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3 O ADICIONAL PREVISTO NO ART 45 DA LEI Nº 8.21 DE 1991

4.1 Inovação jurisprudencial do Tribunal Regional Federal da 4ª Região

Conforme se depreende dos julgados mencionados na subseção 3.3, a possibilidade de extensão do acréscimo do art. 45 da Lei nº 8.213/91 às demais modalidades de aposentadoria já é tese admitida por alguns tribunais brasileiros (TRF3, TNU).

Essa realidade tomou impulso com paradigma lançado no ano de 2013 pelo Tribunal Regional Federal da 4ª Região, ao julgar o caso de um idoso aposentado rural de 76 anos, que estava inválido e necessitando de cuidador permanente. O autor pleiteava a concessão do referido adicional para poder fazer face às despesas com o cuidador30.

Decidiu, então, o tribunal pela concessão do adicional de 25% (vinte e cinco por cento), mesmo não estando o segurado aposentado por invalidez:

PREVIDENCIÁRIO. ART. 45 DA LEI DE BENEFÍCIOS. ACRÉSCIMO DE 25% INDEPENDENTEMENTE DA ESPÉCIE DE APOSENTADORIA. NECESSIDADE DE ASSISTÊNCIA PERMANENTE DE OUTRA PESSOA. NATUREZA ASSISTENCIAL DO ADICIONAL. CARÁTER PROTETIVO DA NORMA. PRINCÍPIO DA ISONOMIA. PRESERVAÇÃO DA DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA. DESCOMPASSO DA LEI COM A REALIDADE SOCIAL. 1. A possibilidade de acréscimo de 25% ao valor percebido pelo segurado, em caso de este necessitar de assistência permanente de outra pessoa, é prevista regularmente para beneficiários da aposentadoria por invalidez, podendo ser estendida aos demais casos de aposentadoria em face do princípio da isonomia. 2. A doença, quando exige apoio permanente de cuidador ao aposentado, merece igual tratamento da lei a fim

29 Projeto de Lei nº 8242/2012. Disponível em: <http://www.camara.gov.br/proposicoesWeb/fichadetramitacao? idProposicao=552741>. Acesso em: 22/10/2016.

30 Inteiro teor do acórdão disponível em:

<http://fapmg.org.br/uploads/noticias/anexo/Decisao_TRF_4_favoravel_a_concessao_de_adicional_25_aposenta do_necessita_assistencia.pdf>. Acesso em 21/10/2016.

de conferir o mínimo de dignidade humana e sobrevivência, segundo preceitua o art. 201, inciso I, da Constituição Federal. 3. A aplicação restrita do art. 45 da Lei nº. 8.213/1991 acarreta violação ao princípio da isonomia e, por conseguinte, à dignidade da pessoa humana, por tratar iguais de maneira desigual, de modo a não garantir a determinados cidadãos as mesmas condições de prover suas necessidades básicas, em especial quando relacionadas à sobrevivência pelo auxílio de terceiros diante da situação de incapacidade física ou mental. 4. O fim jurídico-político do preceito protetivo da norma, por versar de direito social (previdenciário), deve contemplar a analogia teleológica para indicar sua finalidade objetiva e conferir a interpretação mais favorável à pessoa humana. A proteção final é a vida do idoso, independentemente da espécie de aposentadoria. 5. O acréscimo previsto na Lei de Benefícios possui natureza assistencial em razão da ausência de previsão específica de fonte de custeio e na medida em que a Previdência deve cobrir todos os eventos da doença. 6. O descompasso da lei com o contexto social exige especial apreciação do julgador como forma de aproximá-la da realidade e conferir efetividade aos direitos fundamentais. A jurisprudência funciona como antecipação à evolução legislativa. 7. A aplicação dos preceitos da Convenção Internacional sobre Direitos da Pessoa com Deficiência assegura acesso à plena saúde e assistência social, em nome da proteção à integridade física e mental da pessoa deficiente, em igualdade de condições com os demais e sem sofrer qualquer discriminação.(Tribunal Regional Federal da 4ª Região. Apelação Cível nº 0017373-51.2012.404.9999 / RS; Relator: Desembargador Federal Rogério Favreto; Data de Julgamento: 27/08/2013, T5 – Quinta Turma; Fonte: DJe 16/09/2013)

A despeito de o autor ser beneficiário de aposentadoria rural, concedida regularmente no ano de 1993, sua situação mudou bastante desde então. Com efeito, quando da concessão de sua aposentadoria, o mesmo não ostentava invalidez. O envelhecimento, porém, agravando as consequências da vida de trabalho no campo, fez surgir não apenas a incapacidade para a manutenção do próprio sustento, como a dependência de terceiro para a continuidade de uma vida digna.

Impedir o aposentado em situação de grande invalidez do acesso ao adicional com base apenas no fato de sua invalidez ter-se apresentado em momento posterior à concessão da aposentadoria é medida atentatória dos direitos à vida, à saúde e à igualdade além de flagrante desrespeito ao princípio fundamental da dignidade.

O fim principal do adicional é proporcionar assistência ao aposentado incapaz de zelar-se sozinho, não cabendo, para o alcance deste fim, diferenciar aposentados por invalidez dos aposentados especiais, por idade e por tempo de contribuição.

Não obstante atual previsão legal propiciar interpretação restritiva, pode o Poder Judiciário, acolhendo os princípios constitucionais, usar de analogia para abranger situação não prevista pelo legislador, mas que guarde similitude com a hipótese acobertada pela norma, carecendo de idêntica proteção.

Segundo o voto do relator do julgado, o Desembargador Federal Rogério Favreto, “o julgador deve ter a sensibilidade social para se antecipar à evolução legislativa quando em descompasso com o contexto social, como forma de aproximá-la da realidade e conferir efetividade aos direitos fundamentais.”

A analogia que viabiliza a extensão desse amparo adicional aos demais aposentados do RGPS também esteia-se no princípio da máxima efetividade aos direitos fundamentais (à vida, à igualdade, à saúde, à previdência, etc), ao propiciar eficiência aos princípios-normas constitucionais pelo uso de método integrativo que possibilite a realização concreta de suas funções sociais.

Para Barroso (1996, p. 375) a máxima efetividade, princípio instrumental de interpretação das leis, significa: “a realização do Direito, a atuação prática da norma, fazendo prevalecer no mundo dos fatos os valores e interesses por ela tutelados. Simboliza a efetividade, portanto, a aproximação, tão íntima quanto possível, entre o dever ser normativo e o ser da realidade social”.

O dever ser normativo é a cobertura integral do evento grande invalidez por meio da concessão do auxílio assistencial de 25% (vinte e cinco por cento). A realidade social, por seu turno, traduz-se na existência de aposentados em diversas espécies de aposentadoria acometidos pela grande invalidez e desamparados, em sua maioria, em razão de disposição legal de sentido literal restritivo.

Cabe ao julgador, portanto, aproximar o fim essencial da lei da realidade social que o cerca, conferindo eficiência ao espírito das normas, nem sempre integralmente compreendido na literalidade dos termos usados pelo legislador.

4.2 Os preceitos constitucionais da Dignidade da Pessoa Humana e da Igualdade

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