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3 O ADICIONAL PREVISTO NO ART 45 DA LEI Nº 8.21 DE 1991

4.2 Os preceitos constitucionais da Dignidade da Pessoa Humana e da Igualdade

A dignidade da pessoa humana encontra-se prevista no art. 1º da Constituição Federal de 1988 como fundamento do Estado brasileiro31. Trata-se de fundamento que se

materializa em princípio para permear a essência, a interpretação e a aplicação das normas do ordenamento jurídico pátrio.

31 Art. 1º A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de Direito e tem como fundamentos: I – a soberania; II – a cidadania III – a dignidade da pessoa humana;

Embora não haja menção no Texto Constitucional à superioridade desses princípios fundamentais em relação às demais normas, é inegável o valor axiológico e posição de destaque que o constituinte lhes atribuiu, o que deve ser levado em consideração em eventual choque com outras normas constitucionais.

Além de nortear a interpretação e aplicação das leis, a dignidade pode figurar como razão para a decisão de um caso concreto, aplicação que não encontra óbice na Lei Maior e, pelo contrário, a edifica.

Apesar de seu caráter iminentemente jurídico, a dignidade é, por natureza, uma qualidade inerente ao ser humano, sem distinção de qualquer espécie. De acordo com Maurer (2005, p. 81):

[…] a pessoa não tem mais ou menos dignidade em relação a outra pessoa. Não se trata, destarte, de uma questão de valor, de hierarquia, de uma dignidade maior ou menor. É por isso que a dignidade do homem é um absoluto. Ela é total e indestrutível. Ela é aquilo que chamamos inamissível, não pode ser perdida.

É, pois, como atributo absoluto do homem que dignidade deve ser promovida pelo ordenamento jurídico. Essa promoção, para concretizar-se, necessita de uma postura estatal que assegure os direitos fundamentais, primando pela sua máxima efetividade. É dizer: garantir a dignidade do ser humano é promover seus direitos fundamentais, de maneira eficiente e universal, dada o próprio caráter geral dessa qualidade humana.

Não há como viver em condições dignas de vida sem o correspondente exercício dos direitos que a história consagrou como essenciais ao ser humano32, incumbindo, pois, ao

Estado a criação da estrutura e dos instrumentos necessários para a realização dos direitos fundamentais.

Esses direitos precisam ainda ser assegurados de forma conjunta e interligada para pleno alcance da qualidade-fim dignidade. Proceder de maneira diversa, isto é, privilegiar alguns direitos em detrimento de outros, acarretaria o esvaziamento da função social de cada um destes e, por conseguinte, a frustração da promoção da dignidade.

Exemplificadamente, não há como se assegurar o direito à vida (art. 5º, caput) sem que sejam igualmente promovidos os direitos à saúde, à segurança, à alimentação, ao trabalho, à previdência (art. 6º, caput), entre outros eleitos pelo constituinte e pelos diplomas internacionais como integrantes do conjunto indispensável a uma existência digna, decente. 32 Nesse sentido, mencione-se a Declaração Universal dos Direitos doo Homem e do Cidadão de 1948, assinada pelo Brasil no mesmo ano, e o Pacto de São José da Costa Rica, promulgado no país pelo Decreto nº 678 de 1992.

Nesse sentido, Habermas (2010, p. 468) entende que a dignidade humana é a mesma para todos, em todos os lugares, e fundamenta a indivisibilidade de todas as categorias de direitos humanos, pois só em cooperação uns com os outros podem os direitos fundamentais satisfazer a promessa moral de respeitar igualmente a dignidade de cada pessoa.

No âmbito da Seguridade Social, a Lei nº 8.213 de 1991 é diploma destinado a regulamentar primordialmente o direito social à previdência, disposto no art. 6º da CRFB/88. Não obstante, a realização desse direito fundamental, para promoção efetiva do atributo da dignidade, deve estar vinculada à realização de outros direitos fundamentais, como o direito à assistência, à alimentação e à saúde, que constituem os objetivos básicos adicional do art. 45 da mesma lei ao proporcionar auxílio de natureza assistencial para aposentados em situação de grande invalidez.

Destarte, visando promover essa qualidade intrínseca do ser humano, é que deve ser estendido o adicional do art. 45 do Plano de Benefícios a todas as modalidades de aposentadoria. Sendo a dignidade da pessoa humana fundamento do Estado brasileiro que deve guiar a interpretação das normas do ordenamento jurídico, também a lei do Plano de Benefícios da Previdência Social deve ser compreendida a sua luz.

Da mesma maneira, o postulado da Igualdade33 (art.5º, caput, CRFB/88) orienta a

analogia que permite a extensão do adicional às demais modalidades de aposentadoria. Trata- se de princípio que está intimamente ligado ao fundamento da dignidade, uma vez que o reconhecimento desta como característica inerente a todo o ser humano pressupõe, primeiramente, a constatação de que todos os homens são iguais.

A igualdade jurídica, considerada em seu aspecto formal, visa conferir a todos os indivíduos que se encontrem na mesma condição o direito de receber tratamento uniforme, equivalente ao recebido por seus semelhantes. Representa, assim, um dever de imparcialidade e de razoabilidade por parte do Estado, que deve criar distinções apenas com base em critérios legítimos, justificáveis.

Nesse sentido, afirmava Rui Barbosa (2003, p. 19):

[…] a regra da igualdade não consiste senão em quinhoar desigualmente aos desiguais, na medida em que se desigualam. Nesta desigualdade social, proporcionada à desigualdade natural, é que se acha a verdadeira lei da igualdade.

33 Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes: […]

Tratar com desigualdade a iguais, ou a desiguais com igualdade, seria desigualdade flagrante, e não igualdade real.

Por essa razão, não estaria autorizado o legislador, sob o prisma da igualdade jurídica, distinguir entre os aposentados por invalidez e os aposentados por idade, especial e por tempo de contribuição, ao estabelecer o acréscimo pecuniário do art. 45 do Plano de Benefícios da Previdência Social.

Tendo em vista que o objetivo do acréscimo mencionado é oferecer cobertura ao fenômeno da grande invalidez, fere o imperativo constitucional de igual respeito e consideração conferir proteção de maneira injustificadamente seletiva, isto é, apenas em relação a alguns aposentados, sem causa concreta ou razão legítima para tanto.

Os aposentados do RGPS em situação de grande invalidez são indistintamente possuidores das condições que ensejam à concessão do adicional, encontrando-se em estado de igualdade quanto ao risco social que deve ser segurado pelo Estado e fazendo jus, consequentemente, à mesma tutela estatal. Entender de maneira contrária significaria dispensar tratamento desigual a iguais, em grave ofensa à Constituição Federal.

Apesar da previsão legal restritiva, pode o operador do direito valer-se dos instrumentos que o ordenamento disponibiliza, dentre eles a analogia, para conferir ao artigo supramencionado aplicação compatível com os princípios constitucionais da igualdade e da dignidade da pessoa humana.

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