem ser classificadas de diferentes formas, tais como radicais ou incrementais (DOSI, 1988b), de produto ou de processo (DAMANPOUR; GOPALAKRISHNAN, 2001). Pode-se ressaltar que o trabalho de Hoffmann, Fernandes,

Feuerschütte e Lemos (2016), buscou identificar quais seriam os fatores organizacionais que afetam a inovação, a partir de uma revisão sistemática em publicações acadêmicas dos últimos 23 anos. O estudo resultou em cinco categorias: estratégia, estrutura, recursos, fatores humanos e culturais, e processos.

As organizações que têm capacidade de inovar apresentam as seguintes características: (1) investem vultosos recursos em pesquisa e desenvolvimento de novos produtos; (2) confiam nas equipes empreendedoras internas, que investigam, discutem e viabilizam a produção, que lançam e vendem suas ideias, que realizam projetos; (3) são dirigidas por executivos que patrocinam e tornam possível a elaboração de projetos; (4) assumem elevado risco técnico e de mercado (BECKER; LACOMBE, 2003).

Neste estudo, para que a inovação aconteça é necessário que as EBT apresentem as seguintes características: atividades de pesquisa e desenvolvimento, que inclui a estrutura adotada, os gastos, tipos de descobertas, processos de inovação ( experimentação/ imitação) e a geração de patentes; relacionamentos da empresa com vários atores (IES, centros de pesquisa, fornecedores, clientes e concorrentes) além de alianças; e como atua a equipe de projetos: constituição, organização do trabalho, competências, forma de interação da equipe, responsabilidade pelo projeto, treinamento da equipe e visitas técnicas (TIDD; BESSANT; PAVITT, 2008; BESSANT; TIDD, 2009; HOFFMANN et al., 2016).

A inovação é uma experimentação estratégica que requer atitude (ou seja, comportamento) para assumir riscos na introdução de produtos diferenciados, na extensão de linhas de produto, no desenvolvimento e na implementação de estratégias para atuar em novos mercados geográficos (ou novos nichos), na identificação e no desenvolvimento de novas fontes de provisão (externas e domésticas), no estabelecimento de novas ações de vendas (como “e.com”, franchising) e na criação de formas organizacionais (como redes de negócio). Destaca-se, portanto, que a inovação tecnológica em produtos ou em processos é considerada estratégica para o desempenho de uma empresa e a obtenção de vantagem competitiva, pois fazer algo que nenhuma outra faz, ou agir com mais eficácia, qualidade e rapidez que as

demais, é fonte legítima de competitividade e condições para sustentar o seu crescimento e a sua lucratividade (BHASKARAN, 2006; TIDD; PAVITT; BESSANT, 2001).

Pode-se ressaltar ainda que o crescente interesse das empresas em inovar está associado a sua necessidade de buscar ou defender um posicionamento competitivo no mercado globalizado (DOSI; NELSON, 1994). De acordo com Freeman e Soete (2008) é necessário que as empresas busquem incorporar a inovação no seu planejamento estratégico de forma a se posicionar adequadamente na indústria e direcionar de forma objetiva os recursos que viabilizarão essa estratégia. Para estes autores, as estratégias podem ser: ofensiva, defensiva, imitativa, dependente, tradicional ou oportunista, o que é corroborado por Santos e Neves (2013).

A decisão de incorporar a estratégia de inovação no planejamento das organizações não é trivial, o processo de inovar requer esforço financeiro, humano e gerencial e os resultados são incertos e quando ocorrem, aparecem no longo prazo (DOSI, 2000; TIDD; BESSANT; PAVITT, 2008). Ademais, a estrutura de inovação não é restrita às fronteiras da firma, ela se expande e coaduna com o ambiente que a cerca (MANGEMATIN; MANDRAN, 2002; HINLOOPEN, 2003).

Por isso, as empresas precisam ter capacidade para absorver o conhecimento que está sendo produzido nas mais diversas instituições, pois a integração com diferentes fontes de conhecimento, a criação de um ambiente interno propício à inovação e o fortalecimento da cultura empreendedora reforçam os pressupostos schumpeterianos e corroboram as considerações encontradas em pesquisas acadêmicas (HINLOOPEN, 2003).

Assume-se, portanto, que a inovação pode ser compreendida como um processo, cujo objetivo para as empresas é a criação de valor ao negócio (SANTOS; NEVES, 2013). Esses postulados lançam as empresas em estruturas de mercado voláteis, caracterizadas pela constante alteração do comportamento dos agentes, exigindo dos pesquisadores e gestores das firmas novas perspectivas de ações, pois o cerne dos fundamentos das empresas não é mais a busca pelo equilíbrio, mas sim, o interesse no rompimento das inércias tecnológicas existentes e, portanto nas estruturas de mercado.

Tem-se ainda que Crossan e Apaydin (2010) realizaram uma revisão sistemática com o objetivo de construir um quadro capaz de explicar os fatores determinantes da inovação. O resultado do trabalho ficou estruturado em três níveis: o nível do indivíduo e do grupo, em que o fator determinante da inovação é a liderança; o nível organizacional, em que os fatores

determinantes são a estratégia, a estrutura e os sistemas, a alocação de recursos, a aprendizagem e gestão do conhecimento e a cultura; e o nível dos processos, composto pelos fatores tomada de decisão, gestão de portfólio, desenvolvimento e implantação, gestão de projetos e comercialização, que pode ser corroborado pelos estudos de Hoffmann et al.(2016).

Com relação aos tipos de inovação, pode-se classificá-la segundo o grau de novidade, a origem da fonte e o objeto, conforme os estudos desenvolvidos por Macedo, Miguel e Cassaroto Filho (2015).

Iniciando a descrição da inovação de acordo com o grau de novidade pode ser considerada no nível:

i) incremental: melhoria dos produtos e processos existentes (DAVILA; EPSTEIN; SHELTON, 2008; TIDD; BESSANT; PAVITT, 2008);

ii) semi-radical: envolve uma mudança significativa no modelo de negócio ou na tecnologia utilizada pela empresa, que não seria alcançada com a inovação incremental (DAVILA, EPSTEIN; SHELTON, 2008); e

iii) radical: oferta de produtos e processos de maneira totalmente nova (para o mundo ou para a empresa), causando alterações no setor industrial ao qual pertencem (DAVILA; EPSTEIN; SHELTON, 2008; TIDD; BESSANT; PAVITT, 2008).

Pode-se verificar ainda que a inovação com base na origem da fonte, para Chesbrough (2003), poderá ser interna (inovação fechada) ou externa (inovação aberta):

i) a inovação fechada constitui um modelo de integração vertical tradicional onde a organização possui maior controle sobre o processo, cuja demanda para inovação advém de fontes internas (P&D, produção ou outras áreas funcionais da organização), e os produtos e serviços são desenvolvidos internamente e, então, ofertados ao mercado. Conforme o autor, projetos com inovação fechada são desenvolvidos com base cientifica e tecnológica da empresa e apresentam apenas uma entrada (o P&D) e uma saída (o mercado).

ii) na inovação aberta o processo é mais colaborativo e envolve uma série de participantes, podendo ser consumidores, instituições de ensino, fornecedores, parceiros e comunidade em geral. A inovação aberta é gerada a partir da união de competências internas e ideias externas, oferecendo ao mercado algo novo e condizente às suas necessidades (RODRIGUES; HERINGER; FRANÇA, 2010). De acordo com Chesbrough (2003), este tipo de inovação é

gerada a partir de pesquisas de prospecção e análise das oportunidades, tendo várias entradas (clientes, fornecedores, etc.) e uma saída (o mercado).

E finalizando a descrição da inovação conforme o objeto pode-se caracterizá-la como: a) Manual de Oslo (OCDE, 2018) em dois tipos: i) inovações de produto: é um bem ou serviço novo ou aprimorado que difere significativamente dos produtos ou serviços anteriores da empresa e que foi introduzido no mercado; ii) inovações de processos de negócios: é um processo de negócios novo ou aprimorado para uma ou mais funções de negócios que difere significativamente dos processos de negócios anteriores da empresa e que foi implementado pela mesma empresa.

b) Tidd, Bessant e Pavitt (2008) definem a inovação como um processo de mudança e apresentam o conceito dos 4 Ps da inovação, na qual a classificam em inovação de produto, de processo (que inclui tanto alterações nos processos produtivos quanto nos administrativos da instituição), de posição (promoção e preços no mercado) , e de paradigma (mudanças no modelo de negócio da empresa).

c) Wang e Ahmed (2004) e Liao e Wu (2010) definem a inovação como sendo proveniente de cinco dimensões, conforme apresentado na Figura 4.

Figura 4 – Inovação e suas cinco dimensões

Inovação

Mercado: identificação,

oportunidades e entrada em novos

mercados Processo: novos

métodos de produção, novas abordagens de gerenciamento e novas

tecnologias

Comportamental:

formação de uma cultura inovadora que estimula a receptividade interna geral para novas ideias e

inovação

Estratégica:

desenvolvimento de novas estratégias competitivas que criam

valor para a empresa

Produto: novidade e

o significado de novos produtos (utilidade,

benefício, nível de mudança)

Assim, de maneira mais detalhada, foram adotadas neste estudo as seguintes definições:

a) inovação do produto (= produto) como a novidade (originalidade ou singularidade) e o significado de novos produtos (utilidade, benefício, nível de mudança) introduzidos no mercado em tempo hábil;

b) inovação de mercado (= mercado) estará relacionada à pesquisa de mercado, publicidade e promoção, bem como à identificação de novos mercados, oportunidades e entrada em novos mercados;

c) inovação de processo (= processo) será a introdução de novos métodos de produção, novas abordagens de gerenciamento e novas tecnologias que podem ser usadas para melhorar os processos de produção e gerenciamento.

d) inovação comportamental (= comportamental) será a demonstrada através de indivíduos, equipes e gestão que permite a formação de uma cultura inovadora (catalisadora de inovações), que estimula a receptividade interna geral para novas ideias e inovação;

e) inovação estratégica (= estratégia) como sendo o desenvolvimento de novas estratégias competitivas que criam valor para a empresa.

A capacidade de inovar desempenha papel essencial na competitividade de EBT sendo, portanto, a inovação a sua principal característica e o fator que mais contribui para classificá-las nesta categoria (SANCHES; MACHADO, 2013). Assim, nesse contexto teórico sugere-se uma proposição:

(P2): A inovação em EBT pode ser caracterizada por cinco dimensões: produto, processo, comportamental, mercado e estratégia.