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A possibilidade de extensão do adicional de 25% previsto no art. 45 da lei nº 8.213 de 1991 às outras modalidades de aposentadoria do RGPS

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FACULDADE DE DIREITO

ANNA CAROLINE COELHO ANDRADE

A POSSIBILIDADE DE EXTENSÃO DO ADICIONAL DE 25% PREVISTO NO ART. 45 DA LEI Nº 8.213 DE 1991 ÀS OUTRAS MODALIDADES DE APOSENTADORIA

DO RGPS

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A POSSIBILIDADE DE EXTENSÃO DO ADICIONAL DE 25% PREVISTO NO ART. 45

DA LEI Nº 8.213 DE 1991 ÀS OUTRAS MODALIDADES DE APOSENTADORIA DO

RGPS

Monografia submetida à Coordenação do Curso de Graduação em Direito da Universidade Federal do Ceará, como requisito parcial para obtenção do grau de bacharel em Direito.

Área de concentração: Direito Previdenciário

Professor Orientador: William Paiva Marques Júnior

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A POSSIBILIDADE DE EXTENSÃO DO ADICIONAL DE 25% PREVISTO NO ART. 45 DA LEI Nº 8.213 DE 1991 ÀS OUTRAS MODALIDADES DE APOSENTADORIA

DO RGPS

Monografia submetida à Coordenação do Curso de Graduação em Direito da Universidade Federal do Ceará, como requisito parcial para a obtenção do grau de Bacharel em Direito. Área de concentração: Direito Previdenciário

Aprovada em: ___/___/______.

BANCA EXAMINADORA

________________________________________ Professor Dr. William Paiva Marques Júnior (Orientador)

Universidade Federal do Ceará (UFC)

_________________________________________ Professora Dra. Theresa Rachel Couto Correia

Universidade Federal do Ceará (UFC)

_________________________________________ Professora Dra. Fernanda Cláudia Araújo da Silva

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A realização do presente trabalho só se tornou possível graças ao apoio que recebi

durante toda minha vida..

Primeiramente agradeço a Deus, que sempre está ao meu lado, sobretudo nos

momentos mais difíceis, orientando e ajudando minha caminhada por essa longa estrada que é

a vida.

Agradeço também aos meus pais, Gilberto e Ramirtes, meus exemplos maiores de

esforço, que sempre lutaram para proporcionar o melhor a mim e aos meus irmãos. Obrigada

por me ensinar desde cedo o valor da educação para o engrandecimento humano e por

fornecer os meios necessários a minha formação.

Ao meu amor, Yuri Moreira, agradeço a paciência e as tão valiosas palavras de

incentivo e motivação nos momentos de cansaço.

Aos Defensores Públicos Federais Sérgio Luís da Silveira Marques e Eduardo

Marcelo de Negreiros Freitas, profissionais exemplares, que despertaram em mim a ânsia

cada vez maior de seguir minha futura carreira jurídica, com humildade, dedicação e

humanidade.

Ao Professor William Marques, pela disponibilidade, pela solicitude e pela

prestimosa orientação, que possibilitaram a realização do presente trabalho. Obrigada por

exercer como ninguém o papel de incentivador da educação nesta faculdade. Seja como

professor ou como coordenador do curso de Direito, funções que tão bem desempenha, sua

contribuição a esta faculdade e à educação neste país tem valor inestimável.

Por fim, a todos àqueles que de alguma forma contribuíram para a concretização

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não é justiça. Cumpre que enxergue por igual

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Objetiva-se analisar a possibilidade de extensão do adicional de 25% (vinte e cinco por cento), previsto no art. 45 da Lei nº 8.213 de 1991, às demais modalidades de aposentadoria do Regime Geral de Previdência Social (RGPS). O Plano de Benefícios da Previdência Social (Lei nº 8.213/91) concede o referido adicional de forma discriminatória apenas aos aposentados por invalidez, em clara afronta ao princípio da igualdade e à dignidade da pessoa humana, fundamento do Estado brasileiro. Demonstrar-se-á, primeiramente, a evolução, as diretrizes e os regimes da Previdência Social no Brasil, sob a perspectiva do seguro social, e ainda o benefício da aposentadoria, como prestação previdenciária primordial, definindo-a e elucidando suas modalidades no RGPS. Verificar-se-á também os princípios constitucionais e os instrumentos de integração do ordenamento jurídico que permitem sanar essa falta legislativa, de maneira a privilegiar interpretação inclusiva e efetivamente garantidora dos direitos fundamentais sociais aos segurados. Destacando-se a finalidade essencial da norma, que é proporcionar auxílio pecuniário de natureza assistencial aos aposentados portadores do fenômeno da grande invalidez, e ainda o precedente lançado pelo Tribunal Regional Federal da 4ª Região, defender-se-á a analogia para permitir a concessão do adicional, previsto no art. 45 da Lei nº 8.213, aos aposentados por idade, especial e por tempo de contribuição, que ostentem as condições necessárias à sua concessão, propondo-se ainda solução alternativa.

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The objective is to examine the possibility of extension of 25% (twenty five percent) increase, provided for article 45 of Law No. 8.213 of 1991, to other retirement modalities of Regime Geral de Previdência Social (RGPS). The Law No. 8.213/91 provides the mentioned increase in a discriminatory way only to invalid retirees, what represents a clear affront to the principles of equality and human dignity. It will be shown, first, the evolution, the guidelines and the schemes of Previdência Social in Brazil, from the perspective of social insurance, and also the retirement as a primary social security provision, defining it and clarifying its modalities in RGPS. It will be seen also the constitutional principles and the legal system integration instruments to remedy this legislative failure, in order to favor inclusive and effective guarantor interpretation of fundamental social rights. By showing the essential purpose of the law, which is to provide assistance help to retirees affected by grande invalidez, and also the decision of Tribunal Regional Federal da 4ª Região, it will be defended the inclusive interpretation of law that extends the benefit provided for its article 45 to others retirees of RGPS, who have the same needs and require the same state aid, proposing also an alternative solution.

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1 INTRODUÇÃO... 11

2 A APOSENTADORIA E A PREVIDÊNCIA SOCIAL NO BRASIL... 13

2.1 Comentários em torno da origem e da evolução da Previdência Social no Brasil: a ideia de proteção social... 13

2.2 A Previdência Social... 18

2.2.1 Diretrizes da Previdência Social... 19

2.2.2 Regimes Previdenciários... 20

2.3 A aposentadoria como prestação previdenciária primordial: conceito e modalidades... 21

2.3.1 Aposentadoria por idade... 22

2.3.2 Aposentadoria por tempo de contribuição... 23

2.3.3 Aposentadoria especial... 24

2.3.4 Aposentadoria por invalidez... 25

3 O ADICIONAL PREVISTO NO ART. 45 DA LEI Nº 8.213 DE 1991... 28

3.1 Surgimento e hipóteses de cabimento... 29

3.2 O fenômeno da Grande Invalidez... 31

3.3 A natureza jurídica assistencial do adicional... 32

4 A POSSIBILIDADE DE EXTENSÃO DO ADICIONAL ÀS OUTRAS MODALIDADES DE APOSENTADORIA DO RGPS... 38

4.1 Inovação jurisprudencial do Tribunal Regional Federal da 4ª Região... 39

4.2 Os preceitos constitucionais da Dignidade da Pessoa Humana e da Igualdade como norteadores da extensão do adicional... 41

4.3 A analogia como fonte de integração do ordenamento jurídico... 44

4.4 Soluções Alternativas... 46

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS... 51

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1 INTRODUÇÃO

Preocupar-se com o futuro é característica inerente ao ser humano como consequência do seu instinto de sobrevivência. A idade faz surgir novas necessidades e também retira do ser humano certa força de trabalho, o que praticamente o obriga a pensar em sua velhice desde cedo, guardando recursos e projetando um novo estilo de vida, mais compatível com sua nova condição.

No mundo contemporâneo, com a consagração do princípio da Dignidade da Pessoa Humana e a preocupação cada vez maior dos Estados com aqueles que já deram sua contribuição à sociedade durante anos, essa prevenção assume a forma da aposentadoria, assegurada como direito aos cidadãos.

O atual cenário normativo brasileiro é primordialmente assecuratório e evoluído. Prevista como direito constitucional e com ampla legislação infraconstitucional regulamentadora, a aposentadoria hoje assume várias modalidades (aposentadoria por idade, por tempo de contribuição, especial e por invalidez), atendendo tanto aos princípios específicos da Previdência Social quanto aos da Seguridade Social.

Presentemente, a Lei nº 8.213/91 e o Decreto nº 3.048/99 regulam a aposentadoria por invalidez e trazem a possibilidade do adicional de 25% (vinte e cinco por cento) sobre o seu valor, quando o aposentado por invalidez necessitar de ajuda permanente de terceiros para os atos da vida diária. Dessa maneira, apresenta-se a aposentadoria por invalidez como benefício destinado a amparar o segurado que se tornou inválido de forma permanente, sendo-lhe assegurado ainda um adicional pecuniário quando terceiro se mostrar indispensável a sua sobrevivência digna.

Nesse contexto, surge o questionamento a respeito da possibilidade de extensão do referido adicional às demais hipóteses de aposentadoria do Regime Geral de Previdência Social, nos casos em que o aposentado por idade, especial ou por tempo de contribuição torna-se inválido posteriormente à concessão do benefício previdenciário, necessitando, assim como o aposentado por invalidez, de auxílio e acompanhamento permanente de terceiro.

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Para tanto, será necessário o exame de aspectos históricos, políticos, normativos e jurisprudenciais brasileiros, fazendo uso, inclusive, de explicações embasadas em trabalhos publicados sob a forma de livros, revistas, publicações especializadas, imprensa escrita, artigos e dados oficiais publicados na internet.

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2 A APOSENTADORIA E A PREVIDÊNCIA SOCIAL NO BASIL

A aposentadoria é prestação que ocupa posição de extrema relevância na Previdência Social, juntamente à pensão por morte. Isso ocorre porque esses benefícios são substitutivos, de forma permanente, da renda que o segurado auferia anteriormente, constituindo-se em fonte de recursos primordial e, não raras vezes, única para a subsistência do segurado e de seus dependentes.

Esse benefício, no modelo contemporâneo, tem sua origem atrelada ao conceito de Seguro Social, isto é, de benefício destinado a cobrir os riscos sociais que afetem, temporária ou permanentemente, a capacidade de labor e de subsistência do segurado, mediante contribuição por parte deste.

Dessa maneira, é possível dizer que o modelo de previdência social vigente atualmente está intrinsecamente ligado ao instituto da aposentadoria, alcançando com este benefício a realização de seus preceitos e fins principais no que concerne à prevenção de riscos sociais.

Entender esse instituto jurídico previdenciário é captar sua função como uma das ferramentas básicas integrantes da Seguridade Social brasileira destinada à proteção social dos indivíduos segurados pelo Regime Geral de Previdência Social (RGPS) quanto aos infortúnios por este acautelados, de forma que também as benesses e os desdobramentos desse instituto devem atender aos mesmos fins primordiais.

2.1 Comentários em torno da origem e da evolução da Previdência Social no Brasil: a ideia de proteção social

A ideia de proteção quanto aos riscos, previsíveis ou não, é inerente ao ser humano como decorrência própria de seu instinto de sobrevivência e alcançou patamares e nível de estruturação sem precedentes com evolução da vida em sociedade e com o desenvolvimento dos Estados.

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contingências geradoras de necessidade sociais passaram a constituir preocupação básica dos Estados.

De acordo com Castro e Lazzari (2014, p. 35), a preocupação efetiva com a proteção dos indivíduos, quanto a seus infortúnios, passou a ocupar posição verdadeiramente importante dentro da ordem jurídica dos Estados a partir do final do século XIX. Este foi o período da segunda fase da Revolução industrial, marcado pelo desenvolvimento da eletricidade, do motor a combustão e do início das tecnologias de comunicação, evoluções impactantes e facilitadoras da vida em sociedade.

A Revolução Industrial que proporcionou desenvolvimento tecnológico sem precedentes à humanidade, no entanto, também trouxe novos e complexos problemas sociais, a começar pela mão de obra empregada nas indústrias sob péssimas condições e remuneração. Logo, essa nova categoria profissional passou a reivindicar por melhorias nas condições de trabalho, entre as quais passou a figurar o seguro contra os riscos que o próprio labor ou a incapacidade de exercê-lo ocasionavam.

É nesse panorama sociopolítico que Otto Von Bismarck lança, durante os anos de 1883 a 1889 na Alemanha, as primeiras bases do que atualmente se entende por Previdência Social, ao editar normas que asseguravam aos trabalhadores, entre outras vantagens, a aposentadoria e a proteção às vítimas de acidentes de trabalho (IBRAHIM, 2015, p. 46).

Já no começo do século XX, conforme aduz Monteiro e Assunção (2012, p. 3) operou-se no mundo um processo de constitucionalização dos direitos sociais, nos quais se insere o direito à previdência, passando-se a exigir dos Estados prestações positivas na área social, mediante a adoção de uma postura estatal intervencionista com o fim de assegurar maior equilíbrio e atendimento das contingências geradoras de necessidades sociais.

Segundo Bobbio, Matteucci e Pasquino (1998, p.702):

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pode, de tal forma, oferecer uma contribuição altamente significativa e realista para o reformismo democrático.

No Brasil, o surgimento da ideia de proteção social também passou pelo reconhecimento da necessidade de intervenção do Estado para suprir as deficiências sociais que o modelo liberal clássico não logrou satisfazer. A ideia do Estado apenas como agente regulador das relações políticas, sociais e econômicas gerou, na verdade, desigualdades sociais, desestabilidade econômica e marginalização dos menos favorecidos nas sociedades de então, panorama que foi fortalecendo pouco a pouco a necessidade de uma atuação estatal positiva, que respeitasse não apenas os direitos e liberdades individuais, mas que fornecesse condições reais para sua implementação.

Inicialmente, surgiram no país algumas formas de proteção social assistenciais e de natureza beneficente, que evoluíram gradativamente para o Seguro Social e, posteriormente, para o atual modelo de Seguridade Social.

Atualmente, a Seguridade Social é o modelo adotado pelo Brasil para proteção social de seus cidadãos. Encontra-se prevista no art. 194 da Constituição Federal de 1988 e contempla as iniciativas dos Poderes Públicos e da sociedade tanto na previdência social como nas áreas da saúde e assistência social1.

A intenção do legislador constituinte em reunir estas três áreas na seguridade social ocorreu devido à inter-relação que pode ser facilmente observada entre eles. Se investirmos na saúde pública, menos pessoas ficam doentes ou o tempo de cura é menor, e, como consequência direta, menos pessoas requerem benefícios previdenciários por incapacidade de trabalho ou o tempo de percepção de tais benefícios é menor. Se investirmos na previdência social, mais pessoas estarão incluídas no sistema, de forma que, ao envelhecerem, terão direito à aposentadoria, não necessitando de assistência social (KERTZMAN, 2015, p. 27).

Lembra Martinez (1999 apud CASTRO; LAZZARI, 2014, p.111) que a Seguridade Social é uma técnica de proteção social avançada em relação à Previdência Social, pois é capaz de conjugá-la com a assistência social e as ações de saúde, constituindo-se em um esforço nacional extraordinário no sentido de um amplo atendimento à população, obreira ou não, empenho cujos objetivos estão a distância.

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Nesse quesito, importante mencionar a diferença entre Seguro e Seguridade Social. Segundo Silva (2007, p. 3), aquele “cobre” o risco social, cuja ideia central é de benefício em substituição ao salário e de proteção social limitada, pois funciona de forma contributiva (Previdência Social, art. 201 da Constituição Federal). Por sua vez, a segunda figura abrange a necessidade social, a qual pode ser definida como a somatória do risco social com as situações que geram uma necessidade. Sua ideia central é de benefício como forma de proteção ao homem como membro da coletividade; proteção de caráter amplo, funcionando de forma contributiva, por meio da Previdência Social, e não contributiva, por meio da Saúde e Assistência Social (art. 203, da CF/88).

Quantos aos acontecimentos que marcam o início da evolução da previdência social no Brasil, menciona-se2 como primeiro marco o Decreto n° 9.912-A de 1888, que regulava o direito à aposentadoria dos empregados dos Correios. No entanto, foi a Lei Eloy Chaves (Decreto nº 4.682 de 1923), criadora das Caixas de Aposentadorias e Pensões (CAP) para os trabalhadores empregados das empresas ferroviárias, como assevera Tommasi (2011, p. 4), o acontecimento de maior repercussão para o nascimento da Previdência Social no Brasil.

A partir da Lei Eloy Chaves e inspiradas nela, foram criadas outras Caixas em empresas de diversos setores econômicos. No entanto, a desorganização e as suspeitas de corrupção foram corroendo a credibilidade das CAP, fazendo nascer a necessidade de reorganização desses institutos sob nova estruturação. Passou-se então a organizá-los por categoria profissional, surgindo os Institutos de Aposentadoria e Pensões (IAP).

O primeiro a ser criado foi o Instituto de Aposentadoria e Pensões dos Marítimos (IAPM), pelo Decreto n° 22.872 de 1933, sucedido pelos institutos dos comerciários e bancários (1934), dos industriários (1936), dos empregados dos transportes de carga (1938), entre outros3.

A Constituição de 1934 inovou em seu texto ao estabelecer pela primeira vez a forma tripartite de custeio, estabelecendo a contribuição dos trabalhadores, dos empregadores

2 Histórico da Previdência Social. Período de 1888 a 1933. Disponível em:

<http://www.previdencia.gov.br/acesso-a-informacao/institucional/historico/periodo-de-1888-1933/>. Acesso em 27 de setembro de 2016.

3 Histórico da Previdência Social. Período de 1934 a 1959. Disponível em:

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e do Poder Público em seu art. 121, § 1º, h4. Já a Constituição de 1937, provedora de respaldo legal para o governo autoritário de Getúlio Vargas, não trouxe mudanças significativas nesse aspecto. Sua única inovação foi a utilização da expressão “seguro social”.

A Carta Magna subsequente, de 1946, foi representativa de grande avanço, uma vez que previa, em seu capítulo sobre os direitos sociais, normas sobre previdência tornando obrigatório que o empregador mantivesse seguro contra acidentes de trabalho. Também foi nesse Texto Constitucional que se tentou, pela primeira vez, sistematizar as normas de âmbito social e que a expressão “previdência social” foi empregada pela primeira vez numa constituição brasileira (art. 157).

No final de 1966, foi criado o Instituto Nacional de Previdência Social (INPS), por meio do Decreto-lei nº 725. Esse instituto foi o precursor do Instituto Nacional do Seguro Social e proporcionou uma nova estrutura para a previdência por meio da unificação dos IAP, visando resolver os problemas de déficit em vários desses institutos classistas.

A Constituição de 1967, de caráter militar, apenas trouxe como inovação a criação do seguro-desemprego, sem grandes alterações no regramento previdenciário.

Percebe-se, portanto, que com a evolução legislativa e constitucional brasileira a previdência foi adquirindo os contornos apresentados na contemporaneidade. No entanto, imperioso mencionar que foi apenas com a Constituição Cidadã6 que a previdência, como uma das faces da Seguridade Social no Brasil, adquiriu status de direito social fundamental elencado no art. 6º da Constituição Federal de1988, protegido constitucionalmente como cláusula pétrea7.

4 Art. 121 – A lei promoverá o amparo da produção e estabelecerá as condições do trabalho, na cidade e nos

campos, tendo em vista a proteção social do trabalhador e os interesses econômicos do País. § 1º – A legislação do trabalho observará os seguintes preceitos, além de outros que colimem melhorar as condições do trabalhador: […] h) assistência médica e sanitária ao trabalhador e à gestante, assegurando a esta descanso antes e depois do parto, sem prejuízo do salário e do emprego, e instituição de previdência, mediante contribuição igual da União, do empregador e do empregado, a favor da velhice, da invalidez, da maternidade e nos casos de acidentes de trabalho ou de morte;

5 Histórico da Previdência Social. Período de 1960 a 1973. Disponível em:

<http://www.previdencia.gov.br/acesso-a-informacao/institucional/historico/periodo-de-1960-1973/>. Acesso em 27 de setembro de 2016.

6 A Constituição da República Federativa do Brasil de 1988 também é conhecida como a Constituição Cidadã.

7 A Constituição Federal de 1988, em seu art. 60, § 4º, dispõe sobre matérias do seu próprio texto que não

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Apenas em 1990, dois anos após o advento da Constituição Cidadã, foi criado o Instituto Nacional do Seguro Social (INSS), por meio do Decreto nº 99.350, como uma autarquia do governo federal, vinculada ao Ministério do Trabalho e da Previdência Social.

2.2 A Previdência Social

Atualmente a previdência encontra-se prevista no art. 2018 da Constituição Federal, organizada sob a forma de regime geral, de caráter contributivo e de filiação obrigatória, visando dar cobertura, conforme explicitam os incisos do referido artigo, aos eventos de doença, invalidez, morte e idade avançada; proteção à maternidade, especialmente à gestante; proteção ao trabalhador em situação de desemprego involuntário; salário-família e auxílio-reclusão para os dependentes e segurados de baixa renda; e pensão por morte do segurado, homem ou mulher, ao cônjuge ou companheiro dependentes.

Referindo-se a esses eventos, Ibrahim (2015, p. 28) aduz serem eles a própria definição de risco social:

[…] o signo risco social deve ser interpretado, nesta obra, como todo evento coberto pelo sistema protetivo, com o intuito de fornecer ao segurado algum rendimento substituidor de sua remuneração, como indenização por sequelas ou em razão de encargos familiares.

Destarte, vislumbra-se como fim principal da Previdência Social o oferecimento de proteção aos seus segurados contra os riscos sociais devidamente eleitos pelo legislador nas normas do sistema jurídico previdenciário brasileiro.

Para atender às contingências sociais elencadas, a Previdência se vale de suas prestações, isto é, de seus serviços e benefícios. Estes encontram-se regulamentados pela Lei nº 8.213 de 1991, também conhecida como Plano de Benefícios da Previdência Social (PBPS).

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Há ainda, no plano infraconstitucional, o Regulamento da Previdência Social (RPS), instituído pelo Decreto nº 3.048 de 1999, que traz disposições adicionais específicas sobre benefícios e serviços previdenciários.

Já no que se refere ao custeio do sistema previdenciário, a Lei nº 8.212 de 1991 dispõe sobre a organização e sobre o Plano de Custeio da Seguridade Social (PCSS) como um todo, prevendo que esta será financiada por toda sociedade e por recursos proveniente da União, Estados, Municípios e Distrito Federal, além das contribuições sociais.

2.2.1 Diretrizes da Previdência Social

Há, dispostos no texto constitucional, princípios que alicerçam e norteiam as relações e os institutos previdenciários. Todos esses princípios específicos da Previdência Social podem ser extraídos dos arts. 201 e 202 da Constituição Federal de 1988.

O Caráter Contributivo (art. 201, caput; art. 40, caput) é o princípio que estabelece que a previdência, em qualquer dos seus regimes, será custeada pelas contribuições sociais de seus segurados. Assim, caberá a legislação de cada regime fixar as hipóteses de incidência e os valores dessas contribuições, de forma a garantir a manutenção e o funcionamento do seguro previdenciário oferecido.

Já a Filiação Obrigatória (art. 201, caput) dispõe que todo trabalhador que se enquadre, nos termos da lei, na condição de segurado do Regime Geral de Previdência, assim será considerado para efeito de prestações e obrigações previdenciárias, a menos que já faça parte de algum regime próprio. Logo, a esse trabalhador não será facultado participar ou não da previdência, sendo obrigatória sua filiação ao RGPS.

O Equilíbrio Financeiro e Atuarial (art. 201, caput; art. 40, caput), por sua vez,

aduz que caberá ao Poder Público, na execução da política previdenciária, observar a relação

entre o custeio e o pagamento de benefícios, de forma que o sistema previdenciário possa

sempre se manter em condições superavitárias. Para tanto, deverá monitorar as oscilações da

média etária da população e sua expectativa de vida, ajustando sempre os benefícios a essas

variáveis.

Há também Garantia de Benefício Mínimo, isto é, o princípio que se encontra

disposto no art. 201, §2º da CRFB/88 e que assegura renda mensal nunca inferior ao

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do segurado. Visa garantir, a semelhança da garantia salário-mínimo na seara trabalhista,

condições dignas de vida aos beneficiários da Previdência.

É assegurado ainda, aos beneficiários da Previdência, a Correção Monetária dos

Salários de Contribuição (art. 201, §3º), de maneira que serão atualizados todos os salários de

contribuição utilizados como base para o cálculo de benefícios previdenciários; e a

Preservação do Valor Real dos Benefícios (art. 201, §4º), que estipula a realização de

ajustamentos periódicos no valor dos benefícios, de forma a preservar-lhes o valor real.

Por fim, a CRFB/88 estabelece a Facultatividade da Previdência Complementar

(art. 40, §§ 14 a 16, no âmbito dos regimes próprios de agentes públicos; art. 202, no âmbito

do RGPS). Por este princípio, será admitida a participação da iniciativa privada na

Previdência Social por meio da criação de regimes complementares ao oficial, sendo

facultativa a participação pelos segurados. Trata-se de seguro individual, feito de forma

autônoma pelo segurado e sem vínculos aos regimes oficiais, cabendo ao Estado apenas a

fiscalização dessas instituições.

2.2.2 Regimes Previdenciários

O sistema previdenciário no Brasil é constituído por dois regimes básicos (Regime Geral de Previdência Social e Regimes Próprios de Previdência de Servidores Públicos e Militares) e pelos regimes complementares.

O Regime Geral de Previdência Social (RGPS) é o mais abrangente de todos, sendo responsável pela cobertura da grande massa dos trabalhadores no Brasil: empregados urbanos, rurais, domésticos, autônomos, avulso, etc. É estruturado na forma de regime geral, de caráter contributivo, filiação obrigatória e organizado pelo Instituto Nacional do Seguro Social (INSS).

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Os regimes complementares possuem caráter facultativo e são resultados da participação da iniciativa privada na atividade previdenciária. Há previsão constitucional de regime complementar tanto para o Regime Geral (art. 202) quanto para os Regimes Próprios (art. 40, §§ 14 a 16). O ingresso do trabalhador nesses regimes é voluntário, autônomo, e o recebimento de benefício independe da concessão de prestação pelos regimes básicos.

2.3 A aposentadoria como prestação previdenciária primordial: conceito e modalidades

Mais especificamente quanto à prestação de benefícios, o art. 1º da Lei n° 8.213/919 elenca as hipóteses que poderão ser cobertas pelo plano de benefícios, como a incapacidade, a idade avançada, o tempo de serviço, encargos familiares e prisão ou morte.

Essas hipóteses têm cobertura pelas prestações enumeradas no art. 18 da mesma lei10, que, quanto ao segurado, estabelece os seguintes benefícios: aposentadoria por invalidez; aposentadoria por idade; aposentadoria por tempo de contribuição; aposentadoria especial; auxílio-doença; salário-família; salário-maternidade; auxílio-acidente.

Dentre esses benefícios previdenciários, a aposentadoria, nas suas quatro modalidades, emerge como prestação por excelência da Previdência Social, sobretudo porque substituidora da renda do segurado. Trata-se da prestação que passará a constituir o sustento do segurado exatamente quando as situações para as quais ele procurou se proteger, por meio da adesão ao Regime Geral de Previdência, acontecerem, isto é, nos casos de perda ou redução da capacidade de trabalho, seja pelo tempo ou por algum infortúnio que venha a sofrer.

Encontra-se delineada constitucionalmente pelos parágrafos 1º, 7º e 8º do art. 201 da Constituição Federal, com redação dada pela Emenda Constitucional nº 20 de 1998, e regulamentada no plano infraconstitucional pelos arts. 42 a 58 da Lei nº 8.213/91, que

9 Art. 1º A Previdência Social, mediante contribuição, tem por fim assegurar aos seus beneficiários meios

indispensáveis de manutenção, por motivo de incapacidade, desemprego involuntário, idade avançada, tempo de serviço, encargos familiares e prisão ou morte daqueles de quem dependiam economicamente.

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estabelecem as quatro modalidades de aposentadoria: por invalidez, por tempo de contribuição, por idade e especial.

Impende, pois, para o fim que se pretende com o presente trabalho, que as referidas modalidades de aposentadoria sejam melhor delineadas, de modo que se possa captar seus traços e objetivos comuns, inerentes à ideia de prevenção contra riscos e contingências sociais dos segurados do Regime Geral de Previdência Social.

2.3.1 Aposentadoria por idade

Trata-se do benefício previdenciário que oferece seguro social contra o risco idade avançada, previsto no inciso I do art. 201 da Constituição Federal. O envelhecimento é risco certo, previsível e impeditivo da continuidade laborativa, fazendo nascer para o segurado a necessidade desse benefício como fonte de sustento.

O artigo constitucional referenciado prevê ainda, em seu § 7º, inciso II, o requisito básico para que o segurado faça jus ao benefício, isto é, completar 65 (sessenta e cinco) anos de idade, se homem, e 60 (sessenta), se mulher11. A idade é reduzida em 5 (cinco) anos para os trabalhadores rurais e para os que exerçam suas atividades em regime de economia familiar, nestes incluídos o produtor rural, o garimpeiro e o pescador artesanal12.

Ademais, é preciso ainda que o beneficiário ostente a qualidade de segurado e que seja satisfeita a carência13 de 180 (cento e oitenta) contribuições mensais, prevista no art. 25, II, do Plano de Benefícios da Previdência Social (PBPS – Lei nº 8.213 de 1991).

No tocante à qualidade de segurado, já se posicionou o Superior Tribunal de Justiça (STJ) que, preenchidos os requisitos da idade e da carência, a aposentadoria por idade será concedida ao trabalhador mesmo que este tenha perdido a qualidade de segurado. Além

11 Art. 201 […] § 7º É assegurada aposentadoria no regime geral de previdência social, nos termos da lei, obedecidas as seguintes condições: […] II – sessenta e cinco anos de idade, se homem, e sessenta anos de idade, se mulher, reduzido em cinco anos o limite para os trabalhadores rurais de ambos os sexos e para os que exerçam suas atividades em regime de economia familiar, nestes incluídos o produtor rural, o garimpeiro e o pescador artesanal.

12 Nem sempre os trabalhadores rurais foram segurados pelo RGPS. Apenas com o advento da Lei nº 8.213 de

1991 (PBPS) os trabalhadores rurais passaram a ter cobertura previdenciária pelo Regime Geral. Antes disso, possuíam apenas cobertura assistencial na forma da Lei Complementar n. 11, de 1971. O instituto da aposentadoria por idade, antes da vigência da PBPS, chamava-se aposentadoria por velhice e era destinado apenas aos segurados urbanos.

13 Período de Carência é o número mínimo contribuições pagas ao INSS para que o cidadão, ou em alguns

(23)

disso, a Corte fixou ainda o entendimento de que tais requisitos não precisam ser preenchidos simultaneamente.14

Ressalte-se ainda que, tratando-se o PBPS de diploma que realizou inúmeras alterações no concerne a esta modalidade de aposentadoria, cuidou o legislador de inserir, no corpo da norma, regra de transição que exige diferentes períodos de carência de acordo com a data em que o segurado cumpriu todas as condições para se aposentar por idade. Dessa forma, a tabela do art. 142 do Plano de Benefícios passou a conferir tratamento diferenciado e, por assim ser, isonômico àqueles que se filiaram ao RPGS antes da Lei nº 8.213/91, mas que ainda não haviam cumprido todos os requisitos para se aposentarem pelas regras então vigentes.

2.3.2 Aposentadoria por tempo de contribuição

Trata-se da modalidade prevista no art. 201, § 7º, I da CRFB/88 e que assegura o direito à aposentadoria aos segurados do RGPS que completem 35 (trinta e cinco) anos de contribuição, se homem, e 30 (trinta), se mulher15. Pode ser requerida voluntariamente pelo segurado, não havendo uma idade mínima para tanto.

Evolução da aposentadoria por tempo de serviço, a aposentadoria por tempo de contribuição nasceu com a Emenda Constitucional nº 20 de 1998. Sua precedente prestigiava o tempo de serviço em vez do período contributivo, garantindo aposentadoria, independentemente de contribuição, aos segurados que tivessem trabalhado por determinado período especificado em lei. Dessa maneira, a alteração introduzida pela referida emenda constitucional adequou a antiga aposentadoria por tempo de serviço ao preceito da preservação do equilíbrio financeiro e atuarial da Previdência, preconizado pelo caput do art. 201.

Quanto ao risco social que visa combater, afirma Kertzman (2015, p. 377) que o tempo de contribuição não corresponde a qualquer risco social que deve ser coberto pela previdência social. O fato de o segurado ter contribuído por determinado número de anos não pressupõe, necessariamente, que ele não tenha mais condições de exercer a sua atividade. É

14 Superior Tribunal de Justiça. Embargos de Divergência em Recurso Especial nº 551997/RS (2004/0106180-1); Relator: Min. Gilson Dipp; Data de Julgamento: 27/04/2005, S3 – TERCEIRA SEÇÃO; Fonte: DJ 11/05/2005, p. 162.

(24)

por esse motivo que a aposentadoria por tempo de contribuição, independente de idade mínima, tem sido duramente criticada pela doutrina especializada.

Foi tentando desestimular que cada vez mais segurados, ainda com capacidade laborativa, recorressem à aposentadoria por tempo de contribuição, por mero permissivo do sistema previdenciário brasileiro, que foi editada a Lei nº 13.183 de 2015, também conhecida como Fórmula 85/95. Esse diploma condiciona aplicação do fator previdenciário16 aos pontos

alcançados pelo somatório da idade e do tempo de contribuição do segurado. Dessa maneira,

o segurado cuja soma da idade com o período de contribuição alcançar 85 (oitenta e cinco)

pontos, se mulher, e 95 (noventa e cinco) pontos, se homem, não terá incidência deste fator

para diminuindo valor de seus proventos.

Perceba-se que a carência deste benefício perfaz-se em requisito básico para a sua

concessão: 35 (trinta e cinco) anos de contribuição ou 420 (quatrocentos e vinte)

contribuições mensais para o homem; e 30 (trinta) anos de contribuição ou 360 (trezentos e

sessenta) contribuições mensais para as mulheres.

2.3.3 Aposentadoria especial

É a aposentadoria que objetiva o atendimento dos segurados que são expostos a agentes físicos, químicos e biológicos, ou uma combinação destes, acima dos limites de tolerância aceitos, o que se presume produzir a perda da integridade física e mental em ritmo acelerado (IBRAHIM, 2015, p. 623).

Tem previsão constitucional no art. 201, § 1º da CRFB/8817 e está disciplinada também pelos arts. 57 e 58 do PBPS e 64 a 70 do Decreto nº 3048/99. Será devida ao segurado que tenha laborado durante 15 (quinze), 20 (vinte) ou 25 (vinte e cinco) anos,

conforme o caso, sujeitando-se a condições especiais que afetem sua saúde ou integridade

física.

Os diferentes tempos de exposição requeridos para essa modalidade de

aposentadoria variam em função da natureza do agente nocivo, isto é, se os agentes são

16 Porcentagem que leva em consideração a idade, o tempo contribuição e a expectativa de sobrevida do

segurado e que incidirá sobre o valor da aposentadoria, diminuindo-o quando segurado ainda ostentar condições para a vida laborativa.

(25)

físicos, químicos e biológicos, tendo em vista os efeitos específicos de cada um para a saúde do trabalhador.

O segurado, ao requerer sua aposentadoria junto à autarquia previdenciária,

deverá comprovar a efetiva exposição aos agentes nocivos químicos, físicos, biológicos ou à

associação de agentes prejudiciais à saúde ou à integridade física, pelo período equivalente ao

exigido para a concessão do benefício.

A comprovação da efetiva exposição do segurado aos agentes nocivos é feita por

meio de um formulário denominado perfil profissiográfico previdenciário (PPP), emitido pela

empresa ou seu preposto, com base em laudo técnico que ateste as condições ambientais do

trabalho, expedido por médico do trabalho devidamente habilitado.

A exposição eventual pode ser capaz de gerar direito à aposentação especial,

dependendo do grau de concentração do agente nocivo, embora esta não seja a situação mais

comum. O requisito de que a exposição deve ser permanente, por sua vez, não se traduz em

exigência de exposição contínua e incessante ao agente nocivo, durante todo o período de

trabalho. Para Ibrahim (2015, p. 624), a depender da natureza da profissão, a exposição pode

não se dar de forma direta e ocorrer apenas por pequenos períodos de tempo durante a jornada

de trabalho, o que não impedirá a configuração do requisito de exposição permanente.

Ademais, as condições autorizadoras da concessão da aposentadoria especial devem se dar de forma excepcional e não excluem a responsabilidade do empregador pelo

cuidado com as técnicas de higiene e de saúde do trabalho.

Segundo Castro e Lazzari (2015, p. 526), tem-se nessa modalidade uma espécie de

aposentadoria por tempo de contribuição reduzido. O legislador constitucional, reconhecendo

risco social grave oferecido pelas condições excepcionais de trabalho, conferiu tratamento

diferenciado aos segurados, prestigiando o princípio constitucional da igualdade, art. 5º,

caput, da CRFB/88, em sua dimensão formal.

2.3.4 Aposentadoria por invalidez

A aposentadoria por invalidez tem previsão nos arts. 42 a 47, da Lei nº 8.213/91; e

(26)

nessa condição. Destina-se a cobrir os segurados do RGPS contra o risco social da invalidez (art. 201, I, CRFB/88), contingência incerta e imprevisível.

O requisito principal para o deferimento desta modalidade de aposentadoria é estado de necessidade social, que é entendido como a existência de incapacidade total e permanente para o exercício de atividade que garanta sustento ao segurado.

Segundo Fraporti e Pierozan (2014, p. 153), a incapacidade total é para qualquer atividade que garanta a subsistência do segurado. Já a incapacidade permanente traduz-se como sendo o prognóstico negativo quanto à cura ou reabilitação.

Nesse tocante, impende ressaltar a Súmula nº 47 da Turma Nacional de Uniformização (TNU) dispõe o seguinte: “uma vez reconhecida a incapacidade parcial para o trabalho, o juiz deve analisar as condições pessoais e sociais do segurado para a concessão de aposentadoria por invalidez”.

Dessa maneira, mesmo sendo a incapacidade parcial, verificado pelo juiz, por meio do princípio do livre convencimento motivado, que o segurado é portador de certas condições, tais como avançada idade, baixo grau de instrução e baixa qualificação profissional, poderá ser concedido o benefício de aposentadoria por invalidez ao segurado incapacitado apenas parcialmente.

A jurisprudência pátria18, consagrada pela súmula mencionada, procurou prestigiar a avaliação global das condições do segurado e não a análise fria e direcionada dos requisitos postos em lei.

A comprovação da incapacidade far-se-á por meio de exame médico pericial a cargo no Instituto Nacional do Seguro Social (INSS), realizado por médico devidamente habilitado e registrado na autarquia. Caso queira, o periciando poderá fazer-se acompanhar de médico de sua confiança, conforme o § 1º do art. 42 da Lei nº 8.213 de 1991.

Importante mencionar que o benefício em questão não será concedido se o segurado já era portador da doença ou lesão incapacitante, antes de filiar-se ao RGPS, consoante o disposto no § 2º do art. 42. Para Ibrahim (2015, p. 591), essa previsão legal

objetiva evitar fraudes ao sistema, tendo em vista que uma pessoa já inválida poderia filiar-se ao Regime Geral para, tão somente, obter o benefício. Entretanto, continua o dispositivo legal, se a incapacidade for decorrente de agravamento da lesão ou doença preexistente, o benefício será devido. Nesse caso, estaria afastada a possibilidade de o segurado filiar-se ao RGPS com

(27)

o fim exclusivo de obter o benefício, já que quando de sua filiação o mesmo ainda ostentaria capacidade laborativa.

A aposentadoria por invalidez, segundo o art. 44 da Lei 8.213/91, terá o valor de

100% (cem por cento) do salário de benefício, que é a importância apurada a partir dos salários de contribuição do segurado, sob a presunção de eles indicarem o nível da fonte de subsistência do trabalhador, utilizada como base para o cálculo do valor do benefício previdenciário.

Quanto à carência exigida para a concessão desse benefício, a regra constante do art. 25, I, do PBPS, aduz serem necessárias 12 (doze) contribuições mensais. De forma excepcional, dispensar-se-á a carência, nos termo do art. 26, I, da mesma lei.

Nessa modalidade, observa-se insculpida a importância da aposentadoria na garantia de condições dignas de vida ao segurado do RGPS. Atingido por evento incerto e imprevisível, que é a invalidez, o segurado que antes podia, através do próprio labor, garantir sua subsistência, agora vê-se impossibilitado do exercício de qualquer atividade laborativa e dependente do seguro oferecido pelo Estado para sua sobrevivência.

Destarte, essa prestação previdenciária, como substitutiva da renda que o segurado não tem mais capacidade de prover, constitui-se em valor destinado a assegurar as suas necessidades humanas mais básicas, como alimentação, moradia, higiene, etc.

Ademais, estabelece o art. 46 do Regulamento da Previdência Social que o beneficiário da aposentadoria por invalidez, independentemente de sua idade e sob pena de suspensão do benefício, terá de se submeter a exame médico pericial a cargo da previdência social a cada dois anos. Intenta-se com isso averiguar se persistem as condições de incapacidade para o exercício de atividade laborativa apta a garantir sua subsistência.

(28)

3 O ADICIONAL PREVISTO NO ART. 45 DA LEI Nº 8.213 DE 1991

Ao tratar da aposentadoria por invalidez, a Lei nº 8.213 de 1991 trouxe a previsão,

em seu art. 45, de um adicional destinado aos segurados que necessitarem do auxílio permanente de outra pessoa, in verbis:

Art. 45. O valor da aposentadoria por invalidez do segurado que necessitar da assistência permanente de outra pessoa será acrescido de 25% (vinte e cinco por cento).

Parágrafo único. O acréscimo de que trata este artigo:

a) será devido ainda que o valor da aposentadoria atinja o limite máximo legal; b) será recalculado quando o benefício que lhe deu origem for reajustado;

c) cessará com a morte do aposentado, não sendo incorporável ao valor da pensão.

Esse adicional também encontra-se previsto no art. 4519 do Regulamento da Previdência Social, Decreto nº 3.048 de 1999, e visa acobertar os segurados do Regime Geral de Previdência Social contra o fenômeno da grande invalidez, condição que pode ser apresentada não só pelos aposentados por invalidez, mas também pelos segurados que

recebam qualquer das outras modalidades de aposentadoria (por idade, por tempo de contribuição e especial) e que tenham se tornado inválidos posteriormente à concessão do benefício, dependendo de terceiros para os atos da vida diária.

Como foi legalmente previsto apenas no âmbito da aposentadoria por invalidez, os aposentados nas outras modalidades de aposentadoria que se tornarem inválidos e dependentes de terceiros para os atos mais básicos do cotidiano não têm deferido esse adicional, em clara afronta aos princípios da dignidade da pessoa e da igualdade, esta em seu aspecto formal.

O aumento de 25% (vinte e cinco por cento) no valor do benefício, em que pese não represente quantia de grande vulto, é capaz de minorar as vicissitudes vivenciadas pelo segurado que já não pode, por si só, desempenhar os atos mais elementares de uma vida digna. O terceiro que lhe prestará auxílio, caso seja da família, terá muitas vezes de abdicar o exercício de atividade remunerada, ou mesmo reduzir o tempo que dedica a tanto, com vistas a prestar o auxílio necessitado pelo segurado inválido e dependente. Como consequência,

19 Art. 45. O valor da aposentadoria por invalidez do segurado que necessitar da assistência permanente de outra

(29)

orçamento familiar acaba comprometido, reduzindo a qualidade de vida de todos os integrantes, sobretudo porque as necessidades familiares permanecem as mesmas. Nesse sentido, o adicional, serviria para tentar equilibrar o orçamento familiar então comprometido,

possibilitando que o familiar continue a prestar auxílio ao segurado necessitado sem que isso imponha grandes restrições e sacrifícios a toda a família.

De outro modo, quando esse auxílio tem de ser prestado por terceiro que não seja parente do segurado, esse serviço carecerá de remuneração. É o caso do segurado inválido e dependente que, por não poder contar com ajuda de pessoas próximas, tem de recorrer a enfermeiros e cuidadores, que exigem remuneração para tanto. O aumento proporcionado pelo adicional, nesse caso, proveria ajuda para remunerar esse terceiro pelos serviços prestados, igualmente permitindo a continuação de uma vida em condições mais dignas pelo segurado.

Em todo caso, pode-se perceber que a finalidade desse adicional é garantir a dignidade de vida do segurado, bem como procurar proporcionar tratamento diferenciado àqueles que se encontram em situação de dependência e vulnerabilidade social, expressando o postulado da igualdade como medida de justiça.

Logo, ainda que aposentados em outras modalidades de aposentadoria, os segurados que se apresentem em condições de invalidez e dependência de terceiros, devem ter deferido o adicional em questão, já que presentes os requisitos para tanto, respeitando-se a intenção do legislador em oferecer proteção adicional a quem nessa situação se encontre.

3.1 Surgimento e hipóteses de cabimento

O adicional surgiu no ordenamento jurídico brasileiro com a Lei nº 8.213 de 1991 (PBPS) e mantém redação praticamente idêntica ao do projeto de lei que deu origem ao diploma20. Em que pese tenha representado um avanço na garantia de cobertura aos segurados do RPGS, o instituto só passou a ter efetividade oito anos depois, com a sua regulamentação pelo Decreto nº 3048 de 1999 (RPS).

20 Projeto de Lei nº 825 de 1991. Dispõe sobre os Planos de Benefícios da Previdência Social e dá outras

providências. Disponível em:

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Ele será devido ao segurado aposentado por invalidez ainda que a renda a ser recebida por este ultrapasse o limite legal, que é estabelecido pelo art. 3521 do decreto supracitado como o salário de contribuição ou o rendimento de seu trabalho.

Ademais, não será transmitido aos dependentes do segurado por meio de pensão por morte, ficando sua percepção adstrita unicamente ao segurado enquanto este apresentar os requisitos referidos no art. 45 do Plano de Benefícios da Previdência Social.

O Regulamento da Previdência Social (Decreto nº 3048 de 1999) refere-se ainda, em seu Anexo I, a uma lista com nove situações em que o aposentado por invalidez terá direto à majoração de 25% (vinte e cinco por cento) prevista no art. 45 do regulamento, a saber:

1 – Cegueira total.

2 – Perda de nove dedos das mãos ou superior a esta. 3 – Paralisia dos dois membros superiores ou inferiores.

4 – Perda dos membros inferiores, acima dos pés, quando a prótese for impossível. 5 – Perda de uma das mãos e de dois pés, ainda que a prótese seja possível. 6 – Perda de um membro superior e outro inferior, quando a prótese for impossível. 7 – Alteração das faculdades mentais com grave perturbação da vida orgânica e social.

8 – Doença que exija permanência contínua no leito.

9 – Incapacidade permanente para as atividades da vida diária.

Consoante aduz Castro e Lazzari (2015, p. 551), trata-se de rol exemplificativo já que outras situações podem levar o aposentado a necessitar de assistência permanente de terceiros. Observe-se também que o último ponto do Anexo I do regulamento estende a concessão do adicional aos casos de incapacidade permanente para as atividades da vida diária, contemplando situações que não puderam ser previstas em lei por meio desta disposição.

Do mesmo modo, o art. 45 da Lei nº 8.213 de 1991 é claro e abrangente ao dispor

que terá direito ao adicional o aposentado inválido que necessite do auxílio permanente de outra pessoa, estabelecendo assim os requisitos básicos para a sua concessão, não cabendo ao regulamento, em face do princípio da legalidade22, dispor de maneira diferente para restringir o alcance da lei, sob risco de incorrer em inconstitucionalidade.

21 Art. 35. A renda mensal do benefício de prestação continuada que substituir o salário de contribuição ou o

rendimento do trabalho do segurado não terá valor inferior ao do salário-mínimo nem superior ao limite máximo do salário de contribuição, exceto no caso previsto no art. 45.

(31)

O adicional poderá ser deferido desde a concessão da aposentadoria por invalidez, na hipótese de o segurado já se encontrar em dependência de terceiros para os atos da vida diária. Nesse sentido, o art. 204, § 1º, da Instrução Normativa nº 45 de 2010 do Ministério da

Previdência Social23 traz a previsão de que uma vez constatado, por ocasião da perícia médica, que o segurado faz jus à aposentadoria por invalidez deverá, de imediato, ser verificado se este necessita da assistência permanente de outra pessoa, fixando-se o início do pagamento na data do início da aposentadoria por invalidez.

Por outro lado, caso esta dependência se configure apenas em momento posterior à concessão da aposentadoria, deverá ser formulado requerimento à autarquia previdenciária para o deferimento do adicional. Nesse caso, o INSS realizará exame médico pericial que ateste a dependência de terceiros pelo segurado incapaz, sendo devido o adicional desde a apresentação destes dois requisitos de forma simultânea pelo segurado.

Destarte, aferido pela perícia médica do Instituto Nacional do Seguro Social que o aposentado encontra-se incapacitado para o exercício de atividade que lhe garanta sustento e que sua incapacidade exige o auxílio permanente de terceiros, deverá ser concedido o adicional com o objetivo de minorar as dificuldades de vida do segurado que se encontre nessa situação, chamada de grande invalidez, consoante será demonstrado a seguir.

3.2 O fenômeno da Grande Invalidez

A grande invalidez é o nome dado à condição que tem de ser apresentada pelo segurado para que o mesmo faça jus ao adicional de 25% (vinte e cinco por cento), previsto no art. 45 da Lei nº 8.213 de 1991.

O primeiro requisito para sua configuração é a apresentação pelo segurado de incapacidade para o exercício de atividade que lhe garanta subsistência, sem possibilidade de reabilitação. Esse é o requisito básico para a concessão de aposentadoria por invalidez, previsto no art. 42 do PBPS, e, por si só, já caracteriza a invalidez.

Para a caracterização da grande invalidez, no entanto, faz-se necessário que um segundo requisito seja preenchido. É preciso que o segurado inválido também necessite da

(32)

assistência permanente de um terceiro para os atos da vida diária, consoante disposição do próprio art. 45 da Lei nº 8.213.

Nesse caso, a invalidez apresentada pelo segurado seria tão grande que não apenas

o impossibilitaria para o exercício de atividade que lhe fornecesse sustento, mas também o tornaria dependente de outra pessoa para as atividades mais elementares de seu cotidiano.

São denominadas atividades diárias elementares aquelas inerentes ao ato de alimentar‐se, vestir‐se, medicar‐se, realizar necessidades fisiológicas, promover a higiene corporal, etc., ações cujo desenrolar normal seria impossível de ser realizado pelo segurado em razão do comprometimento de suas faculdades mentais, físicas ou motoras.

Ressalte-se que os aposentados por invalidez não são os únicos que podem apresentar a grande invalidez. Sua configuração depende exclusivamente da configuração factual desses dois requisitos, que são a incapacidade associada a dependência de terceiros. Dessa maneira, os aposentados por idade, por tempo de contribuição e especial, em que pese não tenham apresentado invalidez quando da concessão de seu benefício, podem a qualquer tempo se tornar inválidos, isto é, incapazes de realizar atividade que lhes provenha sustento mesmo que assim o quisessem, e dependentes de terceiros para os atos mais básicos da vida diária, preenchendo o requisito da grande invalidez eleito pelo legislador como motivo bastante para concessão do adicional.

Não se justifica, nessas hipóteses, a alegação de que apenas os aposentados por invalidez façam jus ao adicional. É preciso entender a natureza jurídica do adicional, a intenção do legislador ao criá-lo, ainda que se obtenha como resultado a conclusão de que não foi razoável o legislador ao prever o referido adicional apenas no âmbito da aposentadoria por invalidez.

3.3 A natureza jurídica assistencial do adicional

(33)

Nesse sentido, dispõe ainda o art. 5º da Lei de Introdução às normas do Direito Brasileiro (Decreto-Lei nº 4.657 de 1942) que: “Na aplicação da lei, o juiz atenderá aos fins sociais a que ela se dirige e às exigências do bem comum”.

Definir a natureza jurídica do adicional, portanto, é o primeiro passo para sua

correta aplicação, mostrando-se imprescindível nessa tarefa a compreensão dos princípios que

o instituto visa consagrar.

A jurisprudência pátria, conforme se depreende deste julgado do Tribunal

Regional Federal da 3ª Região, tem adotado o entendimento de que o acréscimo previsto no

art. 45 tem natureza assistencial:

PREVIDENCIÁRIO. CONVERSÃO DE APOSENTADORIA POR TEMPO DE CONTRIBUIÇÃO EM APOSENTADORIA POR INVALIDEZ. NÃO PREENCHIMENTO DOS REQUISITOS PARA A CONCESSÃO DO BENEFÍCIO NA DATA DA APOSENTADORIA. ACRÉSCIMO DE 25% SOBRE O VALOR DA APOSENTADORIA POR TEMPO DE SERVIÇO. DEVIDO.

1. O pedido de alteração de espécie de benefício é improcedente, eis que para a concessão da conversão da aposentadoria por tempo de serviço em aposentadoria por invalidez, o requisito exigido a fim de obter-se a procedência seria a comprovação, mediante perícia técnica, da invalidez permanente à época do deferimento da aposentação, o que não restou comprovado nos autos. 2. Quanto à possibilidade de incidência do acréscimo de 25% (vinte e cinco por cento), previsto no art. 45, caput, da Lei 8.2313/91, ao benefício de aposentadoria por tempo de serviço recebido pela parte autora, em princípio, não seria devido, pois pela interpretação literal do dispositivo citado o acréscimo é deferido ao titular de aposentadoria por invalidez, quando necessitar da assistência permanente de outra pessoa. 3. Por essa razão, considerando a redação do dispositivo, orientava-me no sentido de que o art. 45 da Lei 8.213/91, ao tratar do referido adicional, restringiu a sua concessão apenas para majorar o benefício de aposentadoria por invalidez, especificamente, a ser destinado ao próprio titular da prestação, para custear gastos com seus cuidados pessoais. 4. Todavia, esta Décima Turma, passou a decidir que os segurados que comprovem a incapacidade total e permanente e careçam do auxílio de terceiros para a realização de tarefas inerentes ao seu cotidiano, fazem jus ao adicional de 25%, ainda que estejam em gozo de benefício de aposentadoria por idade ou tempo de contribuição, uma vez que a norma tem finalidade protetiva e o acréscimo reveste-se de natureza assistencial, o que atrai a aplicação do princípio da dignidade da pessoa humana, valor fundamental da República Federativa do Brasil (art. 1º, III, CF), para a seara da concessão dos benefícios previdenciários. Nesse sentido:AC 2015.03.99.019330 6/SP, Relator Desembargador Federal Batista Pereira, j. 04/08/2018. 5. Apelação da parte autora parcialmente provida. (Tribunal Regional Federal da 3ª Região. Apelação Cível nº Nº 0006038-53.2007.4.03.6114/SP; Relatora: Desembargadora Federal Lúcia Ursaia; Data de Julgamento: 25/08/2015, T10 – Décima Turma; Fonte: DJe 03/09/2015)(grifou-se)

O trecho ora destacado apresenta com clareza a natureza assistencial do adicional.

A conclusão sobre sua natureza jurídica encontra razão, entre outros motivos, na inexistência

(34)

De fato, não há na da Lei de Benefícios nem no Plano de Custeio da Seguridade

Social (Lei nº 8.212 de 1991) nenhuma referência a lastro contributivo específico ou a outra

fonte que se destine ao custeio do acréscimo previsto no art. 45.

O art. 19524 da CRFB/88, em seu parágrafo 5º, dispõe que nenhum benefício ou

serviço da seguridade social poderá ser criado, majorado ou estendido sem a correspondente

fonte de custeio. Poder-se-ia pensar, à primeira vista, que a previsão do adicional no art. 45 da

Lei de Benefícios constitui afronta ao Texto Constitucional, já que não há no arcabouço

jurídico previdenciário qualquer indicativo da sua fonte de custeio.

Essa aparente contradição, no entanto, é afastada quando se admite a natureza

assistencial do referido acréscimo, sobretudo ante o que dispõe o art. 20325 da Constituição

Federal. Esse artigo trata da política assistencial brasileira e determina que a assistência será

prestada a quem dela necessitar independentemente de contribuição à seguridade social.

Logo, a inexistência de fonte de custeio do adicional não configura desobediência

ao que dispõe Texto Constitucional no art. 195, § 5º, constituindo, em verdade, fator

indicativo de sua natureza assistencial. Nesse sentido, destaque-se trecho do seguinte julgado

da Turma Nacional de Uniformização:

[…]18. Ademais, como não há na legislação fonte de custeio específico para esse adicional, entende-se que o mesmo se reveste de natureza assistencial. Assim, a sua concessão não gera ofensa ao art. 195, § 5º da CF, ainda mais quando se considera que aos aposentados por invalidez é devido o adicional mesmo sem o prévio custeamento do acréscimo, de modo que a questão do prévio custeio, não sendo óbice à concessão do adicional aos aposentados por invalidez, também não o deve ser quanto aos demais aposentados. (Turma Nacional de Uniformização.

Pedido De Uniformização De Interpretação De Lei Federal nº 50008904920144047133; Relator: Juiz Federal Sérgio Queiroga; Data de Julgamento: 12/05/2016; Fonte: DJe 20/05/2016)(grifou-se)

O julgado ora analisado ainda menciona como a natureza jurídica do adicional se

relaciona com a possibilidade de sua extensão às demais modalidades de aposentadoria. Dada

sua natureza assistencial, isto é, de benefício que pode ser concedido sem a necessidade de

24 Art. 195 […] §5ºNenhum benefício ou serviço da seguridade social poderá ser criado, majorado ou estendido

sem a correspondente fonte de custeio total.

(35)

contribuições em contrapartida, a ausência de fonte de custeio (art. 195, §5º) também não

pode ser alegada para impedir concessão do adicional às outras modalidades de aposentadoria,

desde que satisfeitos os requisitos postos em lei. Ademais, se não há fonte de custeio para o

seu pagamento ao aposentado por invalidez, que usualmente contribui menos, com mais

propriedade ainda deverá ser afastada a inexistência de fonte de custeio como empecilho ao

seu pagamento aos demais aposentados (por idade, especial e por tempo de contribuição).

Ressalte-se ainda que, a ausência de fonte de custeio não é o único indicativo da

natureza jurídica assistencial do adicional. Também os princípios da assistência social

encontram expressão jurídica no instituto do art. 45 da Lei de Benefícios.

O parágrafo 4º da Lei nº 8.742 de 1993, Lei Orgânica da Assistência Social,

elenca os princípios da Assistência social:

Art. 4º A assistência social rege-se pelos seguintes princípios:

I – supremacia do atendimento às necessidades sociais sobre as exigências de rentabilidade econômica;

II – universalização dos direitos sociais, a fim de tornar o destinatário da ação assistencial alcançável pelas demais políticas públicas;

III – respeito à dignidade do cidadão, à sua autonomia e ao seu direito a benefícios e serviços de qualidade, bem como à convivência familiar e comunitária, vedando-se qualquer comprovação vexatória de necessidade; IV – igualdade de direitos no acesso ao atendimento, sem discriminação de qualquer natureza, garantindo-se equivalência às populações urbanas e rurais; V – divulgação ampla dos benefícios, serviços, programas e projetos assistenciais, bem como dos recursos oferecidos pelo Poder Público e dos critérios para sua concessão.(grifou-se)

Perceba-se que os incisos em destaque, a saber, a universalização dos direitos

sociais, o respeito à dignidade do cidadão e a igualdade de direitos no acesso ao atendimento,

tem, no adicional do art. 45, um de seus instrumentos de realização.

Ao proporcionar ao aposentado inválido e dependente de terceiros amparo

material que de algum modo permita condições mais dignas de vida, sem a correspondente

exigência de contribuição, está-se promovendo a universalização dos direitos fundamentais

sociais (assistência aos desamparados, art. 6º da CRFB/88), bem como o respeito à dignidade

do cidadão segurado.

A garantia de auxílio extra a quem se encontre situação de grande invalidez, seja

pela avançada idade ou por alguma deficiência, também constitui recurso para proteção da

(36)

natureza, sobretudo se este auxílio for prestado de fato a quem dele necessitar, sem distinções

quanto às modalidades de aposentadoria.

Quanto às pessoas com deficiência, digna-se de nota ser o Brasil signatário da

Convenção Internacional sobre o Direito das Pessoas com Deficiência26, que tem como

propósito a promoção, a proteção e a garantia do exercício pleno e equitativo de todos os

direitos humanos e liberdades fundamentais por todas as pessoas com deficiência, bem como

a promoção do respeito pela sua dignidade inerente. Em seu artigo 28, a Convenção

reconhece o direito das pessoas com deficiência à proteção social, estabelecendo que cabe aos

Estados Partes efetivar as medidas necessárias para promover e salvaguardar esse direito, o

que inclui entre outras ações, a garantia de igual acesso das pessoas com deficiência a

programas e benefícios de aposentadoria27.

Também sob esses comandos normativos, internalizados com força de norma

constitucional, deve ser norteada a aplicação do disposto no art. 45 da Lei nº 8.213 de 1991,

com o objetivo de proporcionar a mesma cobertura previdenciária aos segurados aposentados

que sejam deficientes. Não caberá, diante dos princípios consagrados pela Convenção

Internacional sobre os Direito da Pessoa com Deficiência, analisar esse artigo de maneira

restritiva, contemplando apenas os portadores de deficiência dependentes de terceiros para os

atos da vida diária que sejam aposentados por invalidez. Proceder dessa forma é destinar

tratamento desigual aos portadores de deficiência que se encontram na mesma situação e

carecem do mesmo auxílio por parte do Estado.

O Estatuto do Idoso, por sua vez, veda qualquer tipo de discriminação em relação

aos idosos em seu art. 4º28. Essa vedação, decorrência direta do princípio da igualdade (art. 5º,

CRFB/88), possui tanto eficácia horizontal, isto é, na relação entre particulares, quanto

vertical, referindo-se a relação entre Estado e particular. Em todo caso, o princípio da vedação

de discriminação aos idosos procura impedir a discriminação negativa, isto é, que fira os

direitos e as garantias dos idosos. No plano vertical, visa inibir inclusive o tratamento desigual

26 Promulgado pelo Decreto Presidencial nº 6.949, de 25 de agosto de 2009, após aprovação pelo Congresso

Nacional, por meio do Decreto Legislativo nº 186, de 09 de julho de 2008, conforme o procedimento do § 3º do artigo 5º da Constituição, detendo, portanto, força de emenda constitucional.

27 Artigo 28 […] 2.Os Estados Partes reconhecem o direito das pessoas com deficiência à proteção social e ao exercício desse direito sem discriminação baseada na deficiência, e tomarão as medidas apropriadas para salvaguardar e promover a realização desse direito, tais como: […] e) Assegurar igual acesso de pessoas com deficiência a programas e benefícios de aposentadoria.

(37)

dispensado pelo Estado por meio da lei, já que não raro pode o legislador incidir em equívoco,

conferindo alcance restritivo a certos institutos jurídicos por meio da escolha inapropriada das

palavras.

Dessa maneira, também à luz dos princípios consagrados no Estatuto do Idoso,

não há lugar para a concessão do referido adicional apenas aos idosos aposentados por

invalidez. Se os idosos aposentados encontram-se na mesma situação, isto é, de incapacidade

e dependência, não pode a lei escolher, com base em critérios estritamente formais, parcela

desses segurados idosos para serem privilegiados com o benefício do adicional de 25% (vinte

e cinco por cento), ao passo que aos outros relega desamparo e desproteção, incorrendo,

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