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Inovações na expropriação em prol do imediato pagamento ao exeqüente

6 A CELERIDADE DA EXECUÇÃO POR QUANTIA CERTA CONTRA DEVEDOR

6.5 Inovações na expropriação em prol do imediato pagamento ao exeqüente

A lei nº 11.382/2006 modificou substancialmente o art. 647, do Código de Processo Civil, alterando a ordem das modalidades expropriatórias e criando uma nova forma de expropriação, a alienação por iniciativa particular.

Na sistemática anterior, a alienação judicial era apontada como a primeira forma expropriatória a ser observada quando da retirada dos bens pertencentes ao patrimônio do executado para satisfação do crédito exeqüendo, somente sendo permitida a adjudicação após o insucesso de duas hastas públicas, o que se revelava um contra-senso, levando-se em conta que, em prol da celeridade processual, poderia a lei ter permitido ao exeqüente, logo em seguida a realização da avaliação dos bens penhorados, pretender adjudicá-los, pondo fim à demanda executiva com este ato expropriatório; não obstante, a lei processual civil estabelecia a necessidade de aguardar a delongada hasta pública para somente então o exeqüente poder requerer a adjudicação, incoerência que somente ampliava a morosidade incidente sobre o processo de execução.

Atento à discrepância existente entre o procedimento expropriatório e os fins da legislação processual, o legislador da reforma acrescentou a nova subseção, de número VI-A, na Seção I, do Capítulo IV, referente à execução por quantia certa contra devedor solvente, intitulada “da adjudicação”, mantendo a mesma finalidade do instituto, o pagamento ao exeqüente mediante a transferência da propriedade dos bens penhorados a este, visando à satisfação de seu crédito, mas, sobretudo, passando agora a prevalecer sobre as demais modalidades de expropriação, possibilitando ao exeqüente a imediata realização de seu direito logo depois de realizada a penhora e avaliação, hipótese que reduz, significativamente, a duração da entrega da prestação jurisdicional executiva.

Com o estabelecimento da adjudicação como mecanismo expropriatório preferencial, figurando como o primeiro a ser realizado, torna-se necessário verificar em

que momento poderá o exeqüente ou os outros legitimados (cônjuge, ascendentes e descendentes do executado, credor com garantia real, outros credores que tenham penhora sobre o bem e a sociedade ou o sócio quando houver penhora de quota) requerer a adjudicação dos bens penhorados. É que o parágrafo único, do art. 685, do Código de Processo Civil, anteriormente, aduzia que, cumpridas as providências respeitantes à avaliação dos bens, cabia ao magistrado mandar publicar os editais de praça, considerando-se que a hasta pública era a primeira forma expropriatória; doravante, com a preferência dada à adjudicação, o dispositivo mencionado somente preceitua que, realizada definitivamente a avaliação, deverá o juiz dar início aos atos de expropriação de bens, entretanto não estabelece o prazo para que seja apresentado o requerimento de adjudicação por qualquer legitimado.

Transcorrido o prazo de três dias da citação do executado sem que este pague a dívida, serão realizadas, em um só momento, a penhora e avaliação dos bens e, conseqüentemente, lavrado o auto. A partir daí, poderá o exeqüente exercer seu direito de requerer a adjudicação dos bens penhorados, não necessitando aguardar qualquer prazo.14 Quanto a esse ponto, o que se tem questionado é o fato de o exeqüente poder adjudicar os bens penhorados antes de decorrido o prazo de quinze dias para oferecimento dos embargos ou de dez dias para que o executado exerça seu direito de requerer a substituição do bem penhorado, já que a penhora e avaliação ocorrerão após o transcurso dos três dias da citação para o pagamento, podendo a adjudicação ocorrer logo em seguida, no quarto dia, por exemplo. Em resposta a esta possível indagação, é de se asseverar que o prazo para oferecimento dos embargos não interfere no direito do exeqüente de buscar a imediata satisfação de seu crédito através da adjudicação. Primeiramente, porque os embargos, doravante, serão recebidos, em regra, sem efeito suspensivo, não impedindo, portanto, o prosseguimento da execução e, se, ao final, forem julgados procedentes os embargos, incidirá no caso a regra prevista no caput e §2º, do art. 694, do CPC, no sentido de que o acolhimento dos embargos não interfere na arrematação, e, como no caso em comento, na adjudicação, restando ao executado, no caso de procedência dos

14 BUENO, Cassio Scarpinella. A nova etapa da reforma do código de processo civil: comentários

embargos à execução, voltar-se contra o exeqüente para obter o valor do bem adjudicado e não mais o próprio bem que, nesse momento, já pertencerá ao patrimônio do exeqüente em decorrência da adjudicação. Quanto à necessidade de aguardar o prazo de dez dias, conforme supramencionado, é de se notar ainda que o art. 668, do CPC, é taxativo ao preconizar que o direito do executado de requerer a substituição não pode trazer qualquer prejuízo para o exeqüente; mas aguardar o prazo previsto neste artigo para que só então o exeqüente possa requerer a adjudicação significa prejuízo a este, o que afasta, assim, a aplicação desse artigo ao exeqüente quanto a seu imediato pedido de adjudicação. A desnecessidade de aguardar qualquer prazo, a partir da avaliação, para o requerimento da adjudicação por parte dos legitimados revela-se como o entendimento que, efetivamente, coaduna com os objetivos da reforma na busca incessante pela celeridade processual, verificada, no caso em tela, com a agilidade da expropriação de bens.

Não havendo adjudicação dos bens penhorados, passa-se ao segundo mecanismo expropriatório previsto na gradação contida no art. 647, do Código de Processo Civil, a alienação por iniciativa particular. Assim, não pretendendo o exeqüente adjudicar os bens nem havendo manifestação dos demais legitimados nesse sentido, é de bom alvitre que o demandante peticione informando sobre a sua opção e, na mesma peça, já manifeste sua pretensão pela alienação particular, informando se os bens serão alienados por ele próprio ou por intermédio de corretor credenciado perante a autoridade judiciária.

Já havia a possibilidade de alienação por iniciativa particular de bem imóvel penhorado, por intermédio de corretor de imóveis, como uma alternativa à arrematação, após a publicação dos editais, conforme preceituava o revogado art. 700, do Código de Processo Civil. Com a introdução do art. 685-C no CPC, contudo, não mais é necessário aguardar o início da hasta pública com a expedição de editais para que se possa pretender a alienação particular, uma vez que esta modalidade expropriatória passou a ser um mecanismo anterior à hasta pública e totalmente independente dela. O exeqüente, portanto, não pretendendo adjudicar os bens, poderá de imediato requerer a alienação particular, somente sendo prosseguida a execução com a publicação editalícia e a conseqüente hasta pública, se o demandante não objetivar a adjudicação

nem a realização da alienação. Passou, dessa forma, a hasta pública a ocupar a terceira posição na ordem de preferência das modalidades expropriatórias.

Inicia-se este meio expropriatório com a expedição de editais, os quais serão dispensados quando o valor dos bens penhorados não superar sessenta salários mínimos vigentes na época da avaliação, devendo a publicidade, nesse caso, ser realizada através da imprensa. Observe-se que, mesmo não sendo necessária a publicação dos editais, deverão ser cumpridas as regras impostas por esse meio, sobretudo, a relativa à necessidade de se proceder a uma nova hasta no caso de insucesso da primeira por não ter havido lanço superior à importância da avaliação.

O legislador da reforma estabeleceu o uso da internet como meio de publicidade dos editais, o que, além de evitar os consideráveis custos decorrentes da publicação deste expediente em jornais de ampla circulação, tornando menos onerosa a execução, propiciará, certamente, a alienação dos bens logo na primeira hasta, na medida em que a divulgação por meio eletrônico dará ciência a significativo número de interessados na aquisição dos bens, ampliando a participação no primeiro ato e, conseqüentemente, evitando a realização de uma segunda hasta pública que dilata, indubitavelmente, a expropriação. A par dessa medida, inseriu-se, no Código de Processo Civil, o art. 689-A, possibilitando, ainda, o uso do ambiente virtual na realização de hastas públicas em substituição à tradicional forma de alienação judicial. O que se verificará, doravante, é o uso da internet tanto para a publicação desse ato expropriatório, como também para a própria realização dele. Para a consecução desse desiderato, a lei prevê a expedição de atos normativos emanados do Conselho da Justiça Federal e dos Tribunais de Justiça, no âmbito de suas competências, no sentido de regulamentar o uso do meio virtual na realização dessa modalidade expropriatória com todas as cautelas necessárias à segurança do ato.

Publicados os editais, desenvolve-se o procedimento expropriatório com a realização da hasta pública, no dia e hora designados, conforme o edital, e a conseqüente arrematação dos bens. O art. 690, do Código de Processo Civil, teve sua redação alterada, dando nova roupagem ao tema antes previsto no revogado art. 700, do CPC, de forma a estimular, logo na primeira hasta pública, a imediata alienação de bem imóvel e, assim, por fim à demanda executiva nesse momento com a satisfação do

direito de crédito. É que o dispositivo permite a aquisição de bens imóveis em prestações, facilitando, portanto, a forma de pagamento do bem pelo adquirente. Assim, aquele que tiver interesse em obter o imóvel praceado, deverá juntar sua proposta aos autos do processo de execução ou até mesmo apresentá-la no dia da hasta pública, observando o valor da avaliação do bem, ofertando trinta por cento do preço do bem à vista e esclarecendo a forma de pagamento das parcelas subseqüentes. O magistrado, após ouvir o exeqüente, analisará a proposta de arrematação mais conveniente, verificando se a oferta à prestação supera aquelas à vista, e decidirá. O licitante vencedor deverá, de imediato, pagar os trinta por cento do valor do imóvel, ficando hipotecado o bem para garantir o pagamento do remanescente; em caso de inadimplência por parte do arrematante, será este sancionado com a perda da caução em favor do exeqüente, voltando o bem à nova praça da qual não poderá participar o inadimplente.

É de asseverar que, com a nova redação do §5º, do art. 687, do Código de Processo Civil, a intimação do executado para que este acompanhe a hasta pública, observando a sua regularidade e tomando as atitudes que acreditar pertinentes, não mais será feita pessoalmente, e sim na pessoa de seu advogado. Ressalte-se que, se não tiver advogado que o represente nos autos e não for encontrado, não haverá necessidade de expedição de edital exclusivamente para sua intimação. O mesmo edital que dará ciência da hasta pública aos interessados também suprirá a impossibilidade da intimação do executado, desde que seja bem transparente quanto a este último fim: possibilitá-lo que fique inequivocamente ciente das datas das hastas públicas.

Com a escolha da proposta mais vantajosa, será assinado o auto de arrematação, considerando-se a arrematação desde então perfeita, acabada e irretratável, ainda que venham a ser julgados procedentes os embargos do executado. Trata-se de inovação no que atina à expropriação com objetivo de garantir maior segurança nas alienações judiciais e salvaguardar o arrematante vencedor, evitando que, com a procedência dos embargos, o bem alienado seja retirado de seu patrimônio e retorne ao do executado embargante, o que desestimularia os possíveis interessados a participar da hasta pública, sabendo que poderiam vir a perder seus bens após a

arrematação e, conseqüentemente, dificultaria a expropriação dos bens penhorados por falta de concorrente, significando isso um entrave na celeridade do processo executivo. O §2º, do art. 694, do CPC, determina agora que, mesmo acolhidos os embargos do executado, não será ineficaz a alienação judicial, devendo o executado receber do exeqüente o produto da arrematação, podendo ainda, caso o valor da arrematação tenha sido inferior ao do bem, cobrar a diferença do exeqüente como forma de indenização nos mesmos autos do processo executivo. Portanto, procedentes os embargos, a questão será discutida entre executado e exeqüente, não recaindo sobre o arrematante qualquer responsabilidade. A exceção a essa regra só se verificará quando o arrematante houver contribuído de má-fé para a nulidade da alienação, ou, ainda, caso o motivo que ensejou a ineficácia importe inexoravelmente no desfazimento do ato, como é o caso da alienação por preço vil. Nessas hipóteses a única solução é a de repor o adquirente no status quo ante, restituindo-lhe o valor que depositou em pagamento do bem arrematado. Note-se que, embora a regra estando estampada na seção referente à hasta pública, ela se aplica à adjudicação como também à alienação particular, ou seja, todo aquele que obtiver bem penhorado através de qualquer dos mecanismos expropriatórios não o perderá, em regra, por decorrência da procedência dos embargos do executado ou dos embargos de segunda fase do art. 746 do Código de Processo Civil.

O art. 694, do CPC, em seu inciso IV, na tentativa ainda de insuflar vários interessados a participar da alienação judicial do bem penhorado, estabelece que o adquirente poderá requerer a ineficácia da arrematação nos próprios autos da execução, se o executado houver oferecido embargos à arrematação. Embora o acolhimento desses embargos, como dito, não tenha o condão de tornar ineficaz a alienação em regra, eles serão ajuizados em face do exeqüente e do arrematante em litisconsórcio necessário, desgastando, portanto, o adquirente que passará a suportar essa demanda incidental. Pensando nisso, o dispositivo possibilita ao arrematante postular pela ineficácia da alienação quando se vir como sujeito passivo dos embargos à arrematação, requerimento que deverá ser atendido de plano pelo juiz independente do motivo que levou o executado a oferecer os embargos.

7 OS EMBARGOS À EXECUÇÃO NA LEI Nº 11.382/2006

As alterações que passaram a conceder novos contornos aos embargos à execução atenderam consideravelmente à tese semântica do princípio da razoável duração do processo, estabelecendo um conjunto de dispositivos que se harmonizam com a garantia constitucional em destaque, sem, contudo, descortinar a lei processual do contraditório o qual tem envergadura tão escorreita na ordem jurídica quanto aquela.

O instituto processual dos embargos à execução manifesta-se como a mais ampla defesa disponibilizada ao executado insatisfeito com a invasão patrimonial que experimenta durante o processo executivo. Isso porque, no âmbito deste processo cognitivo, o executado discutirá toda matéria capaz de provar a inexistência do suposto direito de crédito do exeqüente em decorrência do título extrajudicial, ou ainda inviabilizar a execução sob a alegação de vícios processuais.

O só fato de o exeqüente ser titular de um ato ao qual a lei atribuiu eficácia executiva já enseja a provável existência do direito creditório, sem haver necessidade de cognição plena e exauriente, a partir de um processo de conhecimento com a prolação de uma sentença, para que este direito seja acertado. Não há, portanto, necessidade, no processo de execução, de julgamento do mérito, de declaração do direito de crédito por parte do Estado-juiz, vez que a posse do título extrajudicial autoriza o seu titular a ajuizar o processo autônomo de execução como meio adequado à realização da tutela jurisdicional executiva, realizando o direito materializado no título, sem possibilitar ao executado discutir amplamente, na própria demanda executiva, o suposto direito de crédito do titular do título. Em virtude da ausência de defesa dispensada ao executado para buscar atacar a execução no bojo do processo, a lei processual, em merecido respeito ao princípio do contraditório, disponibiliza ao executado a via dos embargos para hostilizar o direito afirmado pelo credor, podendo, nesta demanda cognitiva, alegar qualquer matéria que poderia ser alegada em processo de conhecimento, diferindo, portanto, da impugnação à execução de sentença que, devido ao fato de atacar título executivo judicial para cuja formação desenvolveu- se todo um processo com a delongada instrução em busca de um juízo de certeza, somente poderá versar acerca das matérias taxativamente elencadas no art. 475-L, do Código de Processo Civil, as quais não foram suscitadas no bojo do processo cognitivo

de formação do título, porque ainda não eram conhecidas, não houve oportunidade para o demandado alegá-las ou ainda só surgiram posteriormente ao processo de conhecimento que formou o título judicial.

Os embargos à execução serão apresentados por petição inicial na forma dos arts. 282 e 283, do CPC. Submeter-se-ão à distribuição por dependência, ao juízo da causa executiva, com autos próprios apartados do fascículo processual executivo. Não precisam, portanto, mais estar visceralmente ligados ao processo de execução pelo apensamento, como determinava a redação anterior do art. 736, do CPC. Bastará que o embargante instrua a demanda incidental com as peças processuais relevantes declaradas autênticas pelo próprio advogado sob sua responsabilidade pessoal para que seja julgada a pretensão deduzida. Com efeito, não mais suspendendo, em regra, a demanda executiva pelo oferecimento dos embargos, não haverá motivo para manter os autos deste processo apenso aos do principal, porquanto, uma vez continuando a se desenvolver o processo executivo mesmo com o ajuizamento da demanda incidental, em dado momento poderão passar cada uma das ações a seguir rumo distinto, conforme se verificará, por exemplo, quando subirem em momentos diversos a tribunais diferentes. A manutenção do apensamento nesse caso, somente embaraçaria o andamento dos expedientes em ambos os fólios e, conseqüentemente, dilataria o tempo da entrega da prestação jurisdicional.