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Os reflexos do mandado de citação, penhora e avaliação na celeridade do

6 A CELERIDADE DA EXECUÇÃO POR QUANTIA CERTA CONTRA DEVEDOR

6.2 Os reflexos do mandado de citação, penhora e avaliação na celeridade do

Uma das formas de realização pela lei nº 11.382/2006 do comando contido no art. 5º, LXXVIII, da Constituição Federal, é a cumulação de atos processuais num só expediente. É nesta perspectiva que o novo mandado de citação, penhora e avaliação, aglutinando um conjunto de medidas estimuladoras da satisfação imediata do direito de crédito, será lavrado em atendimento à celeridade do procedimento executivo.

O executado, doravante, será citado para efetuar o pagamento da dívida no prazo de três dias, sob pena de se submeter às medidas expropriatórias. Pode-se

indagar sobre o motivo da ampliação do prazo, já que o objetivo perseguido pela nova sistemática é a simplificação e celeridade do procedimento. Ocorre que o interregno anterior, compreendido em vinte e quatro horas, era tão exíguo que terminava por desestimular o executado a pagar ou nomear bens à penhora, e, quando o fazia, já havia ocorrido a preclusão temporal. Na tentativa de realizar o processo com celeridade, o legislador do Código de Processo Civil terminou, na verdade, foi dificultando o pagamento da dívida e, conseqüentemente, delongando a execução. Assim, andou bem o legislador reformista que se posicionou no sentido de ampliar o prazo para o pagamento como forma de estimular o executado a se livrar do ônus que pesa sobre suas costas, contribuindo essa modificação, portanto, para o imediato pagamento e a satisfação do direito de crédito. Por outro lado, não terá mais o executado direito a nomear bens à constrição judicial, submetendo-se agora a um verdadeiro dever de indicar quais os bens penhoráveis, quando o exeqüente não assinalá-los na peça geratriz e o meirinho não os encontrar, configurando-se como atentatória à dignidade da justiça sua desídia.

Questão que vem sendo discutida pela doutrina diz respeito ao início da contagem do prazo para o pagamento da dívida. Parte da doutrina coaduna com o entendimento de que, em obediência ao art. 241, do Código de Processo Civil, o prazo tem início com a juntada aos autos do mandado cumprido, uma vez que se aplicam à execução, respeitando as peculiaridades deste procedimento, as regras do processo de conhecimento13.

O entendimento que deve merecer atenção por parte dos aplicadores da legislação adjetiva civil, entretanto, é o que se manifesta no sentido de que o prazo terá seu início contado a partir da citação. Quando o art. 652, § 1º, do CPC, preceitua que o oficial de justiça ficará munido da segunda via do mandado para proceder à penhora de bens e sua avaliação, não resta dúvida data venia de que ele não precisará aguardar a juntada da outra via do mandado ao caderno processual, para iniciar a contagem do prazo. Entender assim seria pôr um estorvo na tão postulada razoável duração do processo. O prazo que a lei determina em três dias se converteria em vários dias,

13 cf. MARINONI, Luiz Guilherme; ARENHART, Sérgio Cruz. Curso de processo civil. São Paulo:

quando se atenta à morosidade que assola as secretarias de vara, inclusive, no tocante às juntadas de expedientes. Se o legislador quisesse que o prazo fosse contado a partir da juntada, teria se manifestado nesse sentido, assim como fez com os embargos à execução, art. 738, do Código de Processo Civil. Ademais, se, no sistema anterior, o entendimento doutrinário era no sentido de que o prazo de vinte e quatro horas para o pagamento ou nomeação de bens à penhora era contado a partir da efetiva realização da citação, com muito mais razão deve permanecer esse posicionamento, levando-se em conta os fins da reforma do código de processo civil.

O mandado deverá conter também a informação destinada a intimar o executado a apresentar os embargos à execução no prazo de quinze dias, porquanto tal interregno se inicia com a juntada aos autos do mandado, e, portanto, é de bom alvitre que o executado tome ciência da defesa que pode apresentar em juízo, podendo este sofrer com o não recebimento dos embargos, caso os apresente de forma intempestiva.

Outra informação de suma importância que deve ser somada às anteriores diz respeito à possibilidade do executado ser beneficiado com a redução pela metade dos honorários advocatícios fixados no despacho inicial em caso de pagamento integral da dívida no prazo de três dias.

Por fim, o mandado de citação, penhora e avaliação deverá conter ainda o insculpido no novo art. 745-A, do Código de Processo Civil, uma vez que se revela como mais uma forma de estimular o executado a pôr fim à demanda executiva, pondo a sua disposição uma verdadeira moratória legal, através da qual reconhece a dívida e realiza o depósito de trinta por cento do seu valor, inclusive custas e honorários advocatícios no prazo para interposição dos embargos e, conseqüentemente, efetua o pagamento do restante em até seis parcelas acrescidas de correção monetária e juros de um por cento ao mês. Deve-se frisar que o não pagamento regular acarretará o vencimento antecipado das parcelas subseqüentes, procedendo-se aos atos expropriatórios e imputando ao executado inadimplente multa de dez por cento sobre as prestações não pagas, além de privá-lo do direito ao oferecimento dos embargos.

Note-se que a introdução, na lei processual civil, do preceito supracitado efetivamente contribuirá para a realização célere da execução, tendo em vista que o

dispositivo limita no máximo em seis parcelas o pagamento dos setenta por cento restantes da dívida, e, dessa forma, na ocasião, já fica determinado o prazo de duração da demanda executiva, interregno significativamente reduzido comparando com o tempo que as partes têm que aguardar para a finalização de um processo de execução. Adite-se a isso a rigidez das sanções impostas àqueles que não se dedicarem ao pagamento das parcelas, o que irá reduzir em muito os casos de inadimplência.

O mandado de citação, penhora e avaliação, assim, passou a reunir um conjunto de elementos que, indubitavelmente, estimularão o executado a pagar, de forma imediata ou, pelo menos, em curto prazo, a dívida, simplificando o processo de execução, pois o demandado tem a sua disposição mais de uma proposta de pagamento, podendo escolher a mais adequada a sua disponibilidade financeira.

O recebimento do mandado que anteriormente deixava o executado numa situação bastante delicada, determinando-lhe o pagamento integral da dívida ou a nomeação de bens à medida constritiva em vinte e quatro horas, doravante lhe possibilita refletir num prazo maior, três dias, e decidir se paga integralmente a dívida, com a referida redução dos honorários, ou se parcela o crédito, tudo para evitar a dilatação do processo executivo e entregar em um tempo razoável a prestação jurisdicional definitiva ao titular do direito de crédito.

O mesmo mandado ainda será útil para a realização da penhora e avaliação dos bens do executado, em caso de não pagamento no prazo de três dias a que se refere o caput do art. 652 do CPC. Para garantir a racionalidade da constrição, é interessante que o exeqüente, na exordial, informe quais os bens do executado que serão penhorados; não fazendo a comunicação, cabe ao oficial de justiça diligenciar em busca do patrimônio do demandado suficiente para garantir o crédito exeqüendo, e, não tendo sucesso, será necessária a intimação do executado na pessoa de seu causídico para levar a efeito a indicação. Procedendo à penhora, o próprio oficial de justiça, exercendo a nova função estabelecida no inciso V do art. 143 do CPC, avaliará os bens penhorados, somente não agindo nesse sentido caso sejam necessários conhecimentos especializados para a avaliação, ou ainda quando o juiz, após ouvir as partes sobre o laudo do meirinho, tiver dúvidas sobre os valores atribuídos por este aos bens, hipóteses em que o juiz nomeará avaliador, fixando-lhe prazo não superior a dez

dias para entrega do laudo. Realizada a constrição e a avaliação, cujo laudo integrará o auto de penhora, intima-se, na mesma oportunidade, pessoalmente o executado se estiver no local onde será realizado o ato; não estando presente, será intimado na pessoa de seu advogado (art. 652, §4º). Não tendo advogado nem sendo o executado localizado, o oficial de justiça lavrará certidão noticiando as diligências realizadas, caso em que o magistrado poderá dispensar a intimação da penhora ou determinar novas diligências. O executado, ao ser citado da execução, já estará ciente da constrição judicial a qual se submeterá, caso não pague a dívida no prazo de três dias. Assim, poderá, objetivando procrastinar o processo executivo, não se fazer presente quando da realização da penhora e avaliação de seus bens, evitando sua intimação acerca do ato. O § 5º do artigo em alusão veio a inviabilizar essa atitude do executado e evitar as sucessivas tentativas inócuas de intimá-lo da penhora, o que dilatava consideravelmente a duração do processo, pois, o juiz verificando, conforme a certidão lavrada pelo meirinho, que o demandado não foi localizado porque tentava inibir a realização do ato, dispensará a intimação e dará continuidade à execução, não podendo o executado alegar posteriormente violação ao princípio do contraditório, porquanto no mandado já continha a informação da qual ficou ciente sobre a penhora em caso de não pagamento. É oportuno frisar que o dispositivo em comento regula somente a intimação da penhora, e não a citação do executado. Não sendo localizado o executado, anteriormente à penhora, para a citação da execução, não poderá o juiz dispensar a realização de novas diligências e prosseguir a execução, mesmo que o demandado esteja agindo de má-fé nesse sentido. Nesse caso, o oficial de justiça arrestará os bens do executado, sendo este citado, a requerimento do exeqüente, por edital, para realizar o pagamento da dívida em três dias. Não se manifestando nos autos, nesse prazo, permanecendo revel, converte-se o arresto em penhora, devendo ainda ser nomeado curador especial para defendê-lo em juízo, podendo oferecer os embargos no prazo de quinze dias constante no edital, conforme o contido na Súmula 196 do Superior Tribunal de Justiça adaptada à nova sistemática da execução.